The End of Quantum Reality

The End of Quantum Reality” é um documentário produzido por “The Philos-Sophia Initiative” (https://philos-sophia.org/), instituição que tem o objetivo de contribuir para a transformação de nossa civilização através da recuperação do aspecto “vertical” da realidade cósmica, com base nas descobertas filosóficas e científicas de Wolfgang Smith.

O documentário objeto deste artigo foi lançado no início de 2020, e adiei o cadastro em novo sítio de disponibilização de vídeos pela internet até recentemente, quando conheci a página Lumine TV (https://lancamento.lumine.tv/cadastro/), através de e-mail recebido do próprio sítio Philos-Sophia. Com surpresa, descobri que também está disponibilizado no sítio o documentário “The Rise of Jordan Peterson”. O melhor é que a plataforma disponibiliza 14 (quatorze) dias de acesso gratuito ao seu conteúdo, pelo que esse terceiro motivo torna imperativo o convite para conhecer o vídeo sobre o trabalho e o pensamento de Wolfgang Smith, e também de Jordan Peterson e a vida de santos, como o Padre Pio, todos com legenda em português.

Assisti ao filme na noite de ontem, cujo assunto é um dos mais complexos, talvez o mais elaborado tema da Ciência e da Filosofia dos últimos cem anos, e que retoma uma discussão de séculos, que, na verdade, surge com a própria Filosofia.

Por que poucas pessoas sabem disso? Wolfgang Smith dá uma resposta quando justifica o abandono de sua bolsa de estudos em Filosofia três semanas após o início do curso.

Se no início de sua carreira acadêmica ele pensava que a Física era o caminho para a compreensão do mundo, depois descobriu que a Filosofia havia se tornado para ele uma busca sagrada, porque significava “amor à sabedoria”, relativo à sabedoria profunda, mística, espiritual, que está além de acrobacias mentais, e por haver amor, não apenas uma questão profissional.

Tal como David Bohm, Smith entendeu que a ciência como a entendemos hoje é insuficiente para explicar o mundo, sendo necessário um retorno à sua origem, à Filosofia. Assim, depois de se formar em Física aos 18 (dezoito) anos, Smith foi cursar Filosofia na Universidade de Cornell, mas lá ficou apenas três semanas, abandonando o curso. Em suas palavras:

Depois de três semanas, eu não aguentava mais, não aguentava o ambiente. E fui ao diretor de departamento de Filosofia e disse: ‘Estou desistindo de minha bolsa de estudos. Vou embora’. Porque para mim filosofia era Philo Sophia. E aquelas pessoas: a) não estavam interessadas em Sophia; também não havia nenhum Philos, nenhum amor em seus corações. Era algo profissional, era frio, era seco (…) e senti não apenas que eu não estava interessado naquilo, eu senti que era uma profanação de algo que é fundamentalmente sagrado. Me senti como se estivesse sacudindo a poeira dos meus pés.”

Em suas falas, Jordan Peterson também afirma que a Universidade de hoje subverte a sua função, que 80% (oitenta por cento) dos trabalhos universitários das humanidades, das chamadas ciências humanas, não são citados uma única vez, e nem mesmo os amigos olham esses trabalhos, o que significa um fracasso institucional. Peterson diz que as universidades falham, prolongando o período de adolescência, não ensinando a falar em público, a ler criticamente ou a escrever. Destaca que a busca pelo conhecimento não se encerra aos vinte e poucos anos, e que a Universidade não vem servido ao público maior para o qual foi instituída.

Portanto, é possível dizer, com Smith, que a Sabedoria tem sido profanada, mas o sacudir a poeira dos pés não é desistir, é continuar, haja vista que o Evangelho, e é disso que se trata, é por isso que Universidade foi criada no seio da comunidade Cristã, o Evangelho continua a ser pregado, e continua a se espalhar, a Boa Nova é cada vez mais presente, e da inconsciência representada pelas eleições de Trump e Bolsonaro chegaremos à consciência da necessidade de um Governo submetido à Vontade de Deus, ao Logos, e não à mentira politicamente correta que domina a academia materialista e ateia e a grande mídia.

Para isso, o trabalho de Smith é indispensável, mas insuficiente, porque se é necessário reformular a Filosofia dos últimos quinhentos anos, é também urgente compreender a Teologia de Cristo, corrigindo dezoito séculos de desvio pagão fruto de influência platônica. Nesse ponto, a base aristotélica da Filosofia de Smith está no caminho certo, e deve ser utilizada também na Teologia, para a melhor compreensão da ideia de Encarnação, que o próprio Smith menciona, mas que o dogma acaba por impedir ser melhor entendida.

A recuperação da dimensão Vertical exige que se entenda o verdadeiro significado de “Deus acima de todos”, de uma Verdade ontológica, e Teológica, que o Cristianismo esqueceu, incluindo o fato de que o Messias é também um líder político e faz a vontade do Pai, o Único Deus, e maior que todos. Nas palavras de Cristo: “o Filho, por si mesmo, nada pode fazer mas só aquilo que vê o Pai fazer” (Jo 5, 19); “Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar da mão do Pai” (Jo 10, 29); “o Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28).

A verticalidade também se aplica a Jesus, o enviado de Deus, como obviamente a nós, os enviados do enviado, para proclamar o Reino.

Em qualquer cidade em que entrardes e fordes recebidos, comei o que vos servirem; curai os enfermos que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’. Mas em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebidos, saí para as praças e dizei: ‘Até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos pés, nós a sacudimos para deixá-la para vós. Sabei, no entanto, que o Reino de Deus está próximo’. Digo-vos que, naquele Dia, haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade. Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Pois se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que em vós se realizaram, há muito teriam se convertido, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre cinzas. Assim, no Julgamento, haverá menos rigor para Tiro e Sidônia do que para vós. E tu, Cafarnaum, te elevarás até ao céu? Antes, até ao inferno descerás! Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou’” (Lc 10, 8-16).

Em verdade, em verdade, vos digo: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que quem o enviou. Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis. Não falo de todos vós; eu conheço os que escolhi. Mas é preciso que se cumpra a Escritura: Aquele que come o meu pão levantou contra mim o seu calcanhar! Digo-vos isso agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que Eu Sou. Em verdade, em verdade, vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim recebe e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Jo 13, 16-20).

A ubiquidade da realidade quântica transforma o pensamento materialista em loucura, dando novo espaço às questões espirituais na mais fundamental das ciências, e por isso haverá menos rigor para Sodoma do que para a Universidade, de modo que as ideias de Wolfgang Smith devem ser seriamente consideradas, trazendo o conhecimento de volta ao mundo real, ao reino das qualidades, porque “o grande projeto para reduzir o mundo ao que pode ser medido e operado por instrumentos e procedimentos da ciência física está chegando ao fim”, abrindo o conhecimento da humanidade novamente para um cosmos integral, em que o Caminho a ser seguido… é para cima, pela dimensão vertical da cruz, ligando terra e céu.

Infinite Potential: The Life and Ideas of David Bohm

Em setembro de 2014, enquanto lia “A ilha do conhecimento: os limites da ciência e a busca por sentido”, de Marcelo Gleiser, fui apresentado às ideias de David Bohm:

Uma tentativa de construir uma física quântica satisfazendo as demandas do realismo é a teoria de De Broglie-Bohm das ‘variáveis ocultas’. O físico americano David Bohm desenvolveu a teoria quando trabalhava como assistente de Einstein em Princeton, continuando quando foi para São Paulo em 1952, escapando da perseguição anticomunista da era do macarthismo. Inspirado por ideias de De Broglie, Bohm adicionou um nível de explicação extra na teoria quântica, capaz de descrever a posição do elétron com exatidão. A equação de Schrödinger continuava a mesma, mas era ‘pilotada’ por outra equação, que descrevia a ‘função de onda-piloto’. Da mesma forma que um maestro controla diferentes setores de uma orquestra durante uma sinfonia, a função de onde-piloto determina a divisão (ou bifurcação) da função de onda entre os vários estados físicos possíveis. Esse direcionamento ocorria sob o comando de uma ou mais variáveis ocultas, que eram indetectáveis por experimentos. Como uma divindade onipresente, a função de onda-piloto atuava em todos os lugares ao mesmo tempo, uma propriedade que os físicos chamam de ‘não localidade’. Em outras palavras, na mecânica de De Broglie-Bohm, as partículas permaneciam sendo partículas, e seu movimento coletivo era guiado de forma determinística pela ação não local da onda-piloto. As partículas agiam como um grupo de surfistas pegando a mesma onda, cada um guiado em uma certa direção à medida que a onda onipresente avançava.

Na teoria de De Broglie-Bohm, o comportamento do elétron é perfeitamente previsível; podemos calcular onde estará em um determinado momento do futuro. A variável oculta faz a ponte entre o conceito clássico de realidade e a indeterminação quântica. Mas a barganha tem um preço: para transformar a mecânica quântica em uma teoria determinística é necessário impor uma teia de influência entre tudo o que existe. Em princípio, o Universo como um todo influencia o resultado de cada experimento. Na prática, a velocidade e a aceleração de cada partícula dependem da posição instantânea de todas as outras partículas. O Universo age conjuntamente, determinando as condições ‘ambientais’ (isto é, tudo o que não é a própria partícula) que influenciam cada subsistema – de uma colisão dos detectores do CERN ao movimento das nuvens do céu. A teoria de De Broglie-Bohm leva a condição de não localidade ao extremo. Não é por coincidência que Bohm intitulou seu livro explorando os fundamentos filosóficos de sua teoria de A totalidade e a ordem implicada. E também não é surpreendente que poucos físicos endossem essas ideias, se bem que algumas variações da teoria de De Broglie-Bohm continuem sendo estudadas” (Marcelo Gleiser. A ilha do conhecimento: os limites da ciência e a busca por sentido. Rio de Janeiro: Record, 2014, pp. 228-229).

Posso dizer que a leitura da passagem acima teve um impacto definitivo em minha vida intelectual, fornecendo o que seria, ao lado das ideias de Hegel e Jung, o terceiro tripé teórico da Teologia ou Filosofia natural que sustento, tudo sob uma leitura Cristã de mundo. Lendo o texto acima transcrito, imediatamente me veio à mente a ideia Cristã de Espírito santo, à qual associei a de onda-piloto, por uma certa identidade entre as respectivas qualidades: a ação de um maestro com atributos de uma divindade onipresente, atuando em todos os lugares ao mesmo tempo, pressupondo existir uma teia de influência instantânea entre tudo o que existe no Universo.

Vale, pois, um novo agradecimento à honestidade intelectual de Marcelo Gleiser, porque deu a descrição teórica da hipótese sem ocultar ou manipular dados, ao contrário do que fazia Stephen Hawking, como exposto no artigo “Ciência: a luta do cosmos contra o caos” (https://holonomia.com/2016/08/13/ciencia-a-luta-do-cosmos-contra-o-caos/):

Para culminar sua extravagância ‘filosófica’, Hawking ainda afirma que as ‘teorias de ‘variáveis ocultas’ preveem resultados em desacordo com as observações. Mesmo Deus está limitado pelo princípio da incerteza e não pode conhecer a posição e a velocidade; Ele só pode conhecer a função de onda’ (Op. cit., p. 107). Tal afirmação, além de conter a visão de uma ameba julgando o conhecimento humano, não é honesta cientificamente. Marcelo Gleiser, na obra que me indicou o trabalho de David Bohm, informa que a teoria das variáveis ocultas ‘produz os mesmos resultados da mecânica quântica’, que as ‘duas teorias fazem as mesmas previsões e não existe uma possibilidade de distinção’, optando ele pela mecânica quântica sem uma onda-piloto por ser ‘bem mais simples’ (In A ilha do conhecimento: os limites da ciência e a busca por sentido. Rio de Janeiro: Record, 2014, p. 229).”

Em outubro de 2014 eu estava lendo “A totalidade e a ordem implicada”, e desde então me interesso por tudo o que diz respeito ao trabalho de David Bohm, tendo descoberto, então, que estava sendo produzido um documentário sobre sua vida.

Assim, em 20 de junho de 2020, ao pesquisar sobre a previsão de conclusão do documentário, depois de meses sem consultar o assunto, constatei que aquele era o dia do lançamento do filme, que foi disponibilizado gratuitamente no YouTube: “Full Film – Infinite Potential: The Life and Ideas of David Bohm” (https://www.youtube.com/watch?v=XDpurdHKpb8).

O vídeo começa com as palavras de Bohm: “When I was younger I felt that, in the beginning, the science would surely be a source of benefiting mankind. I had no question about it. I began to feel that something beyond science wold be needed to approach this question” (Quando eu era mais jovem, sentia que, no começo, a ciência certamente seria uma fonte de benefício para a humanidade. Eu não tinha dúvida sobre isso. Comecei a sentir que algo além da ciência seria necessário para abordar essa questão).

Apesar de o vídeo ser em inglês, há uma possibilidade (acabo de descobrir) no sentido de configurar a legenda automática gerada em inglês para uma tradução automática para o português (a maravilhosa tecnologia sendo bem usada para permitir a divulgação do conhecimento), o que, mesmo não tendo muita precisão, e às vezes com falhas grosseiras, permitirá que os que não têm um bom entendimento da língua inglesa possam aproveitar o vídeo.

Espero sinceramente que o leitor separe uma hora e onze minutos de sua vida para receber informações e conhecimentos com potencial de iluminar seu conhecimento do mundo, porque a vida de Bohm está completamente inserida nas ideias que dominaram o século XX, da total negação da espiritualidade na ciência, passando pela perseguição pessoal porque ele tinha participado de reuniões do partido comunista para encontrar pessoas que poderiam discutir Hegel com ele, mas que nem sabiam quem Hegel era, isso sem falar no fato de que suas ideias e pesquisa científica foram usadas, sem sua participação, para concluir o projeto Manhattan, que produziu a bomba atômica.

A ignorância quanto a Bohm e mesmo sua rejeição são fruto de uma posição filosófica equivocada, e mais cedo ou mais tarde seu trabalho terá o reconhecimento público que merece, do que o vídeo talvez seja apenas o começo, lembrando que o nome deste sítio está diretamente ligado à visão de mundo de Bohm associada a uma interpretação científica da Teologia Cristã.