O primeiro “ai”

Uma das passagens que considero mais intrigantes do livro do Apocalipse é aquela referente à quinta trombeta, que libera os gafanhotos sobre a terra:

Foi-lhes dada a permissão, não de matá-los, mas de atormentá-los durante cinco meses com um tormento semelhante ao do escorpião, quando fere um homem. Naqueles dias, os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá deles. O aspecto dos gafanhotos era semelhante ao de cavalos preparados para uma batalha: sobre sua cabeça parecia haver coroas de ouro e suas faces eram como faces humanas; tinham cabelos semelhantes ao cabelo das mulheres e dentes como os do leão; tinham couraças como que de ferro, e o ruído de suas asas era como o ruído de carros com muitos cavalos, correndo para um combate; eram ainda providos de caudas semelhantes à dos escorpiões, com ferrões: nas suas caudas estava o poder de atormentar os homens durante cinco meses. Como rei tinham sobre si o Anjo do Abismo, cujo nome em hebraico é ‘Abaddon’ e, em grego, ‘Apollyon’. O primeiro ‘Ai’ passou. Eis que depois destas coisas vêm ainda dois ‘ais’…” (Ap 9, 5-12).

Para além do significado dos gafanhotos e sua aparência, nunca compreendi a parte do texto em que fala que, “naqueles dias, os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá deles”. Como assim? As pessoas tentarão se matar? Não terão sucesso no suicídio? Isso sempre foi muito estranho, porque não é difícil tirar a vida humana, dada nossa fragilidade corporal, pelo que soa estranho que alguém que realmente queira se matar não consiga.

Hoje temos pragas de gafanhoto por todo planeta, situação que não é única do tempo atual, como ocorre com vários outros eventos climáticos que se repetem ao longo da história. Mas desta vez temos uma condição adicional, a pandemia, resultado do vírus com uma coroa, que mudou a atividade diária de bilhões pelo planeta, e essa mudança de rotina tem impactado a vida e os ciclos biológicos das pessoas.

No artigo “O Apocalipse e a Verdade” (https://holonomia.com/2020/03/28/o-apocalipse-e-a-verdade/) é descrita uma narrativa dos acontecimentos históricos até o clímax, a guerra do Grande Dia do Deus todo-poderoso, que não representa o fim do mundo, mas a derrocada do governo dos reinos pagãos, iniciando um novo tempo histórico, a era messiânica ou Reino de Deus.

O que coloca os sinais muito próximos desse Dia é a situação inigualável do nosso tempo, pela reunião do povo judeu de volta na Terra Santa, em razão da criação do Estado de Israel, situação ausente da história humana praticamente desde o tempo do rei Salomão, e que é efeito político mediato da ação de Jesus, O Messias. Nesse tema específico, a mídia internacional tem sido assustadoramente omissa sobre a promessa de Israel anexar parte das terras da Judeia e da Samaria, o que pode começar no dia primeiro de julho, com potencial de gerar reação de países próximos, ação esta também profetizada (https://www.breakingisraelnews.com/153822/iran-turkey-could-unite-wage-war-against-israel-warns-middle-east-experts/ – notícia original a que cheguei por outra https://ultimosacontecimentos.com.br/2020/06/28/ira-e-turquia-podem-se-unir-para-fazer-guerra-contra-israel-alerta-especialistas-do-oriente-medio/).

Temos, ainda, a sexta taça: “O sexto derramou sua taça sobre o grande rio Eufrates… E a água do rio secou, abrindo caminho aos reis do Oriente. Nisto vi que da boca do Dragão, da boca da Besta e da boca do falso profeta saíram três espíritos impuros, como sapos. São, com efeito, espíritos de demônios: fazem maravilhas e vão até aos reis de toda a terra, a fim de reuni-los para a guerra do Grande Dia do Deus todo-poderoso. (Eis que eu venho como um ladrão: feliz aquele que vigia e conserva suas vestes, para não andar nu e deixar que vejam a sua vergonha.) Eles os reuniram então no lugar que, em hebraico, se chama ‘Harmagedôn’” (Ap 16, 12-16). O que é assombroso é o fato ecológico atual da seca do rio Eufrates, que pode ser constatado numa pesquisa em qualquer buscador da internet.

Portanto, é possível uma interpretação contemporânea da quinta trombeta, conjugada com outros sinais, para além dos gafanhotos, de modo a entender o que significa “os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão”. Como salientado, a pandemia alterou a rotina das pessoas, o que tem provocado distúrbios do sono, de modo que o texto inicialmente transcrito pode ser lido como os homens tentarão dormir, mas não conseguirão, o sono fugirá deles.

Qual a base dessa leitura? Na confusão de ideias entre morrer e dormir encontrada na própria linguagem bíblica daquele tempo:

Disse isso e depois acrescentou: ‘Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo’. Os discípulos responderam: ‘Senhor, se ele está dormindo, vai se salvar!’ Jesus, porém, falara de sua morte e eles julgaram que falasse do repouso do sono. Então Jesus lhes falou claramente: ‘Lázaro morreu’” (Jo 11, 10-14).

Com essa leitura, portanto, afasta-se a dúvida original quanto à estranheza da interpretação literal de “os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão”, do capítulo 9 do livro do Apocalipse.

O segundo “ai” se refere às duas testemunhas, cuja interpretação é muito mais enigmática, com alguma referência simbólica a Moisés e Elias. Tenho para mim que tal tema se refere ao conhecimento científico, ao testemunho da Verdade, num paralelo com o que expus em “Elias e a verdade científica” (https://holonomia.com/2019/02/12/elias-e-a-verdade-cientifica/), porque as “duas oliveiras e os dois candelabros” têm relação com a questão religiosa e com a luz, a sabedoria de Deus, de modo que as duas oliveiras podem ser Israel e a Igreja referidas em Romanos, capítulo 11, em que também se faz citação do profeta Elias e da sabedoria e da ciência de Deus. Israel, vale dizer, se refere aos judeus sinceros, que não conheceram Cristo, e a Igreja é a comunidade dos cristãos, independentemente de denominação, e todos se reunirão sob o governo de Deus e seu Cristo.

O segundo ‘Ai’ passou. Eis que chega rapidamente o terceiro ‘Ai’. E o sétimo Anjo tocou… Houve então fortes vozes no céu, clamando: ‘A realeza do mundo passou agora para nosso Senhor e seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos’” (Ap 11, 14-15).

Temos, então, um “ai”, possivelmente presente, que será seguido de uma crescente de acontecimentos, de qualquer forma já em andamento, envolvendo disputas sobre a verdade científica e religiosa, e sobre a questão política, associadas ao Messias, ao Logos encarnado, culminando na mudança de poder global, quando a realeza do mundo passará para nosso Senhor, dos cristãos, judeus e muçulmanos, e seu Cristo.

O Apocalipse contém uma descrição de eventos religiosos e políticos, porque o Reino de Deus tem natureza científico/religiosa e política, pelo que a Besta domina as nações, embebedadas pela Babilônia, que tem a pretensão iluminista, de governar pela ciência e pela razão, quando manifesta ignorância e trevas.

Daí a importância política da era messiânica, do governo de Cristo, porque será a verdadeira Luz guiando os homens, quando o “Dragão, a antiga Serpente — que é o Diabo, Satanás”, será acorrentado por mil anos, no Abismo, por um anjo, “para que não seduzisse mais as nações até que os mil anos estives sem terminados. Depois disso, ele deverá ser solto por pouco tempo” (Ap 20, 2-3). A mensagem do evangelho será compreendida, e essa mensagem, esse anjo, levará à mudança da compreensão científica e política da humanidade, de modo que nas nações, nos governos humanos, não mais serão aceitas a corrupção, a maldade, a mentira, não mais serão governadas pelo comércio, como ocorre hoje, mas pela Verdade e Justiça.

Vi também as vidas daqueles que foram decapitados por causa do Testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e dos que não tinham adorado a Besta, nem sua imagem, e nem recebido a marca sobre a fronte ou na mão eles voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20, 4).

Adorar a besta e ter sua marca significa seguir o mau governo político, que dá acesso ao deus mercado àqueles que têm sua marca, porque esta serve para “para que ninguém possa comprar ou vender se não tiver a marca, o nome da Besta ou o número do seu nome” (Ap 13, 17).

Deixemos, pois, a Besta e sua marca, pois nem mesmo os anjos podem receber adoração, e esse é o espírito da profecia, o testemunho de Jesus:

Caí então a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: ‘Não! Não o faças! Sou servo como tu e como teus irmãos que têm o testemunho de Jesus. É a Deus que deves adorar!’ Com efeito, o espírito da profecia é o testemunho de Jesus” (Ap 19, 10).

A questão teológica do realismo científico e filosófico

Os temas teológicos são, literalmente, fundamentais, pois neles estão embasados, expressa ou implicitamente, todos os nossos demais conhecimentos. Considero, como exposto no artigo “O problema é Teológico” (https://holonomia.com/2017/06/07/o-problema-e-teologico/), que o problema do mundo é essencialmente teológico, porque falhamos em cumprir o primeiro mandamento, o mais essencial, e, como consequência, falhamos em viver conforme a reta razão, porque Deus é o Logos, a própria Razão, e quando Dele nos afastamos estamos em estado, em maior ou menor grau, de irracionalidade.

A forma como conhecemos o mundo, inclusive cientificamente, é dependente de uma concepção teológica, no que estão incluídas as propostas realista e representacionalista de compreensão filosófica do mundo.

Recentemente, terminei a leitura da obra “The ecological approach to visual perception”, de James J. Gibson, livro ao qual cheguei após expressa menção de Wolfgagn Smith, em “Ciência e Mito”, e de David Bohm, em “A teoria da relatividade restrita”. Também Jordan Peterson faz referência ao trabalho de Gibson em suas aulas das disciplinas “PSY 230 H – Personality and its Transformations” e “PSY 434 H – Maps of Meaning”, ministradas na Universidade de Toronto, Canadá, e disponibilizadas no canal de Peterson no YouTube (https://www.youtube.com/c/jordanpetersonvideos).

Mas devo confessar que só compreendi a plena importância da proposta de Gibson na minha atual leitura, de Edward C. Feser, “Aristotle’s Revenge: The Metaphysical Foundations of Physical and Biological Science”, exatamente na parte que hoje analisei, sobre a percepção incorporada (Embodied perception), em que situa a abordagem científica de Gibson dentro da posição realista da filosofia, em contraposição ao entendimento representacionalista.

Interessante notar, ainda, que tanto Peterson como Feser fazem direta referência à filosofia de Heidegger como paralela à abordagem de Gibson, porque este analista a percepção visual a partir da inserção do homem corporalmente no mundo, e aquele tem também uma filosofia do homem como ser no mundo, o dasein. Contudo, enquanto Feser faz uma abordagem mais estrita, do fenômeno visual, Heidegger aprofunda o sentido da existência humana, e, porque sua filosofia contraria o que entendo como a correta visão da natureza humana e sua essência, concluo que este acaba por falhar na sua visão de que o homem é um ser voltado para a morte.

Não é possível negar o problema da morte, o que indica o parcial acerto da postura heideggeriana. Todavia, o tema da morte não pode ser abordado sem a necessária conexão com a questão teológica e espiritual, quanto à (in)existência de uma realidade que permanece para além da morte corporal, sobre alguma forma de continuidade existencial após a cessação das funções biológicas de nosso corpo físico, seja pela sobrevivência da alma ou pela ressurreição do corpo, o que é solenemente ignorado por Heidegger, provavelmente porque aderiu à postura do seu tempo no sentido de ser proibitiva de qualquer alusão científica a Deus.

Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na geena” (Mt 10, 28).

Os mortos foram então julgados conforme sua conduta, a partir do que estava escrito nos livros. O mar devolveu os mortos que nele jaziam, a Morte e o Hades entregaram os mortos que neles estavam, e cada um foi julgado conforme sua conduta. A Morte e o Hades foram então lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte: o lago de fogo. E quem não se achava inscrito no livro da vida foi também lançado no lago de fogo” (Ap 20, 12-15).

Do ponto de vista cristão, outrossim, entendo que a ideia de Heidegger dizendo que homem é um ser voltado para morte é essencialmente anticristã, manifesta um dasein anticristão, porque a postura existencial do cristão é a da pessoa que vive plenamente no corpo físico mas com a perspectiva da vida eterna, em ação e discurso, de modo que a morte corporal será apenas uma etapa de seu processo existencial, e a mesma pessoa continuará a existir na ressurreição do corpo. Portanto, do ponto de vista cristão, a ideia de Heidegger de que o homem é o ser voltado para a morte só faz sentido se a morte em questão significar a segunda morte, a qual corresponde ao resultado de uma vida afastada da reta razão, contrária ao Logos, cuja conduta viola a própria Vida, que está presente não somente no atual corpo individual como também, simultaneamente, muito além dele.

Voltando a Gibson, vale destacar que Smith, Bohm e Feser o colocam no rumo do realismo filosófico, que se contrapõe ao dualismo cartesiano segundo o qual existem dois mundos, um corpóreo e outro mental, de modo que o que vemos não é o mundo em si, mas a representação do mundo corpóreo através de imagens formadas na mente, ou no cérebro. Pela proposta representacionalista, não temos acesso direto à realidade, mas às imagens que fazemos do mundo.

A impressionante alegação de Gibson é que nossa crença normal está incorreta: o que realmente percebemos não são imagens, não são representações de algum tipo, não são coisas que existem no cérebro ou na mente do percebedor, e sim, com efeito, objetos externos ou acontecimentos. Ora, essa é certamente uma alegação filosófica; contudo, Gibson a formula de forma científica. (…)

Vemos que a teoria gibsoniana se apresenta como uma redescoberta do realismo e, com efeito, de um ‘realismo ingênuo’, pode-se dizer. E isso levanta uma questão intrigante: se uma teoria cientificamente segura acerca da percepção visual se revela defensora do realismo, talvez não seja a ruína do realismo da filosofia ocidental, que começou com Descartes, o resultado de um conceito cientificamente espúrio da percepção visual: uma teoria, nomeadamente, baseada no paradigma da câmera? Se a percepção visual de fato constitui nosso meio básico de acesso ao mundo externo, é compreensível que um paradigma que coloca os perceptos ‘dentro da cabeça’ evidentemente favorece modos não realistas de filosofia, sejam cartesianos, idealistas ou céticos” (Wolfgang Smith. Ciência e mito: com uma resposta a O Grande Projeto de Stephen Hawking. 1ed. Campinas: Vide Editorial, 2014, pp. 120-122).

Passando à teologia profunda, entendo que a dualidade cartesiana está associada às duas cidades de Agostinho, ambas fruto de um dualismo platônico e de uma concepção teológica falha do que seja o cristianismo em sua mensagem fundamental, a aproximação do Reino de Deus ao plano terreno, questão objeto do artigo “Agora” (https://holonomia.com/2018/11/11/agora/), texto que, em síntese, refuta a tese segundo a qual o Reino de Deus não é e nunca será deste mundo, apenas não era para se manifestar no tempo romano em que Jesus viveu. O dualismo é efeito do entendimento no sentido de que o Reino de Deus é ontologicamente de outro mundo, o que é contrário às palavras de Cristo.

Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós” (Mt 12, 28).

O Reino de Deus está próximo de vós” (Lc 10, 9).

A vinda do Reino de Deus não é observável. Não se poderá dizer: ‘Ei-lo aqui! Ei-lo ali!’, pois eis que o Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17, 20).

Como eles ouviam isso, Jesus acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém, e eles pensavam que o Reino de Deus ia se manifestar imediatamente” (Lc 19, 11).

Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3, 3).

Jesus mostrou a antecipação do Reino, por seus feitos, por sua obra, porque já vivia plenamente submisso à Vontade de Deus, cumpria o primeiro mandamento, e por isso manifestou a reta razão, o Logos, corporalmente, com obras, sinais e milagres, transformando-se na semente humana do nascente reino a se manifestar na terra. O Reino é uma realidade já presente, não é algo de outro mundo, é algo espiritual, que vem se manifestando na humanidade desde o tempo de Cristo, apenas não se manifestou politicamente em sua plenitude, ainda não chegou à política internacional, ao governo das nações, o que permanece sendo esperado por judeus e muçulmanos.

O Reino de Deus é um conceito teológico, e que, como visto, possui profundas implicações científicas e filosóficas, refletindo diretamente na filosofia política e na doutrina jurídica, quanto à função do Estado e ao significado da dignidade humana.

A divisão atual do mundo, que é um efeito mediato daquele dualismo, só permite ver o que não é o Reino de Deus, porque só se veem os demônios manifestados nos outros. Mas tanto no lado do “nós” como do “eles” existem bons e maus espíritos em ação, sendo necessário ver o espírito que se manifesta além das representações mentais parciais.

É preciso ver os bons e maus espíritos em ação, pelas obras, na ciência e na política, na manipulação das informações. É mister que vejamos as obras de Cristo, e de seus enviados, segundo a doutrina de Cristo, para contemplarmos a realidade.

As obras que faço em nome de meu Pai dão testemunho de mim” (Jo 10, 25).

Quem crê em mim não é em mim que crê, mas em quem me enviou, e quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12, 44-45).

O mundo espiritual está a nossa volta, é possível vê-lo, é uma realidade com a qual interagimos concretamente. Não vivemos apenas no mundo do corpo, como animais que têm consciência de que morrem, a plenitude de nossa vida é vivermos no mundo espiritual encarnado, mudamos o mundo por meio do espírito que encarnamos, porque entramos em um mundo no qual já há um espírito, do que a cultura é um exemplo, e deixamos nossa marca material na terra em razão do espírito que deixamos agir em nós, um legado que transcende nossa morte e que surge permanentemente, como resíduos materiais e espirituais de todas as nossas ações. E segundo os que têm a fé de Cristo, futuramente voltaremos neste mundo, em uma reciclagem universal, com uma nova composição material que receberá os efeitos de todos os espíritos encarnados, inclusive, e especialmente, para nós, de nós mesmos.

O Espírito não é algo em nossos cérebros ou nossas mentes, porque Nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17, 28), e desse realismo ontológico, teológico, científico e filosófico não podemos fugir, pelo que urge que a ele regressemos, para que possamos, enfim, viver conforme a reta razão, segundo a vontade de Deus, o Logos, cumprindo o primeiro mandamento e manifestando a realidade do Reino de Deus.

Um Deus contra vários ídolos

Ouve, ó Israel: Iahweh nosso Deus é o único Iahweh! Portanto, amarás a Iahweh teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força. Que estas palavras que hoje te ordeno estejam em teu coração! Tu as inculcarás aos teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando em teu caminho, deitado e de pé. Tu as atarás também à tua mão como um sinal, e serão como um frontal entre os teus olhos; tu as escreverás nos umbrais da tua casa, e nas tuas portas” (Dt 6, 4-9).

Este é o Shemá, que contém o credo básico do Monoteísmo, e serve de fundamento para o credo cristão: “Creio em um só Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”.

Também no Alcorão: “Seja qual for o assunto de vossas divergências, a palavra final pertence a Deus. Ele é meu Senhor. N’Ele deposito minha confiança e para Ele volto contrito” (Sura 42: 10).

Há um só Deus, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, a Quem pertence a palavra final sobre todos os assuntos, e para O qual todos voltaremos.

Contudo, em Seu lugar, muitos ídolos foram e são colocados, ídolos que dizem respeito ao (des)conhecimento de Deus, de sua Unicidade, ídolos que são a fonte das divergências relativas aos assuntos humanos e divinos, porque são ídolos científicos e religiosos.

Francis Bacon, na sua busca pelo conhecimento correto, desenvolveu a ideia de quatro ídolos, que significam falsas noções ou conceitos que impedem a mente de alcançar a ciência correta: os ídolos da tribo, que são tendências inerentes à natureza humana, de confundir as coisas como elas são com a forma como elas aparecem para nós; os ídolos da caverna, decorrentes das formações individuais e suas particularidades; os ídolos do foro ou do mercado, relativos ao uso indevido das palavras, que impedem a compreensão; e os ídolos do teatro, correspondentes aos vícios filosóficos e científicos, pelos quais, ao invés de procurarmos a verdade das coisas, acabamos colocando nossas “verdades”, ou vícios, nas coisas.

A teoria de Bacon usa a expressão “ídolos” e remete diretamente à questão teológica de Israel, porque a adoração ao Deus único e a obediência aos seus mandamentos sempre foram ofuscadas por ídolos que se opunham entre os homens e Deus, e Seu conhecimento, de modo que havia o desvio da autêntica prática religiosa, que é científica e filosófica, é teológica.

Por ser considerado um dos pais da ciência moderna, dizendo que esta deveria ser buscada a partir da observação, fazendo com que a ciência passasse a experimental, pode-se dizer que a idolatria, que era um conceito teológico, transformou-se em um tema científico, pelo que é possível afirmar que, ainda hoje, e especialmente hoje, a teoria dos ídolos tem aplicação, e que a ciência atual está dominada pelos ídolos que um de seus fundadores rejeitava.

Os ídolos da tribo significam conceituar o ser humano em termos estritamente biológicos, como apenas uma espécie de primata que mais se desenvolveu, dando destaque às nossas semelhanças com os animais e ignorando como epifenômenos cerebrais as experiências mais fundamentais e que nos definem como humanos.

Como ídolo da caverna pode ser citado o individualismo, que entende a humanidade associada ao prazer particular e exclusivamente subjetivo, como algo isolado de sua comunidade e de sua formação psíquica ancestral e coletiva, como se fosse possível criar novas identidades artificiais, como uma nova natureza, sem que isso implicasse em profundos danos psíquicos à convivência social.

Os ídolos do mercado ou do foro estão hoje de ponta a cabeça, porque, ao invés de se estabelecer a linguagem para a correta descrição da realidade, as palavras passaram a significar qualquer coisa, em que deve ser exaltado o multiculturalismo no qual os significados dos fenômenos são meramente convencionais, pois não há Verdade.

Finalmente, pode-se dizer que a ciência moderna incorporou a própria ideia do que sejam os ídolos do teatro, pelo cientificismo materialista, que rejeita como não científico tudo que não pode ser pesado, medido e contato, e sequer é capaz de explicar razoavelmente a natureza da própria realidade material, diante das várias dúvidas geradas pela física quântica, da qual o ídolo mor é o multiverso, o qual foi literalmente alçado ao deus criador de nosso universo, deus esse cuja existência não podemos provar, do qual não podemos experimentar e que está simplesmente posto como supostamente real para além de nosso universo físico, tendo sido projetado da mente de alguns cientistas para o plano cosmológico, para ser adorado.

É preciso voltar, pois, às bases do conhecimento científico, entendido como algo relacional, porque conhecer é relacionar coisas, entre móveis e imóveis, variantes e invariantes, as que passam e as que ficam.

As coisas básicas permanentes iniciais somos nós mesmos, nossos corpos, que têm sua origem nos corpos de nossos pais, no material genético que recebemos, que remete à origem da vida, e do próprio cosmos, ainda que nossos corpos sejam, de outro lado, provisórios, porque morreremos e voltaremos ao pó.

Incrustada em nossos corpos está nossa cultura, fruto de desenvolvimento físico e mental, que permite que algumas ideias invariantes se projetem no tempo e no espaço, estendendo nossa existência para o passado, para o futuro e para outros espaços geográficos. Assim, para além da existência biológica local, passada geneticamente, possuímos uma existência espiritual, não local e atemporal, presente tanto nas religiões como na própria ciência, fruto de nossa capacidade mental de abstração e imaginação, que permite a representação das coisas e eventos que transcendem a capacidade sensorial imediata, e que é transmitida comunitariamente.

A cultura é resultado de representações do mundo, entendida como criação de modelos mentais de mundo, às vezes físicos, pela arte e pelo instrumental científico, modelos esses que podem ou não ser adequados à realidade sutil ou não presente que pretendem simbolizar, ou seja, a realidade que nossas habilidades sensitivas ordinárias não captam no aqui e agora. A função da representação, portanto, é trazer para o presente imediato e local algo que se pressupõe contínuo ao aqui e agora, mas que escapa à nossa capacidade individual de apreensão física e intelectual, pela distância temporal e espacial e pela quantidade de informação e dados necessários para serem relacionados e reunidos em unidade sensorial e mental.

A busca do conhecimento é no sentido da unidade dessas relações, daquilo que permanece, é sempre invariante, o universal que permite as relações e a tradução entre os eventos, dando-lhes continuidade lógica, tornando presente a continuidade existencial do movimento do mundo que transcende nossa limitação sensorial, como a proposta aristotélica de um motor imóvel como causa de todos os movimentos do mundo.

Para Bacon, essa unidade é buscada pelas experiências que nos conduzem à lei geral dos fenômenos, alcançada por meio do método indutivo. Pode-se dizer que Bacon estava voltado teologicamente para o conhecimento do Deus único, que estabeleceu as leis da natureza, porque a existência do Criador é pressuposta na ideia de leis da natureza, aprimorando a proposta do motor imóvel aristotélico.

Conhecimento é diferente de mero ajuntamento, porque o primeiro é organizado, ao contrário do segundo. Uma das principais obras de Bacon é o Novum organum, que expressamente traz em seu título a ideia de organismo, organização, e não mero ajuntamento aleatório e caótico.

O conhecimento, portanto, é a ciência que transcende as coisas individuais sobrepostas, pressupondo a superação das suas finitudes, de modo que a ciência, ainda que passe por uma experimentação, está além da limitação corporal, referindo-se à transposição da mera particularidade, para alcançar uma unidade que supera nossa finitude, e que está no infinito, referindo-se ao organismo do qual somos membros.

Mesmo no atomismo, o conhecimento, que chegava à finitude, os átomos, referia-se a nós como sua infinitude, ao que está além dos átomos, no que se incluíam nossos corpos e tudo mais que existe no mundo visível, mundo infinito em relação aos átomos considerados individualmente, mundo este no qual os próprios atomistas viviam, pois não comiam átomos e não dormiam em átomos, mas nas coisas por eles formadas. Daí porque também é necessário superar nossa mera individualidade corporal, ou atômica, para obtenção de uma ciência social, da ordem do mundo humano, pois se os comportamentos puderem se basear simplesmente na vontade atômica das pessoas, reinará o caos, o mundo em que cada um é ídolo de si mesmo.

O progresso do conhecimento é, portanto, em direção à infinitude e seu limite cognoscível, Deus ou caos, o primeiro como unidade que está além de toda particularidade, e o segundo como uma limitação primordial insuperável, que deve ser ignorada para tornar a vida possível além dos infinitos ídolos.

O bezerro de ouro está diante de nós, governando o mundo, especialmente por meio dos ídolos do comércio e do teatro, o que explica parcialmente a divisão atual do mundo, decorrente da natureza teológica das questões científicas e políticas, do que um dos patronos da ciência tinha pleno conhecimento, mas que é solenemente ignorado pela maioria das pessoas, que acabam adorando ídolos, porque quando estão contando mortos ou indicadores econômicos, de fato, calculam os números dos ídolos que continuam seguindo, esquecendo-se que Iahweh nosso Deus é o único Iahweh:

Vi depois outra Besta sair da terra: tinha dois chifres como um Cordeiro, mas falava como um dragão. Toda a autoridade da primeira Besta, ela a exerce diante desta. E ela faz com que a terra e seus habitantes adorem a primeira Besta, cuja ferida mortal tinha sido curada. Ela opera grandes maravilhas: até mesmo a de fazer descer fogo do céu sobre a terra, à vista dos homens. Graças às maravilhas que lhe foi concedido realizar em presença da Besta, ela seduz os habitantes da terra, incitando-os a fazerem uma imagem em honra da Besta que tinha sido ferida pela espada, mas voltou à vida. Foi-lhe dado até mesmo infundir espírito à imagem da Besta, de modo que a imagem pudesse falar e fazer com que morressem todos os que não adorassem a imagem da Besta. Faz também com que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos recebam uma marca na mão direita ou na fronte, para que ninguém possa comprar ou vender se não tiver a marca, o nome da Besta ou o número do seu nome. Aqui é preciso discernimento! Quem é inteligente calcule o número da Besta, pois é um número de homem: seu número é 666!” (Ap 13, 11-18).

Vidas importam – lives matter

O título do artigo não é “vidas negras importam”, relativo ao movimento black lives matter, porque falar em vidas negras é reduzir hipocritamente o âmbito da discussão, como o fazem muitos que estão nas manifestações recentes de protesto contra a imbecil e absurda morte de George Floyd, decorrente da ação criminosa de um policial, que não foi impedido por outros policiais, também contrariando seus deveres legais, todos os quais agiram com manifesto desprezo pela vida humana.

O ponto em questão é o fato de que muitos dos que estão nas ruas, normalmente os brancos, dizendo que vidas negras importam, são os mesmos que se fazem presentes em manifestações pela liberação do aborto, inclusive de mulheres negras, o que implica em inegável contradição, hipocrisia, porque o foco está em uma verdade inquestionável, as vidas negras importam, que acaba se transformando em uma mentira se a perspectiva do discurso do mesmo emissor aumenta, quando se trata dessa mesma vida em formação, que deixa de importar.

Mesmo reconhecendo que meu conhecimento da matéria é insuficiente, faço uma clara associação entre os movimentos racistas, de um lado, e o movimento judaico, de outro, ambos entendidos como a manifestação da supremacia da espécie, e, como não é possível haver duas supremacias, a opção nazista, que deve ser entendida como um movimento de esquerda, socialista e nacionalista, promoveu o holocausto, como tentativa de extinção de um movimento supremacista opositor, ideologicamente superior, e que era tratado com outros grupos como a parcela inferior da humanidade.

Não se pode esquecer, no ponto, que o nazismo se distinguia do comunismo porque este era socialista e internacionalista, sendo que o foco do primeiro era subjetivamente restrito, o povo ariano, e o do segundo subjetivamente mais amplo, a classe trabalhadora. Nos dois casos, o método de ação foi a eliminação das outras subjetividades.

Portanto, tirando alguns autênticos defensores da Vida e os negros, alguns dos quais também integram o primeiro grupo, que legitimamente defendem a preservação de suas vidas, que ficam em risco quando a cor da pele é motivo de violência, muitos que defendem a bandeira “black lives matter” são do mesmo espectro ideológico do comunismo e do nazismo, a ideologia de uma igualdade material, de classe ou nacional, responsável por dezenas de milhões de mortes humanas, e permanecem completamente omissos quanto às violações de vidas humanas na Coreia do Norte, na Venezuela e na China, por exemplo, e não levantam minimamente a voz em manifestação contra a morte do médico chinês que tentou alertar sobre o vírus e que se tivesse sido ouvido provavelmente poder-se-iam salvar dezenas de milhares de vias.

A questão fica extremamente complexa, nessa linha, quando colocado o presidente dos EUA no jogo argumentativo, pois ele é atacado com a pecha de racismo por seu linguajar às vezes ignorante e, quiçá, racista, quando, ao mesmo tempo, argumenta a favor da vida, contra o aborto, defende a liberdade civil em Hong Kong e coloca o Irã, cujos líderes políticos têm a declarada intenção de “varrer Israel da face da Terra”, como um dos perigos para a comunidade internacional, para a humanidade.

A ideia de supremacia ariana está associada à de supremacia judaica, uma forma de racismo, uma ideia limitada de humanidade. Muitos não conseguem enxergar essa realidade da visão judaica, cujo desenvolvimento levou ao conceito moderno de humanidade e dignidade humana, e era expressa até mesmo nas palavras de Jesus:

Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse, mas não conseguiu permanecer oculto. Pois logo em seguida, uma mulher cuja filha tinha um espírito impuro ouviu falar dele, veio e atirou-se a seus pés. A mulher era grega, siro-fenícia de nascimento, e lhe rogava que expulsasse o demônio de sua filha. Ele dizia: ‘Deixa que primeiro os filhos se saciem porque não é bom tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos’. Ela, porém, lhe respondeu: ‘É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, as migalhas das crianças!’ E Ele disse-lhe: ‘Pelo que disseste, vai: o demônio saiu da tua filha’. Ela voltou para casa e encontrou a criança atirada sobre a cama. E o demônio tinha ido embora” (Mc 7, 24-30).

Tal é a mesma passagem de Mt 15, 21-28, na qual consta em nota da Bíblia de Jerusalém:

Jesus deve ocupar-se com a salvação dos judeus, ‘filhos’ de Deus e das promessas, antes de cuidar dos gentios, que aos olhos dos judeus eram apenas ‘cães’. O caráter tradicional dessa imagem e a forma diminutiva atenuam, nos lábios de Jesus, o que esse epíteto tinha de desdenhoso” (BÍBLIA DE JERUSALÉM. 1. ed. 9.ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2013, p. 1732).

Portanto, considerando que esta passagem é estranha aos ouvidos atuais, porque contradiz a imagem do Jesus “politicamente correto” que nos foi passada, certamente é classificada por Bart Ehrman como algo que o Jesus histórico verdadeiramente disse.

O cristianismo não é “politicamente correto”, é ontologicamente correto, cientificamente correto, filosoficamente correto e antecede a mensagem da política correta, o correto exercício do poder público fundado no império de uma Lei justa e conforme a vontade de Deus, ou conforme a Natureza, e nossa origem divina. Essa Lei era a Torá, interpretada pelos profetas, cujo cumprimento era a missão de Cristo, porque o Rei cumpre a Lei. Há uma hierarquia na ideia de humanidade, a qual progrediu a partir da visão judaica de mundo, que representava a melhor concepção de humanidade da antiguidade.

O cristianismo é a manifestação da subjetividade divina expressa por sujeitos humanos, porque com a morte de Jesus, o Messias Judeu, o povo judeu como nação perdeu provisoriamente sua posição privilegiada perante Deus, para voltar a este posto não mais com exclusividade nacional, mas como um dos povos filhos de Abraão, os povos dos filhos de Deus, os que têm a visão integral da humanidade e representam o ápice da espécie. Vale dizer que essa é a mensagem de Paulo, um antigo nacionalista judeu, que se transformou em israelita espiritual, defensor da nova humanidade, como evolução da humanidade judaica, que deixa de ser nacional e passa a internacional.

Não quero que ignoreis, irmãos, este mistério, para que não vos tenhais na conta de sábios: o endurecimento atingiu uma parte de Israel até que chegue a plenitude dos gentios, e assim todo Israel será salvo, conforme está escrito: De Sião virá o libertador e afastará as impiedades de Jacó, e esta será minha aliança com eles, quando eu tirar seus pecados. Quanto ao Evangelho, eles são inimigos por vossa causa; mas quanto à Eleição, eles são amados, por causa de seus pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. Com efeito, como vós outrora fostes desobedientes a Deus e agora obtivestes misericórdia, graças à desobediência deles, assim também eles agora são desobedientes graças à misericórdia exercida para convosco, a fim de que eles também obtenham misericórdia no tempo presente. Deus encerrou todos na desobediência para a todos fazer misericórdia” (Rm 11, 25-32).

Interessante notar que, cientificamente, a subjetividade antecede a objetividade, porque todas as nossas experiências são, para nós, subjetivas e objetivas, enquanto para outros podem ser apenas subjetivas. Contudo, algumas pessoas especiais têm maior acesso à realidade, por dons que possuem, como sensibilidade ou inteligência aprimoradas, algumas vezes absurdamente desenvolvidas, no que devem ser incluídos os profetas da antiguidade e os grandes cientistas. Esses sujeitos tinham o foco correto em determinados temas e conseguiam antever o que ainda seria visto pelas outras pessoas posteriormente, e o que lhe era atribuído como niilismo muitas vezes era a manifestação direta de uma realidade muito mais ampla, objetivamente.

O maior desses sujeitos é Jesus Cristo, que, mesmo vindo no contexto da supremacia judaica, dada a superioridade inquestionável de sua religiosidade e de seu entendimento de Deus, tem como missão levar esse conhecimento superior para o governo das nações, no plano internacional, em que a vida do estrangeiro importa, em que o inimigo deve ser amado, ou seja, em que há direitos humanos. Nesse governo as vidas importam, porque reconhece que a Vida importa de Deus, é exportada de Deus, não é algo que vem da carne, mas do Espírito, e cada vida humana, desde o ventre materno, é um dom e uma graça de Deus, um Templo de Seu Espírito, e por isso de valor inestimável. Por isso:

Assim também, não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca” (Mt 18, 14).

Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25, 39).

Jesus não falou de aborto nem de vidas negras, simplesmente porque era impensável para um judeu, que tinha uma ideia superior da Vida, cogitar um aborto e porque a cor da pele nunca importou no tempo de Cristo, que vivia no oriente médio, esteve no Egito, na África, em que a cor da pele negra era comum, irrelevante, sendo que o que importava era a fé da pessoa, seu modo de vida, e muitos judeus eram negros, sem que isso significasse qualquer redução do seu status religioso.

Portanto, se uns defendem vidas negras apenas por interesses políticos, e outros a elas não dão o valor devido, ambos baseados em ideologias políticas parciais, estão todos errados, Deus encerrou todos na desobediência para a todos fazer misericórdia, porque Vidas importam, Lives matter.

Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são insondáveis seus juízos e impenetráveis seus caminhos! Quem, com efeito, conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem se tornou seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe fez o dom para receber em troca? Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém” (Rm 11, 33-36).