Hegemonia do erro, ou era do anticristo

Sob o capitalismo, a classe burguesa sustenta o poder não somente porque controla os meios de produção, mas também por que ela estabelece uma ‘hegemonia’ sobre toda a sociedade civil e o Estado, reservando para si mesma os órgãos do governo e as posições-chaves de influência em todas as instituições da sociedade civil. Religião, educação, comunicação, quer dizer, toda atividade que traz embutida a ordem social existente recai sob o regime do controle burguês. Os resultados desta hegemonia são duplos. Primeiro, ela permite a uma classe exercer (conscientemente ou não) uma vontade política concertada, e, então, controlar os efeitos de uma crise econômica, e garantir a sobrevivência da ordem social da qual deriva seu poder. Segundo, ela coloca nas mãos de uma classe dominante os instrumentos de educação e doutrinação, pelos quais ela pode persuadir as outras classes a aceitar seu governo como natural e legítimo. Assim, os sacerdotes, ao inculcar os hábitos de obediência à autoridade, e por disfarçar todas as instituições existentes em um manto de ordenação divina, induzem a massa do povo a aceitar a ordem política que os governa.

Em virtude dessa influência dual, a classe dominante pode empenhar-se por si mesma em superar as pressões que advêm da base econômica. Mudanças na superestrutura não são, portanto, determinadas somente pelas mudanças na base: a causalidade é, de fato, recíproca. Em outras palavras, a teoria marxista da história, que explica todo desenvolvimento histórico em termos econômicos, é falsa. O desenvolvimento histórico é tanto o resultado da vontade política (como nossos historiadores ‘burgueses’ sempre insistiram) quanto o resultado das transformações ‘materiais’.

É claro, Gramsci não coloca isto deste modo – ele fala de uma relação ‘dialética’ entre superestrutura e base, usando, assim, o jargão marxista de forma a mascarar seu profundo acordo com a proposição fundamental do conservadorismo, a proposição de que a história não está do lado de ninguém. No entanto, a refutação de Gramsci do determinismo marxista é igualmente fundamental para sua própria ‘filosofia da práxis’. Ela lhe permitiu fazer o que o marxismo clássico não pôde reabilitar a esfera política. A política é não mais uma resposta às forças econômicas que brotam da terra, mas um princípio ativo de mudança, que pode colocar-se contra aquelas forças e aplacá-las ou controlá-las. A política comunista envolverá a substituição sistemática da hegemonia dominante. Assim, a superestrutura será transformada de forma gradual, ao ponto em que a nova ordem social, cuja emergência foi permanentemente bloqueada pela velha hegemonia, pode finalmente de vir à tona sob seu próprio impulso. Este processo é chamado de ‘revolução passiva’, e pode ser realizado somente pela conjunção de duas forças: a exercida de cima pelos comunistas intelectuais, que gradualmente deslocam a hegemonia da burguesia, e aquela exercida de baixo pelas ‘massas’, que carregam em si mesmas a nova ordem social que cresce por seu trabalho. A transformação ocorre somente quando estas forças agem em harmonia, como um ‘bloco histórico’: e o papel do partido é produzir esta harmonia, ao unir os intelectuais às massas em uma só força disciplinada. Este partido é o ‘Príncipe moderno’, o único agente da mudança política verdadeira, que pode transformar a sociedade somente porque absorve em sua ação coletiva todas as menores ações da intelligentsia, e combina-se com a força das massas proletárias, dando força a uma e orientação a outra. Assim, o partido deve ser integrado à sociedade civil – ele deve gradualmente impor sua influência em toda a sociedade e, na realidade, substituir toda organização que sustenta alguma posição dentro da hegemonia da influência política” (Roger Scruton. Pensadores da nova esquerda. Trad. Felipe Garrafiel Pimentel. É Realizações Editora. Edição digital: 2014, Capítulo 8 – Antonio Gramsci, pp. 91-93).

Essa longa citação é justificada por sua grande atualidade, porque o mundo passa por uma crise de visões de mundo que pretendem a hegemonia, ambas equivocadas em seus fundamentos.

De um lado temos a visão capitalista burguesa, fomentada principalmente pelo cristianismo protestante que se vale da visão política de Agostinho de Hipona sobre as duas cidades, também adotada pelo catolicismo romano; de outro, a visão comunista ou socialista, com seu materialismo intrínseco e tornado ultrapassado pelas descobertas da nova física.

No mundo jurídico essas visões são muito claras, ainda que nem sempre se mostrem de modo antagônico, pois a liberdade individual é usada como argumento das duas perspectivas, defendendo-se um atomismo da pessoa na sociedade, seja no aspecto do consumo material, seja na suposta autonomia moral ou sexual. Em nosso mundo os direitos individuais sufocam os deveres e responsabilidade sociais, rompendo a unidade da humanidade.

A visão já antecipada pelo Apóstolo Paulo mostra essa realidade atual:

Sabe, porém, o seguinte: nos últimos dias sobrevirão momentos difíceis. Os homens serão egoístas, gananciosos, jactanciosos, soberbos, blasfemos, rebeldes com os pais, ingratos, iníquos, sem afeto, implacáveis, mentirosos, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus; guardarão as aparências da piedade, negando-lhe, entretanto, o poder” (2Tm 3, 1-5).

A visão egoísta tem se destacado no planeta como um todo, do Brexit à eleição de Trump, do consumo de drogas à atividade sexual desregrada, dos produtos descartáveis aos alimentos industrializados nocivos à saúde, de modo que a noção de humanidade se limita ao discurso vazio, com sua limitação pessoal ou nacional.

Em 2018 se completam cinquenta anos dos movimentos de 1968, em que a juventude, instigada por ideias como as de Gramsci, elaboradas anos antes, mostrou a vontade de modificar as tradições então vigentes, tanto no campo dos costumes quanto no mundo político.

E pode-se dizer que o movimento foi um sucesso, pois hoje a hegemonia materialista e individualista é incontestável no ocidente, sendo visto como retrógrado ou medieval aquele que não aceita as propostas “modernas” de mundo, como a pauta gay, trans e abortiva. A grande mídia faz as vezes de uma nova inquisição, tentando expor ao ridículo qualquer um que manifeste uma posição conservadora, taxando de homofóbico ou fundamentalista religioso, em tom negativo, os que contrariam essa pauta neocomunista que ataca a família, tachada de burguesa. No aspecto moral não se pode defender uma normalidade, uma regra de caráter universal, pois o argumento é logo contrastado com a alegação de que a moral é uma questão cultural e, portanto, relativa.

Na outra vertente, existe a defesa da redução do Estado e dos benefícios sociais, no sentido de que o mercado deve governar o sucesso ou fracasso econômico das pessoas e das nações, quando a justiça social e a defesa do órfão, da viúva e do estrangeiro são defendidas desde o Antigo Testamento. Ao mesmo tempo, a elite financeira continua aumentando sua riqueza em decorrência do consumo desenfreado de bens, cada vez mais descartáveis. Os muito ricos ficam a cada dia mais ricos.

O que governa o mundo atualmente é a irracionalidade, ou o anticristo, e por isso vivemos na hegemonia do erro, ou a era do anticristo. O Cristo é o ungido pelo Logos, pela Razão ou Espírito Santo, pelo Espírito Saudável, pelo Espírito Integral, enquanto o anticristo encarna em sua vida uma ideia ou razão egoísta, parcial e que não se sustenta, não pode ser replicada por todos ou indefinidamente.

Quem é o mentiroso senão o que nega que Jesus é o Cristo? Eis o Anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. O que confessa o Filho também possui o Pai” (1Jo 2, 22-23).

Enquanto a chamada esquerda nega o Pai, não reconhece a Ordem Espiritual do mundo, defendendo a exclusividade material do mundo e dos fenômenos, a dita direita não reconhece o Filho no outro, porque o Filho se tornou membro da trindade e vive no além, e não encarna no mundo, o Logos ou Verbo foi desencarnado. O tempo do anticristo é o do individualismo, do egoísmo, da promoção da injustiça espiritual e social.

Se sabeis que ele é justo, reconhecei que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele” (1Jo 2, 29).

Filhinhos, que ninguém vos desencaminhe. O que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que comete o pecado é do diabo, porque o diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque sua semente permanece nele; ele não pode pecar porque nasceu de Deus. Nisto se revelam os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo o que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão” (1Jo 3, 7-10).

Assim se manifesta a hegemonia do erro, quando se nega a realidade espiritual e quando se nega a realidade material, quando o suicídio espiritual é aceito como normal, no caso do comportamento sexual e moral anômalo dos gays e trans, na medida em que essas atitudes interrompem o fluxo da vida e não permitem a continuidade humana natural, e quando não há amor ao irmão, deixando-o à própria sorte, sem meios de subsistência ou de prosperar materialmente.

A hegemonia do erro mostra o momento de crise em que vivemos, como já ocorreu anteriormente na História sagrada, e que ampara aqueles que resistem ao sistema, os que pretendem ser o resto que será salvo.

Naquele dia, o rebento de Iahweh se cobrirá de beleza e de glória, o fruto da terra será motivo de orgulho e um esplendor para os sobreviventes de Israel. Então o resto de Sião e o remanescente de Jerusalém serão chamados santos, a saber, o que está inscrito para a vida em Jerusalém” (Is 4, 2-3).

Porque antes destes dias o salário do homem não existia e o salário dos animais era nulo. Para o que saía e voltava não havia paz por causa do inimigo; eu tinha lançado os homens todos uns contra os outros. Mas agora não sou para o resto desse povo como nos dias passados, oráculo de Iahweh dos Exércitos. Porque a semeadura será em paz, a vinha dará o seu fruto, a terra dará os seus produtos, o céu dará o seu orvalho. Eu darei tudo isto em herança ao resto deste povo” (Zc 8, 10-12).

Assim, aquele que quer se salvar deve escolher a porta estreita, a porta do Espírito, da Razão, vigiando e orando para não ser engando pelo mundo de irracionalidade que nos rodeia. “Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram” (Mt 7, 13-14).

Uma incerta realidade

O último artigo falou do problema da Verdade, e por mais que o assunto já tenha sido explorado em meus textos, o tema sempre volta, sobre a questão da realidade última, que está além das aparências, além dos chamados fenômenos.

Como o livro atualmente em leitura trata do assunto, “Uma incerta realidade: o mundo quântico, o conhecimento e a duração”, de Bernard d’Espagnat, ganhador do Prêmio Templeton (em inglês Templeton Prize), que concede ao seu vencedor um valor monetário superior ao do Prêmio Nobel, ou seja, mais de um milhão de dólares, é pertinente a volta ao assunto, dado o reconhecimento público do trabalho científico do citado autor.

Bernard d’Espagnat faz em sua bela obra uma indispensável incursão pela filosofia da ciência, pela epistemologia, em busca de argumentos para a defesa da existência de uma realidade independente, que não se limite à realidade empírica estudada atualmente pelas ciências. Segundo a contracapa do livro:

A física actual convida-nos a separar duas noções outrora designadas pela palavra ‘realidade’. Uma é a de realidade independente. Pela própria definição, a noção em questão cobre o conjunto daquilo que é (se Deus existe, ou se o mundo existe em si, eles são reais neste sentido). Esta realidade é longínqua, até mesmo velada. A outra noção é a de realidade empírica, ou conjunto dos fenómenos: o homem aborda-a cada vez melhor.

Poderemos evitar algumas destas noções? Muitos acreditam que sim porque, no passado, muitos filósofos e físicos esforçaram-se por demonstrar que tal era possível, alguns eliminando a primeira com o pretexto de que não tem sentido, outros reconduzindo a segunda noção à primeira […]. A minha tese é a de que é a própria ciência que – corrigindo-se a si própria – fornece, hoje em dia, ao pensador razões prementes para aceitar a dualidade filosófica do ser e do fenómeno”.

Essa ideia de dualidade filosófica muito me incomoda, e talvez isso ocorra por uma cisma minha, ou uma espécie de atual “obsessão”, por não aceitar a proposta teológica de trindade; e sempre que encontro uma teoria dualista, que não seja meramente alegórica ou pedagógica, acabo vendo uma ligação entre o dualismo e a trindade, decorrente de uma má interpretação do Cristianismo.

Como, seguindo Gadamer, e já salientado em “Crime de hermenêutica, Donald Trump e Cristo crucificado” (https://holonomia.com/2016/11/15/crime-de-hermeneutica-donald-trump-e-cristo-crucificado/), para melhor cumprir o primeiro mandamento Cristão, considero a hermenêutica teológica a mais fundamental, da qual decorre o restante da interpretação do mundo, inclusive a interpretação dada pelos cientistas, e por isso o possível erro na análise teológica vicia, em maior ou menor medida, a visão de mundo da pessoa, e até mesmo sua atividade científica. Tal ponto foi também mencionado no artigo “Revolução e evolução” (https://holonomia.com/2017/08/03/revolucao-e-evolucao/), destacando que a visão de mundo religiosa é a base da ciência moderna.

Sendo Jesus Cristo o fundamento da Teologia ocidental, o que judeus e muçulmanos hão de reconhecer, e, portanto, da ciência moderna, torna-se necessário conhecer Jesus Cristo, para melhor compreender o mundo. Aliás, o Cristianismo é uma Ciência ou Religião gnóstica, ou seja, baseada no conhecimento, sendo lamentável que o mundo atual o entenda de modo dogmático.

Por isto mesmo, aplicai toda a diligência em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, à piedade o amor fraternal e ao amor fraternal a caridade” (2Pe 1, 5-7).

Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória agora e até o dia da eternidade! Amém” (2Pe 3, 18).

Por mais que nosso conhecimento de Deus seja limitado, é conhecimento de Deus e, portanto, da Verdade, da realidade em si, Ciência que deve ser realmente buscada.

Tal como o definimos no primeiro capítulo, o realismo físico não é senão a tese segundo a qual a expressão ‘realidade independente’ (independente do homem, entenda-se), não somente tem sentido, como também designa uma entidade cognoscível de direito, graças à ciência (mesmo que não seja, desde já, inteiramente conhecida).

Quando esta tese é adoptada temos, evidentemente, de considerar que o objectivo da ciência é o conhecimento em questão (…)” (Bernard d’Espagnat. Uma incerta realidade: o mundo quântico, o conhecimento e a duração. Trad. António Hall. Lisboa: Instituto Piaget, p. 166).

Portanto, concordo parcialmente com d’Espagnat, ao dizer que ciência é o conhecimento dessa realidade “independente” porque também considero que “Ciência é conhecimento de Deus, da Ordem Cósmica, e o seu maior conhecedor é Jesus Cristo. Relevante, fundamental, indispensável, então, é entender Deus e seu significado”, como constou em “Ciência: a luta do cosmos contra o caos” (https://holonomia.com/2016/08/13/ciencia-a-luta-do-cosmos-contra-o-caos/).

De outro lado, tenho dúvidas se a “realidade independente” é efetivamente independente do homem, porque para isso é necessário um conceito e uma delimitação do que seja “o homem”, ou “a humanidade”, sua natureza, e aqui volta o tema da trindade.

Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeição, o que é limitado desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da criança. Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido” (1Cor 13, 9-12).

Se Jesus Cristo é membro exclusivo de uma trindade, sendo qualitativamente diferente de nós, uma é a realidade do mundo, independente dos homens; mas se tal afirmação não for correta, a realidade é outra. Ainda que eu considere Jesus Cristo qualitativamente diferente de nós, tal diferença é mais decorrente da maior quantidade do Espírito Santo do que por uma disparidade ontológica. Nesse ponto, mesmo que a discrepância quantitativa leve à mudança qualitativa, como no caso dos elementos químicos, compostos todos das mesmas partículas (quarks, léptons, férmions, bósons etc.), mas diferentes em suas qualidades, existe uma certa conversibilidade ou igualdade básica entre os elementos químicos, e entre nós e Jesus Cristo. Assim, existe diferença qualitativa acidental em virtude dos nossos vícios, do Pecado que nos rodeia, e para nos aproximarmos de Cristo devemos, como ele, nascer do alto, do Espírito, voltar à nossa essência e buscar as coisas de Deus, “até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4, 13).

O batismo Cristão é o mergulho no Espírito Santo, o mergulho em Deus e seu conhecimento, no Logos, deixando a vida da carne, a vida das aparências, a vida do mundo, para que atinjamos a unidade com Cristo. “Vós vos desvestistes do homem velho com as suas práticas e vos revestistes do novo, que se renova para o conhecimento segundo a imagem do seu Criador” (Cl 3, 9-10).

Desse modo, por mais que nosso conhecimento seja limitado, é possível o aumento da Ciência de Deus, conforme os ensinamentos de Cristo, pois essa é sua missão e sua vontade. “Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim” (Jo 17, 22-23).

Algumas passagens sobre a vida de Jesus e suas palavras corroboram a visão unitarista do mundo, na perfeita unidade do Espírito, porque “Deus é espírito. Os que o adoram têm de o adorar em espírito e verdade” (Jo 4, 24), e por isso o conhecimento de Deus, que é Logos, Inteligência, é espiritual, na medida em que temos o Espírito de Deus, Deus “que vos infundiu o seu Espírito Santo” (1 Ts 4, 8). “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu Amor em nós é levado à perfeição. Nisto reconhecemos que permanecemos nele e ele em nós: ele nos deu o seu Espírito” (1Jo 4, 12-13). Se Deus nos deu seu Espírito (Santo), como ocorreu com Jesus, a diferença entre nós e Jesus Cristo é de “quantidade” do Espírito de Deus, porque Jesus é pleno do Espírito Santo.

E o verbo fez-se carne e habitou entre nós; e contemplamos a sua glória – glória enquanto [filho] unigênito do Pai, pleno de graça e de verdade” (Jo 1, 14). Como destacado no artigo “Comunicação”, nas notas sobre este versículo 14, e sem falar na duvidosa correção da tradução da palavra “unigênito”, Frederico Lourenço afirma que “no v. 14 de João, a expressão ‘entre nós’ é literalmente ‘em nós’ (em hêmîn)”, o que se soma à fala de Jesus sobre o Reino de Deus: “Pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17, 21), colocando em nós o Logos, Deus em nós.

Nele (no Logos) estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha na escuridão, e a escuridão não dominou a luz” (Jo 1, 4-5).

O Logos é a luz, e ao mesmo tempo em que Jesus afirma: “Eu sou a luz do mundo. Quem me seguir não andará na escuridão, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12); ele também disse: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14). Esta afirmação nos coloca ao lado de Jesus, e corrobora a unidade por ele esperada, com ele e com Deus. Demonstrando que Jesus Cristo não era ele próprio o Deus absoluto, ele reconheceu que “o Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28). E tamanha era a humanidade de Jesus Cristo que nem mesmo conseguiu fazer milagres em sua terra natal, impedimento esse incompatível com a onipotência divina: “E Jesus não podia fazer ali milagre nenhum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos” (Mc 6, 5); isso depois de referir a si mesmo como um profeta. A par da inexistência de menção de trindade nas Escrituras, os textos transcritos, dentre outros, são fortes indicativos de que a concepção respectiva (trindade) não é correta.

Uma passagem também é muito relevante sobre o assunto, quando Jesus cita as Escrituras relembrando que os homens aos quais a Palavra de Deus é destinada são chamados deuses. “Jesus lhes respondeu: ‘Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? Se ela chama de deuses aqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode ser anulada — àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo dizeis: ‘Blasfemas!’, porque disse: ‘Sou Filho de Deus!’?” (Jo 10, 34-36). Assim, o mesmo Evangelho que fundamenta a argumentação cristológica de que Jesus é Deus também afirma que homens são tratados como deuses pela Escritura.

Outrossim, se Deus está em nós, e Deus é a realidade independente, esta não é tão independente assim de nós humanos, porque o Espírito eterno habita em nós, motivo pelo qual todas as nossas ações são eternizadas, boas ou más, pelas quais responderemos em algum momento, pois nossas ações se situam no tempo, enquanto fenômenos, e também fora do tempo, pelo Espírito.

Mais uma vez vale significar uma expressão de Jesus, dizendo “quem me vê vê aquele que me enviou” (Jo 12, 45), indicando a possibilidade de conhecimento da realidade, o que ocorre espiritualmente, como já exposto, através e pelo fenômeno.

E não só Jesus Cristo pode expressar a realidade última, afirmando ele que nós também temos uma ligação com Deus, com a eternidade, por meio do Espírito, pois quando o homem age movido pela Vontade do Pai, como Pedro ao reconhecer o Cristo, essa possibilidade se lhe abre: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 19).

Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu. Em verdade ainda vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18, 18-20). A possibilidade de ligar as coisas da terra no céu, destarte, não é exclusividade do bispo de Roma, mas uma possibilidade aberta a todo Cristão.

Portanto, a partir do conhecimento do Espírito, a realidade empírica, entendida como os fenômenos da terra, pode ser compreendida, pela humanidade, na sua realidade, na eternidade, em sua ligação com o céu. E se o argumento ora desenvolvido estiver correto, o que é claro pela interpretação do texto bíblico, nossa responsabilidade é enorme, porque vivemos, ao mesmo tempo, em um mundo de aparências e na eternidade, no Espírito, e quando damos as costas a essa Verdade, nossa luz se transforma em trevas, e “se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão as trevas!” (Mt 6, 23).

A Verdade e a queda do falso profeta

Além de artigos e preposições, o nome deste texto traz três substantivos e um adjetivo. Substantivos indicam seres ou entes do mundo, incluindo ideias e ações. Adjetivos, por sua vez, definem qualidades ou características dos seres ou entes. Ainda que o título se refira a uma simbologia religiosa de mundo, que penso ser permanentemente atual, pode ser atualizada a linguagem da escrita para significar “a racionalidade e a falseação (Popper) da incoerência científica”.

Portanto, o artigo pressupõe a existência de ideias, como verdade e racionalidade, as quais possuem afinidade significativa, além de importância simbólica no meio social, porque expressam valores elevados dentro da comunidade, que indicam confiança e unidade simbólica. Além disso, essas ideias são correlacionadas a outras, estas qualificadas, falso profeta e incoerência científica, postulando um movimento, a queda ou a falseação, segundo um juízo ou julgamento do hodierno conhecimento (científico, político e religioso).

Não há dúvida de que existe movimento físico, ou de que também haja movimento de ideias, a dúvida consiste no sentido desse movimento, se há sentido, se estamos indo em alguma direção que possa ser previamente concebível, ou se não há previsibilidade no sentido geral do movimento cósmico, neste incluídas as sociedades humanas.

O tema geral do texto é o conhecimento da realidade, em sua verdade ou racionalidade, e sua divulgação oficial por aqueles que dizem possuir (e presumivelmente se portar segundo) esse conhecimento, o que vale tanto para as religiões como para as ciências. O texto é sobre epistemologia, sobre filosofia da ciência, e da religião, e sobre o conflito aparente entre as respectivas ideias de mundo.

Aproveitando os descobrimentos mais recentes da ciência, especialmente da física quântica, o artigo parte do pressuposto de que não há como separar, durante a observação científica, ou na análise filosófica dos fenômenos, o arcabouçou teórico ou instrumental daquilo que é considerado dado observado, porque ocorre uma fusão de ambos no momento da observação, que na física implica o que é chamado colapso da função de onda, pelo qual a medição acarreta a destruição, ainda que momentânea, da construção matemática adotada no procedimento, devendo ser renovada aquela construção em nova experimentação.

Segundo os últimos descobrimentos científicos, a experimentação da realidade, inclusive quanto às sensações humanas, em grande parte, se não totalmente, é dependente do conhecimento ou condicionamento teórico da pessoa.

Assim, conhecer é experimentar, conhecer significa unir-se, intelectual e fisicamente, ao conhecido, o que restaura a visão bíblica de conhecimento, em que conhecimento de Deus significa a união com Deus, porque quando se diz no texto sagrado que um homem conheceu uma mulher isso significa a união sexual entre eles.

A proposta deste artigo, portanto, refuta a concepção cartesiana, atualmente dominante, segundo a qual existiria independência entre pensamentos e o mundo sensível, entre res cogitans e res extensa, entre ideias e corpos.

Desse modo, o texto assume a existência de uma realidade ou racionalidade do mundo que não foi compreendida por Descartes, e pela ciência que o sucede há séculos, entendimento que continua sendo divulgado oficialmente pela academia, pela religião e pelo poder político, entendimento que é cientificamente incoerente, o que corresponde à ideia religiosa de falso profeta, daquele que divulga mentiras e falsidades pretendendo, ou fingindo pretender, expressar ideias racionais e coerentes.

O texto assume uma visão Monoteísta e Cristã de mundo com unidade nas simbologias científica, religiosa e política da realidade, que também não foi compreendida pela cristandade, o que é causa remota da falha cartesiana. Descartes seguiu uma dualidade defendida por Agostinho de Hipona, dizendo haver duas cidades, a cidade dos homens, no meio político, e a cidade de Deus, como Igreja, que conduz a vida espiritual, dualidade incompatível com o Monoteísmo, pois Deus, o Logos, regula dos pensamentos à vida política da comunidade, sendo essa divisão inconciliável com a concepção Monoteísta Cristã, que não distingue vida social de vida individual ou espiritual. O erro de Agostinho de Hipona, de seu lado, decorre da concepção trinitária que domina a Teologia Cristã, que se perdeu, está no deserto, até que seja restabelecido o Monoteísmo, como narrado no Apocalipse, e exposto no artigo “Política: Fraternidade, igualdade e liberdade” (https://holonomia.com/2017/12/13/politica-fraternidade-igualdade-e-liberdade/).

Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e sobre as cabeças sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com um cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil duzentos e sessenta dias. Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus Anjos, mas foi derrotado, e não se encontrou mais um lugar para eles no céu” (Ap 12, 1-8).

Em seu Curso Online de Filosofia, Olavo de Carvalho fala do mergulho no Ser, a realidade última, que ocorreu por duas vias, aproximadamente ao mesmo tempo, no que é chamado período axial da História, a via pneumática, pelos profetas de Israel, e a via noética, pelos filósofos gregos, que penso podemos chamar atualmente de caminho revelado e caminho científico ou filosófico, os quais se fundiram no Cristianismo. Contudo, a via noética era provisória, nos seus fundamentos, porque o conhecimento científico deve evoluir até se unir ao pneumático, e a fusão precipitada, e tida como definitiva, acabou cristalizando um erro em forma de dogma teológico, a trindade, de origem pitagórica e platônica, mas fruto de uma ciência incompleta e parcial da realidade. O moderno conhecimento noético não fala em triângulos ou em números, mas em Unidade do Ser, em número de Fibonacci e geometria fractal.

Da trindade decorreu, ainda que implicitamente, a ideia de duas cidades, que, penso, consolida a apostasia predita pelo apóstolo Paulo, e daí o Cristianismo saiu da História (a Mulher fugiu para o deserto), o que estava na Ciência de Deus, mas como erro permitido, algo próximo à história de José do Egito. Tento restaurar uma proposta de História de viés Cristão no texto “Ciência x tecnologia” (https://holonomia.com/2017/11/28/ciencia-x-tecnologia/).

Contudo, diante da separação, ou apostasia, que se reforçou com Descartes e permanece até hoje, a Teologia não incorpora a Ciência e vice-versa, não havendo uma Teologia científica, por conta do dogma, ou uma Ciência teológica, em virtude do cartesianismo e do kantismo. Para isso é preciso rever o conceito de trindade, para entendê-lo não como três pessoas divinas, e sim de forma holística, num panenteísmo, Deus no homem, tendo como exemplo Jesus Cristo, que não é uma pessoa de três deuses, porque “o Pai é maior que eu”, “eu e o Pai somos um”, e não três, e porque sobre aquele dia, “nem os anjos dos céus, nem o Filho, só o Pai” sabe. Recentemente li o livro “Eu e o Pai Somos Um”, disponível na internet, na mesma linha citada http://www.adventistas.com/2011/11/30/livro-gratis-eu-e-o-pai-somos-um-e-o-espirito-santo-nao-faz-parte-da-trindade/.

Daí porque não chegamos à “unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa”, conceito de filosofia dado por Olavo de Carvalho, que é o objetivo do Cristão, segundo Jesus Cristo, no Evangelho de João, capítulo 17, 20-21, para que o homem viva no corpo finito segundo uma razão infinita, segundo o Logos, porque há um só Espírito, que é o Espirito Santo de Deus, que é Deus, porque Deus é Espírito, que é o Espírito que encarnou em Jesus Cristo, que é o Espirito que habita em nós.

O Cristianismo é a ciência cósmica da humanidade, que se realiza na História, e como a civilização chegou à sua unidade material nos dias de hoje, estamos perto da presença (parousia) dessa Ideia na vida planetária, até como uma necessidade de sobrevivência, o que depende da união teológica monoteísta, há muito profetizada, na História, em consequência da ação de Deus em resposta à falta humana, como ocorreu no dilúvio, no êxodo e na ressurreição de Jesus Cristo. Isso ocorrerá antes da dominação muçulmana (ou mussulmana) mundial, porque O Profeta é Jesus Cristo, sendo Maomé um profeta, o que necessariamente será reconhecido pelos leitores do Alcorão, porque o Ser é o que Deve Ser, o que se desenvolve no tempo, no devir.

Nos planos científico e político, capitalismo e socialismo são expressões de incoerência científica, porque o capitalismo é fundado numa visão Cristã protestante de mundo, cuja prática contraria os valores cristãos, enquanto o socialismo, que, diante da transferência do Reino de Deus para o além pela cristandade, arrefecendo a necessidade de justiça humana, o socialismo assumiu o domínio monopolista da ideia de justiça social, a qual é objetivo da religião Monoteísta desde o Antigo Testamento até o Alcorão, quando sua prática (do socialismo) é o controle do estado pelo partido, cujos membros fazem as vezes de casta sacerdotal, usufruindo de benefícios materiais e sociais exclusivos, que não são acessíveis à grande massa da população, repetindo os erros dos escribas e fariseus que condenaram Jesus.

Hoje, portanto, o mundo é governado pela Besta, que reúne as nações em poder político mundial, seja de viés político capitalista ou socialista, baseando-se em ciências, e ciências políticas, equivocadas, ou seja, baseando-se em incoerências científicas, de Adam Smith a Karl Marx, porque os cientistas de hoje são os sacerdotes ou profetas de ontem, e quando não dizem a verdade, quando seu discurso é mentiroso, quando pretendem ser expressão da racionalidade, mas são fraudes, ou quando suas palavras não encontram respaldo na realidade, podem ser chamados de falsos profetas.

Nisto vi que da boca do Dragão, da boca da Besta e da boca do falso profeta saíram três espíritos impuros, como sapos. São, com efeito, espíritos de demônios: fazem maravilhas e vão até aos reis de toda a terra, a fim de reuni-los para a guerra do Grande Dia do Deus todo-poderoso. (Eis que eu venho como um ladrão: feliz aquele que vigia e conserva suas vestes, para não andar nu e deixar que vejam a sua vergonha.) Eles os reuniram então no lugar que, em hebraico, se chama ‘Harmagedôn’ (Ap 16, 13-16).

O conflito atual em torno de Jerusalém não é coincidência, é cumprimento profético, porque Jerusalém é o centro do mundo, marca o ponto de confluência entre Ocidente e Oriente, e mostra que, de fato, a religião controla a política.

Como a Verdade continua sendo rejeitada, porque para as visões ideológicas e partidárias de mundo a verdade é parcial e particular, o mundo dos partidos deve cair junto com os que os sustentam, o que está ocorrendo, porque as incoerências científicas continuam negando a unidade da Justiça. As bestas preferem a guerra a aceitar a Verdade, o que vale tanto para o Brasil como para o mundo.

Vi então a Besta reunida com os reis da terra e seus exércitos para guerrear contra o Cavaleiro e seu exército. A Besta, porém, foi capturada juntamente com o falso profeta, o qual, em presença da Besta, tinha realizado sinais com que seduzira os que haviam recebido a marca da Besta e adorado a sua imagem: ambos foram lançados vivos no lago de fogo, que arde com enxofre” (Ap 19, 19-20).

Portanto, a Besta e o falso profeta estão em queda, porque a Verdade já é compreensível, e somente o mundo julgado pela Verdade, conforme sua versão humana, Jesus Cristo, é um mundo de paz: “Vi então tronos, e aos que neles se sentaram foi dado poder de julgar. Vi também as vidas daqueles que foram decapitados por causa do Testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e dos que não tinham adorado a Besta, nem sua imagem, e nem recebido a marca sobre a fronte ou na mão eles voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20, 4).

A Verdade pressupõe unidade científica, religiosa e política, e por isso o governo de Cristo, do Ungido com o Espírito Santo, o governo movido por motivo santo, por motivo justo, é o governo da coerência científica, pautado pelo conhecimento integral da realidade, para realização da Humanidade de Cristo em todos os humanos, de modo que todos sejamos ungidos pelo Espírito Santo, que todos atuemos segundo uma racionalidade plena, que todos sejamos Cristos, expressão da Verdade, um com o Pai.

Paradigmas e comparações

Terminada a leitura de “A estrutura das revoluções científicas”, de Thomas Kuhn, lembrei-me de dois artigos publicados anteriormente, “Ciência: linguagem, física e metafísica” (https://holonomia.com/2016/10/22/ciencia-linguagem-fisica-e-metafisica/), um dos principais artigos desta página, em termos filosóficos, e “Revolução e evolução” (https://holonomia.com/2017/08/03/revolucao-e-evolucao/), que abordam a temática do referido livro.

A conduta humana é baseada em comparações, verificando semelhanças e diferenças nas coisas e eventos do mundo, o que é feito com uso da linguagem, a partir da experiência pessoal e coletiva perante os fenômenos analisados e diante de suas expressões simbólicas decorrentes do uso de palavras anteriores para caracterizar aquelas experiências. De outro lado, existe um componente implícito, mas sempre presente na linguagem, que é o julgamento de valor, seja instrumental, útil ou inútil, seja moral, bom ou mau. Tais assertivas também valem para a atividade científica.

Os valores individuais e sociais estão intimamente ligados, pois aquilo que os homens individualmente procuram se transforma em algo buscado coletivamente, como bom ou útil, o que, por exemplo, tem sua repercussão econômica na lei da oferta e da procura, valores que se expressam em palavras, na linguagem, no comportamento e no discurso científico.

Na ciência, o valor está ligado à relevância do problema a ser solucionado. Em uma pesquisa acadêmica, numa tese de mestrado ou doutorado, por exemplo, o trabalho é iniciado com um projeto que sugere um problema, uma questão a ser respondida, e a respectiva proposta inicial de solução.

quais são os problemas que são mais significativos ter resolvido? Tal como a questão dos padrões em competição, essa questão de valores somente pode ser respondida em termos de critérios totalmente exteriores à ciência e é esse recurso a critérios externos que – mais obviamente que qualquer outra coisa – torna revolucionários os debates entre paradigmas” (Thomas S. Kuhn. A estrutura das revoluções científicas. Trad. Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. 12 ed. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 199).

Depois de dizer que o paradigma tem influência até mesmo sobre a percepção, sobre os sentidos, ao afirmar que o “que um homem vê depende tanto daquilo que ele olha como daquilo que sua experiência visual-conceitual prévia o ensinou a ver” (Idem, p. 204 – grifo nosso), pois a visão está ligada àquilo que se espera ver, a uma imagem mental que adéqua os estímulos recebidos do meio transformando-os no que se vê propriamente, conforme um modelo de mundo, Kuhn mostra por que a obra citada é um clássico, ao enfrentar O problema filosófico, ligado ao paradigma que domina o ocidente por séculos, o dualismo cartesiano:

As pesquisas atuais que se desenvolvem em setores da filosofia, da psicologia, da linguística e mesmo da história da arte, convergem todas para a mesma sugestão: o paradigma tradicional está, de algum modo, equivocado” (Idem, p. 213 – grifo nosso).

Uma boa tese científica tem início com uma boa pergunta, pois são as perguntas corretas, com a respectiva linguagem, que permitem as respostas corretas, e nesse aspecto a tese de Kuhn é excelente, pois coloca as perguntas cujas respostas solucionam o problema da modernidade e da contemporaneidade, que podem ser formuladas do seguinte modo: como pensamento e realidade física interagem? Qual a natureza do homem?

Depois de dizer que não tem esperança em encontrar “uma linguagem de observação neutra”, que independe dos sentidos, ele diz: “Quanto a uma linguagem de observação pura, talvez ainda se chegue a elaborar uma. Mas, três séculos após Descartes, nossa esperança que isso ocorra ainda depende exclusivamente de uma teoria da percepção e do espírito” (Idem, p. 220 – grifo nosso).

Essa Verdade destacada acima merece ser repetida: a ciência depende de uma teoria do espírito. Lembremos, para não perder a oportunidade, que o Cristianismo é uma teoria do Espírito, uma teoria da Razão de Deus, do Logos, que habita no homem, que é imagem e semelhança de Deus, e essa teoria responde à pergunta acima, a qual, para Kuhn, não teria sido respondida.

Segundo Kuhn, a transição entre paradigmas científicos diversos, porque estes são incomensuráveis, ou seja, não são comparáveis, ocorre subitamente (embora não necessariamente num instante) (Idem. p. 249), quando o novo paradigma, a nova visão científica de mundo passa a dominar a pesquisa, passa a orientar as perguntas. Antes disso, alguns homens, baseando-se nas promessas futuras do novo paradigma, tomam suas decisões para aceitá-lo, mas para isso o homem que adota o novo paradigma nos estágios iniciais “precisa ter fé na capacidade do novo paradigma para resolver os grandes problemas com que se defronta, sabendo apenas que o paradigma anterior fracassou em alguns deles. Uma decisão desse tipo só pode ser feita com base na fé” (Idem, p. 258 – grifos nossos).

Os destaques indicados, extraídos de uma obra de filosofia da ciência, permitem que façamos uma análise entre o que o autor fala e a mensagem divulgada amplamente para o público, relativamente à suposta diferença entre ciência e religião, sobre: teoria e percepção; linguagem científica e teoria da percepção e do espírito; e conhecimento científico e fé.

A comparação com teorias religiosas é inevitável, apontando para uma unidade conceitual entre ciência e religião que considero o fim da empreitada científica, pois Abraão, Moisés, Maomé e Jesus foram homens de fé, como os cientistas descritos por Kuhn, que acreditaram nas promessas de Deus para um mundo futuro, o Reino de Deus, quando os homens viverão em paz, com abundância de conhecimento, guiados pela Razão, pelo Logos, pelo Espírito Santo, o que se presume também seja o objetivo da empreitada científica.

Em que pese o avanço de Thomas Kuhn em direção à verdade científica, ele não reconhece essa possibilidade, pois quanto ao último ponto, contudo, em relação ao objetivo da ciência, ele entende não haver uma verdade a ser buscada, ainda que uma interpretação evidente em sentido contrário possa ser extraída de suas próprias palavras.

Para ser mais preciso, talvez tenhamos que abandonar a noção, explícita ou implícita, segundo a qual as mudanças de paradigma levam os cientistas e os que com eles aprendem a uma proximidade sempre maior da verdade. (…)

O processo de desenvolvimento descrito neste ensaio é um processo de evolução a partir de um início primitivo – processo cujos estágios sucessivos caracterizam-se por uma compreensão sempre mais refinada e detalhada da natureza. Mas nada do que foi ou será dito transforma-o num processo de evolução em direção a algo” (Idem, p. 274).

A contradição oculta, ou clara, no texto está no fato de que “uma compreensão sempre mais refinada e detalhada da natureza” é “algo” em “direção” a que ocorre a “evolução” científica. O trabalho da Ciência é descobrir a natureza da Natureza, como defendi no artigo “A natureza da Natureza” (https://holonomia.com/2017/02/10/a-natureza-da-natureza/), incluída a ontologia, que aponta para uma Teologia, para explicar e definir a realidade, e também a realidade humana.

Kuhn, no último parágrafo do livro, indica as perguntas fundamentais não respondidas pela ciência atualmente dominante, do paradigma que vejo em declínio, referente ao sucesso da ciência sobre o conhecimento do mundo: “Como deve ser a natureza, incluindo-se nela o homem, para que a ciência seja possível?”; levantando, depois, a pergunta sobre as características especiais do mundo de que faz parte a comunidade científica: “Esse problema – O que deve ser o mundo para que o homem possa conhecê-lo? – não foi, entretanto, criado por este ensaio. Ao contrário, é tão antigo como a própria ciência e permanece sem resposta” (Idem, p. 277).

A visão de mundo constante no livro, como se vê pela última passagem citada, considera a ciência uma empreitada sem objetivo definido, não havendo uma concepção de mundo e do homem ou sobre as características especiais da realidade.

Tal entendimento sobre a ciência, entretanto, não é o único, e aqui fica a comparação final deste artigo, porque existe uma Cosmovisão que possui respostas para as perguntas de Kuhn, aquela ligada ao Monoteísmo, dizendo que Um Espírito criou todas as coisas, que se voltam ao seu Criador, sendo o homem o ápice da criação, a ponte natural entre a matéria e o Espírito, por ser capaz de encarnar o Espírito do Criador, atingindo a unidade consciente da natureza, seguindo o exemplo de Jesus Cristo. Portanto, a ciência, sim, possui um objetivo final, permitir a união da criatura com o Criador, promovendo a unidade cósmica no homem, para que a humanidade viva segundo o mesmo Espírito, que é o Único Espírito.

Como teoria científica, e esse é o paradigma que defendo, o Cristianismo é uma teoria científica e um estilo de vida, que faz previsões históricas, muitas cumpridas, e outras por cumprir, especialmente quanto ao plano político internacional.

O Cristianismo é uma ciência e religião pessoal e social, que tem um aspecto de salvação individual e outro de salvação coletiva. A salvação individual decorre do comportamento moral segundo os mandamentos, especialmente o amor a Deus, à Santidade, e ao próximo.

Socialmente a salvação ocorrerá no Reino de Deus, pela Política, pelo Direito, com um método específico, qual seja, o cumprimento coletivo, no Estado (A Igreja de Cristo), da Vontade de Deus, a Lei, seguindo o exemplo de Jesus Cristo: o Caminho, palavra que significa método; a Verdade, a unidade entre teoria e prática, entre espírito e percepção; e Vida, o movimento do espírito individual em direção ao Espírito (Santo – integral – e coletivo), o Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis.

Uma vez cumpridas as profecias, notadamente após um conflito bélico em torno de Israel e Jerusalém, com mudança na percepção e no entendimento sobre a natureza de Jesus Cristo e sua função profética e messiânica, especialmente sobre o caráter e as condutas exigidas dos líderes políticos, que devem se espelhar em Jesus Cristo, agindo em direção à santidade, estarão definitivamente presentes na humanidade os “critérios totalmente exteriores à ciência” que levarão à mudança súbita de paradigma religioso e científico para a realização do Reino de Deus, cuja base é a unidade entre Criador e criatura, quando a humanidade deixará de se guiar por seus egoísmos setoriais, passando a viver conforme a Vontade de Deus, conforme o Logos, a Razão e a Linguagem (o Verbo, a Palavra), com encarnação da unidade da Natureza em todos os filhos de Deus.

Macroevolução e microevolução

O tema da evolução das espécies é objeto de controvérsia entre cientistas e entre estes e religiosos. Como escrevi no artigo “Revolução e evolução” (https://holonomia.com/2017/08/03/revolucao-e-evolucao/):

Ressalte-se que o próprio Darwin não considerava sua teoria incompatível com a criação, pois ele aceitava a ideia de leis naturais, as quais tornam possível a evolução. Para Vittorio Hölse, que afirma ser necessária uma interpretação teleológica da natureza, podemos ver finalismo no mundo como um todo, o que também ocorre na evolução darwiniana. Hösle transcreve as seguintes palavras de Darwin: ‘When thus reflecting I feel compelled to look to a First Cause having an intelligent mind in some degree analogous to that of man; and I deserve to be called a Theist’ (In, Vittorio Hösle. God as reason: essays in philosophical theology. Notre Dame, Idiana: University of Notre Dame, 2013, p. 29). Em tradução livre: ‘Quando assim refletindo, eu me sinto compelido a procurar por uma Primeira Causa tendo uma mente inteligente, em certo grau análoga à do homem; e eu mereço ser chamado um Teísta’. Contudo, posteriormente, mesmo tendo dito que passou por uma experiência quase religiosa quando esteve nas florestas do Brasil, Darwin não mais se declarou teísta, mas agnóstico (Idem, p. 33). E Hösle ainda ressalta, como antes salientado, que a visão de mundo religiosa é a base da ciência moderna: ‘There is little doubt nowadays among historians of science that the miracle of modern science was profoudly rooted in a religious vision of the world’ (Ibidem), ou seja, ‘há poucas dúvidas hoje em dia entre os historiadores da ciência de que o milagre da ciência moderna estava profundamente enraizado em uma visão religiosa do mundo‘.

Sobre isso, referindo-se a palavras de Asa Gray, Hösle afirma que a disputa (atualmente entre os neodarwinistas ateus e os teístas) não era entre darwinismo e criacionismo, mas entre acaso e desenho. Aduz, Hösle, ainda, que a evolução é compatível com a mente consciente como o desenvolvimento de fins mais complexos: ‘bringing forth entities that have increasingly complex ends is, so to speak, an end either of nature or of its creator; and the highest end is the generation of a being that can ask the question of what an ultimate end is’ (Idem, p. 48), isto é, ‘produzir entidades que têm fins cada vez mais complexos é, desse modo, um fim da natureza ou de seu criador; e o mais alto fim é a geração de um ser que pode fazer a pergunta sobre o que é um fim supremo’”.

Portanto, volto ao assunto porque ele também é mencionado por Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi, no livro citado no artigo anterior, ao abordarem a disputa entre acaso e desenho, negando a existência de Desenho Inteligente, porque esta ideia carregaria “consigo ignorância e concepções errôneas sobre a ciência”, além de pregar “a ignorância e o medo”, sendo uma “nuvem de falsidade” (Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. Trad. Mayra Teruya Eichemberg, Newton Roberbal Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 264).

Capra e Luisi, seguindo a proposta de Humberto Maturana, sustentam a existência de um “determinismo estrutural”, pelo qual o comportamento dos organismos não é determinado por forças externas, mas por suas próprias estruturas, que são formadas a partir de sucessivas mudanças estruturais. Ao determinismo estrutural, junta-se a ideia de contingência, substituindo a noção de acaso, como uma força motriz da evolução: “contingência, definida no dicionário como ‘uma ocorrência imprevisível’, é a ocorrência simultânea de fatores que são independentes uns dos outros, mas que, juntos, determinam um evento específico em uma situação temporal espacial precisa” (Idem, p. 265).

Nesse ponto, os citados autores adotam procedimento semelhante ao de Stephen Hawking, como citei no artigo “Ciência: a luta do cosmos contra o caos” (https://holonomia.com/2016/08/13/ciencia-a-luta-do-cosmos-contra-o-caos/):

Stephen Hawking, o arauto do ateísmo materialista moderno, afirma que ‘na teoria quântica, a capacidade de fazer previsões exatas é apenas a metade do que era na visão de mundo clássico de Laplace. Todavia, dentro desse sentido restrito, ainda é possível afirmar em determinismo’ (In O universo numa casca de noz. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009, p. 108). Nesse ponto ele deturpa o conceito de determinismo, para tentar manter sua posição científica, como a ideia de uma mulher meio grávida”.

Isso porque o “determinismo estrutural” pode incluir uma estrutura ainda mais sutil, com um determinismo completo, que se mostra fenomenologicamente como contingência, ou seja, que possui aparência material de aleatoriedade, sem, de fato, haver acaso, porque o conceito de cosmos inclui o de ordenação completa. Depois que foi comprovado o entrelaçamento quântico é difícil sustentar a existência de fatores independentes no mundo físico. O fato de não conhecermos a estrutura última da natureza, inclusive no possível (provável) nível subquântico, não impede que exista essa realidade sutil, que determina estruturalmente tudo o que ocorre, o Cosmos que organiza a si próprio.

Essa controvérsia, abordada no artigo “Ciência: a luta do cosmos contra o caos”, se o mundo é regido por uma ordem absoluta ou pelo acaso, é uma divergência é radical, que separa duas visões de mundo, um que é governado por Deus, pelo Logos, e outro em que não há ordem, mas caos e coincidências aleatórias.

Como tenho sustentado em meus escritos, defendo uma visão de mundo Cristã, que pressupõe a existência de ordem, de uma Razão Universal, de um Logos, de um Cosmos, de um Deus, onisciente, onipresente e onipotente, perspectiva essa incompatível com o darwinismo, ou seja, com a “noção de que a natureza procede de maneira aleatória em seu desenvolvimento – ou seja, sem obedecer a qualquer plano predeterminado” (Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. Trad. Mayra Teruya Eichemberg, Newton Roberbal Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 234).

Portanto, ainda que Capra e Luisi substituam o termo “acaso” por contingência, como visto acima, apesar da sua compreensão de uma imprevisibilidade material da evolução, segundo penso, para que haja ciência autêntica, para que haja Cosmos, demanda-se a existência de uma previsibilidade ideológica, ou espiritual, de plena Unidade.

Além disso, o conceito de evolução inclui a ideia de uma mudança temporal, da evolução que ocorre no tempo, e a natureza do tempo é duvidosa desde as descobertas da física moderna, tando da relatividade quanto da orgânica quântica, pelas quais pode haver algo fora do espaço-tempo, Eterno…

Para a luz não há tempo, uma vez que em sua perspectiva tudo é instantâneo, também não havendo tempo nos fenômenos de entrelaçamento quântico. Portanto, o conceito científico de evolução das espécies é incompleto, porque a física moderna pressupõe uma Inteligência Cósmica não local e não temporal, um Logos, que não se limita ao espaço, não se limita ao tempo, que existe instantânea a atemporalmente, pelo que a própria ideia de evolução se mostra, nesse sentido, parcial, e relativa

Como cientista, outrossim, entendo que negar a hipótese evolutiva é negar os fatos, negar a razão, pois o conceito de evolução é evidente na observação da natureza, desde a evolução cósmica até o desenvolvimento de uma simples planta, não sendo razoável sustentar que Deus criou o mundo há seis mil anos. De outro lado, também pode ser considerada uma ofensa à racionalidade a narrativa segundo a qual o mundo é regido pelo acaso ou por contingências imprevisíveis, que contraria o princípio segundo o qual o mundo é organizado, porque pode-se ver organização e ordem no universo, e não confusão e caos. Sustentar acasos e coincidências é menosprezar a inteligência humana e a própria dignidade humana.

Se a evolução é fruto do acaso, isso tem profundas implicações filosóficas e para a vida prática humana e social, para o mundo jurídico, porque segundo esse pensamento não há diferença ontológica entre o homem e uma vaca, ou um chimpanzé. Se a vida humana é acidental, não é necessária, não é essencial ou qualitativamente mais valiosa do que a dos animais. Se o mundo é governado pela aleatoriedade, o comportamento daqueles que praticam massacres, matando dezenas de desconhecidos, não pode ser considerado irregular, ou ilícito, pensamento que é socialmente desastroso.

Esse ponto também serve para fundamentar a superioridade do Cristianismo em relação às demais religiões, ao conferir maior dignidade ao ser humano, compreendido como Filho de Deus, ao contrário de outras ideias religiosas que consideram sagrados animais irracionais.

Portanto, minhas principais críticas ao darwinismo, em que pese aceitar a tese de que há evolução (no tempo), consistem nas hipóteses pouco filosóficas de que a evolução é aleatória e de que ela é gradual. Sobre o segundo ponto, há dúvidas em relação à sua ocorrência, porque com a união do darwinismo com a genética populacional:

Aceitou-se que as características são herdadas como entidades discretas, chamadas de genes, e que a especiação se deve, muitas vezes, ao acúmulo gradual de pequenas mudanças genéticas – a macroevolução é simplesmente uma grande quantidade de microevoluções.

Desse modo, a síntese moderna é uma teoria sobre como a evolução funciona no nível dos genes, fenótipos (isto é, o aparecimento real do seres vivos e do seu comportamento) e populações. A principal controvérsia se referia – e, em parte, ainda se refere – à relação entre micro e macroevolução, controvérsia que surge, por exemplo, da objeção de que o registro fóssil, em qualquer sítio arqueológico, não mostra mudança gradual, mas, em vez disso, longos períodos de estabilidade seguidos de rápida especiação” (Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. Trad. Mayra Teruya Eichemberg, Newton Roberbal Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 236) (Grifo nosso).

Essas noções de microevolução e macroevolução podem levar à conclusão de que pequenas ideias, erradas ou certas, quando multiplicadas, levam a grandes erros ou grandes acertos, que ocorrem em saltos. Tal proposta justifica o mandamento Cristão de ser santo como Deus é Santo, para que sejam evitados até os pequenos erros.

Por isso, diversamente do que sustentava a tese evolutiva clássica, como provado pela física moderna, notadamente a orgânica quântica, a natureza dá saltos.

Dentro da visão Cristã podem ser constatadas noções de microevolução e macroevolução, ambas ligadas à pessoa de Jesus Cristo, que individualmente é a evolução individual humana, uma microevolução, ao mesmo tempo em que é e antecede a macroevolução social e física, a formação de uma nova forma de organismo, a humanidade como unidade orgânica e cósmica, que se completará como Reino de Deus, seguida de uma macroevolução ainda mais ampla, quando surgirão novos céus e nova terra.

Nesse sentido, o Cristianismo é uma teoria científica evolucionista e antecipou a ideia de evolução, mas com uma visão da evolução para o futuro, e não apenas para o passado, em que Jesus Cristo é o início do homem novo, a nova humanidade, a Vida que nasceu da vida, que já existe, mas ainda não se manifestou plenamente. A macroevolução já começou pela microevolução iniciada por Jesus CristoA proposta evolutiva é clara em são Paulo:

Primeiro foi feito não o que é espiritual, mas o que é psíquico; o que é espiritual vem depois. O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre. O segundo homem vem do céu” (1Cor 15, 46-47).

A macroevolução provavelmente se desenvolve em saltos, após períodos de crise, como nas várias extinções em massa já ocorridas no planeta, que permitiram novas formas de vida.

Assim, a ideia de grande tribulação, como crise que antecede a chegada do Reino de Deus, pode ser vista como evento catalisador da desordem antes que a nova ordem se forme, é bastante científica e coerente com nossos conhecimentos racionais, quando após um acúmulo de energia ocorre um salto evolutivo, um salto quântico biológico, um salto qualitativo, como aqueles ocorridos nos níveis mais básicos da realidade.

Apesar da entropia, do aparente aumento da desordem, seguindo a segunda lei da termodinâmica, a evolução implica aumento da complexidade, com uma ordem cada mais sutil, em comparação com a ordem anterior.

E é importante ressaltar que o salto quântico, pelo que se conhece até o momento, não possui fase de transição, pois o momento de maior energia é desconhecido até o instante em que a passagem já ocorreu, sem duração de tempo.

Nessa linha de raciocínio, a macromudança, em termos humanitários, se decorrer da dominância da ideia de separação das pessoas implica em desordem global, o que é uma macroinvolução, pelo reino do anticristo que vivenciamos, colocando em risco a civilização e a vida no planeta; de outro lado, a dominância da unidade do Espírito leva ao Reino de Deus, a efetiva macroevolução humana, já antecipada em Jesus Cristo, que é inafastável, dentro da cosmovisão Cristã.

Ele é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste” (Cl 1, 15-17).

A unidade cósmica, o Logos, manifestou-se inicialmente em Jesus Cristo, modelo de comportamento que se expandiu pelo globo, ainda que a Ideia tenha sido divulgada com falhas estruturais, por ter sido semeado joio junto com o trigo, fato antecipado pela teoria, que corrobora sua cientificidade, até que as incoerências sistêmicas sejam corrigidas, quando haverá um salto em direção à macroevolução, durante a era messiânica, em que a energia humana se aliará às forças cósmicas, pela obediência à Lei, com progresso humano nunca antes experimentado.

Ao final desse período, finalmente, a macroevolução ocorrerá, para uma Vida ainda mais sutil, que incluirá as vidas já vividas, pela ressurreição dos mortos, em um novo ambiente cósmico, “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21, 1); sim, a trombeta tocará, e os mortos ressurgirão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1Cor 15, 52).

Ainda que a imprevisibilidade material impeça o conhecimento das propriedades emergentes do novo ciclo evolutivo, o Espírito Santo já as revelou, parcialmente, confirmando que a evolução continuará: “O que está sentado no trono declarou então: ‘Eis que eu faço novas todas as coisas’” (Ap 21, 5).

Humanoritmo e a emergência do Reino de Deus

A leitura é importante para obtenção e ampliação de conhecimento, e boa leitura é fundamental para que o conhecimento adquirido seja correto, aprimorado e aperfeiçoado.

Outra forma de aquisição do saber é pela tradição oral, como ocorre, e ocorria, principalmente, quando os sábios e/ou anciãos transmitem(iam) suas experiências às gerações mais novas. Aliás, como ninguém nasce sabendo ler e escrever, o primeiro aprendizado é sempre oral.

O estudo de textos escritos é mais rápido e mais frio, em comparação com o aprendizado oral, e este também pode ser alterado durante o passar do tempo, pelos diversos ruídos provocados durante a comunicação. Um dos principais ruídos, se não o principal, decorre da dissonância entre o significado falado e o manifesto pelo comportamento daquele que emite o discurso. Os vícios humanos acabam, desse modo, se transferindo para a tradição oral, deturpando o conhecimento original que deveria ser transmitido.

Isso ocorreu no tempo dos judeus, quando Jesus Cristo contestou a tradição das autoridades de seu tempo. “Os escribas e fariseus estão sentados na cátedra de Moisés. Portanto, fazei e observai tudo quanto vos disserem. Mas não imiteis as suas ações, pois dizem, mas não fazem” (Mt 23, 2-3).

A divergência entre discurso e ação continuou na chamada Idade Média, em que assassínios, explorações humanas e guerras sob o argumento de serem ações em nome de Deus, do Deus Cristão, ocorreram amplamente, quando a mensagem de Jesus Cristo é de Justiça, de santidade, de perdão e de amor ao próximo.

Atualmente, no mesmo sentido, a política internacional e as políticas nacionais são dominadas pelos discursos mentirosos, reina a pós-verdade, como regra, inclusive pelos meios de comunicação oficial, pela grande mídia, com seus interesses, muitas vezes escusos, falseando as notícias.

E aqueles que deveriam nos mostrar, mostrar ao público, a Verdade, os cientistas e os religiosos, também transmitem conhecimentos equivocados, ainda que parcialmente corretos, mais por inconsciência e ignorância do que por má-fé, o que não ocorre, majoritariamente, no meio político.

Daí a importância da leitura, como salientado. Faço esta introdução porque leio neste momento “A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas”, de Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi. A obra de Fritjof Capra foi fundamental para minha formação intelectual, por meio da qual fui introduzido à física moderna, lendo “O Tao da Física” e depois “O Ponto de Mutação”. O problema de Capra, e de muitos cientistas e religiosos modernos, é não conhecer a profundidade da doutrina de Cristo, que alcança a mais pura ciência, porque Cristo é a Razão, é o Logos.

Talvez por isso Olavo de Carvalho tenha sido tão crítico a Capra em “A Nova Era e a Revolução Cultural”, questionando a proposta de mudança das tradições por Capra e Gramsci. Se o caos social provocado pelas ideias comunistas de Gramsci, tentando destruir a família e as tradições Cristãs, são evidentes; de outro lado, a mudança na perspectiva da ciência em relação à realidade mais profunda é necessária, pois aponta para a Verdade Cristã, para a Unidade material e espiritual do Cosmos. São Paulo entendeu isso muito bem: “Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4, 4-6).

Há um só Cosmos, há um só Logos. Por isso, o fator Jesus Cristo é essencial, pois define a humanidade plena, unida ao universo, que age pelo Espírito Santo, pela Razão Santa, pela Razão Plena, pela Razão Cósmica. Só Jesus Cristo salva é uma Verdade ontológica, pois o nome “Jesus” tem o significado de “Deus Salva”, e “Cristo” é aquele que recebe a unção com o Espírito de Deus, que é Logos, é racional, portanto Jesus Cristo mostrou o caminho da salvação, individual e coletiva, encarnado e entregando sua vida à Vida, à Razão Plena, à Inteligência completa, e só Jesus Cristo salva porque apenas o Logos salva, na medida em que qualquer pessoa razoavelmente esclarecida sabe que burrice mata, a ignorância mata, e atualmente é possível que a ignorância mate mais que a própria maldade pura.

A Unidade física e espiritual do Cosmos, hoje descoberta pela física, já era conhecida por Jesus Cristo, que explorou sua humanidade em plenitude, percebendo que a Humanidade é Una, é uma, Unidade que Ele recebeu pelo Espírito Santo de Deus, recebeu de cima, do Pai, do Logos, a totalidade original e emergente na humanidade em Jesus Cristo.

Ao contrário da ciência contemporânea, que se ampara em números, estatísticas e algoritmos, Jesus Cristo se apegou às pessoas, amou a todos, conhecendo seus comportamentos, seus ritmos, a ciência de Jesus Cristo é baseada em humanoritmos, no cálculo de sentimentos e ações humanas, na contagem do tempo humano, nos cálculos dos comportamentos das pessoas, individual e coletivamente, nas eras ou éons da humanidade.

Pleno conhecedor da visão sistêmica da vida, da teoria do caos, Jesus sabe que a única forma de controle social possível está na educação, na obediência à Lei e ao Seu Espírito, no conhecimento de Deus, de Sua Vontade, do Logos, e na ação conforme esse saber, por vontade interna das pessoas.

Na concepção sistêmica existe o conceito de “propriedades emergentes”, que “são as propriedades novas que surgem quando um nível superior de complexidade é atingido ao se reunir componentes de complexidade inferior” (Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. Trad. Mayra Teruya Eichemberg, Newton Roberbal Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 198).

Pode-se entender que o Reino de Deus é uma propriedade emergente da atividade de Jesus Cristo sobre o planeta, depois de cumprir sua missão como Ungido de Deus, encarnando o Logos, Ele difundiu Seu Espírito, pela cruz, e criou condições para a realização do Reino, época em que as pessoas pautarão suas vidas por um nível superior de humanidade que apenas o Pai sabe quando ocorrerá. “Uma escola de pensamento afirma que as propriedades do nível hierárquico superior não são, em princípio, dedutíveis dos componentes do nível inferior” (Idem, pp. 200/201).

O livro de Capra também fala da teoria de Gaia, da hipótese do planeta como um ser vivo. Contudo, essa hipótese pode ser tida como limitada, sendo mais adequado ver todo o Universo, o Cosmos, como um sistema vivo, proposta que pode ser inferida de “Universo Autoconsciente”, de Amit Goswami.

Parece que é essencial reconhecer o estabelecimento da ética e valores como atividades científicas autênticas.

Desenvolvimentos recentes na física quântica já sugerem a possibilidade de uma contribuição fundamental da física em geral para essa questão. O experimento de Alain Aspect indica conclusivamente que nossa separatividade do mundo é uma ilusão. Com base apenas nesses dados, algumas pessoas acham, corajosamente, que a visão quântica do mundo permite, e mesmo exige, ética e valores.

Temos condições de ir ainda mais longe com a interpretação idealista da mecânica quântica. Uma vez que possamos compreender a camuflagem condicionada tolda os mecanismos hierárquicos entrelaçados de nosso cérebro-mente e cria a ilusão da separatividade do ego, basta apenas mais um passo para criar uma ciência da ética que nos permite viver em harmonia com o princípio, cientificamente comprovado, da inseparabilidade. No desenvolvimento de tal programa, poderá ser muito útil nossa herança espiritual/religiosa. Uma ponte entre as filosofias científicas e espiritual do idealismo eliminará realmente as divisões na sociedade que desafiam e quase sempre comprometem ética e valores” (GOSWAMI, Amit; REED, Richard E.; GOSWAMI, Maggie. O universo autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. Trad. Ruy Jungmann. São Paulo: Aleph, 2007, pp. 302/303, grifo nosso).

O que faltou a Goswami, portanto, foi a correta compreensão da doutrina Cristã, faltante até mesmo nas igrejas Cristãs, que é exatamente essa ética da Unidade Humana, do Logos, em que ação individual é pautada por uma razão solidária, por uma razão coletiva, também nos âmbitos políticos e jurídicos.

Niklas Luhmann faz uma interessante abordagem sistêmica da sociedade em sua “Sociologia do Direito”, mas falta a ele o fator Jesus Cristo, o fator Espírito Santo, no nível da religiosidade profunda, da unidade cósmica, pelo qual as expectativas normativas dos indivíduos, a forma como entendem que ocorrerão regularmente os comportamentos sociais, são superadas pelas suas expectativas cognitivas, em que o conhecimento do Logos, de Deus, leva ao conhecimento da Lei. Esse fator, como ele reconhece, está em “nível pré-normativo” indiferenciado, na “camada elementar de expectativa”, “no sentido de que os componentes cognitivos e normativos das expectativas formam uma unidade coesa” (Niklas Luhmann. Sociologia do Direito I. Trad. Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1983, p. 60). Daí porque no sistema de Luhhmann não emerge, após a batalha escatológica, o Reino de Deus, em que vigora a Lei da Liberdade, pelo fato de ele ignorar a humanidade mais profunda, por desconhecer o humanoritmo.

Jesus Cristo é o Filho do Deus Vivo, que interage até com as forças da Natureza, é a Vida que surge da vida humana, a nova humanidade, a humanidade emergente, que se sente como membro cósmico ativo.

O que causa a ação de Cristo não é sua vontade individual, mas a Vontade do Pai, é a ação pela causalidade vertical indicada por Wolfgang Smith, como narrado em artigos anteriores (https://holonomia.com/2016/09/05/jesus-e-o-jogo-da-vida-eterna-verdade-e-consequencia/ e https://holonomia.com/2017/01/26/determinismo-ideologico-ou-espiritual/).

Capra fala de causação descendente, ou de cima para baixo, que “significa que o nível hierárquico superior afeta as propriedades dos componentes inferiores”, havendo “discussões na literatura filosófica a respeito da relação entre emergência e causação descendente – também chamada de macrodeterminismo”. “Considere a progressão dos níveis hierárquicos sociais que vão dos indivíduos para a família, para a tribo, para a nação. É claro que uma vez que os indivíduos estão em uma família, as regras da família afetam e mudam o comportamento dos indivíduos; de maneira semelhante, pertencer a uma tribo afeta o comportamento da família, e assim por diante” (Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. Trad. Mayra Teruya Eichemberg, Newton Roberbal Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 201).

Como Goswami, e mesmo Capra, perceberam, nós estamos conectados ao Cosmos, sendo que em Jesus Cristo essa conexão é plena, ele possui o Espírito Santo, É o Universo Autoconsciente, consciência causada descendentemente, nascida de cima, o que já havia se manifestado parcialmente nos profetas, antecipando a ordem social emergente decorrente da unificação da humanidade.

Essa Verdade é proclamada há quase dois mil anos, como ideias defendidas inicialmente por marginalizados e excluídos sociais; porque as únicas que dão a liga da unidade humana e social, tais ideias ascenderam aos princípios fundamentais da civilização, e quando seu autêntico Espírito prevalecer, causando descendentemente o bom comportamento dos indivíduos, o Reino de Deus será real e visível.

A unificação da razão humana tem como propriedade emergente o sistema social antecipado conceitualmente como Reino de Deus, que está próximo…

Reforma

Em 2017 completam-se quinhentos anos do que é chamado Reforma, ou Reforma Protestante, um episódio que alterou os rumos do Cristianismo e do curso da História da Humanidade, sendo que o presente ano também representa o centenário da Revolução Russa, igualmente com enorme significação histórica, e motivo semelhante, o mau uso do poder.

Para compreender o significado da Reforma é importante conhecer a situação da civilização no século XVI, em que a Igreja de Roma exercia grande poder na comunidade, no cotidiano da vida das pessoas. Depois da derrocada do Império Romano, no início do que se denominou Idade Média, fato que levou a um vazio de poder na Europa, a ordem social e a estabilidade da vida comunitária foram mantidas graças à ação da Igreja Cristã, mantendo a unidade de valores da vida social.

Assim, a Igreja Romana assumiu uma posição além de uma instituição meramente cultual, ganhando poderes políticos, ou parapolíticos, como uma entidade transnacional com capacidade de atuação em todos os reinos da Europa, movimentando até mesmo forças bélicas.

Talvez seja possível comparar a Igreja de Roma na época da Reforma como se fosse atualmente uma mistura de Organização das Nações Unidas e Organização Mundial do Comércio, com a capacidade de mobilizar forças militares locais sob sua orientação.

Portanto, ao contrário de hoje, em que a Igreja tem uma força ligada ao plano moral e discursivo, como uma Academia Religiosa ao lado da Academia Científica, cada uma com seus dogmas, no tempo da Reforma a referida instituição exercia poder efetivo sobre a vida das pessoas, inclusive praticando a pena capital, contrária à mensagem Cristã.

Daí a importância da atitude de Lutero, ao pregar suas 95 teses na capela de Wittemberg, na Alemanha, numa tentativa de chamar o clero ao debate, diante do que entendia como desvios na conduta dos sacerdotes e da própria Igreja, inclusive quanto aos ensinamentos por esta pregados.

Sem entrar no mérito sobre o acerto ou desacerto das teses, é fato que havia, e ainda há, o que ser corrigido na Igreja de Roma, também sendo um fato que o protestantismo contribuiu e contribui para a formação de um mundo individualista, permitindo o desenvolvimento do mercantilismo e do capitalismo que temos hoje, em que a liberdade individual muitas vezes é contrária ao equilíbrio social, e aos princípios Cristãos.

De todo modo, considerando que Deus é sumamente Bom, onipotente, e controla os rumos da Vida, a Reforma foi mais um passo necessário em direção à salvação da humanidade.

Mas a Reforma não é o ponto final na restauração da Verdade do Cristianismo, que carece da consumação das modificações políticas, teológicas e filosóficas exigidas para a instauração do Reino de Deus, principal mensagem de Jesus Cristo, que deveria orientar tanto católicos como protestantes.

Lutero pretendia alterar os rumos da condução do poder da Igreja, para que se adequasse à mensagem do Evangelho, sendo essa pretensão legítima, pois também Jesus Cristo agiu para restaurar o Espírito da Lei, para que o povo judeu fosse conduzido por bons pastores, bons governantes.

A Reforma, assim, não atentou para a essência da Boa Nova, o Reino de Deus, Reino enquanto governo humano seguidor da Lei de Deus, e não observou os próprios preceitos, não respeitou as cinco solae (sola Scriptura, sola gratia, sola fide, solus Christus e soli Deo gloria), que são princípios fundamentais da teologia reformada.

Ao defender sola Scriptura, um dos primeiros pontos que devem ser questionados é o dogma trinitário, que não foi objeto de protesto, e que não está nas Escrituras, mas continua inserido na teologia protestante.

O Deus das Escrituras, o Deus e Pai de Jesus Cristo, é um Deus Único, também não havendo, na Bíblia, separação entre Deus e seu Espírito, ou indicação de que o Espírito Santo de Deus seja uma pessoa diferente do próprio Deus.

Outro ponto insuficiente da Reforma está no fato de que nela também não se restaurou a unidade política, religiosa, teológica e filosófica do Cristianismo, que defende a vinda do Reino de Deus, em que os Cristãos são Reis e Sacerdotes Justos, ou seja, são, ao mesmo tempo, governantes, estejam ou não em posição oficial de governo, sacerdotes e filósofos.

Os reis das nações as dominam, e os que as tiranizam são chamados Benfeitores. Quanto a vós, não deverá ser assim; pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o mais jovem, e o que governa como aquele que serve. Pois, qual é o maior: o que está à mesa, ou aquele que serve? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve!” (Lc 22, 25-27).

O Príncipe dos Reis da Terra, o Messias, veio para mostrar que a função do governante é governar servindo, em favor do povo, e não governar dominando e oprimindo a população. Ele trouxe a mensagem do Reino, do Governo Justo, inaugurado por ele, o maior governante que já existiu, com o próprio sacrifício, ainda que injusto.

A missão do Cristão é imitar Cristo, seguir seu Caminho de Vida e Verdade, inclusive com a própria morte, enfrentando a tribulação e a cruz, se necessário, seja em que posição social estiver, e como o Reino de Deus é o tempo do Governo da Justiça, o Cristão que ocupa o governo deve servir, e exigir que seu governante seja Cristão, seja servidor de Cristo, Rei e Sacerdote.

João, às sete Igrejas que estão na Ásia: a vós graça e paz da parte d”Aquele-que-é, Aquele-que-era e Aquele-que-vem’, da parte dos sete Espíritos que estão diante do seu trono, e da parte de Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primogênito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama, e que nos lavou de nossos pecados com seu sangue, e fez de nós uma Realeza e Sacerdotes para Deus, seu Pai, a ele pertencem a glória e o domínio pelos séculos dos séculos” (Ap 1, 4-6).

Deus permite o governo humano injusto, provisoriamente, porque é melhor a ordem que o caos, mas atualmente, principalmente, os próprios governados, por suas corrupções e seus egoísmos, nos governos chamados democráticos, contribuem com as injustiças de seus governos, que toleram e às vezes até mesmo apoiam, não em termos de injustiças individuais, mas como ideias injustas e parciais que os favorecem, em detrimento da Verdade e da Razão, contra o Logos de Deus.

Ele é a Cabeça de todo Principado e de toda Autoridade” (Cl 2, 10), pois a razão é coletiva, e deve ser usada coletivamente.

Todo homem se submeta às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus” (Rm 13, 1), até que Deus encarne nos seus Filhos, exercendo “sua própria autoridade” sobre a humanidade (At 1, 7).

O Reino de Deus não se limita ao discurso religioso, à mera argumentação moral.

Pois o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder” (1 Cor 4, 20).

Portanto, a Reforma não foi uma reforma estrutural, mas uma reforma estética, quase um “puxadinho”, na medida que os governantes da cristandade, católicos e protestantes, continuaram a dominar e tiranizar as nações, pois foram católicos e protestantes que mataram na Revolução Francesa, que exploraram o povo na Revolução Industrial, que mataram milhões na Primeira e Segunda Guerras Mundiais, e que hoje permitem e praticam a destruição do planeta, a mercantilização da vida humana, a sexualização do mundo, o aborto, o “casamento” gay, as guerras por petróleo, a fome na África, a cultura da ignorância etc.

A Reforma foi estimulada por uma energia psíquica decorrente dos erros praticados pela Igreja, acumulada ao longo dos séculos, e tudo indica que essa energia psíquica está sendo acumulada novamente, e parece que culminará na grande tribulação, que talvez já esteja em curso, criando a força necessária para a Reforma definitiva, estrutural, quando o Espírito de Deus encarnará nos homens, como ocorreu com Jesus Cristo, especialmente nos governantes, que liderarão a Humanidade, como Reis e Sacerdotes, no Reino de Deus, na Era messiânica, no Milênio do Governo de Cristo.

Destarte, Cristãos, à Reforma, tomemos o Poder, pela Lei, pela Palavra, pelo Exemplo, pelo Caminho, pela Paz, pela Autoridade, pela Tribulação, pela Cruz, em Nome de Deus, conforme a Vontade de Deus, por Seu Espírito, Seu Logos, vivendo a Verdade, para salvação de nossas Vidas e nossas almas, e de nossos irmãos, ainda que para isso morramos, permanecendo vivos, para a Vida Eterna.

92 Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz, paz! sem que haja paz!

93 Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo: ‘Cruz! Cruz!’ sem que haja cruz!

94 Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno;

95 e, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas tribulações do que pela segurança da paz.

(http://www.luteranos.com.br/lutero/95_teses.html)

Interferência mental

O experimento da fenda dupla (https://www.youtube.com/watch?v=GXAYW4a3OZY) é um marco na definição da realidade a partir da física quântica, segundo o qual o elétron interage consigo próprio ao atravessar a dupla fenda, o que demonstra sua natureza ondulatória.

A expressão relativística E=mc² também indica a conversibilidade entre matéria e energia, apontando para uma natureza fluida das coisas.

O resultado do experimento da fenda dupla apresenta a formação de bandas ou padrões de interferência, com regiões claras e escuras na tela ou placa de medição do aparato, as primeiras regiões são aquelas em que as ondas se somam (pela incidência simultânea de cristas ou vales) e as últimas decorrem da anulação de uma onda por outra (quando uma crista e um vale coincidem).

O resultado desse experimento é um enigma até para os físicos e demonstra a incompreensão da ciência humana sobre a realidade última das coisas, pois os menores componentes das coisas possuem dupla natureza, corpuscular e ondulatória, e como tudo no mundo é constituído desses mesmos componentes as próprias coisas que conhecemos, em todos os níveis, têm natureza dupla e estão sujeitas à interferência.

A aplicação da interferência aos processos mentais, enquanto fenômenos inteligíveis, e aos pensamentos é uma conclusão lógica do experimento da fenda dupla, pois ao menos parte da experiência mental se refere à atividade eletromagnética do cérebro, ainda que esta atividade cerebral não esgote a função mental em seu nível mais sutil e, talvez, imaterial.

É muito provável que o Espírito tenha uma natureza mais sutil do que a matéria conhecida, podendo ser considerado, por isso, imaterial. De todo modo, enquanto encarnado, o Espírito está sujeito à influência material que recebe pelos sentidos corporais, como consequência da própria encarnação, pelo que, dessa forma, a atividade mental, fazendo associação entre coisas, fenômenos e ideias, também pode receber interferência da natureza ondulatória do universo conhecido.

Mesmo o pensamento humano pode ser considerado um processo de interferência, em que ideias interferem, interagem, umas com as outras e consigo próprias, notadamente em casos de duplicidade de sentido.

O pensamento, assim, nada mais é que a interferência de ideias, tanto entre as decorrentes de sensações, frio, quente, amargo, suave, áspero, como com as ideias mais abstratas já originadas no próprio pensamento. O pensamento é a associação de experiências significantes e simbólicas, em que os signos e os símbolos se qualificam uns aos outros, quando ocorre interferência mental, interferência inteligível.

Pensar é, pois, produzir interferência significativa e simbólica, aumentando quantitativa e qualitativamente os signos e os símbolos usados para a descrição do mundo e para a comunicação, segundo a razão, conforme o Logos, a Palavra, a Narrativa mais completa possível de todas as coisas.

No âmbito jurídico, do mesmo modo, à descrição de um fato ou fenômeno físico, um movimento humano, já em si simbólico no âmbito da linguagem que expressa uma materialidade, é acrescida ou sobreposta uma outra descrição, mais qualificada, do mesmo fato ou fenômeno, com uma valoração jurídica, e assim o fato natural se torna fato jurídico. Nesse sentido o símbolo jurídico interfere com o símbolo natural, qualificando-o, dando-lhe nova significação.O jurídico é um símbolo que adere ao fato, por interferência, modificando-o qualitativa e simbolicamente.

Desse modo, o âmbito jurídico é sujeito à interferência mental, uma interferência sutil pela qual uma visão de mundo qualificada incide sobre outra visão de mundo menos qualificada, causando interferência de um símbolo sobre outro, com uma superposição ideológica de ideia sobre ideia, com significação inteligível. Assim, a interferência mental ou simbólica qualifica os fenômenos como inteligíveis dentro de determinada inteligibilidade do mundo, dentro de uma cosmovisão simbólica ou descrição filosófica da realidade.

O Cristianismo, nesse sentido, enquanto cosmovisão simbólica e como descrição filosófica da realidade, ligando os homens significativa, física e espiritualmente entre si e unindo a humanidade a Deus, como Logos, como Unidade da Razão Universal, com sua qualificação moral e jurídica dos fenômenos naturais e humanos, é uma das formas de interferência mental que incide sobre as ideias e eventos do mundo.

O Cristianismo, como visão religiosa do cosmos, possui uma simbologia da totalidade, uma totalidade que é invisível, que transcende a aparência visível. A inteligibilidade espiritual é inteligibilidade inteligida, é como atravessar uma ponte pela qual primeiro se passa por ela, e depois se a constrói, já estando ela construída.

As visões de mundo materialistas podem ser consideradas mais limitadas que o Cristianismo, ao não aceitarem a conexão espiritual entre os fenômenos, interpretando-os segundo suas aparências visíveis.

A civilização contemporânea sofre grande interferência mental do materialismo, em que o consumismo fútil, o prazer corporal, a irresponsabilidade social e planetária exercem ação influindo sobre o comportamento das pessoas, nos níveis individual e coletivo, estimulando as práticas egoístas, consciente e inconscientemente.

Como compreensão mais elaborada do mundo, o Cristianismo aponta para uma realidade mais ampla e mais sutil, que não é capaz de ser compreendida pela visão materialista de mundo, pois assim como a observação do elétron o caracteriza como corpúsculo, desfazendo o campo e a interferência ondulatória, a visão material do mundo prejudica a compreensão de sua natureza energética, ondulatória e espiritual. O olhar materialista é um olhar limitado, que não alcança o melhor potencial da natureza, apegando-se à observação sensível, em detrimento da compreensão mais profunda e completa dos fenômenos.

Apenas a qualificação espiritual dos fenômenos permite a inteligibilidade da sua realidade espiritual, com a interferência mental consciente sobre a descrição mais sutil e completa da realidade.

O Cristianismo revela uma interferência do Espírito de Deus, da Ideia eterna, sobre a humanidade e a vida das pessoas, a encarnação do Logos infinito no homem, significando as atitudes não apenas pela vida corporal, mas incluindo nos comportamentos uma perspectiva infinita, ligada à eternidade.

Não te envergonhes, pois, de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participa do meu sofrimento pelo evangelho, confiando no poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não em virtude de nossas obras, mas em virtude do seu próprio desígnio e graça. Essa graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, foi manifestada agora pela Aparição de nosso Salvador, o Cristo Jesus. Ele não só destruiu a morte, mas também fez brilhar a vida e a imortalidade pelo evangelho, para o qual eu fui constituído pregador, apóstolo e doutor” (2Tm 1, 8-11).

O Cristianismo restaura a interferência da eternidade sobre a vida humana,  prejudicada pela Queda, conduzindo a vida e o comportamento das pessoas para o infinito, para esta vida e para além do tempo corporal de cada um de nós.

Para além da mera interferência mental de uma visão materialista e limitada da realidade e seus símbolos parciais das coisas, o Cristianismo permite a compreensão de uma razão absoluta da totalidade cósmica, mais qualificada, ininteligível segundo a limitação da racionalidade material, que não alcança a ontologia profunda da totalidade cósmica, ou da crucificação de Jesus Cristo e do martírio dos santos, mas que, na Verdade, é a própria inteligibilidade, enquanto Logos eterno que permite a racionalidade material e provisória, mas a supera, exercendo interferência mental sobre aqueles que elevam o pensamento até o Espírito Absoluto, em sua imaterialidade e eternidade, unindo suas mentes à mente de Deus, na interferência mental que realiza a Santíssima Unidade da criatura com o Criador, pelo Espírito Santo de Deus, o Campo Cósmico eterno, em que toda diferença e toda separação é apenas aparente, quando Deus interfere consigo próprio em sua criatura.

Trindade: uma heresia.

A palavra “cristo”, de origem grega, tem a mesma acepção do termo “messias” hebraico, significando “ungido”, a pessoa abençoada, escolhida por Deus para um serviço sagrado, para uma função especial. Moisés ungiu Aarão para ser sacerdote. Samuel ungiu Saul e Davi para serem reis de Israel. E mesmo Ciro, um não judeu, um pagão, foi chamado ungido, ou messias, ou cristo do Senhor (Is 45, 1), pois libertaria os cativos de Israel.

Nesse sentido, Jesus é O Cristo Senhor, o Cristo dos cristos, o que Presenta Deus entre os homens. Toda autoridade vem de Deus, e por isso, como o rei é uma autoridade, assim como o presidente ou primeiro-ministro, Jesus é o Rei dos reis, o Presidente dos presidentes. Juridicamente, Jesus exerce a função de preposto de Deus entre os homens, de procurador Absoluto, encarregado de mostrar o máximo que a carne pode presenciar de Deus, que é Espírito. Quando Jesus, O Cristo Redentor, o Ungido com o Espírito Santo para resgatar, redimir com seu corpo, a humanidade para Deus, ensinou-nos a orar, e em diversas outras passagens do Evangelho, mostrou-nos que existe apenas Um e Verdadeiro Deus, que não é trino e não é uma trindade.

Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes. Portanto, orai desta maneira: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu Nome, venha o teu Reino, seja feita a tua Vontade na terra, como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos exponhas à tentação mas livra-nos do Maligno. Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos” (Mt 6, 8-15).

Estando num certo lugar, orando, ao terminar, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos’. Respondeu-lhes: ‘Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu Nome; venha o teu Reino; o pão nosso cotidiano dá-nos a cada dia; perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’” (Lc 11, 1-3).

A oração indica que Deus é nosso Pai, e não apenas de Jesus Cristo, e que Deus está nos céus, pois Deus é Espírito. Em sua oração, Jesus demonstra haver um só Deus e Pai de Todos, Criador de Todas as coisas, e também Criador de Jesus Cristo, pelo que, ainda que Jesus Cristo tenha status inigualável na criação, Jesus Cristo é parte da criação, como nós. E mesmo que Jesus, enquanto encarnação do Logos, a primeira criação e modelo por meio do qual tudo foi criado em Unidade, esteja acima de todos nós, Ele está abaixo de Deus. Como Filho de Deus, condição que transmitiu a nós, sabe que Deus está acima de todos e que apenas Deus tem todo o conhecimento, e sua função como Messias, como Ungido é exatamente de nos redimir e nos conduzir ao conhecimento de Deus e a Deus, e à Unidade da criação, à unidade cósmica.

Como nosso condutor e redentor, Jesus é o Caminho, o Método de chegar a Deus, e por mais que Ele tivesse percorrido o caminho e seja o Caminho, Ele não é o destino final, pois o destino final é o próprio Deus, o Pai, e não Jesus. Enquanto encarnação, como humanidade, como Filho, Jesus pode ser o destino, mas como Espírito, o destino é Deus.

Mas, quando ele disser: ‘Tudo está submetido’, evidentemente excluir-se-á aquele que tudo lhe submeteu. E, quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos” (1 Cor 15, 27-28).

A trindade é, portanto uma heresia, a maior heresia do cristianismo, que divide o Deus Único, divide a criação e nos separa de Deus levando a uma interpretação equivocada da Realidade. O Pai é o Criador, o Filho é a criatura, que integramos, e o Espírito Santo é a Presença do Criador na criatura, a imanência de Deus na criação. O Espírito Santo é a Razão, a Harmonia que Une a parte ao Todo, mantendo a Unidade do Todo na diversidade criada, que foi recuperada na humanidade por Jesus Cristo. Podem existir razões ou espíritos que ligam partes a unidades maiores, mas apenas o Espírito Santo liga a parte ao Todo, pois é o Todo na parte.

Deus criou juntas todas as coisas, em Unidade, em uma Substância inteligente, o Logos, e essa unidade da criação foi rompida pela humanidade, pela Queda, criando um mundo à sua imagem carnal. A humanidade é a unidade da inteligência criada, mas o materialismo decorrente da Queda, quando a parte quis fazer o papel do todo, levou o homem a perder sua conexão intuitiva com Deus. Nesse ponto, fazendo um paralelo com a ciência moderna, a relatividade é máximo que a racionalidade materialista decorrente da Queda pode alcançar, e não permite atingir ou entender a unidade quântica. A Unidade da criação e cósmica foi recuperada por Jesus Cristo, que encarnou o Espírito Santo, o Logos, que existia desde o princípio, não apenas (re)criando o conceito de humanidade, como unidade de todos os homens, além da materialidade, independentemente de tribos, raças e nações, mas restabelecendo o conceito de criação ligada diretamente ao Criador, unida ao Criador. Se a primeira parte da atividade de Jesus Cristo já foi aceita e incorporada nos direitos humanos, todavia, a interpretação da dignidade humana se tornou equivocadamente materialista; pelo que a parte principal da mensagem e da obra de Jesus Cristo ainda não é aceita pelas autoridades científicas, a realidade não local e onipresente do Espírito, o fato de que o Espírito Santo habita no homem, fazendo dele Tenda do próprio Deus, não apenas Jesus Cristo, mas todo aquele que adora o Pai em Espírito e Verdade, e todos temos esse potencial, bastando que aceitemos Jesus Cristo como Messias.

Seguir Jesus é se submeter à Vontade do Pai, e aceitar que Ele é Bom e nos governa para nossa salvação, em Dia por nós desconhecido, futuro, mas certo.

E comprovando que Jesus não é o próprio Deus, ele disse expressamente que nem ele, como Filho, sabia o Dia do Senhor. “Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas só o Pai” (Mt 24, 36).

O Bom é um só” (Mt 17, 19), Deus, que não é uma trindade. “Jesus respondeu: ‘Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão só Deus! Conheces os mandamentos: Não cometas adultério, não mates, não roubes, não levantes falso testemunho; honra teu pai e tua mãe’” (Lc 18, 19-20).

Jesus respondeu: ‘Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus. Tu conheces os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe’” (Mc 10, 18-19).

Somente Deus é Bom, e por isso apenas somos bons quando fazemos Sua Vontade, quando agimos coletivamente, mas a bondade não é nossa, e sim de Deus, o Espírito Bom que age em nós. Como Jesus Cristo cumpriu a vontade do Pai até o fim, e atuou plenamente conforme o Espírito Santo, também pode ser considerado bom, porque já consumou sua obra, porque recuperou nossa humanidade, a unidade da espécie e da criação, do cosmos, estando à direita do Pai. Adão e Jesus foram os únicos criados pelo Espírito, mas Adão não manteve sua perfeição humana. Assim, somente Jesus foi totalmente humano, mantendo sua perfeição humana até a injusta morte de cruz, foi o único que agiu plenamente pela Razão, pelo Logos, e por isso, para nós, do ponto de vista humano, Ele é Deus, pois Deus é o Logos, a Razão, e nada na vida de Jesus violou o Logos. Ainda assim, Jesus é criatura, perfeita, e criadora, mas não o próprio Deus, o Espírito incriado, que é maior que tudo e todos.

Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar da mão do Pai. Eu e o Pai somos um‘. Os judeus, outra vez, apanharam pedras para apedrejá-lo. Jesus, então, lhes disse: ‘Eu vos mostrei inúmeras boas obras, vindo do Pai. Por qual delas quereis lapidar-me?’ Os judeus lhe responderam: ‘Não te lapidamos por causa de uma boa obra, mas por blasfêmia, porque, sendo apenas homem, tu te fazes Deus’. Jesus lhes respondeu: ‘Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? Se ela chama de deuses aqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode ser anulada — àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo dizeis: ‘Blasfemas!’, porque disse: ‘Sou Filho de Deus!’ Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis em mim; mas, se as faço, mesmo que não acrediteis em mim, crede nas obras, a fim de conhecerdes e conhecerdes sempre mais que o Pai está em mim e eu no Pai’” (Jo 10, 29-38).

Jesus é a parte perfeita é que o Todo manifesto, como no princípio holográfico ou holístico, e não trinitário, e permitiu, com sua morte e ressurreição, que difundiu o Espírito Santo, que nós, como partes, também reflitamos o Todo, permitiu que também sejamos imagem do Deus Perfeito, agindo segundo o Espírito Santo, o Logos, a Razão Plena.

A física moderna informa que é impossível definir os limites internos e materiais da criação, que é uma totalidade indivisível e incomensurável. Do mesmo modo, Jesus Cristo, pela Graça de Deus e pela obediência do Seu Messias, rompeu com o rompimento provocado por Adão entre nosso Espírito e o Espírito de Deus, rompeu com o limite Espiritual entre Criador e criatura, de forma que, em um limite indefinível, nosso Espírito, por meio de Cristo, enquanto Espírito Santo em nós, é o próprio Espírito de Deus, o próprio Deus Pai, agindo em nós.

Antes de Jesus, por causa da Queda, a imagem de Deus em nós estava borrada, nosso Logos estava deturpado, nossa razão não era plenamente racional, tendo a vida de Jesus recuperado o modelo de Deus em nós, pela difusão do Espírito Santo, que pode chegar àqueles que buscam as coisas do alto, o Todo, Deus, segundo Jesus, agindo segundo o Espírito Santo de Deus, a Vontade do Pai, a Própria Razão, o Logos. E Jesus também foi claro ao dizer, contrariando a ideia de trindade ou de Deus triuno, que “o Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28).

Irineu de Lião, no seu livro “Contra as heresias”, em que refuta os argumentos gnósticos, já dizia que há Um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos. “Pelas próprias palavras do Senhor é fácil demonstrar que ele admite um só Pai, criador do mundo, modelador do homem, anunciado pela Lei e os profetas; que o Senhor não conhecia nenhum outro e que o Pai é o Deus que está acima de todas as coisas; que mostra e comunica a todos os justos, por meio dele, a filiação adotiva, em relação ao Pai, que é a vida eterna” (Contra as heresias. Trad. Lourenço Costa. São Paulo: Paulus, 1995, p. 150). E em outra passagem, afirma: “O querer transferir este universo aos números o tiraram dos pitagóricos” (Idem, p. 164). Portanto, como já exposto tem “Monoteísmo: A Santíssima Unidade” (https://holonomia.com/2016/12/10/monoteismo-a-santissima-unidade/), fazer do Deus Único uma trindade é uma heresia, que tem origem na incorporação de ideias pitagóricas no cristianismo, contrariando a essência do Monoteísmo.

O conceito trinitário é fenomenológico, decorrente da aparência divina para os homens, pois como o homem não pode contemplar diretamente o Criador, o contato do homem com Deus ocorreu historicamente por meio do Espírito Santo, o Espírito de Deus em nós, ou por meio de Jesus Cristo, a encarnação do Espírito Santo em forma humana visível, Suas manifestações. Deus não pode ser visto diretamente pela carne, por dentro da criação, pelo que o vemos por suas manifestações como Espírito Santo, o fenômeno numinoso na criação em geral, e como Jesus Cristo, a encarnação humana do Espírito Santo. Quando O virmos em Espírito, poderemos contemplar o próprio Deus e também Jesus Cristo, mas não haverá um Espírito Santo distinto de Deus para ser contemplado. Assim, a trindade é uma construção humana, um conceito humano. Contudo, ontoteologicamente, por essência, Deus é Um, o Criador. Ainda que, do interior da criação, somente consigamos enxergar o vértice da criação, o Logos pelo qual tudo foi feito, o Criador é Um só, o Deus Todo-Poderoso, o Altíssimo, que é imanente a tudo criado, e também é transcendente, pois Deus é maior que a criação.

A trindade foi incorporada como dogma cristão no Concílio de Niceia, afastando o cristianismo da Verdade, e daí sua heresia, fazendo com que os cristãos se esquecessem de que são templo do Espírito Santo, relegando Deus apenas à transcendência.

Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus? … e que, portanto, não pertenceis a vós mesmos? Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo” (1 Cor 6, 19-20).

Se nosso corpo é templo do Espírito Santo, quando Ele habita em nós, como em Jesus, o Reino de Deus está em nós, pelo que o Reino de Deus é deste mundo, somente não o era do tempo político-jurídico romano.

Com base na heresia trinitária, a escatologia cristã se firmou segundo o entendimento de santo Agostinho dizendo que não haveria o milenarismo descrito no capítulo 20 do Apocalipse, de que não haveria a era messiânica esperada pelos judeus, e assim a escatologia se tornou apenas transcendente. A trindade, nesse sentido, também foi uma forma de separar o cristianismo do judaísmo, negando e ocultando o fato incontroverso de Jesus ser judeu, o Cristo judeu, de Ele ser, antes de tudo, o Messias Judeu. Por influência romana, os cristãos abandonaram uma teologia política esperando a Justiça entre os homens, a realização do Reino de Deus na história humana, pois o Reino de Deus seria apenas espiritual, na cidade de Deus, uma ideia muito conveniente para o império, a cidade dos homens

E como os cristãos não mais esperavam o reino da Justiça aqui, a porta política ficou aberta para ideologias ainda piores que o trinitarismo, permitindo que o marxismo se desenvolvesse…

E ainda hoje, o mundo ocidental, que se diz majoritariamente cristão, continua negando o Evangelho, a Boa Notícia, continua negando a humanidade e o Reino de Deus, continua permitindo o governo tirânico humano, e sofre as consequências desse erro, possibilitando aberrações como a defesa do aborto, de ideologias antinaturais como as de gênero, de guerras pelos mais variados motivos (sempre econômicos) e outras propostas que estão acabando com nossa civilização.

Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10, 42-45).

Por isso, como afirma Paul Washer, o domingo é o maior dia da idolatria, pois as pessoas adoram um Deus que não conhecem (https://www.youtube.com/watch?v=Ji3BbPqwPKY), e muitas pregações são odiosas, porque pregam o dinheiro, a imagem, e não o Evangelho (https://www.youtube.com/watch?v=Uk2m-H0oeUo).

Muitos sacerdotes, como muitos políticos, dominam as pessoas e as tiranizam, usam o privilégio da função sacerdotal, da função pública, em benefício próprio, quando a posição de privilégio é para o serviço.

Jesus é O Cristo Redentor, O Cristo máximo, pois foi o que viveu segundo o Espírito Santo para compartilhar o Espírito Santo com a humanidade, por sua paixão e ressurreição.

Jesus Cristo é O Messias porque cumpriu sua função messiânica, cumpriu seus deveres, cumpriu os mandamentos, serviu a todos com o Poder de Deus, ao invés de servir-se desse Poder, e como toda autoridade, todo poder, vem de Deus, quando os governantes forem cristos, ungidos pelo Espírito Santo, pois cristo é um serviço sagrado, e não uma pessoa, quando as autoridades humanas governarem pelo Espírito, em nome de Deus, do Logos, e não para seus grupos partidários, quando todos formos cristos, Um com O Cristo Senhor e com Deus, quando formos messias seguindo O Messias, estaremos no Reino de Deus.

Somos Filhos de Deus

Essa é a essência do cristianismo, o fato de sermos Filhos de Deus, e esse fato está ligado exatamente à encarnação do Verbo de Deus em Jesus Cristo, sua paixão e ressurreição.

A História da humanidade, narrada na Bíblia, indica que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, o que significa criado como ser livre e inteligente, em virtude do Espírito colocado no homem, e com base neste Espírito deveria dominar a criação, sendo uma criatura criadora. Contudo, pelo ato de desobediência, ocorreu a Queda, quando o homem foi expulso do paraíso, expulso da convivência com Deus. A Queda ocorreu porque o homem comeu do fruto do conhecimento do bem e do mal, ou seja, conheceu o que é praticar o mal, as consequências por agir mal, a causalidade material que rege os fenômenos físicos. O homem quis governar-se a si mesmo, segundo suas próprias regras particulares. Essa questão foi abordada no artigo “Jesus e o jogo da Vida Eterna: verdade e consequência” (https://holonomia.com/2016/09/05/jesus-e-o-jogo-da-vida-eterna-verdade-e-consequencia/).

Para redimir a criação, Deus enviou Jesus, que encarnou Seu Espírito, isto é, viveu plenamente segundo os Mandamentos, as Razões de Deus, até a morte, sendo ressuscitado. A ressurreição de Jesus era a prova necessária para que os apóstolos acreditassem que Ele era de fato o Messias, o Ungido de Deus, e continuassem Sua obra, pregando o Evangelho a todas as nações.

Em Adão, o Espírito da humanidade, que estava ligado ao Espírito de Deus, separou-se de Deus, o homem perdeu sua natural conexão cósmica e mental com o Pai, que foi restabelecida por Jesus Cristo, ao manter seu Espírito ligado a Deus até o último momento. Assim, Jesus Cristo pôde nos (re)unificar com Deus, desde que seguido seu exemplo de submissão à Vontade do Pai.

O Evangelho de Jesus Cristo significa a Boa Notícia, a Boa Nova, que é a proximidade do Reino de Deus, o Reino dos Céus, o tempo em que a Justiça prevalecerá, período também chamado de era messiânica, de “justiça, paz e alegria no Espírito Santo”, quando Seu Espírito habitará a humanidade e a governará, quando os santos herdarão o Reino de Deus.

Vós não estais na carne, mas no espírito, se é verdade que o Espírito de Deus habita em vós, pois quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a ele. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo está morto, pelo pecado, mas o Espírito é vida, pela justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, somos devedores não à carne para vivermos segundo a carne. Pois se viverdes segundo a carne, morrereis, mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis. Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Com efeito, não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abba! Pai! O próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, pois sofremos com ele para também com ele sermos glorificados” (Rm 8, 9-17).

Depois da Queda, Deus recriou a humanidade por meio de Jesus Cristo, neste colocando novamente Seu Espírito puro, que podemos compartilhar com Cristo, seguindo seu Caminho.

Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que creem em seu nome, ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1, 12-14).

A qualidade de filhos naturais de Deus somente tiveram Adão e Jesus, sendo que o primeiro perdeu essa honra enquanto o segundo a manteve e, pela bondade de Deus, e do seu Filho, transmitiu àqueles que o seguiram. “Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas são os filhos da promessa que são tidos como descendentes” (Rm 9, 8).

Outrossim, a humanidade é uma só, mas existem dois tipos de homens, os que se comportam como Filhos de Deus, pelo Espírito, com Razão e Inteligência, e os que agem segundo a carne, os instintos animais, os filhos do diabo, filhos da injustiça.

Aquele que comete o pecado é do diabo, porque o diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque sua semente permanece nele; ele não pode pecar porque nasceu de Deus. Nisto se revelam os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo o que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão” (1Jo 3, 8-10).

Assim, a conduta justa é aquela praticada pelo habitante do Reino de Deus, da Cidade de Deus, o que também significa o respeito às leis humanas, e a conduta injusta, inclusive com violação das leis humanas, é a dos moradores das trevas e da ignorância.

Assim como a humanidade é uma, o Reino de Deus não tem fronteiras humanas, pelo que a justiça deve ser praticada não apenas em relação aos da mesma família, cidade, estado ou país, mas a todos os seres humanos, pelo que é tão grave a morte de um inocente atingido por bala perdida no Rio de Janeiro quanto a do cidadão sírio, coreano ou sudanês, ou de uma ação terrorista.

O que nos faz Filhos de Deus não é a carne ou o local de nascimento, mas o Espírito de santidade que adotamos.

Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, escolhido para o evangelho de Deus, que ele já tinha prometido por meio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras, e que diz respeito a seu Filho, nascido da estirpe de Davi segundo a carne, estabelecido Filho de Deus com poder por sua ressurreição dos mortos, segundo o Espírito de santidade” (Rm 1, 1-4).

Ser Filho de Deus é vestir o Espírito de Deus, como Jesus nos mostrou.

Chegada, porém, a fé, não estamos mais sob pedagogo; vós todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus, pois todos vós, que fostes batizados em Cristo, vos vestistes de Cristo” (Gl 3, 25-27).

Portanto, o significado da trindade não se limita a Jesus Cristo, mas se aplica a todos nós, que, acolhendo o Espírito Santo de Deus, segundo o exemplo de Cristo, nos tornamos Filhos de Deus, nosso Pai celestial. A trindade é uma interpretação falha do holismo, que rege o universo. Adão era a parte que espelhava o todo, perdendo essa identificação com a Queda, o que não ocorreu com Jesus Cristo, que manteve a ligação plena com Deus até o fim, o que foi compartilhado conosco após Sua ressurreição.

Porque os que de antemão ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de ser ele o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8, 29).

Assim, o Filho único compartilha sua filiação, para sermos todos irmãos. Adão era unigênito, como Jesus, mas Este manteve sua qualidade, por amor a nós, tornando-se não apenas unigênito, a parte que é o Todo, mas primogênito, a primeira parte que é o Todo, o que também podemos Ser.

Ele é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste. Ele é a Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo. Ele é o Princípio, o Primogênito dos mortos, (tendo em tudo a primazia), pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a Plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue da sua cruz” (Cl 1, 15-20).

Jesus aceitou a cruz não para salvar a si mesmo, para para nos resgatar, pois ele já era e é santo, não pecou. Através da cruz de Cristo, somos Filhos de Deus, partes que espelham o Todo.

Convinha, de fato, que aquele por quem e para quem todas as coisas existem, querendo conduzir muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles. Pois tanto o Santificador quanto os santificados, todos, descendem de um só; razão por que não se envergonha de os chamar irmãos, dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos; em plena assembleia eu te louvarei; e mais: Porei nele a minha confiança; e ainda: Eis-me aqui com os filhos que Deus me deu. Uma vez que os filhos têm em comum carne e sangue, por isso também ele participou da mesma condição, a fim de destruir pela morte o dominador da morte, isto é, o diabo; e libertar os que passaram toda a vida em estado de servidão, pelo temor da morte. Pois não veio ele ocupar-se com anjos, mas, sim, com a descendência de Abraão. Convinha, por isso, que em tudo se tornasse semelhante aos irmãos, para ser, em relação a Deus, um sumo sacerdote misericordioso e fiel, para expiar assim os pecados do povo” (Hb 2, 10-17).

Portanto, como transcrito, não só Jesus, nosso Santificador, como também nós, descendemos de Deus, somos Filhos de Deus, esse é o significado da trindade, Jesus é Filho de Deus, eu sou Filho de Deus, o sírio é Filho de Deus, o estadunidense é Filho de Deus, o coreano é Filho de Deus; ainda que nem todos nos comportemos como tal, e a diferença entre os Filhos de Deus e os filhos das trevas está cada vez mais evidentes.

Vede que prova de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não o conheceu. Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (1Jo 3, 1-2).

Ser Filho de Deus é seguir a Lei, e a lei, ser honesto e justo, com toda a humanidade, tratar a todos como Filhos de Deus, e Filhos dos Homens, nossos irmãos. Quem for encontrado assim agindo, no Dia da Presença, da Parusia, da Manifestação do Espírito, herdará o Reino de Deus. “E acontecerá que no lugar onde lhes foi dito: vós não sois meu povo, lá serão chamados filhos do Deus vivo” (Rm 9, 26).

Essa questão é Teológica, e também física.

Buscando a expressão teologia quântica no YouTube, encontrei um excelente vídeo, que aponta para a comprovação da realidade do Evangelho, que vale muito ser assistido, pelo que fica extremamente recomendado: “The Simulation Hypothesis” (com legenda em português) https://www.youtube.com/watch?v=VqULEE7eY8M&list=PL6CZld8QBY4tpzxGFPdUof1_XwcJ4D51t.