Uma das passagens que considero mais intrigantes do livro do Apocalipse é aquela referente à quinta trombeta, que libera os gafanhotos sobre a terra:
“Foi-lhes dada a permissão, não de matá-los, mas de atormentá-los durante cinco meses com um tormento semelhante ao do escorpião, quando fere um homem. Naqueles dias, os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá deles. O aspecto dos gafanhotos era semelhante ao de cavalos preparados para uma batalha: sobre sua cabeça parecia haver coroas de ouro e suas faces eram como faces humanas; tinham cabelos semelhantes ao cabelo das mulheres e dentes como os do leão; tinham couraças como que de ferro, e o ruído de suas asas era como o ruído de carros com muitos cavalos, correndo para um combate; eram ainda providos de caudas semelhantes à dos escorpiões, com ferrões: nas suas caudas estava o poder de atormentar os homens durante cinco meses. Como rei tinham sobre si o Anjo do Abismo, cujo nome em hebraico é ‘Abaddon’ e, em grego, ‘Apollyon’. O primeiro ‘Ai’ passou. Eis que depois destas coisas vêm ainda dois ‘ais’…” (Ap 9, 5-12).
Para além do significado dos gafanhotos e sua aparência, nunca compreendi a parte do texto em que fala que, “naqueles dias, os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá deles”. Como assim? As pessoas tentarão se matar? Não terão sucesso no suicídio? Isso sempre foi muito estranho, porque não é difícil tirar a vida humana, dada nossa fragilidade corporal, pelo que soa estranho que alguém que realmente queira se matar não consiga.
Hoje temos pragas de gafanhoto por todo planeta, situação que não é única do tempo atual, como ocorre com vários outros eventos climáticos que se repetem ao longo da história. Mas desta vez temos uma condição adicional, a pandemia, resultado do vírus com uma coroa, que mudou a atividade diária de bilhões pelo planeta, e essa mudança de rotina tem impactado a vida e os ciclos biológicos das pessoas.
No artigo “O Apocalipse e a Verdade” (https://holonomia.com/2020/03/28/o-apocalipse-e-a-verdade/) é descrita uma narrativa dos acontecimentos históricos até o clímax, a guerra do Grande Dia do Deus todo-poderoso, que não representa o fim do mundo, mas a derrocada do governo dos reinos pagãos, iniciando um novo tempo histórico, a era messiânica ou Reino de Deus.
O que coloca os sinais muito próximos desse Dia é a situação inigualável do nosso tempo, pela reunião do povo judeu de volta na Terra Santa, em razão da criação do Estado de Israel, situação ausente da história humana praticamente desde o tempo do rei Salomão, e que é efeito político mediato da ação de Jesus, O Messias. Nesse tema específico, a mídia internacional tem sido assustadoramente omissa sobre a promessa de Israel anexar parte das terras da Judeia e da Samaria, o que pode começar no dia primeiro de julho, com potencial de gerar reação de países próximos, ação esta também profetizada (https://www.breakingisraelnews.com/153822/iran-turkey-could-unite-wage-war-against-israel-warns-middle-east-experts/ – notícia original a que cheguei por outra https://ultimosacontecimentos.com.br/2020/06/28/ira-e-turquia-podem-se-unir-para-fazer-guerra-contra-israel-alerta-especialistas-do-oriente-medio/).
Temos, ainda, a sexta taça: “O sexto derramou sua taça sobre o grande rio Eufrates… E a água do rio secou, abrindo caminho aos reis do Oriente. Nisto vi que da boca do Dragão, da boca da Besta e da boca do falso profeta saíram três espíritos impuros, como sapos. São, com efeito, espíritos de demônios: fazem maravilhas e vão até aos reis de toda a terra, a fim de reuni-los para a guerra do Grande Dia do Deus todo-poderoso. (Eis que eu venho como um ladrão: feliz aquele que vigia e conserva suas vestes, para não andar nu e deixar que vejam a sua vergonha.) Eles os reuniram então no lugar que, em hebraico, se chama ‘Harmagedôn’” (Ap 16, 12-16). O que é assombroso é o fato ecológico atual da seca do rio Eufrates, que pode ser constatado numa pesquisa em qualquer buscador da internet.
Portanto, é possível uma interpretação contemporânea da quinta trombeta, conjugada com outros sinais, para além dos gafanhotos, de modo a entender o que significa “os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão”. Como salientado, a pandemia alterou a rotina das pessoas, o que tem provocado distúrbios do sono, de modo que o texto inicialmente transcrito pode ser lido como os homens tentarão dormir, mas não conseguirão, o sono fugirá deles.
Qual a base dessa leitura? Na confusão de ideias entre morrer e dormir encontrada na própria linguagem bíblica daquele tempo:
“Disse isso e depois acrescentou: ‘Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo’. Os discípulos responderam: ‘Senhor, se ele está dormindo, vai se salvar!’ Jesus, porém, falara de sua morte e eles julgaram que falasse do repouso do sono. Então Jesus lhes falou claramente: ‘Lázaro morreu’” (Jo 11, 10-14).
Com essa leitura, portanto, afasta-se a dúvida original quanto à estranheza da interpretação literal de “os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão”, do capítulo 9 do livro do Apocalipse.
O segundo “ai” se refere às duas testemunhas, cuja interpretação é muito mais enigmática, com alguma referência simbólica a Moisés e Elias. Tenho para mim que tal tema se refere ao conhecimento científico, ao testemunho da Verdade, num paralelo com o que expus em “Elias e a verdade científica” (https://holonomia.com/2019/02/12/elias-e-a-verdade-cientifica/), porque as “duas oliveiras e os dois candelabros” têm relação com a questão religiosa e com a luz, a sabedoria de Deus, de modo que as duas oliveiras podem ser Israel e a Igreja referidas em Romanos, capítulo 11, em que também se faz citação do profeta Elias e da sabedoria e da ciência de Deus. Israel, vale dizer, se refere aos judeus sinceros, que não conheceram Cristo, e a Igreja é a comunidade dos cristãos, independentemente de denominação, e todos se reunirão sob o governo de Deus e seu Cristo.
“O segundo ‘Ai’ passou. Eis que chega rapidamente o terceiro ‘Ai’. E o sétimo Anjo tocou… Houve então fortes vozes no céu, clamando: ‘A realeza do mundo passou agora para nosso Senhor e seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos’” (Ap 11, 14-15).
Temos, então, um “ai”, possivelmente presente, que será seguido de uma crescente de acontecimentos, de qualquer forma já em andamento, envolvendo disputas sobre a verdade científica e religiosa, e sobre a questão política, associadas ao Messias, ao Logos encarnado, culminando na mudança de poder global, quando a realeza do mundo passará para nosso Senhor, dos cristãos, judeus e muçulmanos, e seu Cristo.
O Apocalipse contém uma descrição de eventos religiosos e políticos, porque o Reino de Deus tem natureza científico/religiosa e política, pelo que a Besta domina as nações, embebedadas pela Babilônia, que tem a pretensão iluminista, de governar pela ciência e pela razão, quando manifesta ignorância e trevas.
Daí a importância política da era messiânica, do governo de Cristo, porque será a verdadeira Luz guiando os homens, quando o “Dragão, a antiga Serpente — que é o Diabo, Satanás”, será acorrentado por mil anos, no Abismo, por um anjo, “para que não seduzisse mais as nações até que os mil anos estives sem terminados. Depois disso, ele deverá ser solto por pouco tempo” (Ap 20, 2-3). A mensagem do evangelho será compreendida, e essa mensagem, esse anjo, levará à mudança da compreensão científica e política da humanidade, de modo que nas nações, nos governos humanos, não mais serão aceitas a corrupção, a maldade, a mentira, não mais serão governadas pelo comércio, como ocorre hoje, mas pela Verdade e Justiça.
“Vi também as vidas daqueles que foram decapitados por causa do Testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e dos que não tinham adorado a Besta, nem sua imagem, e nem recebido a marca sobre a fronte ou na mão eles voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20, 4).
Adorar a besta e ter sua marca significa seguir o mau governo político, que dá acesso ao deus mercado àqueles que têm sua marca, porque esta serve para “para que ninguém possa comprar ou vender se não tiver a marca, o nome da Besta ou o número do seu nome” (Ap 13, 17).
Deixemos, pois, a Besta e sua marca, pois nem mesmo os anjos podem receber adoração, e esse é o espírito da profecia, o testemunho de Jesus:
“Caí então a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: ‘Não! Não o faças! Sou servo como tu e como teus irmãos que têm o testemunho de Jesus. É a Deus que deves adorar!’ Com efeito, o espírito da profecia é o testemunho de Jesus” (Ap 19, 10).