Comunicação

Segundo o novo dicionário Aurélio da língua portuguesa, comunicação significa: “1. Ato ou efeito de comunicar(-se). 2. Ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens por meio de métodos e/ou processos convencionados, quer através da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamento técnico especializado, sonoro e/ou visual. (…) 6. A capacidade de trocar ou discutir ideias, de dialogar, de conversar com vista ao bom entendimento entre pessoas”; enquanto comunicar, por sua vez, tem o sentido de: “1. Fazer saber; tornar comum; participar (…) 2. Pôr em contato ou relação; estabelecer comunicação entre; ligar, unir”.

Pelos termos citados, a comunicação exige uma delimitação significativa dentro da qual ocorre a transmissão da mensagem, pelo que pode-se dizer que toda comunicação é interna, no sentido de que somente é possível quando já estabelecida uma mínima unidade simbólica entre aqueles que se comunicam, ou entre a pessoa e o meio do qual receberá a mensagem que será compreendida, e apenas dentro dessa unidade simbólica pode ocorrer comunicação.

Para entender um texto o leitor deve se colocar dentro do mundo do texto; e para que duas pessoas conversem, para que se comuniquem, é necessário que estejam inseridas em uma comunidade significativa, que sejam membros ou integrem um mesmo grupo linguístico, sendo a humanidade o grupo linguístico mais amplo, a unidade simbólica mínima, que abrange todas as línguas humanas.

Até mesmo a compreensão individual dos fenômenos do mundo exige comunicação interna, em que o sujeito cria mentalmente um mundo (ou nasce espiritualmente de um mundo), dentro do qual ele está localizado e no qual ele se distingue do meio exterior, em que ele é uma unidade sensível e intelectual capaz de receber estímulos externos a essa unidade, mantida uma unidade superior que une o sujeito ao meio, unidade essa que permite a correlação das imagens mentais internas do sujeito aos fenômenos do meio por ele integrado, possibilita a tradução entre sentidos e conceitos. Portanto, o entendimento pessoal e solitário do mundo também é feito por meio de uma comunicação interna, em que é criada uma unidade global de referência, dentro da qual se colocam o sujeito e um meio, separados, mas que voltam a se unir em unidade significativa na compreensão dos fenômenos interpretados, mesmo que essa unidade significativa nem sempre seja clara ou consciente para a pessoa, unidade que é indispensável para permitir a comunicação, a ligação simbólica inteligível entre sensações e imagens em um todo coerente, o entendimento ou união racional.

A unidade global de referência é fundamental para que ocorra comunicação. É necessário um referencial, um padrão para o desenvolvimento da comunicação. E essa referência deve ser fixa, pois sua mobilidade impede a unidade inteligível, porque com a mudança do referencial somente se obtém unidade racional se mantida uma ligação inteligível com o modelo primário, o que é a função da chamada tradição.

No caso da visão, por exemplo, o referencial primário são as invariantes do ambiente, como estudado por James J. Gibson, em estudo citado por Wolfgang Smith:

O sistema perceptual é projetado para a captação de informações dadas na luz ambiente e, especialmente, para a apreensão de invariantes, isto é, de elementos estruturais do arranjo ótico ambiente que subsistem no tempo e permanecem inalterados por mudanças na perspectiva visual. Mas isso implica que o tempo, ou melhor, que o movimento entra em cena de modo essencial; com efeito, nada pode ser percebido ‘em um instante’” (Wolffgang Smith. Ciência e mito: com uma resposta a O Grande Projeto de Stephen Hawking. 1 ed. Trad. Pedro Cava. Campinas: Vide Editorial, 2014, p. 113).

Em seguida ele transcreve palavras do próprio Gibson: “O sistema visual busca a compreensão e a clareza e não para até que as invariantes sejam extraídas” (Idem, p. 113). Passando a uma análise filosófica mais profunda, que exige uma unidade na comunicação, como salientado acima, Smith destaca:

O fato é que, para conceber a percepção autêntica, a noção de morphe ou eidos é necessária: somente uma forma está apta para unir um sujeito a um objeto, de modo que, em ‘alguma medida’, os dois se tornem ‘uma só coisa’, como declara Aristóteles. (…)

Ora, são essas invariantes – essas formas! – que possibilitam a percepção. De acordo com a teoria de Gibson, elas é que são ‘registradas’ ou extraídas a partir do arranjo ótico ambiente no ato de percepção e são também o que objetivamente se percebe. Em uma palavra, o que faz a ponte entre a ‘mente’ e o ambiente é nada mais, nada menos que essas invariantes: em verdade, elas são as formas que fornecem acesso ao mundo externo” (Idem, p. 127 – grifo nosso).

No âmbito científico, o que permite a comunicação e o entendimento das teorias é a adoção do referencial matemático, que é uma espécie limitada de forma, baseada em quantidades mensuráveis, em medidas fixas traduzidas em outras medidas. A linguagem científica atual é, dessarte, a matemática, ou seja, é criado o mundo matemático das coisas, dentro do que se desenvolveu a ciência, como teoria de mundo usada para medir os fenômenos do mundo, por comparação formal.

Com a relatividade as medidas de tempo e espaço foram unificadas, mas essa unidade global de referência da relatividade não é suficiente para a compreensão do universo, pois não inclui as características do mundo quântico, não tendo sido ainda encontrada pela ciência aquela unidade maior que inclua as interações quânticas, não se chegou ao ponto comum entre eles, à forma ou ideia maior em que ambas, a relatividade e a orgânica quântica, estejam incluídas e possam se comunicar. Existe, ainda, uma diferença sobre a qualidade das interações entre a relatividade e a realidade quântica, na medida em que aquela se baseia em interações locais com a velocidade da luz como limite máximo de comunicação, enquanto para a orgânica quântica existe uma conexão não local entre os fenômenos, com possibilidade de ação a distância instantânea, ou seja, sem o limite da velocidade da luz. Portanto, a unidade global de referência, que permite a comunicação no nível físico, está além dos limites da relatividade que, ressalte-se, é uma visão materialista de mundo.

Tal dificuldade de comunicação também pode ser verificada nos fenômenos humanos, porque uma parte da humanidade não considera que a unidade global de referência seja imaterial, esteja além das sensações corporais, ligada às formas ou ideias, ao Espírito. Esses apegam-se aos limites, insuficientes, da relatividade de Einstein.

No campo do Direito, por exemplo, um caso limite é o da defesa do aborto por aqueles que entendem que tal conduta estaria inserida na “dignidade” da mulher que não quer ter o filho, entendimento esse que não é compartilhado pelos que sustentam que a dignidade é mais do que a individualidade corporal, ligando-se ao sentido geral mais amplo da existência humana. A unidade global de referência é diversa em um ou outro caso, e essa diferença impede a comunicação, atrapalhando inclusive o diálogo jurídico.

Desse modo, da mesma forma que é mister seja a relatividade superada para a correta compreensão da natureza, o melhor entendimento do Direito passa pela adequação do conceito de dignidade humana, que não pode ser ligado aos meros sentimentos corporais individuais, sendo necessária uma concepção de humanidade mais ampla, que transcenda os corpos dos indivíduos, suas sensações, no sentido de um movimento coletivo da espécie em direção à Vida, resgatando a gênese da dignidade humana, Jesus Cristo e sua cosmovisão, sua unidade global de referência.

Portanto, a unidade global de referência em relação à vida humana não pode ser o indivíduo isoladamente, porque os comportamentos individuais devem ser considerados para o crescimento e desenvolvimento das pessoas de modo compatível com o crescimento da comunidade, das demais pessoas. A ordem que rege o comportamento humano não pode ser considerada apenas sob o referencial individual, mas deve se ligar ao referencial coletivo, à inteligência da unidade superior, à unidade da espécie humana, com sua racionalidade própria, que é o Logos.

No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e Deus era o verbo. Este no princípio estava como Deus. Todas as coisas existiram por ação dele e sem ele existiu nem uma só coisa que existiu. Nele estava a vida, e vida era a luz dos homens” (Jo 1, 1-4).

A passagem acima é retirada da tradução do grego por Frederico Lourenço (Novo Testamento: os quatro Evangelhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017), e aponta exatamente para o Logos, o Verbo, como unidade global de referência, que estava no princípio e continua presente na criação, em todas as coisas, pois além de todas as coisas, além dos corpos humanos, e que habitou na humanidade.

E o verbo fez-se carne e habitou entre nós; e contemplamos a sua glória – glória enquanto [filho] unigênito do Pai, pleno de graça e de verdade” (Jo 1, 14).

O Evangelho de João nos mostra como ocorreu a plena comunicação de Deus para a humanidade, fazendo de um homem sua unidade global de referência, Jesus Cristo, que encarnou o Verbo, o Logos de Deus na humanidade. Nas notas sobre o versículo 14 acima transcrito, é curioso notar que a tradução tradicional pode ocultar uma realidade teológica, porque o Frederico Lourenço afirma que “no v. 14 de João, a expressão ‘entre nós’ é literalmente ‘em nós’ (em hêmîn)” (Idem, p. 324 – grifo nosso). E mesmo sobre a tradução de “unigênito”, há dúvida sobre o significado original, dizendo o tradutor que São Jerônimo usou esse termo, havendo a suspeita de que não seja o mais correto, para combater o arianismo, quando o significado seria ligado a monogenês, referente à unicidade de Jesus, como único de seu gênero, sua espécie. Único porque nenhum outro homem teve, como ele, a plenitude da graça e da verdade de Deus. Mas Ele recebeu o Espírito de Deus e o comunicou a nós, nos transmitiu a mensagem que une, que liga, a humanidade a Deus.

Portanto, a unidade global de referência da humanidade é Jesus Cristo porque teve uma vida pautada pela vida coletiva, pelo Logos, mostrando o conceito de humanidade na prática social, auxiliando os humildes, curando os doentes e servindo à coletividade, como Messias, como Líder político, como governante, segundo a Lei de Deus, até a morte, e morte de cruz.

Essa é sua mensagem, a comunicação plena, pois mostrou que a vida não se encerra com a morte do corpo, e que a vida é mais do que o corpo, comunicou que a unidade global de referência é o Espírito, o Logos de Deus que habita em nós, e comunicar essa Verdade é obrigação do Cristão, proclamando o Evangelho e dando testemunho vivo de Jesus Cristo, seguindo seu exemplo. Essa é a melhor forma de comunicação!

Interferência mental

O experimento da fenda dupla (https://www.youtube.com/watch?v=GXAYW4a3OZY) é um marco na definição da realidade a partir da física quântica, segundo o qual o elétron interage consigo próprio ao atravessar a dupla fenda, o que demonstra sua natureza ondulatória.

A expressão relativística E=mc² também indica a conversibilidade entre matéria e energia, apontando para uma natureza fluida das coisas.

O resultado do experimento da fenda dupla apresenta a formação de bandas ou padrões de interferência, com regiões claras e escuras na tela ou placa de medição do aparato, as primeiras regiões são aquelas em que as ondas se somam (pela incidência simultânea de cristas ou vales) e as últimas decorrem da anulação de uma onda por outra (quando uma crista e um vale coincidem).

O resultado desse experimento é um enigma até para os físicos e demonstra a incompreensão da ciência humana sobre a realidade última das coisas, pois os menores componentes das coisas possuem dupla natureza, corpuscular e ondulatória, e como tudo no mundo é constituído desses mesmos componentes as próprias coisas que conhecemos, em todos os níveis, têm natureza dupla e estão sujeitas à interferência.

A aplicação da interferência aos processos mentais, enquanto fenômenos inteligíveis, e aos pensamentos é uma conclusão lógica do experimento da fenda dupla, pois ao menos parte da experiência mental se refere à atividade eletromagnética do cérebro, ainda que esta atividade cerebral não esgote a função mental em seu nível mais sutil e, talvez, imaterial.

É muito provável que o Espírito tenha uma natureza mais sutil do que a matéria conhecida, podendo ser considerado, por isso, imaterial. De todo modo, enquanto encarnado, o Espírito está sujeito à influência material que recebe pelos sentidos corporais, como consequência da própria encarnação, pelo que, dessa forma, a atividade mental, fazendo associação entre coisas, fenômenos e ideias, também pode receber interferência da natureza ondulatória do universo conhecido.

Mesmo o pensamento humano pode ser considerado um processo de interferência, em que ideias interferem, interagem, umas com as outras e consigo próprias, notadamente em casos de duplicidade de sentido.

O pensamento, assim, nada mais é que a interferência de ideias, tanto entre as decorrentes de sensações, frio, quente, amargo, suave, áspero, como com as ideias mais abstratas já originadas no próprio pensamento. O pensamento é a associação de experiências significantes e simbólicas, em que os signos e os símbolos se qualificam uns aos outros, quando ocorre interferência mental, interferência inteligível.

Pensar é, pois, produzir interferência significativa e simbólica, aumentando quantitativa e qualitativamente os signos e os símbolos usados para a descrição do mundo e para a comunicação, segundo a razão, conforme o Logos, a Palavra, a Narrativa mais completa possível de todas as coisas.

No âmbito jurídico, do mesmo modo, à descrição de um fato ou fenômeno físico, um movimento humano, já em si simbólico no âmbito da linguagem que expressa uma materialidade, é acrescida ou sobreposta uma outra descrição, mais qualificada, do mesmo fato ou fenômeno, com uma valoração jurídica, e assim o fato natural se torna fato jurídico. Nesse sentido o símbolo jurídico interfere com o símbolo natural, qualificando-o, dando-lhe nova significação.O jurídico é um símbolo que adere ao fato, por interferência, modificando-o qualitativa e simbolicamente.

Desse modo, o âmbito jurídico é sujeito à interferência mental, uma interferência sutil pela qual uma visão de mundo qualificada incide sobre outra visão de mundo menos qualificada, causando interferência de um símbolo sobre outro, com uma superposição ideológica de ideia sobre ideia, com significação inteligível. Assim, a interferência mental ou simbólica qualifica os fenômenos como inteligíveis dentro de determinada inteligibilidade do mundo, dentro de uma cosmovisão simbólica ou descrição filosófica da realidade.

O Cristianismo, nesse sentido, enquanto cosmovisão simbólica e como descrição filosófica da realidade, ligando os homens significativa, física e espiritualmente entre si e unindo a humanidade a Deus, como Logos, como Unidade da Razão Universal, com sua qualificação moral e jurídica dos fenômenos naturais e humanos, é uma das formas de interferência mental que incide sobre as ideias e eventos do mundo.

O Cristianismo, como visão religiosa do cosmos, possui uma simbologia da totalidade, uma totalidade que é invisível, que transcende a aparência visível. A inteligibilidade espiritual é inteligibilidade inteligida, é como atravessar uma ponte pela qual primeiro se passa por ela, e depois se a constrói, já estando ela construída.

As visões de mundo materialistas podem ser consideradas mais limitadas que o Cristianismo, ao não aceitarem a conexão espiritual entre os fenômenos, interpretando-os segundo suas aparências visíveis.

A civilização contemporânea sofre grande interferência mental do materialismo, em que o consumismo fútil, o prazer corporal, a irresponsabilidade social e planetária exercem ação influindo sobre o comportamento das pessoas, nos níveis individual e coletivo, estimulando as práticas egoístas, consciente e inconscientemente.

Como compreensão mais elaborada do mundo, o Cristianismo aponta para uma realidade mais ampla e mais sutil, que não é capaz de ser compreendida pela visão materialista de mundo, pois assim como a observação do elétron o caracteriza como corpúsculo, desfazendo o campo e a interferência ondulatória, a visão material do mundo prejudica a compreensão de sua natureza energética, ondulatória e espiritual. O olhar materialista é um olhar limitado, que não alcança o melhor potencial da natureza, apegando-se à observação sensível, em detrimento da compreensão mais profunda e completa dos fenômenos.

Apenas a qualificação espiritual dos fenômenos permite a inteligibilidade da sua realidade espiritual, com a interferência mental consciente sobre a descrição mais sutil e completa da realidade.

O Cristianismo revela uma interferência do Espírito de Deus, da Ideia eterna, sobre a humanidade e a vida das pessoas, a encarnação do Logos infinito no homem, significando as atitudes não apenas pela vida corporal, mas incluindo nos comportamentos uma perspectiva infinita, ligada à eternidade.

Não te envergonhes, pois, de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participa do meu sofrimento pelo evangelho, confiando no poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não em virtude de nossas obras, mas em virtude do seu próprio desígnio e graça. Essa graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, foi manifestada agora pela Aparição de nosso Salvador, o Cristo Jesus. Ele não só destruiu a morte, mas também fez brilhar a vida e a imortalidade pelo evangelho, para o qual eu fui constituído pregador, apóstolo e doutor” (2Tm 1, 8-11).

O Cristianismo restaura a interferência da eternidade sobre a vida humana,  prejudicada pela Queda, conduzindo a vida e o comportamento das pessoas para o infinito, para esta vida e para além do tempo corporal de cada um de nós.

Para além da mera interferência mental de uma visão materialista e limitada da realidade e seus símbolos parciais das coisas, o Cristianismo permite a compreensão de uma razão absoluta da totalidade cósmica, mais qualificada, ininteligível segundo a limitação da racionalidade material, que não alcança a ontologia profunda da totalidade cósmica, ou da crucificação de Jesus Cristo e do martírio dos santos, mas que, na Verdade, é a própria inteligibilidade, enquanto Logos eterno que permite a racionalidade material e provisória, mas a supera, exercendo interferência mental sobre aqueles que elevam o pensamento até o Espírito Absoluto, em sua imaterialidade e eternidade, unindo suas mentes à mente de Deus, na interferência mental que realiza a Santíssima Unidade da criatura com o Criador, pelo Espírito Santo de Deus, o Campo Cósmico eterno, em que toda diferença e toda separação é apenas aparente, quando Deus interfere consigo próprio em sua criatura.

Qual a mensagem?

Diz-se que vivemos na sociedade da informação. A palavra informação está ligada ao tema da comunicação, em que há troca e aumento de conhecimento compartilhado.

Informação é palavra de origem latina, e significa “dar forma”. E forma também tem origem latina, ligando-se a “imagem, figura, aspecto, aparência, molde”.

Podemos associar informação, portanto, a modelo, a ideia, a contexto e a paradigma.

Informação se refere a sentido, a mensagem, a transmissão de dados, com forma, com contexto. A interpretação dos dados torna a informação propriamente informação, um sinal com sentido, inserindo um conteúdo significativo dentro de uma imagem significativa.

Segundo a física moderna, o mundo é feito de informação, sendo que as unidades básicas da realidade, os campos, trocam informações por meio de fótons, de luz. Luz é informação, energia, conteúdo, forma, pois a luz tem natureza dual, corpuscular e ondulatória, é radiação eletromagnética com comprimentos de ondas e frequências variadas, formas variadas.

Os corpos podem ser considerados como feitos de luz congelada, como afirma David Bohm. Os corpos são a parte congelada da luz, mas também estão em movimento constante, emitindo informações. Deus, como Logos, é a Luz da luz, controla a ordem implicada que conduz a ordem manifesta, a Luz que permite o congelamento da luz, formando os corpos, como luzes dentro da Luz.

O Logos se liga à ordem implicada, à ordem interna do mundo, sua Unidade, que dá origem à ordem explicada, a ordem externa.

Clearly the manifest world of common sense experience refined where necessary with the aid of the concepts and laws of classical physics is basically in an explicate order. But the motion of particles at the quantum level is evidently also in an explicate order. However, as we have sugested in chapter 8, this latter order is not always at the manifest level because it is profoundly affected by the active information represented by the quantum potential. This latter operates in a subtle way and accordin to what has been said in this chapter, this operation is in an implicate order. Therefore the particle movement is not understood fully as self-determined in the explicate order in wich it is described. Rather, this explicate order reveals the deeper implicate order underlying its behavior” ((David Bohm and Basil J. Hiley. The undivided universe: An ontological interpretation of quantum theory. New York: Routledge, 2005 p. 362)

Claramente, o mundo manifesto da experiência do senso comum, refinado, quando necessário com a ajuda dos conceitos e leis da física clássica, está basicamente em uma ordem explicada. Mas o movimento de partículas no nível quântico evidentemente também está em uma ordem explicada. No entanto, como sugerimos no capítulo 8, esta última ordem nem sempre está no nível manifesto porque é profundamente afetada pela informação ativa representada pelo potencial quântico. Este último funciona de forma sutil, e de acordo com o que foi dito neste capítulo, esta operação está em uma ordem implicada. Portanto, o movimento das partículas não é totalmente compreendido como autodeterminado na ordem explicada na qual ele é descrito. Em vez disso, essa ordem explicada revela a ordem implicada mais profunda conduzindo seu comportamento”.

Desse modo, todos os movimentos significam trocas de informações, no nível mais básico das coisas, ligadas a um nível dobrado para dentro do Universo, em sua Unidade subjacente a tudo, na ordem implicada.

Também nós, enquanto seres em movimento, trocamos informações permanentemente, enviamos e recebemos informações a todo tempo.

Nossa vida é, outrossim, uma constante mensagem, da concepção à morte. Estamos sempre enviando mensagens para o cosmos, e recebendo mensagens cósmicas.

Cada ramo científico processa os dados, os sinais cósmicos, de uma perspectiva específica e parte de uma determinada referência paradigmática, dando forma a essas mensagens. A biologia foca na autorreprodução de informação em organismos. A química trabalha com a forma de organização da informação nos níveis mais básicos da realidade, assim como a física ao estudar o movimento da informação mais fundamental. A história também tem seu foco no desenvolvimento da informação no tempo. O direito estuda a informação na perspectiva do movimento humano e seus efeitos sobre as pessoas e o mundo.

Contudo, a abordagem reducionista da informação é evidentemente insatisfatória, sendo necessária uma perspectiva completa e integrada de todos os dados disponíveis, de modo que o todo da realidade tenha uma imagem inteligível. Essa função é exercida pela Filosofia, que adota o paradigma da unidade racional do conjunto das informações, buscando o Todo, o contexto maior, o mesmo sendo feito pela Teologia, ao organizar a informação a partir de um princípio espiritual.

O processamento da informação exige razão e experiência, ou seja, a ideia correta do modelo de mundo para inserir o dado no contexto adequado, que é conhecido por uma vivência prévia, intelectual ou sensorial, desse mesmo contexto, como os preconceitos no entendimento de Gadamer, considerando-se os dados mais relevantes, mais fundamentais, mais ligados à origem comum, universal de todos os dados, o que é condição da comunicação sensível e/ou inteligível, algo comum que permita a tradução.

E nesse ponto a filosofia materialista soçobra, pois a comunicação autêntica é necessariamente inteligível, servindo a sensibilidade apenas para qualificar a inteligibilidade, na medida em que vivemos em corpos, em unidades relativas que interagem com o organismo cósmico. A comunicação, portanto, é espiritual, pois apenas o espírito, que transcende os corpos individuais, pode permitir a comunicação, a ideia comum.

Aqueles ligados ao ego, às próprias sensações, os chamados psíquicos, não têm a capacidade de perceber isso, por sua limitação espiritual.

Quanto a nós, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, a fim de que conheçamos os dons da graça de Deus. Desses dons não falamos segundo a linguagem ensinada pela sabedoria humana, mas segundo aquela que o Espírito ensina, exprimindo realidades espirituais em termos espirituais. O homem psíquico não aceita o que vem do Espírito de Deus. É loucura para ele; não pode compreender, pois isso deve ser julgado espiritualmente. O homem espiritual, ao contrário, julga a respeito de tudo e por ninguém é julgado. Pois quem conheceu o pensamento do Senhor para poder instruí-lo? Nós, porém, temos o pensamento de Cristo” (1Cor 2, 12-16).

E Cristo é exatamente a realidade espiritual, intelectual, do cosmos, é o Logos. Por isso ele disse, “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).

O que Jesus Cristo quis dizer com isso? Ele falou que é a mensagem. Ele poderia dizer hoje: “Eu sou a mensagem”, ou “Eu expresso o Todo”, “Eu sou a totalidade cósmica”, “Eu sou o potencial quântico realizado”, “Eu sou a informação ativa”. Isso por que o mensageiro é a mensagem. A mensagem de Jesus é: a realidade é Una e nos abrange a todos, este corpo, da forma como está, é provisório, e há ressurreição; a morte do corpo não encerra a Vida. Essa é uma parte de sua mensagem da Boa Nova, do Evangelho.

A mensagem é no sentido de que a realidade é mais do que as aparências corporais, e obedece a uma Ordem, implicada e Una, a realidade é cósmica, e racional, é Logos, e se manifesta na humanidade, pelo Reino de Deus iniciado por Jesus Cristo. Isso, a realidade cósmica, ordenada, também é o que nos diz a ciência humana, dentro de uma racionalidade limitada, chegando alguns a dizer que existem bilhões de universos, e outros que somos, em nossas vidas, meras simulações de computadores do futuro. E os que falam isso são cientistas sérios. Esse argumento somente reforça a cosmovisão Cristã, do Logos de Deus.

O livro do Apocalipse relata uma guerra céu, que é uma guerra intelectual e espiritual, a qual foi vencida por Miguel, o anjo que é como Deus, pois o intelecto exige todas as razões e a coerência entre elas. O Dragão perdeu a guerra no céu, ou seja, o egoísmo e o individualismo são racionalmente insustentáveis, a inteligência do Dragão perdeu a guerra da Razão, pois esta é coletiva, é o Logos, partindo para a terra, para o reino material da força bruta.

Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus Anjos, mas foi derrotado, e não se encontrou mais um lugar para eles no céu. Foi expulso o grande Dragão, a antiga serpente, o chamado Diabo ou Satanás, sedutor de toda a terra habitada — foi expulso para a terra, e seus Anjos foram expulsos com ele. Ouvi então uma voz forte no céu, proclamando: ‘Agora realizou-se a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo: porque foi expulso o acusador dos nossos irmãos, aquele que os acusava dia e noite diante do nosso Deus. Eles, porém, o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho, pois desprezaram a própria vida até à morte. Por isso, alegrai-vos, ó céu, e vós que o habitais! Ai da terra e do mar, porque o Diabo desceu para junto de vós cheio de grande furor, sabendo que lhe resta pouco tempo’” (Ap 12, 7-12)

Jesus Cristo é a imagem humana de Miguel. Jesus Cristo é o anjo como Deus, encarnado, o primeiro anjo, que tem em si a imagem da totalidade da criação em criação, o Arcanjo Miguel. A palavra anjo significa mensageiro, e Jesus Cristo é o mensageiro do Deus Único, fala em nome de Deus, o que é a missão do Profeta.

Como anjos, somos mensageiros, e testemunhas, de Deus ou de Satã, dependendo da mensagem que realizamos e transmitimos, dependendo do contexto a que estamos vinculados intimamente, ontologicamente.

Todos os nossos comportamentos expressam significados, enviam mensagens, que podem ou não ser compreendidos, dependendo do contexto do interlocutor, do paradigma simbólico em que o outro está inserido.

Nossos pensamentos, mesmo os mais íntimos, produzem reações químicas no cérebro, e ondas eletromagnéticas que se expandem por todo o cosmos, com ondas variadas, inclusive materialmente, na velocidade da luz, produzindo também ondas gravitacionais, mesmo que ainda não consigamos medi-las.

E é um fato que as ondas eletromagnéticas interferem no comportamento humano, e no corpo humano, existindo radiação que causa câncer, havendo até mesmo pessoas que são alérgicas a ondas eletromagnéticas, e por isso são obrigadas a viver longe das cidades.

Outrossim, importa o que as pessoas pensam e a forma como pensam. É importante, porque o pensamento modifica o mundo, tanto pela ação com base em ideias, como apenas o próprio pensamento, fisicamente, de forma sutil.

Existe, assim, maniqueísmo no mundo, um maniqueísmo ideológico, existem boas e más ideias, corretas e incorretas, com os correspondentes comportamentos bons e maus, coerentes e incoerentes, racionais e irracionais. E a guerra ideológica foi vencida pelo Logos, pela ideia de Deus, que é boa, correta, racional, integral e coerente.

A sabedoria do estulto é como uma casa devastada e a ciência do insensato é um discurso incoerente” (Eclo 21, 18).

Deus é Espírito, e Ideia racional e movimento, que é Forma racional, é Logos, e quando Esse Espírito é realizado, tornado real, encarnado, é o próprio Deus que encarna, como ocorreu em Jesus Cristo.

Jesus Cristo expressa a mensagem do Logos, do pensamento Santo, do Espírito Santo, da Ideia perfeita, que é sutil e que poucos conseguem captar pelo Espírito, porque poucos estão ligados à Totalidade significativa em que Ele vive, pois essa totalidade implica e exige um desapego da individualidade corporal e sensorial, para que seja possível abarcar a coletividade espiritual, para a qual “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”, na medida em que poucos escolhem verdadeiramente a Verdade.

Portanto, sempre somos mensageiros, somos anjos, testemunhas, estejamos conscientes disso ou não. E você? É mensageiro do que? De quem? Que forma seu comportamento e seus pensamentos dão ao Universo? Qual a sua mensagem?

A Realidade

Realidade é palavra de origem latina, derivada de res e realis, significando coisa, ou tudo o que existe. Uma coisa é, para nós, a ideia que fazemos dela. A coisa genérica e indeterminada passa ser outra quando definida, identificada por suas qualidades. Tudo com o que nos relacionamos no mundo está ligado a um conceito ou ideia, por meio de que lemos e interpretamos os fenômenos.

Na maioria das vezes a ideia está inconscientemente ligada à coisa a que ela se refere. Quando vemos um gato, ou uma porta, automaticamente usamos a ideia de gato e porta que formamos ao longo da vida, e como normalmente não nos lembramos da formação da ideia, esquecemos que ela existe, não percebendo a associação da ideia ao que nos é mostrado pelos sentidos, não notando a formação mental da realidade, que é praticamente automática. Podemos simplesmente pensar em gato ou porta, ou em um gato específico, Garfield, ou uma porta determinada, a deste cômodo, dando mais concreção à ideia. A ideia pode se referir a coisas que já existem, que vão existir ou que ficam apenas nos pensamentos.

Nossa percepção e entendimento das coisas, portanto, depende da ideia que fazemos delas, depende de um mapa mental consciente ou implícito que possuímos para a lida diária com os fenômenos, especialmente das relações e conexões entre os eventos e coisas à nossa volta. A maioria das pessoas costuma, em determinado momento da vida, na infância ou adolescência, simplesmente parar de atualizar seu mapa mental, cristalizando-o em preconceitos rígidos.

O mapa mental da realidade está ligado a uma ordem ou concepção de mundo, uma cosmovisão, em que as coisas possuem relações umas com as outras, dando sentido ao que vemos. Realidade, assim, está ligada a sentido, a interpretação ou hermenêutica das coisas, dos fenômenos, do mundo.

Os fatos são sua correta interpretação. O louco é aquele com dificuldade de interpretar adequadamente os fatos, confundindo pensamentos apenas individuais com fenômenos comuns às demais pessoas.

A ciência atual é eminentemente reducionista, pelo que o sentido das coisas é limitado a campos específicos da realidade, sem ligação com os demais. As ciências são individuais e, de certa forma, loucas.

Segundo a ciência cartesiana que domina o mundo, a realidade é a coisa extensa, a coisa material, ou res extensa, que é independente da ideia que fazemos dela, pois as ideias pertencem ao mundo imaterial, da res cogitans. Para a visão cartesiana, a res extensa e a res cogitans não se comunicam e a única realidade, pela ciência atual, é aquela percebida pelos sentidos. Nada mais falso.

Aquele que vive eternamente criou todas as coisas juntas” (Ecl, 18, 1).

Todas as coisas estão juntas, ideias e fenômenos, sendo os fenômenos o que entendemos dos fenômenos. E todas as coisas estão juntas porque as relações conceituais e as razões e proporções das coisas também somente podem ser entendidas em conjunto. Cada coisa está ligada a outra, e outra, e outra, até que tudo se relacione. Gato é animal, uma espécie do ser que se movimenta, se alimenta de outros seres, que nasceu de outro gato, e toma leite, que também é produzido pela vaca, cuja carne nos fornece alimento, e que precisamos como fonte de energia, como a luz do sol que aquece o planeta, decorrente de reações nucleares, o que nos permite viver e produzir, alterando as coisas do mundo, como conjunto de todas as ideias, etc.

A divisão da realidade em áreas de conhecimento somente é válida se essas áreas forem novamente reunidas em um todo orgânico e coerente, porque todas as coisas estão juntas, como nos informam a Bíblia, a orgânica quântica e a relatividade, aquela física pela unidade total do cosmos e esta pela existência de um suposto contínuo espaço-tempo. A filosofia antiga, antes de Descartes também era assim.

Não só a física indica a unidade da existência, pois pelo espaço-tempo o Big Bang é agora, sendo o tempo uma percepção humana, como também pelo conhecimento filosófico se chegou a essa mesma conclusão em Martin Heidegger, no âmbito da coisa pensante (In Ser e tempo. Tradução Fausto Castilho. Campinas: Editora Unicamp; Petrópolis: Editora Vozes, 2012, pp. 169/171):

Mas essas determinações-de-ser do Dasein devem ser vistas e entendidas agora a priori sobre o fundamento da constituição-de-ser que denominamos ser-em-o-mundo. O ponto de partida adequado para a analítica do Dasein reside na interpretação dessa constituição.

A expressão composta ‘ser-no-mundo’ já mostra em sua configuração, que com ela é visado um fenômeno unitário. (…)

Com esse termo (ser-em) é designado o modo-de-ser de um ente que está ‘em’ um outro ente, como a água ‘no’ copo, a roupa ‘no armário’. Com o ‘em’, pensamos a recíproca relação-de-ser de dois entes extensos ‘em’ o espaço relativamente a seu lugar nesse espaço”.

Mas minha ideia não se limita à preocupação com meu corpo físico e seu fim temporal, e esse é o erro filosófico de Heidegger, na medida em que a realidade mental e do pensamento está além da própria pessoa, pois o pensamento da pessoa pode passar à comunidade, como Sócrates, que não se preocupava apenas com a própria morte, que teve suas ideias desenvolvidas por Platão, e depois Aristóteles numa linha que permanece aberta, para um futuro indefinido. Além disso, a realidade une mente e matéria, não sendo possível a separação absoluta decorrente da filosofia cartesiana.

Se todas as coisas estão juntas, cada parte integra o todo, que é o fenômeno unitário do Ser. A geometria fractal é de grande valia para entender a realidade, em que microcosmos são criados a partir do macrocosmos. Aliás, essa é a verdadeira compreensão da ideia de Pai, Filho e Espírito Santo, em que o Pai é sempre o Todo maior, o Filho o Todo menor, como o Homem e/ou a Humanidade (esta tida como um todo maior que o homem), e o Espírito Santo a adequação do Todo Menor ao Todo Maior, como ocorre no princípio holográfico, a razão ou proporção que liga a Parte ao Todo, dando coerência e sentido à relação, Unidade – Eu e o Pai somos Um.

O Filho é causado pelo Pai, pela causalidade top-down, aquela em que a totalidade causa as partes e as alterações nas partes, como na ordem generativa, em que vale a causalidade vertical. O macrocosmos gera o microcosmos, e nesse aspecto Jesus é tanto microcosmos, como homem perfeito, imagem perfeita do Pai, de Deus, do Cosmos, como Macrocosmos, como Jesus, para nós, é também macrocosmos, como imagem da humanidade, da qual somos microcosmos.

David Bohm e David Peat, no livro “Ciencia, Orden Y Creatividad – Las raíces creativas de la ciencia y la vida”, Kairós, Barcelona, 4 ed. 2007, falam da ordem generativa ou gerativa, que é aquela em que os detalhes da natureza são gerados a partir de uma totalidade maior, de forma semelhante aos fractais. Dizem eles que “las formas más complejas de la naturaleza parecen generarse a través de adiciones sucesivas de detalles más y más pequeños” (p. 177), o que, numa tradução livre, significa que as formas mais complexas da natureza são formadas pela adição sucessiva de detalhes menores, fazendo os autores a comparação com o pintor, que pensa o quadro como um todo e faz o seu trabalho partindo de traços gerais até chegar aos menores detalhes.

Eles dizem que o mesmo ocorre na ciência, que depende de uma percepção geral da realidade, até a especificação das formas, e é a criatividade do cientista individual que leva à nova percepção geral da realidade, como Sócrates, Jesus Cristo, Copérnico, Newton, Hegel, Einstein, Jung, David Bohm etc.

A ordem generativa também está presente na comunicação, em que “el significado se desenvuelve en la totalidad de la comunidad, y de la comunidad pasa a desenvolverse em cada persona. Así, existe una relación interna entre los seres humanos, y entre el indivíduo y la sociedad como un todo” (p. 207). Segundo os autores, o que também se infere de Heidegger, o significado da comunicação está envolvido na estrutura da linguagem, e na comunicação o significado se desenvolve na totalidade da comunidade, e desta passa para cada pessoa, havendo, assim, uma relação interna entre os seres humanos, entre o indivíduo e a sociedade como um todo.

Bohm e Peat concluem dizendo que existe a possibilidade de que “haya básicamente un único orden, cuyo fundamento incluye el holomovimiento, y que pude ir más allá. Este orden se desenvolverá em los órdenes, el de mente y el de materia, los cuales, segun el contexto, tendrán algún tipo de independencia relativa de función. Aun así, a un nivel más profundo son de hecho inseparables y se halla entretejidos, igual que ocurre en el juego de computadora, en el que la pantalla y el jugador están unidos por la participatión en circuitos comunes. Desde este punto de vista, mente y materia son dos aspectos de un todo, y no más separables de lo que lo son forma y contenido” (p. 208). Em tradução livre, dizem que talvez haja basicamente uma única ordem, cujo fundamento inclui o holomovimento, e esta ordem vai se desdobrar nas ordens da mente e da matéria, que, de acordo com o contexto, têm algum tipo de relativa independência funcional. No entanto, em um nível mais profundo são de fato inseparáveis e entrelaçadas, tal como no jogo de computador, no qual a tela e o jogador estão unidos pela participação em circuitos comuns. A partir deste ponto de vista, a mente e a matéria são dois aspectos de um todo, e não mais separáveis do que são forma e conteúdo.

Assim, a realidade é dependente do todo, que condiciona o contexto, unindo mente e matéria como dois aspectos do mesmo todo, em fenômeno unitário.

A interpretação isolada de fatos pode levar a deturpações, uma espécie de loucura, quando interpretações parciais não se adequam à realidade, como na música de Cazuza, “a tua piscina tá cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos, o tempo não para”. O problema é que Cazuza não percebeu que as próprias ideias, quanto ao comportamento sem limites, em hedonismo irresponsável, eram incompatíveis com os fatos, com a vida saudável, levando-o à morte prematura em decorrência da AIDS.

O tempo não para, pois a realidade é o holomovimento, o todo em seu movimento dialético, em que a interpretação deve sempre incluir novos fenômenos. “Mas se você achar que eu tô derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo, o tempo não para”.

Os dados estão rolando, ou seja, há muito conhecimento para ser incluído na filosofia, para que a haja correta interpretação do todo, e a ciência moderna não tem dado conta do recado, não tem atendido com seus métodos parciais às expectativas de coerência que se exige no conhecimento racional. O Direito é a ciência que modernamente une, ou tem a capacidade de unir, os todos parciais, na medida em que todas as relações, da alimentação à produção de bens e armas, são tratadas juridicamente. O Direito regula desde a fertilização até a questão dos possíveis efeitos das ondas eletromagnéticas de antenas de telecomunicação sobre a saúde humana. A questão ecológica é a grande prova da interdependência dos fenômenos, exigindo uma percepção mais ampla da natureza e da realidade. Mas mesmo a ciência jurídica está escravizada ao paradigma cartesiano, num formalismo positivista de um lado e num materialismo egoísta de outro, com individualismos do tipo liberal e sensorial.

A ciência moderna trabalha como na montagem de um quebra-cabeça, mas sem a ideia da imagem a ser formada. Para os que acreditam na Ordem, o Cristianismo indica como é essa imagem, a ideia de tudo interligado, havendo Um só Corpo e Um só Espírito.

Nesse ponto, algumas ideias tidas como retrógradas, como as religiosas, são, na verdade, de certa forma, futuristas. “Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades, o tempo não para, não para, não, não para”. A História tem um movimento dialético, e por isso é preciso cuidado, para não repetirmos os erros do passado, pois assim como a crise econômica da década de 1930 levou ao nacionalismo, a atual crise econômica tem levado os países na mesma direção, e o problema de hoje está no fato de que são várias as potências nucleares, e em caso de guerra os princípios e valores humanos infelizmente são esquecidos pelos líderes políticos.

A dialética Hegeliana pressupõe a superação das diferenças e contradições, não sendo uma mera a oposição conflituosa de partes contrárias, ou seja, é necessária uma razão maior que inclua as minhas razões e as razões do outro, e isso foi o que nos mostrou Jesus Cristo, como Logos ou Razão manifestada, incluindo o próximo na mesma dignidade da pessoa, e por isso o outro deve ser amado com a mim mesmo, porque somos Partes do mesmo Todo, a mesma Realidade Única e interligada pela mesma Razão. Segundo Hegel,

A razão é a certeza da consciência de ser toda a realidade: assim enuncia o idealismo o conceito da razão. Do mesmo modo que a consciência que vem à cena como razão tem em si essa certeza imediatamente, assim também o idealismo a enuncia de forma imediata: Eu sou Eu, no sentido de que o Eu para mim é objeto. Não no sentido de objeto da consciência-de-si em geral – que seria apenas um objeto vazio em geral; nem objeto da consciência-de-si livre –, que seria somente um objeto retirado dos outros, que ainda são válidos ao lado dele; mas sim no sentido de que o Eu é objeto, com a consciência do não ser de qualquer outro objeto: é o objeto único, é toda realidade e presença” (In Fenomenologia do Espírito. Tradução de Paulo Meneses. 8 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013, p. 172).

Para Hegel, somente o que é racional é real, e assim eu somente sou real enquanto razão, enquanto objeto da Razão, que engloba toda a realidade. Essa Razão de Hegel, que é real, é o próprio Logos, indicando que Deus, ou a Totalidade Racional, é a única realidade, e que somente enquanto integrante dessa realidade, dessa Totalidade Racional, enquanto movimentado pela Razão Santa, pelo Espírito Santo, o Logos, sou real. O Logos é o Sujeito Universal, do qual somos objeto, e na apenas na medida em agimos com base nesse Logos somos racionais, e também sujeitos da mesma subjetividade, que na verdade é objetiva, porque a única realidade.

Assim, o entendimento da realidade está ligado ao entendimento do Cosmos, da Ordem Total, pela concepção Cristã, como concepção da Razão, com a inclusão da perspectiva científica moderna, incluindo o Direito e a Política, com ‘D’ e ‘P’ Maiúsculos, ligados à ordem social.

A Constituição determina o conteúdo e a interpretação da norma local, e a Realidade Humana, o Logos, determina o conteúdo e a hermenêutica da Constituição. A velha religião, do Antigo Testamento, já era ligada ao conteúdo da Lei, e Jesus Cristo mostrou a natureza humanitária e coletiva da Lei, que direciona todos os comportamentos sociais.

Jesus Cristo diz que para viver no Reino de Deus, na Ordem Total, no Cosmos, é preciso nascer do alto, nascer do Pai, do Todo, ser gerado do alto, do Espírito, da Razão coletiva.

Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um notável entre os judeus. À noite ele veio encontrar Jesus e lhe disse: ‘Rabi, sabemos que vens da parte de Deus como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele’. Jesus lhe respondeu: ‘Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus’. Disse-lhe Nicodemos: ‘Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe e nascer?’ Respondeu-lhe Jesus: ‘Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito’” (Jo 3, 1-8).

Nascer do Espírito é nascer do Todo, da humanidade, além do mero nascimento carnal em determinada família ou Estado, ainda que este nascimento tenha sido Providencial. É deixar de ser filho da carne para ser Filho do Homem, deixar de ser americano, europeu, africano ou asiático, mas Humano, como Sócrates, que era cidadão do mundo.

A Realidade depende da correta compreensão do Todo, da Humanidade, da Vida, e seu sentido maior, do Logos, a Realidade é a Vida segundo o Espírito Santo, a Única Razão, segundo Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida, o Logos feito carne.