O tunelamento quântico (teletransporte) do apóstolo Filipe

A natureza científica do cristianismo autêntico é o tema principal de meus trabalhos, ciência como unidade ordenada do conhecimento. Unidade porque o conhecimento verdadeiro é integralmente coerente em si. A ciência inclui todo e qualquer conhecimento, todo e qualquer evento que possa ocorrer, inclusive os chamados milagres. Há Um só Deus, como nos diz o Monoteísmo, e há uma só ciência, estando esta ligada Àquele. A Ciência inclui o Direito, a ordem humana justa segundo a vontade de Deus, a Ordem Cósmica; a Biologia, a Vida plena; a Física, a natureza e o movimento das coisas.

Milagre é aquilo que a ciência não pode explicar, até que o fenômeno seja entendido, ao menos parcialmente, passando a ser chamado de evento físico descrito pela ciência.

A abordagem deste artigo é sobre um episódio dessa natureza, que é pouco divulgado no meio cristão, mas que está devidamente narrado nos Atos dos Apóstolos, o teletransporte, como um tunelamento quântico, do apóstolo Filipe.

Filipe batiza um eunuco — O Anjo do Senhor disse a Filipe: ‘Levanta-te e vai, por volta do meio-dia, pela estrada que desce de Jerusalém a Gaza. A estrada está deserta’. Ele se levantou e partiu. Ora, um etíope, eunuco e alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, que era superintendente de todo o seu tesouro, viera a Jerusalém para adorar e ia voltando. Sentado na sua carruagem, estava lendo o profeta Isaías. Disse então o Espírito a Filipe: ‘Adianta-te e aproxima-te da carruagem’. Filipe correu e ouviu que o eunuco lia o profeta Isaías. Então perguntou-lhe: ‘Entendes o que lês?’ ‘Como o poderia, disse ele, se ninguém me explicar?’ Convidou então Filipe a subir e sentar-se com ele. Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era a seguinte: Como ovelha foi levado ao matadouro; e como cordeiro, mudo ante aquele que o tosquia, assim ele não abre a boca. Na sua humilhação foi-lhe negada a justiça. E a sua geração, quem é que a narrará? Porque a sua vida foi eliminada da terra. Dirigindo-se a Filipe, disse o eunuco: ‘Eu te pergunto, de quem diz isto o profeta? De si mesmo ou de outro?’ Abrindo então a boca, e partindo deste trecho da Escritura, Filipe anunciou-lhe a Boa Nova de Jesus. Prosseguindo pelo caminho, chegaram aonde havia água. Disse então o eunuco: ‘Eis aqui a água. Que impede que eu seja batizado?’ E mandou parar a carruagem. Desceram ambos à água, Filipe e o eunuco. E Filipe o batizou. Quando subiram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe, e o eunuco não mais o viu. Mas prosseguiu na sua jornada com alegria. Quanto a Filipe, encontrou-se em Azoto. E, passando adiante, anunciava a Boa Nova em todas as cidades que atravessava, até que chegou a Cesareia” (At 8, 26-40).

Nessa narrativa, Filipe se deixa levar pelo Espírito Santo, prega ao eunuco, sendo então teletransportado para Azoto. Esse milagre hoje pode ser chamado de tunelamento quântico, ou passagem por uma ponte de Einsten-Rosen, que é o nome técnico de buraco de minhoca, que leva de um ponto a outro do espaço-tempo.

Segundo a Wikipedia “Tunelamento quântico (ou efeito túnel) é um fenômeno da mecânica quântica no qual partículas podem transpor um estado de energia classicamente proibido. Isto é, uma partícula pode escapar de regiões cercadas por barreiras potenciais mesmo se sua energia cinética for menor que a energia potencial da barreira”.

O tunelamento quântico é a possibilidade de atravessar uma barreira inicialmente intransponível, ou atravessar uma parede, desaparecendo de um lado e aparecendo do outro. No tunelamento quântico a partícula pega energia emprestada do futuro para conseguir ultrapassar uma barreira. Seria o caso de se jogar uma bola morro acima com a força necessária para ela chegar apenas no meio da montanha, mas de alguma forma ela ganhar energia e aparecer do outro lado do morro.

No caso, como o espaço entre o local onde Filipe estava e aquele em que ele apareceu era uma barreira para o deslocamento, pode-se dizer que ocorreu uma hipótese de tunelamento. Ou pode-se dizer que ele passou por uma ponte de Einsten-Rosen. Ocorreu um teletransporte. Os apóstolos viviam guiados pelo Espírito Santo de Deus, por uma energia superior à deles, por uma vontade coletiva, e não individual, agiam de acordo com o Campo de Deus, e o Espírito arrebatou Filipe, um energia não local alterou uma situação local, produzindo o teletransporte.

Esse evento decorre da dualidade onda-partícula, que afeta todas as coisas, inclusive as pessoas, pois não há um limite na ciência definindo até onde vale a física quântica, ou orgânica quântica, e a partir de quando vale a física clássica, pois tudo está sujeito ao mundo quântico. O Campo de Deus abrange toda a criação, sendo Ele onipresente, o que parece ocorrer também com o campo de Higgs.

O Logos é o emaranhamento, ou entrelaçamento, quântico de tudo o que existe, conecta tudo no universo, mantendo sua ordem, o Cosmos. O Logos é não local, ou seja, está em todo lugar, como é a natureza quântica da realidade.

No YouTube há um canal que costumo acompanhar, Space Time, pelo qual vejo algumas atualizações da física. Em um episódio o apresentador fala do tunelamento quântico, explicando sua situação (do apresentador) como onda, incluindo a possibilidade infinitesimal, mas não nula, de ele também estar naquele mesmo momento na Lua, pela probabilidade de sua função de onda lá estar – conforme link https://www.youtube.com/watch?v=-IfmgyXs7z8, e apesar de ser em inglês, com possibilidade de legenda em inglês, é interessante o vídeo, com cerca de dez minutos, que vale ser assistido.

O ponto importante dessa questão consiste no fato de que o apresentador, que fala apenas a linguagem científica, indica a possibilidade do teletransporte, sob a forma de medição de sua posição, em razão de sua natureza ondulatória, em um lugar como a Lua, com o colapso da sua função de onda nesse outro ponto do espaço; ou seja, a natureza ondulatória da pessoa, fazendo com que ela seja um campo se expandindo pelo espaço, permite a alteração de sua posição por uma nova medição, decorrente da descontinuidade quântica, uma outra observação de sua posição, e sua efetiva localização naquele satélite, por teletransporte.

Portanto, a ciência comprova a possibilidade do teletransporte do apóstolo Filipe, dizendo que o fato descrito na Bíblia como milagre é uma situação possível de acontecer segundo as leis da física. A improbabilidade do evento não indica a sua impossibilidade.

Deve ser salientado que o teletransporte em questão, do apóstolo Filipe, se deu no contexto da pregação evangélica, a descrição do maior evento já ocorrido no Planeta, a manifestação do Espírito de Deus Perfeito por um Homem, Jesus Cristo, sua morte e ressurreição, com a função de resgatar o espírito humano, a humanidade, para Deus, restabelecendo a unidade da criação, unindo novamente a criatura ao Criador, com os reflexos necessários na ordem política e social, estes ainda em curso.

O nível de energia física da atividade de Jesus era extraordinário, inclusive com emanação de como alguma coisa conhecida hoje por radioatividade, que curava o DNA das pessoas, recuperando a perfeição da saúde daqueles curados por Ele. Se nós hoje conseguimos causar câncer com a energia atômica, Deus pode perfeitamente curar males equivalentes por sua Energia, por seu Espírito Santo, com uma radioatividade totalmente benéfica para a saúde humana. Se  uma bomba atômica pode causar destruição instantânea, pode haver uma “bomba” ao contrário, com criação instantânea de vida, e nós temos átomos em nosso corpo, a máquina mais perfeita do universo, com essa capacidade.

Algumas pessoas são comprovadamente mais sensíveis que outras, têm mais habilidades em alguns assuntos, e Jesus Cristo tinha e tem a habilidade de manipular o campo de Higgs, manipular a matéria-prima de que são feitas todas as coisas. Jesus trabalha no nível quântico, no nível da Unidade do Ser, sendo sua ação local e não local ao mesmo tempo, é o maior cientista da história, sendo que Sua atividade, seu movimento, transcende o espaço-tempo, atingindo a eternidade, o infinito, a singularidade cosmológica.

Por isso Deus soberanamente o elevou e lhe conferiu o Nome que está acima de todo o nome, a fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre nos céus, sobre a terra e sob a terra, e que toda língua proclame que o Senhor é Jesus Cristo para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 9-11).

Assim, também a ciência humana haverá de se curvar a Jesus Cristo, o que deverá ser feito pela Física, Teologia, Filosofia, Direito etc; todo conhecimento humano depende de Jesus Cristo para sua unidade e coerência, pois ele é a encarnação do Logos, o Universal, da superforça que existiu no princípio da criação, unindo todas as forças da natureza, sendo a Vida em expressão completa, a plenitude da criação.

E quando isso acontecer estaremos na Parusia, na vigência do Reino de Deus, em que a humanidade trabalhará integrada pela totalidade dos seres humanos, da espécie humana, e não para alguns poucos privilegiados, como ocorre atualmente.

A ciência, a política e todas as formas de conhecimento devem servir a todos, e não a alguns grupos.

Jesus Cristo atingiu o limite da humanidade, a fronteira do Céu, porque foi plenamente humano, racional e fiel à Ciência, e por isso está sentado à direita de Deus, o que significa que tudo na criação se submete a Jesus Cristo, enquanto Logos, Razão Máxima, porque Jesus Cristo é o único que se submeteu perfeitamente a Deus, atingindo assim a perfeição como imagem visível do Deus Único, invisível, sendo a Razão Coletiva encarnada.

As profecias são verdadeiras, são científicas, como o teletransporte citado, o que significa que o Reino de Deus está próximo.

Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e credes no Evangelho” (Mc 1, 15).

Monoteísmo: A Santíssima Unidade

O Cristianismo é uma religião monoteísta, que sustenta sua teologia na existência de um único Deus Supremo, segundo a linha judaica, que professa a adoração do Deus Todo-Poderoso, Iahweh.

Contudo, no curso da história houve a criação de uma teoria de que Deus seria uma trindade, o que não possui suporte bíblico, derivando das ideias platônica e pitagórica dos números e da indevida interferência política na religião.

No Timeu, Platão afirma que a forma básica de todas as coisas é o triângulo.

Em primeiro lugar, estou certo quanto a poder presumir que todos estão cientes de que o fogo, a terra, a água e o ar são corpos; além disso, a forma corpórea de tudo possui também profundidade. Que se acrescente que é absolutamente necessário que a profundidade seja limitada por uma superfície plana, e que a superfície retilínea é composta por triângulos” (In Timeu e Crítias ou A Atlântida. São Paulo: EDIPRO, 2012, p. 85).

Assim, Platão coloca os triângulos na base dos “princípios de origem do fogo e dos outros corpos” (Idem, p. 86), e certamente a influência platônica sobre o cristianismo primitivo levou à criação da ideia de trindade, tornando-se integrante do cristianismo desde então.

Jesus Cristo, um judeu, não estabeleceu uma religião trinitária, nem uma adoração a si próprio, e esse tema é um dos mais caros, senão o mais caro, do Cristianismo, ou seja, definir a natureza de Jesus Cristo.

O trinitarismo é uma ideia que mais prejudica do que ajuda o Cristianismo, na medida em que permite uma confusão mental sobre a adoração do Deus Verdadeiro, o Pai Celestial.

Essa questão remonta aos primórdios da fé cristã, ao Concílio de Niceia, do ano de 325, quando foi definido o credo cristão. O grande problema consistiu no fato de que a realização de tal Concílio foi determinada pelo imperador Constantino, que sequer era batizado, na medida em que seu batismo ocorreu no seu leito de morte, no ano de 337.

Eduardo Vera-Cruz Pinto reconhece que com Constantino a Igreja passou a aceitar “a intervenção do imperador em matérias religiosas”, levando aos dogmas fundamentais da religião cristã que são até o hoje professados (In Curso de Direito Romano. Parede: Principia, 2012, p. 310).

Naquele tempo ocorreu formalmente a separação das autoridades eclesiásticas e civis, o que, ainda que tenha sido uma necessidade da época, implicou no princípio da visão cartesiana de mundo, com reflexo na doutrina de santo Agostinho e na interpretação oficial das escrituras. Essa separação formalizou a apostasia, quando as questões religiosas passaram a ser tratadas por uma autoridade sem poder civil, na medida em que este se ligava ao império romano. Contudo, para a mentalidade judaica de Jesus, não havia separação entre poder civil, político ou religioso, sendo um ligado ao outro, pois a sociedade como um todo estava inserida nos mesmos valores jurídicos, que eram religiosos, científicos e políticos.

A partir do Concílio de Niceia passou-se a adotar a noção de trindade, um Deus em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo.

De fato, existem passagens em que Jesus afirma ser um com o Pai, como em João: “‘Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar da mão do Pai. Eu e o Pai somos um’. Os judeus, outra vez, apanharam pedras para apedrejá-lo. Jesus, então, lhes disse: ‘Eu vos mostrei inúmeras boas obras, vindo do Pai. Por qual delas quereis lapidar-me?’ Os judeus lhe responderam: ‘Não te lapidamos por causa de uma boa obra, mas por blasfêmia, porque, sendo apenas homem, tu te fazes Deus’. Jesus lhes respondeu: ‘Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? Se ela chama de deuses aqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode ser anulada — àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo dizeis: ‘Blasfemas!’, porque disse: ‘Sou Filho de Deus!’’” (Jo 10, 29-36).

Jesus expressamente afirma que o Pai é maior que todos, indicando a superioridade de Deus, e quando em seguida afirma “Eu e o Pai somos um” ele indica que é a imagem e semelhança perfeita de Deus perfeito, pelo que, do ponto de vista humano, não há como diferenciar Jesus Cristo de Deus, ainda que exista essa diferença, devendo a adoração ser dirigida ao Pai.

Mas vem a hora — e é agora — em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade” (Jo 4, 23-24).

Deus é Espírito, e, como tal, invisível, tornando-se visível na pessoa de Jesus, que assim encarnou a Divindade, unindo seu Espírito ao Espírito de Deus, ao Espírito Santo, formando, assim, a Santíssima Unidade, como O Messias Perfeito.

Messias é um título atribuído ao ungido de Deus, que foi aplicado aos reis Saul e Davi e até mesmo a um não judeu, Ciro (Is 45, 1).

Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17, 3).

Não se questiona a natureza especial de Jesus como O Ungido, O Messias, O Cristo, como O Cristo Senhor, mais isso não faz dele O Deus, mas deus, Filho de Deus. A seguinte passagem é apontada como indicativa da divindade de Cristo: “Com efeito, a graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, e a viver neste mundo com autodomínio, justiça e piedade, aguardando a nossa bendita esperança, a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo por nós, para remir-nos de toda iniquidade, e para purificar um povo que lhe pertence, zeloso no bom procedimento” (Tt 2, 11-14).

Cristo Jesus é “a manifestação da glória de nosso grande Deus e Salvador”, ou seja, Ele manifestou a glória de Deus, mas não é O próprio Deus. “Ele é o resplendor de sua glória e a expressão de sua substância; sustenta o universo com o poder de sua palavra; e depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se nas alturas à direita da Majestade, tão superior aos anjos quanto o nome que herdou excede o deles” (Hb 1, 3-4).

O primeiro Homem, Adão, feito à imagem e semelhança de Deus, não manifestou a substância de Deus, sua Glória, pois caiu em tentação e pecou, o que não ocorreu com Jesus, que manteve sua pureza e santidade até o fim, e por isso assumiu a condição Filho Unigênito, como protótipo da humanidade, ou seja, o tipo, o modelo, primeiro e definitivo, de humanidade, como imagem e semelhança de Deus. E como Jesus Cristo preencheu todas as qualidades humanas perfeitas, a plenitude da criação, Ele retomou a imortalidade e eternidade, ressuscitando.

“Porque os que de antemão ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de se ele o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8, 29). Só existe um primogênito, só um primeiro, e esse é único, unigênito.

Jesus Cristo, por isso, é o Caminho, a Verdade e a Vida, pois somente repetindo suas qualidades, que são perfeitas, pelo seu Caminho, seu método de vida integralmente submissa a Deus, podemos alcançar a Verdade e a Vida eterna, recebendo o Espírito Santo que também O ungiu.

Assim, o Espírito Santo procede apenas do Pai, mas nos O recebemos por meio do Filho, como o Caminho. Seguindo Jesus nos dirigimos a Deus e nos abrimos ao Espírito Santo.

Na Carta aos Romanos, consta que Cristo é “acima de tudo, Deus bendito pelos séculos” (Rm 9, 5), Jesus, como Cristo, é imagem de Deus, sua expressão definitiva na carne, consumando a unção do Espírito Santo.

E ao restabelecer o modelo de humanidade como reflexo e semelhança de Deus, Jesus nos permitiu, por seu Espírito, por sua Ideia, por sua Razão, compartilhar a natureza divina, pelo derramamento do Espírito Santo. Nesse sentido os apóstolos Pedro e Paulo também nos colocam como integrantes da natureza divina.

Tudo isto para que procurassem a divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la, embora não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dos vossos, aliás, já disseram: ‘Porque somos também de sua raça’. Ora, se nós somos de raça divina, não podemos pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, à prata, ou à pedra, a uma escultura da arte e engenho humanos. Por isso, não levando em conta os tempos da ignorância, Deus agora notifica aos homens que todos e em toda parte se arrependam, porque ele fixou um dia no qual julgará o mundo com justiça por meio do homem a quem designou, dando-lhe crédito diante de todos, ao ressuscitá-lo dentre os mortos” (At 17, 28-31).

Deus é Espírito, e não carne, pelo que enquanto seres espirituais, movendo segundo o Espírito, somos da raça divina, da raça de Deus.

Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus? … e que, portanto, não pertenceis a vós mesmos? Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo” (1Cor 6, 19-20).

O Espírito Santo procede de Deus e não é, pois, uma pessoa em uma trindade, mas o próprio Espírito de Deus que habita em nós, que nos faz participar da Vida. Dizer que o Espírito Santo é uma pessoa é fazer uma afirmação antropomórfica sem amparo nas Escrituras.

Jesus glorificou a Deus em seu corpo, sendo templo perfeito do Espírito Santo, teve e tem Vida Plena, e por isso é o homem designado para o julgar definitivamente os homens, porque dele depende o conceito de humanidade, e daí sua natureza divina especial, pois por Sua Vida Santa podemos participar da Vida Santa, a partir de seu exemplo, seu modelo de comportamento.

O batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo significa o nascimento a partir do Espírito, a partir de cima, a mudança de vida e o mergulho, o batismo, na vida nova, em que vivemos segundo a Vontade de Deus, segundo seu Espírito Santo, seguindo Jesus Cristo, e não mais segundo a concupiscência da carne. Com o batismo, que significa mergulho, o mergulho no Espírito Santo, assumimos nossa natureza divina; e aqueles que recebem efetivamente o batismo do Espírito Santo não relatam uma possessão de outra pessoa em si, mas a Presença em Deus.

Pois que o seu divino poder nos deu todas as condições necessárias para a vida e para a piedade, mediante o conhecimento daquele que nos chamou pela sua própria glória e virtude. Por elas nos foram dadas as preciosas e grandíssimas promessas, a fim de que assim vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de vos libertardes da corrupção que prevalece no mundo como resultado da concupiscência” (2Pe 1, 3-4).

Outrossim, pelo caminho de Jesus, pela vida pura e espiritual, depois de nos libertarmos da corrupção, da ideia egoísta e da vida igualmente egoísta, participamos da natureza divina.

Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. Mas a cada um de nós foi dada a graça pela medida do dom de Cristo, por isso é que se diz: Tendo subido às alturas, levou cativo o cativeiro, concedeu dons aos homens” (Ef 4, 4-8).

A interpretação da Bíblia que leva à ideia de trindade é, como se vê, forçada e contrária ao espírito do Monoteísmo: Há um só Deus e Pai de todos.

Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus, que se deu em resgate por todos” (1Tm 2, 5-6).

Nas escrituras constam passagens chamando homens de deuses, e nesse sentido Jesus pode ser considerado deus, ou Deus, mas não O Deus, pois é Filho de Deus, um homem, Filho do Homem.

Deus é imortal. Ele é o que é, sempre, eterno, Ele é o “EU SOU”, e por isso, tendo Jesus morrido, ele não é O próprio Deus.

Ainda que Jesus Cristo seja o primeiro e o último, a ideia de primeiro e último pressupõe a noção de tempo, pelo que no Cosmos, Jesus Cristo é o primeiro e o último, a Sabedoria Divina que fundou toda a criação, também sendo criatura, ainda que criatura que criou as demais criaturas, mas não é o próprio Criador.

Ao vê-lo, caí como morto a seus pés. Ele, porém, colocou a mão direita sobre mim assegurando: ‘Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e do Hades’” (Ap 1, 17-18).

Deus não pode morrer, e por isso, como O Vivente, Deus continuou reinando enquanto Jesus Cristo esteve morto, antes de sua ressurreição. Ele esteve morto para os vivos, mas não para Deus, para Quem não há morte, por isso Jesus também é o Vivente que conheceu a morte, o que não ocorre com O próprio Deus, dada sua natureza espiritual.

Como Encarnação da Sabedoria Divina, do Logos, Jesus se manifestou como Deus, sendo o limite entre o Criador e a criatura, a Ponte que liga Deus aos homens, o Sumo Pontífice, mas a confusão que se criou pela ideia de trindade, ao invés de facilitar a adoração do Deus Altíssimo, pode afastar os crentes da Verdade.

Deus é Amor (1Jo 4, 8), Deus é Espírito, e Jesus é a imagem do Amor de Deus e do Espírito de Deus perante os homens, mostrando o limite do que podemos entender e conhecer de Deus enquanto seres encarnados, mas isso não leva à conclusão de que Jesus é O próprio Deus, não permitindo, do mesmo modo, concluir pela existência de uma trindade.

Jesus Cristo rezou pela Unidade, para que os cristãos vivam em comunhão com Cristo, em Unidade, quando o Espírito que move cada um é Santo, Uno, Integral, sem divisões, quando compartilhamos o mesmo Espírito Santo, participando da Santíssima Unidade com Jesus Cristo e Deus.

Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim” (Jo 17, 20-23).

Esse ponto do Evangelho de João é fundamental, e por isso sempre o repito, assim como seu início: “No princípio era o Verbo (Logos) e o Verbo (Logos) estava com Deus e o Verbo (Logos) era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito”.

Jesus Cristo, o Logos encarnado, é Deus, participa da natureza divina desde o princípio, mas antes do princípio apenas existia O Deus Todo-Poderoso, que está fora do tempo e do espaço, apesar de se manifestar no espaço-tempo, pois é Onipresente. No tempo e no espaço, até seus confins, Jesus Cristo é Deus, como imagem e manifestação de Deus na criação.

Negar a trindade pode ser considerada uma heresia, mas isso não impede a desculpa, é uma atitude perdoável, na medida apenas o pecado contra o Espírito Santo não permite perdão. Portanto, reconheço a divindade do Espírito Santo, como Espírito do próprio Deus que habita em nós, em toda e qualquer alma humana que O aceite.

Por enquanto, assim, posso ser um herege, com convicção, mas se estiver errado, o que penso que não estou, que Deus e Jesus Cristo, no Dia do Julgamento, me perdoem, ou perdoem aos verdadeiros hereges quando equiparam o Criador a uma de Suas Criaturas, caso eu esteja certo.

Se alguém disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro” (Mt 12, 32).

A má fé do Ministro Barroso no julgamento sobre aborto

Destaco, inicialmente, que a má fé em questão significa a fé, a tese, a crença, que é má, questão de natureza objetiva, científica, e não pessoal, subjetiva, sobre a intenção do sujeito, má-fé. A boa fé está ligada à boa ciência, que é coerente e filosoficamente sustentável, enquanto a má fé se refere a conhecimento incoerente, sem amparo científico, racionalmente deficiente.

O Ministro Barroso já afirmou que a ciência está ligada ao conceito de fé: “A crença na Constituição e no constitucionalismo não deixa de ser uma espécie de fé: exige que se acredite em coisas que não são direta e imediatamente apreendidas pelos sentidos” (BARROSO, 2001).

A má fé está ligada à má ideologia, tida como “um conjunto de valores introjetados e imperceptíveis que condicionam o pensamento, independentemente da vontade” (BARROSO, 2001).

A ideologia materialista que suporta o pensamento do Ministro Barroso, de natureza marxista, foi superada pela nova física e representa uma fé ultrapassada cientificamente, ainda que esses conceitos não tenham chegado às ciências ditas sociais, pois o paradigma ainda está em transição.

O paradigma materialista fundado no atomismo de Demócrito, estabelecendo o mundo e o conhecimento com base em pequenos blocos de coisas materiais ruiu completamente no século XX, pela relatividade e orgânica (mecânica, segundo os materialistas) quântica, não mais se sustentando, pois não tem apoio nos fatos, não tem comprovação empírica, e mesmo assim a maior parte da academia, principalmente nas chamadas “ciências do espírito”, especialmente no campo jurídico, insiste na defesa dessa linha ideológica, o que inclui até mesmo a hermenêutica de Gadamer, como já destaquei anteriormente (https://holonomia.com/2016/11/15/crime-de-hermeneutica-donald-trump-e-cristo-crucificado/).

A ciência é um conhecimento final, teleológico, que se preocupa com a melhoria da experiência do ser, pelo que também o Direito deve ser aplicado com essa finalidade. Tudo o que o homem faz tem um objetivo, da alimentação à satisfação cultural, ainda que os motivos sejam ignorados, inconscientes.

Existe, assim, a má fé, que está ligada à má ciência, a falsa ciência, o argumento falacioso que não tem respaldo nos fatos.

Esse é o caso dos motivos do julgamento proferido no Habeas Corpus n.º 124.306, notadamente quanto aos fundamentos do voto do Ministro Barroso, que representa, data maxima venia, a manifestação de ignorância científica no grau Supremo, pois a decisão é exatamente da Suprema Corte, que deveria zelar pela melhor ciência jurídica, que inclui o melhor da ciência como um todo.

Ainda que o resultado do julgamento possa ter sido correto, pela revogação da prisão preventiva, possivelmente desnecessária no caso analisado, os motivos são falaciosos e cientificamente incorretos. O resultado pode ter sido correto, pelos motivos errados.

O Ministro Barroso agiu filosoficamente com um astrônomo que investiga o tempo durante uma hora do dia, quando o sol está a pino, fazendo conclusões “científicas” no sentido de que se vive em um dia sem noite, pois simplesmente não conheceu o período noturno. Segundo ele próprio, no voto citado:

“A história da humanidade é a história da afirmação do indivíduo em face do poder político, do poder econômico e do poder religioso, sendo que este último procura conformar a moral social dominante. O produto deste embate milenar são os direitos fundamentais, aqui entendidos como os direitos humanos incorporados ao ordenamento constitucional. (…)

Após a Segunda Guerra Mundial, os direitos fundamentais passaram a ser tratados como uma emanação da dignidade humana, na linha de uma das proposições do imperativo categórico kantiano: toda pessoa deve ser tratada como um fim em si mesmo, e não um meio para satisfazer interesses de outrem ou interesses coletivos. Dignidade significa, do ponto de vista subjetivo, que todo indivíduo tem valor intrínseco e autonomia (…)”.

O problema aqui consiste no fato histórico omitido no voto no sentido de que a história da humanidade, enquanto coletividade, para o Ocidente, se define pelo humanismo cristão, que reconhece o homem como ser digno porque filho de Deus, sem distinção. O conceito de humanidade como o conhecemos está diretamente ligado ao cristianismo, que já pregava que todos somos membros uns dos outros, como comunidade. E esse aspecto, que somos membros uns dos outros, a física moderna comprovou, dizendo que não há separação física entre as coisas.

O imperativo categórico de Kant, do mesmo modo, não serve para justificar o aborto, pois do ponto de vista humanitário, o embrião também deve ser reconhecido como indivíduo com valor intrínseco e autonomia, sendo sua autonomia tão relativa quanto a da mãe, pois apenas a holonomia, a lei do Todo, ainda não plenamente conhecida, é absoluta. A autonomia relativa da mãe não lhe permite optar pelo aborto.

O indivíduo livre e pleno surgiu com Cristo, pois antes dele apenas alguns eram livres, segundo o pensamento grego, como destacado por Hegel em sua Filosofia da História.

Segundo o voto no citado Habeas Corpus,

“Torna-se importante aqui uma breve anotação sobre o status jurídico do embrião durante fase inicial da gestação. Há duas posições antagônicas em relação ao ponto. De um lado, os que sustentam que existe vida desde a concepção, desde que o espermatozoide fecundou o óvulo, dando origem à multiplicação das células. De outro lado, estão os que sustentam que antes da formação do sistema nervoso central e da presença de rudimentos de consciência – o que geralmente se dá após o terceiro mês da gestação – não é possível ainda falar-se em vida em sentido pleno.

Não há solução jurídica para esta controvérsia. Ela dependerá sempre de uma escolha religiosa ou filosófica de cada um a respeito da vida. Porém, exista ou não vida a ser protegida, o que é fora de dúvida é que não há qualquer possibilidade de o embrião subsistir fora do útero materno nesta fase de sua formação. Ou seja: ele dependerá integralmente do corpo da mãe. Esta premissa, factualmente incontestável, está subjacente às ideias que se seguem”.

Nesse ponto, deve-se dizer que a mãe também depende integralmente do corpo social, pois duvido que uma mulher, salvo de criação silvícola, conseguiria sobreviver fora da sociedade.

O homem depende integralmente da mãe Terra, e nem por isso é legítimo abortar alguém do planeta, mandando esse alguém para o espaço sideral.

Existe solução jurídica para o caso, pois até mesmo no direito ambiental prevalece o princípio da precaução, evitando um dano ainda desconhecido que possa causar prejuízos ao meio ambiente, e vida humana é o que de mais valioso existe no cosmos, urgindo seja beneficiada pela precaução, pela proibição da prática do aborto.

E a falácia científica sobre a consciência também não se sustenta, pois não há prova de que ela esteja dentro do cérebro (sistema nervoso central), e sequer a ciência definiu o que seja consciência, não podendo ser descartada sua presença já no embrião.

Devemos salientar que a alegação da ausência de consciência alheia, levada ao absurdo, é a base do extremismo terrorista, sustentando que os “infiéis”, que não possuem consciência espiritual correta, devem ser mortos.

O constitucionalismo acata a existência dos direitos humanos, inserindo na base normativa do Estado o respeito à pessoa humana e seus direitos fundamentais, o que é a base do Estado de Direito, cujo objetivo, no caso do Brasil, é “constituir uma sociedade livre, justa e solidária”, e não é justo nem solidário o comportamento de quem já nasceu, e, portanto, não foi abortado, sustentar a possibilidade de aborto, o que representa uma ideia egoísta e abominavelmente covarde. O embrião já possui individualidade genética humana, é um novo ser diverso dos seus pais, merecendo respeito como pessoa humana em desenvolvimento.

“Dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do mínimo existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física e indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda quando haja sobrevivência, não há dignidade” (BARROSO, 2001).

Os valores civilizatórios ocidentais decorrem da fraternidade cristã, e o Brasil é constituído para ser uma sociedade fraterna. Quando essa fraternidade é esquecida a civilização desmorona, como no comunismo soviético, no nazismo alemão, no racismo e no consumismo atual, situações em que ocorreram e ocorrem uma inversão de valores, como na defesa do aborto, fazendo retroceder a ideia civilizatória.

O materialismo ateu não reconhece a transcendência, sustentando que tudo o que existe é a matéria, e o problema é que o grande desafio da ciência do século XXI é provar a existência da matéria como coisas além da consciência, pois até o momento tudo o que existe são campos que se expandem ao infinito interagindo entre si, sendo a matéria essa interação, um momento ínfimo dos campos. A realidade, além de não material, é não local, e tende ao infinito, o que derruba a filosofia do finito e da morte de Heidegger e Gadamar. Segundo a corrente majoritária da física moderna, da qual discordo, as coisas somente existem se forem percebidas pelo observador consciente, durante a interferência. O embrião é percebido, também por si mesmo, e existe, como um campo físico e ideológico que vem desde o primeiro vivente, estando momentaneamente no útero da mãe. A interrupção desse campo da vida é efetivamente um crime.

Provavelmente a consciência, como a natureza, é não local, pelo que ainda que o sistema nervoso do feto não esteja formado já deve haver consciência não local, em algum “lugar” do espaço-tempo, em um campo não percebido pela ciência materialista e falha.

Segundo o Ministro Barroso, “Também a questão do aborto até o terceiro mês de gravidez precisa ser revista à luz dos novos valores constitucionais trazidos pela Constituição de 1988, das transformações dos costumes e de uma perspectiva mais cosmopolita”.

O aborto é abominável, mesmo com seis ou sete semanas de gestação, como pode se ver no seguinte link http://fotosaborto.deog.net/fotos-de-abortos-realizados-entre-as-6-e-as-7-semanas/, mostrando fotos de seres claramente humanoides, com forma humana.

A visão “cosmopolita” do Ministro simplesmente não existe, na medida em que o materialismo não é ordenado, valendo-se do princípio da incerteza como seu fundamento teórico, pelo que a própria ideia de ordem é falha nesse contexto. Não existe propriamente uma ordem material, mas apenas ideal, ou espiritual, ou energética, decorrendo da consciência, da metafísica inteligente e imaterial.

Finalmente, a conclusão do voto é igualmente falaciosa.

“Feita esta breve introdução, e na linha do que foi exposto acerca dos três subprincípios que dão conteúdo à proporcionalidade, a tipificação penal nesse caso somente estará então justificada se: (i) for adequada à tutela do direito à vida do feto (adequação); (ii) não houver outro meio que proteja igualmente esse bem jurídico e que seja menos restritivo dos direitos das mulheres (necessidade); e (iii) a tipificação se justificar a partir da análise de seus custos e benefícios (proporcionalidade em sentido estrito)”.

No primeiro ponto, ele argumenta que a criminalização do aborto não impede sua prática, pelo que não seria uma medida adequada. Por esse argumento, o homicídio também não deve mais ser criminalizado, dados os cerca de cinquenta mil crimes contra a vida praticados anualmente no Brasil.

“Na prática, portanto, a criminalização do aborto (homicídio) é ineficaz para proteger o direito à vida do feto (humana). Do ponto de vista penal, ela constitui apenas uma reprovação ‘simbólica’ da conduta”. As palavras entre parênteses “(homicídio) e (humana)” não constam do voto, mas o argumento valeria do mesmo modo, dentro da lógica formal adotada no julgamento.

Portanto, e concluindo essa crítica, seguindo o entendimento do Ministro Barroso, a previsão do crime de homicídio é ineficaz para evitar os assassinatos, não é adequada, pelo que ele também poderia considerar atípico o crime de homicídio, por inconstitucionalidade decorrente da violação do princípio da proporcionalidade…

Um argumento deve ser levado até o seu extremo, e, às vezes, é somente então, por suas últimas consequências, que conseguimos entender sua impropriedade, sua deficiência racional e científica.

O argumento de mérito do julgamento assusta, é nefasto e hediondo, e cria um perigoso precedente para a defesa da Vida.

REFERÊNCIA:

BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional brasileiro (Pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo). Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ – Centro de Atualização Jurídica, v. I, nº. 6, setembro, 2001. Disponível na internet.