Deus não está morto

Deus não está morto” é o nome de um filme, ao qual já assisti e recomendo, e de um livro, que leio no momento, sendo a frase uma resposta a uma manifestação de Nietzsche, que afirmou o contrário, que Deus estaria morto.

Amit Goswami, que também escreveu “O universo autoconsciente: como a consciência cria o mundo material”, possui a mesma linha filosófica que defendo, segundo a qual não existe distinção entre ciência e religião.

Haller E.S. Schünemann, no artigo “O Papel e a Visão de Ciência no Debate Criacionismo x Evolucionismo”, depois de explicitar os quatro modos que, segundo ele, existem para conceber a interação entre ciência e religião: Conflito, Independência, Diálogo e Integração; sustenta:

O tema da relação entre Ciência e Religião precisa ser entendido como um tema filosófico contemporâneo, pois como Harrison (2007) afirma o conceito de religião foi fixado somente no século XVII e Ciência no século XIX. Os caminhos de separação são recentes e estão intimamente relacionados ao discurso do Iluminismo Europeu (Harrison, 2007). O Iluminismo Europeu poderia ser pensando dentro do conceito de Habermas, como sendo um ‘projeto’ que buscou construir as bases de uma nova ordem social fundamentada na racionalidade (Habermas, 2000). Dentro desse projeto racional, a Religião, em especial, pelo poder das instituições religiosas na política e na sociedade, foi vista como um grande mal a ser combatido”.

Por isso, como Goswami, entendo haver uma fusão entre ciência e religião, conceito ainda mais forte que o de integração. Nesse sentido, a separação entre ciência e religião como ramos de conhecimentos distintos era uma questão estranha tanto para os gregos como para os judeus, dos quais herdamos a Filosofia e o Monoteísmo, pois para eles política, ciência, religião e moral eram aspectos de um mesmo mundo e realidade, sendo os respectivos conceitos intercambiáveis.

Tal situação foi se alterando com as duas cidades de Agostinho de Hipona, depois com as duas substâncias de Descartes, culminando na filosofia Kantiana, até hoje aceita, segundo a qual não temos acesso ao mundo real, às coisas em si ou ao mundo numênico, apenas aos fenômenos.

A filosofia do século XX continua no mesmo mundo dividido, apesar de a separação entre res cogitans e res extensa ter sido abolida pela física quântica, ao condicionar a medição da realidade física à opção do observador, ou seja, a consciência ou res cogitans determina a res extensa, o que significa que somente observamos o que antes pensamos, o mundo mental antecede o mundo material.

Portanto, como não há duas substâncias, como propôs Descartes, o que é a conclusão mais importante da física moderna, e porque a filosofia não se deu conta dessa realidade, a filosofia está morta, segundo disse Stephen Hawking, o qual como filósofo foi um ótimo cadeirante, mas que, nesse caso, expressou uma realidade filosófica, que a filosofia perdeu a ligação entre palavras e coisas, quando, segundo a física moderna, coisas são palavras, havendo apenas uma distinção de intensidade entre umas e outras; palavras são campos e coisas interações entre campos.

Por isso, tanto Heidegger, para quem a preocupação do homem é com sua morte corporal, como Gadamer, que entendeu a prioridade da hermenêutica teológica mas não desenvolveu o assunto, continuaram trabalhando no paradigma de dois sistemas, de dois mundos, quando a realidade é una, com dupla perspectiva, particular e ondulatória.

A questão fundamental está no fato de que a teoria das duas substâncias, ou dos dois mundos, segundo a qual o Reino de Deus não seria deste mundo, seguindo as duas cidades de Agostinho de Hipona, é equivocada tanto do ponto de vista teológico como científico ou filosófico.

Os cientistas tiram proveito da ingenuidade dos que apoiam um Deus ‘popular’, ironizando o conceito anterior como um dualismo filosoficamente insustentável, impossível. Deus distribuindo causação descendente, interferindo em nosso mundo de vez em quando? Ah! Impossível, afirmam. Como um Deus não material interage com coisas em um mundo material? Duas entidades que não têm nada em comum não podem interagir sem um sinal mediador. A troca de sinais envolve energia. E a energia do mundo físico é sempre conservada ou é constante. Isso seria impossível se o mundo interagisse com um Deus do outro mundo! Caso encerrado” (Amit Goswami. Deus não está morto: evidências científicas da existência divina [livro eletrônico]. Trad. Marcello Borges. 2. ed. – São Paulo: Goya, 2015, p. 26).

Goswami, portanto, afirma, afastado o dualismo, sobrar o materialismo científico ou monismo material, de um lado, que é incapaz de explicar diversos fenômenos, mas assume o papel de profecia da verdade: “Nos séculos XV e XVI, a religião era o grande inquisidor e a causa de muitas atrocidades cometidas na tentativa de silenciar a ciência. Hoje, porém, em uma irônica inversão de papéis, a ciência sob a influência do materialismo tornou-se o grande inquisidor, exibindo sua arrogância e declarando arbitrariamente Deus e o sutil como sobrenaturais e supérfluos. Mas, como disse antes, essa posição não levará a nada” (Idem, p. 51). De outro lado, resta o monismo idealista, defendido por Platão e, especialmente, por Jesus Cristo. Infelizmente, contudo, o monismo idealista de Jesus Cristo, a Verdade do mundo, foi deturpado.

Entretanto, o idealismo monista foi muito influente no Oriente, em especial na Índia, Tibete, China e Japão, na forma de religiões como o hinduísmo, o budismo e o taoísmo. Estas religiões, não sendo hierarquias organizadas, sempre responderam às mensagens dos místicos que, de tempos em tempos, reafirmaram a validade da filosofia com base em sua própria experiência transcendente.

Os místicos também existiram no Ocidente. Jesus foi um grande místico. Além dele, o cristianismo ocidental teve outros grandes místicos que propuseram o idealismo monista, como, por exemplo, Mestre Eckhart, São Francisco de Assis, Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Gênova etc. Entretanto, a natureza organizada do cristianismo abafou as vozes dos místicos (e, de modo irônico, inclusive a voz de Jesus) e o dualismo predominou no pensamento oficial do reino cristão” (Idem, pp. 56-57).

Porque o Cristianismo foi deturpado e mal interpretado pelos próprios Cristãos, Goswami não entendeu a superioridade teórica e fática da mensagem Cristã em relação a todas as demais propostas religiosas, na medida em que o Cristianismo é uma Teologia monista e monoteísta, segundo o monismo idealista ou espiritual, pois “Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4, 4-6).

Jesus Cristo não apenas atingiu a iluminação, não é mais um iluminado, Ele é o Cristo Senhor, o Rei da iluminação, o verdeiro Rei Iluminista, é o Logos encarnado, a Voz da Razão, a Voz de Deus, O Profeta. O Espírito brilhou em Jesus Cristo, o Modelo de Vida e de Líder, de Rei e Governante, no Monoteísmo, como Religião de salvação individual e coletiva, Religião ou Ciência Política e Social, e da Natureza, segundo a qual não há diferenças carnais entre os homens, que devem exercer o poder político em nome de Deus, no serviço público, por seus méritos espirituais e sociais. “Caminhai enquanto tendes luz, para que a escuridão não vos apanhe”; “Eu vim como luz para o mundo, para que toda aquele que crê em mim não permaneça na escuridão” (Jo 12, 35; 46). O Cristianismo de Jesus brilhou por pouco tempo e depois veio a escuridão, que ainda perdura, porque a Mensagem Espiritual de Jesus somente é completa com a Mensagem Política, com a prática social da ideia Cristã, para que o Reino seja realizado, transformando e iluminando o mundo.

Tal é o Monismo de Jesus que a oração por Ele ensinada é para que venha o Reino de Deus, para que Sua vontade seja feita na terra como no céu, ou seja, que a unidade seja restabelecida, mudando o mundo.

Para que A Vontade de Deus seja feita, os homens devem obedecê-La, encarnando Seu Espírito, para mudar a face da terra.

Tudo que fazemos muda o mundo, para o bem ou para o mal. Todos os nossos pensamentos e ações produzem ondas eletromagnéticas que se propagam ao infinito em todas as direções na velocidade da luz, ao mesmo tempo em que os mesmos fenômenos podem ser concebidos segundo a não localidade. Nossas ações e nossos pensamentos, fisicamente, não morrem, mas tornam-se eternos, fisicamente.

Esses conceitos da física estão em plena conformidade com a onipresença de Deus, do Espírito, e com o Julgamento do Senhor. Assim, quando morrermos, sofreremos os efeitos de nossas ações, inevitavelmente, porque a não localidade afeta a matéria e nossa psique, porque o aqui e o agora são ao mesmo tempo em todo lugar e em todo tempo, mesmo que não percebamos essa realidade, a não ser quando sonhamos, quando nossa natureza sutil nos permite compreender a limitação de nossos conceitos materiais de tempo e espaço.

Se a própria morte é uma ilusão da matéria, se a morte não existe, porque ideias não morrem, e ondas eletromagnéticas ou gravitacionais não morrem, Deus não está morto.

Psique: fluido quanticamente entrelaçado

Estou lendo “A estrutura das revoluções científicas”, de Thomas Kuhn, um clássico da filosofia da ciência que estava há algum tempo na estante esperando ser lido, junto com “Crítica da razão pura” e outras obras de leitura obrigatória. A vantagem de ler um clássico está no fato de ele conter conceitos fundamentais, que depois foram incorporados na linguagem científica ordinária, com suas explicações básicas, o que permite a confrontação conceitual e a verificação da consistência teórica da obra em comparação com a teoria atual. Um clássico se torna um clássico por possuir coerência interna e externa, aquela por manter um discurso íntegro, uma narrativa consistente em si, e esta por encontrar respaldo na experiência coletiva, ordinária ou científica, e no seu relacionamento com a natureza.

Com o aprofundamento do conhecimento, contudo, o clássico acaba se mostrando, ao menos parcialmente, incompatível com fatos posteriormente constatados, e quanto menor essa incompatibilidade maior a força do raciocínio nele constante.

O título do presente artigo se refere a uma passagem em que Kuhn narra que o paradigma, a teoria de mundo, conduz a investigação e permite a descoberta dos fatos e das leis, dizendo que as experiências são condicionadas por compromissos teóricos. A partir de compromissos teóricos, a investigação pode ser aprofundada, pela especialização, melhor descrevendo os fatos. Diz ele que:

As experiências de Boyle não eram concebíveis (e se concebíveis teriam recebido uma outra interpretação ou mesmo nenhuma) até o momento em que o ar foi reconhecido como um fluido elétrico ao qual poderiam ser aplicados todos os elaborados conceitos de hidrostática” (Thomas S. Kuhn. A estrutura das revoluções científicas. Trad. Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. 12 ed. São Paulo: Perspectiva, 2013, pp. 93-94). Na nota de rodapé relativa a essa passagem, consta a citação de uma frase de Torricelli: “Nós vivemos submergidos no fundo de um oceano do elemento ar” (Idem, p. 94 – grifo nosso).

Tal metáfora me lembrou outra analogia que uso, dizendo que vivemos em um oceano espiritual, em um fluido psíquico, ainda que não o percebamos, somos partículas mentais em um mundo mental, somos espíritos vivendo no Espírito.

Nesse sentido, as ondas gravitacionais comprovaram que o universo é um fluido gravitacional, o próprio espaço-tempo é fluido, flexível e está em expansão, ainda que tal FATO nos escape nas experiências cotidianas. Os fatos dependem do paradigma, e mesmo o mais grosseiro paradigma de mundo, o paradigma materialista que tem sua expressão máxima na relatividade de Einstein, aponta para um mundo fluido.

O paradigma pode ser definido como um corpo de crenças comuns que dá unidade à atividade científica, permitindo o desenvolvimento de leis, teorias, modelos e instrumentos adotados na prática científica compartilhada.

Nenhuma história natural pode ser interpretada na ausência de pelo menos algum corpo implícito de crenças metodológicas e teóricas interligadas que permita seleção, avaliação e crítica. Se esse corpo de crenças já não está implícito na coleção de fatos – quando então temos à disposição mais do que ‘meros fatos’ – precisa ser suprido externamente, talvez por uma metafísica em voga, por outra ciência ou por um acidente pessoal e histórico” (Idem, p. 79).

A atividade científica, portanto, depende da crença em uma teoria de mundo, de um paradigma ou metafísica, desde os mais amplos, como as cosmovisões, até os mais estritos, os campos mais específicos de investigação, as especializações.

Considero, outrossim, que a crença geral da humanidade está equivocada, o paradigma mais amplo transmitido por Jesus Cristo, que fundou o Ocidente, foi mal interpretado, tanto por judeus, que não O aceitaram como Messias, quanto pela cristandade, ao não entender a Natureza de Jesus Cristo e a Essência de Sua Mensagem, o núcleo político do Evangelho, o Reino de Deus.

Pela demora na chegada do Reino de Deus, assumiu-se um paradigma segundo o qual o Reino não seria realizado na história, pois não seria deste mundo. Assim, a Europa Cristã assumiu o paradigma das duas cidades de Agostinho de Hipona, que levou ao paradigma cartesiano das duas substâncias, ambos incorretos, e atualmente dominantes.

Como Kuhn destacou, e principalmente após as conclusões da física quântica, a teoria condiciona a descoberta dos fatos, e a definição do que significam os fatos é dependente da teoria que os qualifica.

Partindo do paradigma mais amplo, portanto, o pensamento, a crença, determina a realidade, o que podem ser considerados fatos. Quanto mais correto o pensamento, o paradigma, mais acurada a descrição da realidade, maior sua eficiência. Os paradigmas nos dão os conceitos e as categorias com as quais descrevemos o mundo, o que pode ser feito correta ou equivocadamente.

Podemos falar, assim, a partir do nível de correção de um paradigma, em eficiência energética no âmbito da ciência em geral, na prática científica e mesmo na vida cotidiana, e essa eficiência será tanto maior quanto mais preciso e mais correto o paradigma, a cosmovisão ou a metafísica, a descrição da realidade segundo as categorias e conceitos científicos e filosóficos.

Dependendo do contexto, a visão da eficiência pode ser alterada. Em duas dimensões, a menor distância entre dois pontos é uma reta; em três dimensões, no espaço curvo, como as rotas dos aviões demonstram, a menor distância será uma curva; em quatro dimensões, tudo indica que essa distância curta é uma onda eletromagnética na velocidade da luz; finalmente, em cinco dimensões não há distância e não há tempo, porque vale a unidade quântica entrelaçada, pelo que a eficiência está em definir o Todo que determina a parte, o correto contexto, a imagem holográfica mais ampla, dentro do princípio holográfico, ou o sentido do holomovimento.

Portanto, a partir dos experimentos da física quântica, que chamo orgânica quântica, o mundo terá uma ou outra interpretação, ou significado, dependendo do paradigma: pela interpretação de Copenhague, os resultados dos fenômenos são ontologicamente indeterminísticos, porque a realidade é governada pelo princípio da incerteza; segundo a visão de Broglie-Bohm, de outro lado, ainda que provisoriamente não possamos prever os resultados dos fenômenos com exatidão, tal situação não é uma condição da natureza, mas da falha de nossos instrumentos, sendo possível a existência de um nível subquântico e de variáveis ocultas não-locais que determinam os resultados dos eventos quânticos.

A segunda proposta resgata, em minha visão, a unidade do conhecimento anterior às duas cidades de Agostinho de Hipona e às duas substâncias de Descartes, de modo que o Espírito governe a matéria, resgata a visão orgânica de mundo, do universo vivo. A visão de Copenhague, por sua vez, com suas categorias qualitativamente materiais e matemáticas, que condicionam a definição quantitativa dos eventos, consuma-se no princípio da incerteza, com o mundo material regido pela aleatoriedade.

Pensando em termos de unidade existencial, finalmente, em comparação com a relatividade, podemos supor que a psique é um fluido quanticamente entrelaçado, que escapa do espaço-tempo. A partir do desenvolvimento da consciência humana, da noção do eu separado corporalmente do outro, localizado no tempo e no espaço, perdemos a noção de que não há uma separação física real entre os corpos, porque prevalece uma interação permanente entre os campos quânticos, com impossibilidade de definir precisamente os respectivos limites, como, do mesmo modo, passamos a ignorar a unidade psíquica na qual vivemos, separando nossas unidades psíquicas individuais do todo psíquico.

Se partículas materiais podem se conectar de tal forma que a distância deixe de ser relevante para a conexão entre elas, no entrelaçamento quântico, negar que tal fenômeno também ocorra no plano psíquico, muito mais sutil, é abandonar o paradigma científico, que é também o paradigma Cristão.

A revolução científica provocada por Jesus Cristo está culminando nos dias de hoje, mas o paradigma por ele manifestado continua sendo rejeitado pelas comunidades dominantes, tanto pelas comunidades científicas como pelas religiosas. Os judeus O negaram; os cristãos, pela adoção das duas cidades, do mesmo modo, não compreenderam plenamente o Evangelho, sua Boa Mensagem; e por isso não se poderia esperar que os muçulmanos, com sua teoria religiosa derivada daquelas, tivessem o correto entendimento religioso monoteísta.

As comunidades científicas, do mesmo modo, ainda se apegam às duas substâncias, à separação entre ciências da natureza e do espírito ou ciências humanas, ou ao paradigma dado pela interpretação de Copenhague ou, o que talvez seja ainda pior, a ideia dos muitos mundos, do multiverso, que para negar a unidade intrínseca do universo, que confirma o paradigma de Cristo, criou outros mundos, sem o menor indício de sua existência, chegando a dizer até mesmo que não há como provar sua correção (do multiverso).

Segundo interpreto os dados, conforme o paradigma dado por Jesus Cristo, portanto, com amparo nas Escrituras e na física moderna, nós humanos vivemos em algo como um fluido psíquico quanticamente entrelaçado, e somos capazes de atingir estados mentais ou psíquicos que não estão ligados ao espaço-tempo, porque o Espírito que nos dá a Vida, mesmo estando em nós, nos antecede, antecede a Criação, o Big Bang, e está fora do espaço-tempo. Como estamos vivos não conseguimos perceber a Vida que está no nosso corpo, mas o transcende.

Ao contrário das cargas elétricas, nós podemos, pelo livre-arbítrio, determinar a natureza de nossa carga psíquica, para atuar de forma egoísta, separando-nos do mundo, ou solidária, unindo-nos ao Cosmos.

Com essas categorias e conceitos definindo a Natureza, nosso modo de agir se altera, ocorre o arrependimento, a conversão, a metanoia exigida para que sejamos humanos, como antecipado pelos antigos profetas e realizado por Jesus Cristo, que vive o Reino de Deus, para, então, agirmos aqui conforme a eternidade em que estamos no Espírito, no Reino de Deus, pela qual somos Um, Um Corpo, Um Espírito, um fluido psíquico universal quanticamente entrelaçado, um plasma psíquico coletivo que, realizado por todos os Judeus, Cristãos e Muçulmanos, será a manifestação visível do Reino de Deus, há muito esperado.

Direito quântico

Deus está no controle – a natureza é normativa: o novo Direito natural.

A realidade é ordenada, possui ordem, mas parte dos fatos da natureza é aparente, e parte é oculta, ou inconsciente. Nós percebemos a parte aparente com os sentidos externos, e a parte oculta com a razão, com o Espírito, o sentido interno.

Segundo a física quântica, a natureza tem comportamento dual, tem, ao mesmo tempo, características corpuscular e ondulatória, uma conversível na outra segundo a fórmula E=mc². Como o corpúsculo ou matéria está em constante movimento, é energia, sua realidade é dependente do que se chama função de onda, que define a probabilidade de a partícula ou concentração de energia estar em determinado local, pelo que há dependência da matéria em relação à energia de vibração, ou onda.

Nós, e tudo que fazemos, somos integrantes da natureza, e assim não faz sentido falar em ciências da natureza e ciências do espírito, como concluiu a física quântica, havendo correlação ou interação entre mente e matéria, ao contrário do que sustentava o entendimento cartesiano do mundo, pois o Universo é um Todo Orgânico, e Vivo, por isso pode-se falar em orgânica quântica.

Segundo a ciência moderna, portanto, as coisas são, ao mesmo tempo, partículas e ondas. Outra forma de entender é dizer que as partículas são concentrações de ondas, são campos concentrados. A realidade é ondulatória e se manifesta provisoriamente, no tempo de Planck, em partículas que aparecem sem controle material humano.

Após o Big Bang, antes de formação das partículas já havia a energia, já havia o Espírito, pelo que a conclusão mais óbvia do estudo da cosmologia é no sentido de que a consciência antecede a matéria, ou seja, a consciência cria a matéria, e não o contrário. No princípio era o Logos, a energia Inteligente, e depois foi criada a matéria.

Além disso, também segundo a física, observar a partícula implica não ter controle sobre ela, pois a medição leva à perda de informações, seja quanto à velocidade, seja quanto à posição, o que conduz ao chamado princípio da incerteza.

Desse modo, o positivismo científico encerra sua filosofia com o princípio da incerteza, e essa conclusão tem repercussão no Direito, caso este tenha alguma pretensão científica, pelo que não é possível apenas descrever a natureza, pois como o homem está nela presente, a medição altera a própria realidade. A medição é dependente da teoria, da régua ou modelo de mundo que fundamenta a mesma medição, modelo que contém ou pressupõe uma determinada ordem ou organização das coisas, pelo que toda descrição é ordenada, toda descrição contém em si uma prescrição, o que significa que o Ser é o que Deve Ser. Portanto, seja qual for a forma pela qual descrevemos a natureza vemos uma natureza ordenada, uma realidade normativa, segundo o modo pelo qual for realizada a medição.

No âmbito jurídico, o modelo de mundo é moral, sendo a moral a régua usada para a formação normativa, que serve de parâmetro para a criação e para o julgamento jurídico, definindo os comportamentos como corretos ou incorretos, certos ou errados, lícitos ou ilícitos, pecadores ou santos, justos ou injustos. A moral é o Espírito do Direito, e a Lei é apenas a forma oficial da expressão moral, Direito é moral concentrada, é o máximo Ético.

Como nós fazemos parte da natureza, pois nosso corpo externo (ou interno) é formado de partículas, do mesmo modo como ocorre na física quântica, quando estamos aqui, quando fazemos a medição, perdemos parte da informação para onde estamos indo (horizonte: velocidade ou movimento), e quando definimos para onde estamos indo (horizonte ou direção), não sabemos exatamente onde estamos; ou seja, ou olhamos para o chão, ou para o horizonte, e isso fica evidente no atual mundo da velocidade, da instantaneidade. Desse modo, estamos aqui e lá (horizonte), além daqui, ao mesmo tempo, e quando nos percebemos aqui perdemos parte significativa das informações que não estão aqui, o horizonte. Estamos ao mesmo tempo no corpo (aqui) e no Espírito (horizonte), e quando percebemos apenas as sensações do corpo ignoramos informações espirituais relevantes, como a origem e o sentido do movimento, o que significa que o apego ao corpo leva à ignorância, assim como é fruto de ignorância o total desprezo do corpo. Quando olhamos as coisas, estamos aqui, que também é lá, além daqui. E como o aqui sempre desaparece, o fundamento daqui é lá, que se manifesta aqui.

Portanto, fisicamente, cada pessoa medirá a natureza de uma maneira individual e particular, dependendo do seu ponto de vista, da sua perspectiva, mas não poderá ficar presa à sua posição pessoal, aqui, sob pena de alienação da realidade, sob pena de perda do sentido ou horizonte da vida, além daqui.

Desse modo, a correta medição física das coisas é humanamente impossível por meios materiais, em razão do princípio da incerteza, pelo que devemos olhar a matéria a partir da ideia, do Espírito, e o Espírito a partir da matéria, simultaneamente, sendo a ênfase dada ao Espírito, à função de onda que rege a matéria. A matéria nos dá identidade provisória, externa aos sentidos, mas é o Espírito que nos dá Unidade interna, Razão, ou Logos, que é eterna.

Quanto ao Direito, podemos dizer que é moral posta, é sentimento de movimento humano colocado em palavras, em normas. Como o corpo é uma forma, o Direito é uma forma. A Lei é uma partícula moral. E como há forma ideal, de máxima perfeição estética e funcional, também há Direito ideal, com máxima perfeição estética e funcional, para realização da Justiça, que é sempre Social, como já dizia Aristóteles, pois a justiça é a virtude para o outro. Portanto, como na fórmula Radbruch, direito imoral, ou injusto, Direito não é. O Direito atual, fundado na dignidade humana, com o Espírito cristão, a interpretação cristã, permite realizar o Reino de Deus, a Justiça.

Assim como a partícula vista é a onda não vista, o Direito visto é a moral não vista, e a prisão às palavras, à letra da lei, ao formalismo vazio, leva à perda de seu sentido, de sua substância. Do mesmo modo como a partícula deixará de estar, voltando a onda, o mesmo ocorre com o direito, que deixará de estar, voltando a moral, a razão moral. O que está presente no Direito é o que não está presente, isto é, a moral, que é o fundamento do Direito, enquanto Logos, Unidade de sentido da Vida. É o Espírito que julga o corpo, e não o contrário. “Assim a Lei se tornou nosso pedagogo até Cristo” (Gl 3, 24), pois a função da Lei é nos mostrar Cristo, o Logos ou Moral Universal, a Vida, “pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3, 28), como comprovou a orgânica quântica, e “se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl 5, 18).

Mas, como está escrito, o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam”. “O homem psíquico não aceita o que vem do Espírito de Deus. É loucura para ele; não pode compreender, pois isso deve ser julgado espiritualmente. O homem espiritual, ao contrário, julga a respeito de tudo e por ninguém é julgado” (1Co 2, 9; 14-15).

O Espírito é Um Só, uma Razão, um Logos, que permite a compreensão. Portanto, na hermenêutica, a fusão de horizontes antecede a interpretação, ainda que a fusão somente seja percebida a posteriori. Primeiro é definido o horizonte comum, o paradigma da realidade, o potencial quântico, o modelo moral de mundo, o Logos, para, então, ser definida a posição dos interlocutores. Sem a prévia fusão de horizontes não há comunicação, e esse é um dos motivos pelos quais é rara a efetiva comunicação no mundo contemporâneo, na medida em que paradigmas inconciliáveis não permitem que seus horizontes sejam fundidos. Ondas com frequências diversas têm maior dificuldade para interagir.

Sem definição do que é universal, da razão, do Logos, não é possível comunicação, pois haverá apenas modos ou razões particulares independentes de uma ordem comum, alheias a uma razão partilhável.

Portanto, pode-se dizer que estava com razão Protágoras, dizendo que “o homem é a medida de todas as coisas”. Primeiro define-se quem é o homem, e depois ocorre a medição. E existem dois paradigmas inconciliáveis sobre a natureza humana, para o cristianismo, o que foi comprovado pela física quântica, o homem é Deus, filho de Deus, é um campo eterno que tem origem cognoscível na Criação, no chamado Big Bang, e se estende pela eternidade, estando manifestado neste corpo provisório, nesta partícula momentânea; enquanto, de outro lado, para o materialismo, que não mais tem sustentação física ou filosófica, o homem seria apenas a partícula.

E esses argumentos aplicados ao mundo jurídico levam à prioridade da Ética. Primeiro ocorre a decisão moral, depois a fundamentação jurídica. Primeiro a origem e o sentido geral do movimento, depois a trajetória particular dos envolvidos, dentro do quadro traçado.

No processo jurídico ou judicial, o autor define o movimento em sua visão de mundo, com uma função de onda jurídica, enquanto o réu traz a sua função de onda ou narrativa potencial da realidade com a defesa. O julgamento colapsa provisoriamente a função de onda, ou seja, estabelece as posições das partes segundo a narrativa do juiz, segundo o modelo normativo compreendido por este, o paradigma moral oficial do mundo. O julgamento realizado, como a observação na física quântica, produz efeitos retroativos até o momento inicial narrado pelas partes do processo, o julgamento dita o caminho pretérito da partícula até aquele momento. O julgamento somente será definitivo, com o colapso da função de onda, se estiver de acordo com o potencial quântico, a realidade do holomovimento, que transcende a capacidade material de percepção, pois ligado à energia infinita do cosmos, ao Espírito Absoluto, a Deus.

Destarte, como a Natureza é em si ordenada, caso contrário não haveria ciência, existe uma realidade moral, e esta prevalecerá, de um jeito ou de outro, impondo-se como paradigma definitivo, ainda que em tempo que transcende a nossa atual percepção corporal momentânea.

A pedra rejeitada pelo construtor é a pedra fundamental. A ciência rejeitou o espírito, o oculto, que é fundamental. A psicologia rejeitou o inconsciente coletivo. A física rejeitou a onda piloto e a realidade. O positivismo jurídico rejeitou a moral e a religião, que são fundamentais.

Outrossim, o novo paradigma científico é necessariamente religioso.

O juiz julga moralmente, isto é, o que está presente no julgamento é o que está ausente, o que está em jogo não é a forma em si, mas o seu conteúdo, a moral. O argumento jurídico é expressão de um julgamento moral, pois o Direito é moral posta, o Direito é moral concentrada.

Enquanto a humanidade insistir em resistir à Ordem da Natureza, em resistir aos mandamentos divinos, em continuar em seu caminho tortuoso, não entenderá a Realidade em sua Perfeição, sua Totalidade, sua Retidão e sua Justiça, a Majestade de Deus.

Eu vou proclamar o nome de Iahweh; quanto a vós, engrandecei o nosso Deus! Ele é a Rocha, e sua obra é perfeita, pois toda a sua conduta é o Direito. É Deus verdadeiro e sem injustiça, ele é a Justiça, e a Retidão” (Dt 32, 3-4).

Portanto, o importante é controlar a moral do juiz, a moral do Direito, para evitar que fiquemos como os bons alemães durante o nazismo, porque sempre poderá ocorrer a correção da moral do juiz pela da própria Realidade, que sempre se impõe, e quem respeitou a apenas a forma da lei durante o nazismo foi considerado violador da Lei. O Ser é o que Deve Ser.

Na física, a partícula é materialmente incontrolável, sujeitando-se à incerteza. O Direito, porque relativo a fatos em mutação, também é incontrolável. Assim como o foco está na função de onda, o foco jurídico está na moral, transcendente e imanente à norma. Por isso, como não há propriamente segurança jurídica, pode haver apenas confiança no juiz, pelo que o importante é o caráter moral do julgador e suas qualidades pessoais, pois dão segurança ao jurisdicionado, ao saber que o juiz estará de boa-fé, buscando a boa fé, mesmo se errar. Nesse ponto, a qualidade do mensageiro pode alterar a qualidade da mensagem.

O que guia a partícula, como sustenta David Bohm, é a onda piloto, o potencial quântico; o que controla a matéria é o Espírito, a energia; e o que conduz a humanidade, enquanto ser coletivo, é o Espírito Santo. Do mesmo modo, o que guia o Direito é a Moral, a Justiça potencial, o Logos, o Cristo.

A ideia da onda piloto, contrária à interpretação tradicional de Copenhague, pode ser entendida no seguinte vídeo, que dá uma boa mostra sobre o funcionamento da física quântica segundo David Bohm, que adotou a linha inicial adotada por Louis de Broglie https://www.youtube.com/watch?v=WIyTZDHuarQ. E todas as ondas individuais têm a mesma origem, o Logos, ou Deus, que mantém da unidade cósmica, pelo Espírito Santo.

A parte aparente do Direito é a Lei, e a parte oculta seu Espírito, sua Razão, e é esta que guia a interpretação jurídica.

O comportamento humano também possui seu movimento externo que é aparente e uma causa interna, de natureza espiritual, o verdadeiro sentido da ação para a pessoa, que pode ser de uma racionalidade que mantenha o equilíbrio entre a pessoa e os demais, pode ser Ético, de boa-fé; ou egoísta ou diabólica, de má-fé. Nesse ponto, David Bohm sustenta a existência de variáveis ocultas não locais na física, cujo conhecimento permitiria o restabelecimento do determinismo, mas esse conhecimento, por ora, pertence apenas a Deus, que conhece o coração dos homens, e por isso também sabe as variáveis ocultas do Direito, a boa-fé e a má-fé. Assim, sendo possível identificar a má-fé e a boa-fé das partes no processo, o julgamento pode ser correto.

Portanto, toda descrição da natureza é prescritiva, não há descrição neutra, pelo que a posição será parcial, segundo a parte; ou holística, global, conforme o Todo. Toda ação é moral, e tudo que fazemos repercute por todo o cosmos, criando ondas, inclusive gravitacionais, que se propagam ao infinito. Assim, a visão pode ser a partir da pessoa, em que a ordem é limitada, parcial e egoísta, ou a partir da totalidade cósmica, em que a ordem é do Todo, do Logos, incluindo a pessoa.

Como tudo está interligado na natureza, é possível concluir que a natureza possui uma ordem altruísta, que permitiu nossa Vida, ainda que pontualmente possam existir ordens egoístas parciais. Mas pela análise da História do Cosmos e da própria evolução da Vida, deve-se entender que a regra determinante, que prevalece, é a da manutenção da ordem total, em detrimento de ordens individuais.

As ordens individuais vão sendo substituídas por ordens mais amplas, de unidades menores são formadas unidades maiores, com qualidades novas, não presentes nas unidades menores individualmente, em saltos quânticos orgânicos.

Por essas razões, como há ordem na natureza, cabe ao Direito humano estabelecer a ordem social em conformidade com a ordem natural, que possui uma unidade intrínseca, uma Ordem Implicada.

A unidade da natureza leva à unidade do comportamento humano em comunidade, como nos mostrou Jesus Cristo, o Logos, pois o Ser é o que Deve Ser.

O desrespeito à unidade humana acarreta uma compensação inconsciente, pois o oculto, o inconsciente, existe e deve ser integrado à vida. Segundo Carl Jung, o que é recusado por nosso racionalismo unilateral, e material, “essa parcela perdida da natureza se vingará em nós retornando sob forma distorcida ou deformada, por exemplo como a epidemia do tango, como futurismo, dadaísmo e tudo o mais que se pode rotular como insensatez e mau gosto” (In Civilização em transição. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 30). O terrorismo é uma dessas expressões do inconsciente humano, decorrente da unilateralidade ocidental negando espírito e a unidade planetária, pelo que é preciso que a consciência espiritual se reconcilie com o corpo total da humanidade. “Se ainda estivermos imbuídos da antiga concepção de oposição entre espírito e matéria, isto significa um estado de divisão e de intolerável contradição. Mas se, ao contrário, formos capazes de reconciliar-nos com o mistério de que o espírito é a vida do corpo, vista de dentro, e o corpo é a revelação exterior da vida do espírito, se pudermos compreender que formam uma unidade e não uma dualidade, também compreenderemos que a tentativa de ultrapassar o atual grau de consciência, através do inconsciente, leva ao corpo e, inversamente, que o reconhecimento do corpo não tolera uma filosofia que o negue em benefício de um puro espírito” (Idem, p. 93).

Essa citação vale também para corroborar a tese de que o Reino de Deus é deste mundo, e não apenas espiritual, “o Reino de Deus está no meio de vós”, pelo que haverá uma era messiânica.

No plano atual da humanidade, em que as ligações físicas entre os mais distantes pontos do planeta são cada vez mais rápidas, a unidade planetária que está emergindo imporá a necessidade de respeito absoluto à dignidade humana, de todos, com o reconhecimento da racionalidade absoluta de Jesus Cristo, como Espírito Absoluto, como Logos feito carne, mostrando o Caminho, o Método de se chegar a Deus, que sempre esteve no controle de Tudo.

No Direito e na Vida, Alguém sempre decide por último, e esse Alguém é sempre Deus, o Logos, a única Realidade.

A manifestação da Ordem Implicada na História do Direito

Como já descrito no artigo “A Ordem Implicada” (https://holonomia.com/2017/05/22/a-ordem-implicada/), existem dois níveis de percepção do mundo, o nível externo, em que as coisas estão no espaço-tempo, separadas umas das outras, na ordem explicada ou manifesta; e o nível interno, em que tudo está conectado a tudo, relativo à Ordem Implicada. A Ordem Implicada é aquela referente à Unidade de tudo o que existe, além da aparente separação dos eventos e coisas, além do espaço-tempo, Ordem relativa à eternidade Una, ao Logos, a Deus.

Nesse sentido, a Ordem Implicada está ligada à Unidade do Ser, ao verdadeiro conhecimento das coisas, além das manifestações exteriores, conhecimento relacionado àquela Unidade. A Ordem Implicada tem, assim, uma conotação não apenas científica, pois o conceito é relativo à física quântica, como também religiosa, referindo-se à reunificação cósmica.

No plano da Vida humana, a Ordem Implicada diz respeito também, e principalmente, ao Direito, enquanto ciência das normas que promovem a Vida e a Dignidade Humana, ciência que nos foi manifestada por Jesus Cristo em sua encarnação, morte e ressurreição, demonstrando que a Verdade da Vida está além do corpo visível, indicando que a Humanidade é uma só, em um só Corpo e um só Espírito, tendo, assim, o conceito de Humanidade origem em Jesus Cristo.

Outrossim, em que pese a atual cegueira generalizada dos cientistas, a História do Direito acompanha a História da Religião, pois talvez com exceção do Direito Romano, em que a religião veio depois do Estado, o Direito surgiu da Religião, como forma de ligar o homem a Deus e, assim, à Ordem Implicada. Portanto, a origem do Direito é relacionada à manifestação da Ordem Implicada na sociedade, tanto pelas revelações religiosas, notadamente na formação da nação de Israel e do monoteísmo, como pelas elaborações racionais humanas, que confirmaram aquelas.

Questão interessante, levantada por HEGEL, consistiu justamente no fato de que, em Roma, segundo a tradição por ele estudada, foi o segundo rei, Numa, que teria instituído as cerimônias religiosas, pois “a religião surge depois da ligação estatal, enquanto em outros povos as tradições religiosas aparecem nos tempos mais remotos, antes de todas as instituições civis (In Filosofia da história. Tradução Maria Rodrigues e Hans Harden. 2 ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008, p. 253). A partir de então, o rei passou a ser o sacerdote e o Direito teve conotação sacra também em Roma.

Nesse sentido, a atividade sacerdotal dos magistrados em seus julgamentos era ligada à interpretação da vontade divina, cujo conhecimento era restrito aos sacerdotes; e para dar estabilidade aos juízos, como resultado das lutas dos plebeus por igualdade, foram as normas morais costumeiras, então vigentes, escritas e publicadas como A Lei das XII Tábuas, o que permitiu que se passasse a “conhecer os fundamentos e criticar as soluções das sentenças” (Eduardo Vera-Cruz Pinto. Curso de Direito Romano. Parede: Principia, 2012, p. 193).

O Direito romano teve, assim, um importante significado para a racionalidade comunitária no Direito, implementando a moral costumeira como Lei, em complementação à revelação manifestada pelos profetas. Por esse motivo, o Direito romano pode ser considerado a primeira ciência humana empírica, e foi em razão desse fato que Jesus Cristo, o Messias, se manifestou na plenitude do tempo (Gl 4, 4), quando Sua Palavra poderia adquirir a forma da racionalidade humana e servir para a instauração do Reino de Deus.

O que ocorreu posteriormente, no custo da História, destarte, foi a incorporação da Dignidade Humana (direitos humanos), da moral cristã (decorrente da revelação profética da Ordem Implicada aos homens), ao Direito em geral, pelo Direito Romano, sendo essa a base de toda ordem jurídica atual, fundada na racionalidade: o respeito aos direitos humanos. A forma jurídica romana ganhou conteúdo cristão.

O Direito Romano começou a trazer à ordem manifesta, pela razão coletiva e democrática, a Ordem Implicada alcançada pela razão, com sua moralidade social, sendo citado também na Bíblia, a origem revelada da Ordem Implicada, o bom funcionamento da democracia republicana romana, no Elogio de Judas Macabeu aos romanos.

Apesar de tudo, nenhum deles cingiu o diadema, nem revestiu a púrpura para se engrandecer com ela; mas criaram para si um conselho, onde cada dia deliberam trezentos e vinte homens, constantemente consultando-se sobre a multidão e sobre como dirigi-la ordenadamente. Confiam por um ano o poder sobre si e o governo de todos os seus domínios a um só homem, ao qual unicamente todos obedecem, sem haver inveja ou rivalidade entre eles” (1Mc 8: 14-16).

Essa referência mostra o espírito de Unidade do Direito Romano da República, em torno de um direito racionalmente justo, que se aplicava ao todo e às partes, aos casos, pela equidade.

O Direito Romano era a forma universal, e jurídica, “internacional”, que receberia o Espírito cristão, a Unidade pelo Direito, até que Este se realize plenamente na forma e conteúdo do Reino de Deus, o que se dá formalmente nas Constituições contemporâneas, como na de Portugal de 1976 e do Brasil de 1988, em que a forma é romana, mas o conteúdo é cristão, o fundamento do Direito é a Dignidade Humana, e o magistrado deve decidir as causas com base nesse valor, para a realização da Justiça em nome do povo, como humanidade. O conteúdo cristão, entretanto, ainda é deturpado pelo poder político em favor do dinheiro e de um materialismo irracional.

A ideia da Ordem Implicada está presente desde sempre no Direito, como realidade não aparente, dobrada para dentro do sistema jurídico, mostrando-se na História, além da revelação religiosa, desde a razão romana, passando pela lei natural, pelo contrato social, pela vontade geral, pela ideia de Justiça (Hegel), pela norma fundamental, pela regra de reconhecimento e pelo ordenamento jurídico, conceitos que apontam para a ideia de Unidade da humanidade e de sua razão, seu Logos.

A Dignidade Humana, como já foi explicado, decorre da passagem de Jesus Cristo entre nós, tendo um conteúdo e essência religiosa, a ligação material e espiritual da humanidade, não podendo tal conceito, também chamado princípio ou valor, ser usado para a defesa de desejos egoístas e materialistas, relativos a simples prazeres individuais da carne ou a idiossincrasias psíquicas arbitrárias.

A Dignidade Humana tem origem Cristã, no reconhecimento de todo homem como Filho de Deus, e a Igreja, o Estado Constitucional contemporâneo, que é a Ekklesia de Jesus Cristo, é fundada nesse fato, nessa cláusula de Pedro, nessa cláusula pétrea:

Simão Pedro, respondendo, disse: ‘Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo‘. Jesus respondeu-lhe: ‘Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim o meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus’” (Mt 16, 16-19).

Nesse sentido, o Direito, como ciência, em sua melhor interpretação, é a razão atual da eternidade, e assim todo juízo jurídico autêntico é também um juízo filosófico, buscando o fundamento último das coisas, o homem como Filho de Deus, qualidade que foi compartilhada conosco por Jesus Cristo, e isso é o princípio de ação do Estado, Igreja ou Ekklesia, como momento racional da humanidade na busca da Vida eterna.

A Lei eterna, o Logos, desse modo, é o fundamento e a fonte do Direito, e a decisão judicial deve fazer a análise das suas últimas consequências e dos primeiros princípios da Lei para promover a Justiça. Com o correto juízo, a Lei eterna é estabelecida no momento da decisão, quando é mais atual em sua eternidade que no momento da promulgação, pois o holomovimento altera as condições de fato e mesmo a consciência moral ou jurídica da época da formalização da Lei, e daí a importância da atividade do magistrado, na busca de colocar na sentença os fundamentos pelos quais Ordem Implicada se manifesta em sua decisão, como Justiça do caso, como equidade. 

No mundo contemporâneo, a partir do constitucionalismo do século XX, cabe ao juiz, e em palavra final à Suprema Corte, e não ao Legislativo, que já cumpriu sua função como Constituinte, o papel de unir o todo e as partes, mantendo a integridade do sistema social e jurídico e realizando a Justiça. Desse modo as competências mais importantes do Executivo e do Legislativo talvez sejam as de nomear e aprovar os magistrados da mais alta Corte de Justiça, que devem ser os melhores homens da nação, os sacerdotes, os santos, com a missão de guardar a Constituição (https://holonomia.com/2017/05/30/o-juiz-sacerdote/).

O Direito, como primeira ciência racional, busca realizar a Ordem da vida social Justa. A ordem manifesta era implicada da religião, passando à ordem da justiça social comunitária no Direito romano da res publica original, e a harmonia entre a ordem manifesta e a Ordem Implicada ocorrerá no Reino de Deus, quando o governo dos homens será exercido pelo Espírito Santo, pela Razão Santa, por Cristo, por meio dos santos.

Entretanto, o poder político tomou conta do Estado e até da Igreja (o que motivou recentemente a renúncia de Bento XVI), transformando o Direito Justiça em Direito Lei, tanto em Roma como agora. Em Roma, o imperador Augusto concedeu a alguns jurisprudentes o direito de responder publicamente as questões das partes em nome do império, pelo ius publice respondendi, centralizando a intepretação do Direito em torno do poder, em detrimento da Justiça. O Direito passou da Justiça do caso, da equidade, para uma expressão autocrática do princeps (Eduardo Vera-Cruz Pinto. Curso de Direito Romano. Parede: Principia, 2012, p. 245). O mesmo continua hoje, no positivismo formalista, em que o que vale é a letra da Lei.

Contudo, a Ekklesia de Cristo e a razão humana continuaram trabalhando a Razão Justiça, seja pela Religião, seja pela Filosofia, com o Direito Natural, que é a ideia jurídica da Ordem Implicada.

Ainda que o conteúdo da Lei já seja Justo, prevalece provisoriamente o entendimento positivista e formalista de uma justiça nominal, que é injusta. O príncipe deste mundo ainda age, como ocorreu no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral recentemente, em que prevaleceu um formalismo e uma falsa legalidade, em detrimento do Espírito da Lei e da Justiça.

Mas a Justiça Vive, no deserto, e prevalecerá, pois a Verdade já se manifesta como Razão, como Logos, para aqueles que querem entender. A Verdade não pode mais ser escondida, já sendo possível sentir as dores de parto do nascimento do Reino de Deus, pois a própria natureza está irrequieta, e irá mostrar seu poder, como profetizado em Ezequiel 38, 18-23, quando a terra de Israel for atacada e a guerra for vencida pelo poder de Deus, sem intervenção humana, pois a Natureza também manifesta a Ordem Implicada.

Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil duzentos e sessenta dias. Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus Anjos, mas foi derrotado, e não se encontrou mais um lugar para eles no céu” (Ap 12, 5-8).

Não mais há lugar para mentira e injustiça no Direito e nos julgamentos, por mais que o Dragão ainda resista. No reino do Céu, do Espírito, da Razão, não mais há espaço para enganações.

A ordem humana caída ainda pode falhar, tentando manter falsas aparências, mas a Ordem Implicada é infalível. O Todo é maior que suas partes. O julgamento humano pode errar, mas o julgamento divino é Verdadeiro, Justo e impecável, e não tardará para ocorrer, quando a Ordem Implicada se tornar manifesta na humanidade, no Reino de Deus.

A velocidade do tempo

O tempo é um dos maiores mistérios do conhecimento humano.

Giacomo Marramao tem uma obra que recomendo, Kairós: Apologia del tiempo oportuno, sendo que tive acesso a uma tradução para o espanhol de Helena Aguilà, da Editora Gedisa, de Barcelona, depois de ver sua menção em um artigo jurídico. No prólogo à edição castelhana, o autor fala da origem do termo tempo, com significação tanto cronológica como meteorológica, palavra de origem incerta que pode ser oriunda de “teino”, indicando estender ou estirar, ou de “temno”, com significado de cortar. Além disso, menciona seus três planos de exposição, primeiro falando sobre o sentimento de tempo ou seu sentido interno, em segundo lugar, sobre a síndrome temporal moderna da pressa, e, finalmente, sobre os aspectos práticos e normativos da questão, para então concluir sobre a ideia de kairós, como tempo oportuno, o tempo propício, o único que permite o encontro entre projeto e realidade existencial, a união do tempo público com o tempo privado, o tempo da vida e o tempo do mundo.

O tempo, assim, é objeto de estudo tanto da filosofia quanto da ciência, pois se liga a conceitos de movimento, duração, instante e eternidade.

A física newtoniana se baseava em um tempo absoluto e um espaço absoluto, enquanto a relatividade de Einstein se afasta dessas ideias, defendendo a relatividade do tempo.

A filosofia e a ciência que vieram desde a antiguidade até Newton dividiam o mundo em duas esferas, uma terrestre e outra celestial, pelo que havia um tipo de matéria das coisas da terra, como nós, os animais, as plantas etc, e outro de matéria das coisas do céu, como o sol, a lua, as estrelas e os deuses. Newton, ressalte-se, dedicou a maior parte de seu tempo estudando, não física, mas, alquimia e teologia, inclusive fazendo previsões sobre o tempo de cumprimento das profecias bíblicas, calculando que o Estado de Israel seria reconstruído no final do século XIX e que a segunda vinda de Jesus Cristo seria por volta do ano 2060; além disso, no âmbito da física, ele desenvolveu sua teoria gravitacional dizendo que a matéria celeste era da mesma substância da matéria terrestre, unificando, de certa forma, a realidade humana e a celestial.

Com a relatividade, a unificação incluiu também o conceito de tempo, pois para Einstein vivemos em uma realidade quadridimensional, com três dimensões espaciais unidas a uma dimensão temporal, ou seja, vivemos em um espaço-tempo de quatro dimensões. Para Einstein existe um valor absoluto, a velocidade da luz, o limite de velocidade que não pode ser ultrapassado pela matéria, sendo o tempo uma questão subjetiva, como se vê pelo paradoxo dos gêmeos, segundo o qual se um gêmeo viajar por um tempo na velocidade da luz e outro ficar na Terra, aquele que viajou estará mais jovem do que o que ficou, quando de seu encontro no retorno da viagem.

Segundo a relatividade, para aquele que está na velocidade da luz não há sensação de tempo passando, pelo que se o gêmeo viajar na velocidade da luz a um local cinco anos-luz de distância e voltar imediatamente, para ele não terá passado qualquer tempo, enquanto para o que ficou na terra terão decorridos dez anos. Essa é a matemática básica decorrente da relatividade.

O problema consiste no fato de que a relatividade não é o fim da ciência, então resta algo a ser entendido sobre o tempo, especialmente diante dos fenômenos quânticos, notadamente a não localidade que rege a realidade.

A própria análise dos fenômenos relativísticos demonstra que existe algo com capacidade de processamento de informação além da velocidade da luz, sendo que esse algo é tocado pela mente humana, a consciência.

Basta pensar na ideia de que se para o fóton, ou para quem viaja na velocidade da luz, tudo é instantâneo, ou seja, não há tempo de deslocamento, essa ideia não condiz com a realidade, pois efetivamente houve tempo do movimento de um ponto até o outro, um tempo objetivo, para nós calculado pela velocidade da luz. Ainda que a luz não perceba que durou o tempo entre a saída da estrela, há milhares de anos, e sua chegada a nossos sensores, essa não percepção de tempo é ilusória, na medida em que somente seria real se ela estivesse ao mesmo tempo na estrela e em nossos sensores, ou seja, se não houvesse espaço entre um ponto e outro, o que exige uma nova interpretação da relatividade ou da realidade.

Não há dúvida de que a relatividade é incompleta, como era a ideia gravitacional newtoniana, ainda que seu sucesso ainda esteja em curso, como o caso das ondas gravitacionais recentemente verificadas, pois se fosse a palavra final em termos físicos Einstein não teria passado as últimas décadas de sua vida tentando compatibilizá-la com a física quântica, no que não logrou êxito.

Penso que a relatividade deva ser substituída por uma teoria no âmbito quântico que reúna as dimensões espaço-tempo na mente, em que provavelmente se restaurem ideias de tempo absoluto e espaço absoluto, em que exista uma forma ou ideia real de universo, além da mera matemática abstrata. Essa questão é relevante no estudo da cosmologia, pois não se sabe a forma do universo, se é um plano, uma esfera ou como uma sela de cavalo, tendo a forma do universo conexão com a questão do tempo.

Como salientado, Newton juntou matéria terrestre e matéria celeste no mesmo espaço, e Einstein reuniu espaço com tempo, criando o espaço-tempo.

Tanto espaço como tempo são informações, pois contamos espaço e tempo, pelo que informação é espaço, e informação é tempo. Informação vem do latim, informare, que tem o sentido de dar forma ou modelar, e forma significa figura ou imagem, ou ideia. Assim, tempo é ideia, tempo é símbolo, tempo é significado.

Portanto, a correta compreensão do espaço-tempo está ligada à correta concepção de uma ideia, de uma mente, podendo sua percepção ser subjetiva, como na relatividade, ou objetiva, com uma racionalidade global, como na religião, o que não foi alcançado pela ciência, mas provavelmente está ligado à proposta de David Bohm de existência de um holomovimento, uma totalidade indivisível e incomensurável e uma ordem implicada. Entendo que a realidade do tempo se liga a uma unidade psíquica além dos números, além da abstração.

Assim, chegamos à questão da velocidade do tempo, à percepção atual de que o tempo passa cada vez mais rápido, o que concluo decorrer do fato de que nunca se perdeu tanto tempo na história da humanidade, nunca se dedicou tanta atenção a coisas fúteis, como ocorre no mundo de consumo em que vivemos. Quantitativamente, somos mais de sete bilhões de pessoas produzindo e consumindo informações, o que nunca havia ocorrido. E uma alteração quantitativa leva à mudança qualitativa, como nos elementos químicos, feitos das mesmas partículas, com quantidades maiores que levam a qualidades diversas. A mudança quantitativa leva ao salto quântico, à nova qualidade.

Tempo é informação, que deve ser processada, pelo que o tempo de processamento de informação é tempo gasto, como ocorre com o computador.

Quanto mais tempo gastamos em coisas desimportantes, menos tempo temos para aquelas que realmente valem a pena. Se nossa atenção é voltada a informações inúteis, e se tempo é informação, não estamos vivendo corretamente o tempo, estamos perdendo tempo, o tempo flui subjetivamente com mais rapidez. A pouca qualidade do tempo vivido com muitas coisas sem valor espiritual leva à percepção coletiva de tempo passando rapidamente.

O fato de o tempo ser simbólico nos permite entender a questão do processamento da informação, pois podemos contar de um até dez, em que temos dez cortes de tempo, ou simplesmente contar o número dez, que é uma unidade com significado relativo a dez outras unidades, sendo a dezena uma qualidade de outra quantidade. Como a humanidade está contando coisas cada vez menores, mais objetos, está perdendo a noção da unidade maior, da vida, da significação. Uma pessoa vale mais que um milhão de carros. Além disso, podemos entender o conceito de um milhão de anos, ou dez mil anos, sem precisar viver individualmente esse tempo. Em termos espirituais, é possível até mesmo a vivência de um tempo maior do que o da vida humana, como no caso do autor do Apocalipse, que teve uma experiência simbólica de milhares de anos, ou seja, uma elevada experiência espiritual significou o entendimento, talvez a vivência, de muito tempo quantitativo e qualitativo.

E a sensação da passagem rápida de tempo é coletiva porque a própria consciência é coletiva, a razão é coletiva, como destaca Amit Goswami.

Quando observo, tudo que vejo é o todo do mundo da manifestação, mas isso não é solipsismo, porque não há um eu individual que observa em oposição a outro eu. Erwin Schrödinger teve razão quando disse: ‘A consciência é um singular para o qual não existe plural’” (GOSWAMI, Amit; REED, Richard E.; GOSWAMI, Maggie. O universo autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. Trad. Ruy Jungmann. São Paulo: Aleph, 2007, p. 111).

Para entender a orgânica quântica é preciso o uso de uma consciência não local, uma consciência global e coletiva.

Uma consciência que pode produzir instantaneamente o colapso a distância da função de onda de um fóton terá de ser em si não local, ou transcendente. Em vez de considerar a não-localidade como uma propriedade mediada por sinais superluminosos, portanto, o idealista postula que a não-localidade é um aspecto essencial da função de onda do sistema correlacionado – e, portanto, uma característica da consciência” (Idem, pp. 148/149).

A percepção de falta de tempo é coletiva, todos percebemos o tempo avançando rapidamente, porque a consciência é coletiva, e daí a sensação compartilhada de que o tempo passa rápido, porque estamos perdendo nossos valores. É lógico que isso vale para as pessoas que estão ligadas à mesma ideia de mundo, do atual mundo globalizado, que vivem essa consciência humanitária, ligada à história da unificação dos grupos humanos em uma comunidade global e a essa respectiva consciência.

Desse modo, provavelmente para aqueles que vivem isolados, como os silvícolas, as pessoas que vivem no campo ou sem conexão com as informações dos movimentos humanitários coletivos, e para os que vivem o tempo da vida, a sensação da passagem de tempo não seja a mesma.

Outrossim, nós somos aqueles com capacidade de perceber os sinais dos tempos, unindo o tempo da vida individual ao tempo da vida coletiva, o tempo da humanidade.

Os fariseus e os saduceus vieram até ele e pediram-lhe, para pô-lo à prova, que lhes mostrasse um sinal vindo do céu. Mas Jesus lhes respondeu: ‘Ao entardecer dizeis: Vai fazer bom tempo, porque o céu está avermelhado; e de manhã: Hoje teremos tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. O aspecto do céu, sabeis interpretar, mas os sinais dos tempos, não podeis! Uma geração má e adúltera exige um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal de Jonas. E, deixando-os, foi-se embora” (Mt 16, 1-4).

Aprendei da figueira esta parábola: quando o seu ramo se torna tenro e as suas folhas começam a brotar, sabeis que o verão está próximo. Da mesma forma também vós, quando virdes todas essas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo que esta geração não passará sem que tudo isso aconteça. Passarão o céu e a terra. Minhas palavras, porém, não passarão. Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas só o Pai” (Mt 24, 32-36).

Jesus Cristo é a própria Consciência, a unidade da humanidade além dos tempos individuais, tendo nos mostrado os sinais dos tempos, tendo nos dado as informações para que possamos entender o tempo, o tempo oportuno, o tempo de Deus, o tempo kairós, pelo que devemos aproveitar o tempo, antes que o tempo acabe e não mais seja possível estendê-lo ou cortá-lo, antes que chegue a eternidade…

Razão na Fé

A consciência laica e suas declinações – o respeito aos outros, a inviolabilidade dos direitos da pessoa, a liberdade da ciência, a sofrida aceitação do pluralismo religioso e político, da democracia política e do mercado econômico – tudo isso nasce dentro e não fora do cristianismo, dentro e não fora da história do Deus do Ocidente.

As inquietações de Galileu não eram fictícias: isto permite supor que Galileu, além de pensar seriamente, também acreditava seriamente. E como Galileu, quantos mais? E nós que dizemos não crer, não acreditamos, nós também, em alguma coisa?

São valores puramente racionais e, todavia, exigimos que sejam professados e praticados: da obrigação escolástica à sanitária, ao respeito das leis, dos valores e de todos os infinitos regulamentos e contratos e prazos e validades da nossa cotidiana existência e – há quem ainda creia – até mesmo da obrigação moral, se não penal, de votar a cada eleição.

Isso também é crer: crer nas ciências, na medicina, na carreira, nas ordens profissionais, nos juízes, na polícia, nas seguradoras: a vida do homem contemporâneo é um contínuo ato de fé laico em coisas às vezes bastante obscuras, absurdas e derrisórias do que aquelas que são declaradas como premissa, baseadas no mistério.

Contudo, em princípio, tenho dificuldades para aceitar que um ensinamento e um mandamento fundado em um mistério transcendente sejam os melhores guias para o agir moral. Como bom iluminista cristão, por trás dos valores reconheço os poderes. Nada tenho contra os mistérios. Temo a revelação. O inesperado surgir e oferecer-se de uma necessidade, de uma descoberta, de um lado novo da sociedade, da ciência, da arte, da cultura e o também brusco manifestar-se da repressão, da censura agressiva dos comportamentos não-conformes ou conformes a uma norma que se mantém sozinha por sua força, que verdadeira e límpida em sua evidência e sua autonomia.

O cristianismo é um grande, talvez o maior humanismo, o único que, além de heróis e semideuses, de imortais, de reencarnações e de imóveis teocracias concebeu o Deus que se faz homem e o homem que se faz Deus e em seu nome evangelizou o Ocidente, e o Ocidente cristão libertou o homem” (Claudio Marteli, no Coro. Credo Laico do Humanismo Cristão. In Em que crêem os que não crêem? Uberto Eco e Carlo Maria Martini. Trad. Eliana Aguiar. 13.º ed.. Rio de Janeiro: Record, 2010, pp. 130/131).

Em certo sentido, tudo o que dizemos que ‘sabemos’ – com exceção talvez das verdades matemáticas – é apenas uma questão de fé, e por isso o futuro das crenças teológicas está ligado a como e por que acreditamos nas coisas da vida comum, até na ciência” (Leonard Mlodinow. In Ciência x Espiritualidade: Dois pensadores, duas visões de mundo. Deepak Chopra, Leonard Mlodinow. Trad. Claudio Carina. Rio de Janeiro: Sextante, 2012, p. 289).

As citações acima indicam que a fé é um componente necessário da vida das pessoas, mesmo daquelas que não creem em Deus.

Os dois livros citados se referem a diálogos entre um crente e um ateu, sendo que no segundo Leonard Mlodinow debate com Deepak Chopra as questões gerais da vida de acordo, respectivamente, com o materialismo e com o espiritualismo.

Pelo que se pode ver, a fé está presente na vida de todos, sendo diversa apenas a base sobre o que ela se funda, pois enquanto os ateus se fundamentam na ciência e na razão, os religiosos têm um fundamento espiritual em sua fé, que não contraria a ciência ou a razão, apesar de nem sempre ser assim na prática.

Já o apóstolo Pedro indicava a necessidade de o cristão saber as razões de sua fé.

E quem vos há de fazer mal, se sois zelosos do bem? Mas se sofreis por causa da justiça, bem-aventurados sois! Não tenhais medo nenhum deles, nem fiqueis conturbados; antes, santificai a Cristo, o Senhor, em vossos corações, estando sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede; fazei-o, porém, com mansidão e respeito, conservando a vossa boa consciência, para que, se em alguma coisa sois difamados, sejam confundidos aqueles que ultrajam o vosso bom comportamento em Cristo, pois será melhor que sofrais — se esta é a vontade de Deus — por praticardes o bem do que praticando o mal” (1Pe 3, 13-17, grifo nosso).

É importante ressaltar que nem mesmo a ciência atual consegue explicar o mundo, havendo limites claros no conhecimento dito racional. A relatividade de Einstein, com todos os seus sucessos, possui o limite até agora intransponível da singularidade, os infinitos que surgem nos cálculos matemáticos tanto do princípio do universo, no chamado Big Bang, como nos buracos negros. O significado matemático da física quântica é matéria de alta divergência, tendo sido um dos motivos que interrompeu a comunicação científica entre Einstein e Niels Bohr. E o maior mistério da ciência está na energia escura e na matéria escura, que juntas somam cerca de 95% (noventa e cinco por cento) da matéria do universo, sendo este formado por apenas 5% (cinco por cento) de matéria conhecida, como os átomos.

Assim, pelo que vê, o cientista acredita que existam essas formas de matéria e de energia, que são usadas para explicar superficialmente a integridade das galáxias e a expansão cósmica. Com base nos instrumentos, alguns dados são apresentados e esses dados levam à conclusão pela existência da matéria escura e da energia escura, que não são vistas, não são tocadas, não são medidas, mas acreditadas. Existe fé na razão, na ciência.

A partir de dados racionais, a fé age naqueles eventos cuja explicação escapa ao entendimento, para que a razão continue a funcionar, sob pena de não haver razão. A fé é um instrumento da razão.

Do mesmo modo, a religião também possui razão.

Estudando a História é possível constatar que o desenvolvimento do judaísmo, do cristianismo e do islamismo, das religiões em geral, está ligado a um componente de fato, de razão histórica, aliado a uma determinada fé.

Os fatos ditos religiosos foram presenciados por algumas pessoas, e depois transmitidos por meio do testemunho dessas pessoas.

Ainda hoje, a prova testemunhal, em que pese sua falibilidade, é usada diuturnamente nos tribunais, como matéria científica de conhecimento jurídico, servindo para fundamentar decisões que afetam a vida de milhões de pessoas.

A qualidade da prova testemunhal se liga à da pessoa que dá o testemunho, à sua coerência, à sua idoneidade. Presume-se a boa-fé da testemunha, que ela fale a verdade, ainda que isso nem sempre ocorra. Aqueles que não têm interesse na causa, que não se beneficiarão da decisão, não têm motivos para mentir, mesmo que possam ser enganadas pelos próprios sentidos. Assim, os depoimentos são colhidos e comparados, para a reconstrução da história pelos pontos comuns das narrativas, chegando-se à mais razoável reconstrução dos fatos, que tenha o sentido mais provável.

Ainda que seja falível a prova testemunhal, depois de uma análise criteriosa da História, é necessário muito mais esforço para não acreditar no cristianismo, na existência de Jesus Cristo e sua ressurreição, do que para acreditar.

Não é crível que algumas dezenas de pessoas tivessem inventado uma história, contrariando os interesses de todos os poderosos da época, tanto os de Roma, o maior império que já existiu no Ocidente, como os poderes religiosos judaicos, sustentando essa verdade com a própria vida, apesar de torturas e morte de companheiros, se não fosse verdade o testemunho que manifestavam. Tanto é crível tal narrativa que a maioria absoluta da população mundial crê em Deus, ou diz crer.

A dificuldade da crença na ressurreição existe de fato, e é tal que até mesmo um apóstolo se recusou a crer sem ver. É notório o exemplo de Tomé.

Um dos Doze, Tomé, chamado Dídimo, não estava com eles, quando veio Jesus. Os outros discípulos, então, lhe disseram: ‘Vimos o Senhor!’ Mas ele lhes disse: ‘Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei’. Oito dias depois, achavam-se os discípulos, de novo, dentro de casa, e Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco!’ Disse depois a Tomé: ‘Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!’ Respondeu-lhe Tomé: ‘Meu Senhor e meu Deus!’ Jesus lhe disse: “Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram!’” (Jo 20, 24-29).

Os que creem sem ver são como as crianças, das quais é o Reino de Deus.

Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10, 14-15).

As crianças acreditam nos pais, nos professores, e tomam como verdade as narrativas que lhes são passadas, mesmo não presenciando os fatos. Uma criança tem plena fé no depoimento daqueles que conhece. O problema é que hoje os pais contam várias mentiras aos filhos, o que contribui para minar a confiança deles nos pais. As crianças acreditam na mentira do papai Noel, e ficam frustradas quando descobrem que ele não existe, e isso contribui negativamente para a fé em Deus, considerada a associação criada entre papai Noel, o natal e o nascimento de Jesus.

O cristianismo é a crença em Deus, nosso Pai, sendo o maior mandamento justamente o amor a Deus. “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

O mandamento é amar a Deus conforme o entendimento, ou seja, conhecer Deus, acreditar que Ele existe e buscá-lo com todas as forças.

Não é por acaso que João, em seu evangelho, equipara Deus ao Logos. “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito. O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (Jo 1, 1-5).

O Verbo é o Logos, que é a Razão, o mesmo fundamento da ciência, que tem a finalidade de superar a ignorância.

Cristianismo é o conhecimento da Razão, do Logos, de Deus. Cristianismo é Ciência, e não ignorância, é Fé inteligente, e não fé burra.

Como toda ciência, o cristianismo exige fé na integridade do Ser, Razão, fé em Deus, fé no Logos. Pela religião há sentido na Vida, assim como na ciência, pois se não houvesse sentido nas coisas a ciência não faria sentido. O sentido da Vida é a Fé no sentido da Vida.

Assim, não há razão sem fé, nem fé sem razão.

A Verdade da Razão é a Verdade da Fé.

O tunelamento quântico (teletransporte) do apóstolo Filipe

A natureza científica do cristianismo autêntico é o tema principal de meus trabalhos, ciência como unidade ordenada do conhecimento. Unidade porque o conhecimento verdadeiro é integralmente coerente em si. A ciência inclui todo e qualquer conhecimento, todo e qualquer evento que possa ocorrer, inclusive os chamados milagres. Há Um só Deus, como nos diz o Monoteísmo, e há uma só ciência, estando esta ligada Àquele. A Ciência inclui o Direito, a ordem humana justa segundo a vontade de Deus, a Ordem Cósmica; a Biologia, a Vida plena; a Física, a natureza e o movimento das coisas.

Milagre é aquilo que a ciência não pode explicar, até que o fenômeno seja entendido, ao menos parcialmente, passando a ser chamado de evento físico descrito pela ciência.

A abordagem deste artigo é sobre um episódio dessa natureza, que é pouco divulgado no meio cristão, mas que está devidamente narrado nos Atos dos Apóstolos, o teletransporte, como um tunelamento quântico, do apóstolo Filipe.

Filipe batiza um eunuco — O Anjo do Senhor disse a Filipe: ‘Levanta-te e vai, por volta do meio-dia, pela estrada que desce de Jerusalém a Gaza. A estrada está deserta’. Ele se levantou e partiu. Ora, um etíope, eunuco e alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, que era superintendente de todo o seu tesouro, viera a Jerusalém para adorar e ia voltando. Sentado na sua carruagem, estava lendo o profeta Isaías. Disse então o Espírito a Filipe: ‘Adianta-te e aproxima-te da carruagem’. Filipe correu e ouviu que o eunuco lia o profeta Isaías. Então perguntou-lhe: ‘Entendes o que lês?’ ‘Como o poderia, disse ele, se ninguém me explicar?’ Convidou então Filipe a subir e sentar-se com ele. Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era a seguinte: Como ovelha foi levado ao matadouro; e como cordeiro, mudo ante aquele que o tosquia, assim ele não abre a boca. Na sua humilhação foi-lhe negada a justiça. E a sua geração, quem é que a narrará? Porque a sua vida foi eliminada da terra. Dirigindo-se a Filipe, disse o eunuco: ‘Eu te pergunto, de quem diz isto o profeta? De si mesmo ou de outro?’ Abrindo então a boca, e partindo deste trecho da Escritura, Filipe anunciou-lhe a Boa Nova de Jesus. Prosseguindo pelo caminho, chegaram aonde havia água. Disse então o eunuco: ‘Eis aqui a água. Que impede que eu seja batizado?’ E mandou parar a carruagem. Desceram ambos à água, Filipe e o eunuco. E Filipe o batizou. Quando subiram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe, e o eunuco não mais o viu. Mas prosseguiu na sua jornada com alegria. Quanto a Filipe, encontrou-se em Azoto. E, passando adiante, anunciava a Boa Nova em todas as cidades que atravessava, até que chegou a Cesareia” (At 8, 26-40).

Nessa narrativa, Filipe se deixa levar pelo Espírito Santo, prega ao eunuco, sendo então teletransportado para Azoto. Esse milagre hoje pode ser chamado de tunelamento quântico, ou passagem por uma ponte de Einsten-Rosen, que é o nome técnico de buraco de minhoca, que leva de um ponto a outro do espaço-tempo.

Segundo a Wikipedia “Tunelamento quântico (ou efeito túnel) é um fenômeno da mecânica quântica no qual partículas podem transpor um estado de energia classicamente proibido. Isto é, uma partícula pode escapar de regiões cercadas por barreiras potenciais mesmo se sua energia cinética for menor que a energia potencial da barreira”.

O tunelamento quântico é a possibilidade de atravessar uma barreira inicialmente intransponível, ou atravessar uma parede, desaparecendo de um lado e aparecendo do outro. No tunelamento quântico a partícula pega energia emprestada do futuro para conseguir ultrapassar uma barreira. Seria o caso de se jogar uma bola morro acima com a força necessária para ela chegar apenas no meio da montanha, mas de alguma forma ela ganhar energia e aparecer do outro lado do morro.

No caso, como o espaço entre o local onde Filipe estava e aquele em que ele apareceu era uma barreira para o deslocamento, pode-se dizer que ocorreu uma hipótese de tunelamento. Ou pode-se dizer que ele passou por uma ponte de Einsten-Rosen. Ocorreu um teletransporte. Os apóstolos viviam guiados pelo Espírito Santo de Deus, por uma energia superior à deles, por uma vontade coletiva, e não individual, agiam de acordo com o Campo de Deus, e o Espírito arrebatou Filipe, um energia não local alterou uma situação local, produzindo o teletransporte.

Esse evento decorre da dualidade onda-partícula, que afeta todas as coisas, inclusive as pessoas, pois não há um limite na ciência definindo até onde vale a física quântica, ou orgânica quântica, e a partir de quando vale a física clássica, pois tudo está sujeito ao mundo quântico. O Campo de Deus abrange toda a criação, sendo Ele onipresente, o que parece ocorrer também com o campo de Higgs.

O Logos é o emaranhamento, ou entrelaçamento, quântico de tudo o que existe, conecta tudo no universo, mantendo sua ordem, o Cosmos. O Logos é não local, ou seja, está em todo lugar, como é a natureza quântica da realidade.

No YouTube há um canal que costumo acompanhar, Space Time, pelo qual vejo algumas atualizações da física. Em um episódio o apresentador fala do tunelamento quântico, explicando sua situação (do apresentador) como onda, incluindo a possibilidade infinitesimal, mas não nula, de ele também estar naquele mesmo momento na Lua, pela probabilidade de sua função de onda lá estar – conforme link https://www.youtube.com/watch?v=-IfmgyXs7z8, e apesar de ser em inglês, com possibilidade de legenda em inglês, é interessante o vídeo, com cerca de dez minutos, que vale ser assistido.

O ponto importante dessa questão consiste no fato de que o apresentador, que fala apenas a linguagem científica, indica a possibilidade do teletransporte, sob a forma de medição de sua posição, em razão de sua natureza ondulatória, em um lugar como a Lua, com o colapso da sua função de onda nesse outro ponto do espaço; ou seja, a natureza ondulatória da pessoa, fazendo com que ela seja um campo se expandindo pelo espaço, permite a alteração de sua posição por uma nova medição, decorrente da descontinuidade quântica, uma outra observação de sua posição, e sua efetiva localização naquele satélite, por teletransporte.

Portanto, a ciência comprova a possibilidade do teletransporte do apóstolo Filipe, dizendo que o fato descrito na Bíblia como milagre é uma situação possível de acontecer segundo as leis da física. A improbabilidade do evento não indica a sua impossibilidade.

Deve ser salientado que o teletransporte em questão, do apóstolo Filipe, se deu no contexto da pregação evangélica, a descrição do maior evento já ocorrido no Planeta, a manifestação do Espírito de Deus Perfeito por um Homem, Jesus Cristo, sua morte e ressurreição, com a função de resgatar o espírito humano, a humanidade, para Deus, restabelecendo a unidade da criação, unindo novamente a criatura ao Criador, com os reflexos necessários na ordem política e social, estes ainda em curso.

O nível de energia física da atividade de Jesus era extraordinário, inclusive com emanação de como alguma coisa conhecida hoje por radioatividade, que curava o DNA das pessoas, recuperando a perfeição da saúde daqueles curados por Ele. Se nós hoje conseguimos causar câncer com a energia atômica, Deus pode perfeitamente curar males equivalentes por sua Energia, por seu Espírito Santo, com uma radioatividade totalmente benéfica para a saúde humana. Se  uma bomba atômica pode causar destruição instantânea, pode haver uma “bomba” ao contrário, com criação instantânea de vida, e nós temos átomos em nosso corpo, a máquina mais perfeita do universo, com essa capacidade.

Algumas pessoas são comprovadamente mais sensíveis que outras, têm mais habilidades em alguns assuntos, e Jesus Cristo tinha e tem a habilidade de manipular o campo de Higgs, manipular a matéria-prima de que são feitas todas as coisas. Jesus trabalha no nível quântico, no nível da Unidade do Ser, sendo sua ação local e não local ao mesmo tempo, é o maior cientista da história, sendo que Sua atividade, seu movimento, transcende o espaço-tempo, atingindo a eternidade, o infinito, a singularidade cosmológica.

Por isso Deus soberanamente o elevou e lhe conferiu o Nome que está acima de todo o nome, a fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre nos céus, sobre a terra e sob a terra, e que toda língua proclame que o Senhor é Jesus Cristo para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 9-11).

Assim, também a ciência humana haverá de se curvar a Jesus Cristo, o que deverá ser feito pela Física, Teologia, Filosofia, Direito etc; todo conhecimento humano depende de Jesus Cristo para sua unidade e coerência, pois ele é a encarnação do Logos, o Universal, da superforça que existiu no princípio da criação, unindo todas as forças da natureza, sendo a Vida em expressão completa, a plenitude da criação.

E quando isso acontecer estaremos na Parusia, na vigência do Reino de Deus, em que a humanidade trabalhará integrada pela totalidade dos seres humanos, da espécie humana, e não para alguns poucos privilegiados, como ocorre atualmente.

A ciência, a política e todas as formas de conhecimento devem servir a todos, e não a alguns grupos.

Jesus Cristo atingiu o limite da humanidade, a fronteira do Céu, porque foi plenamente humano, racional e fiel à Ciência, e por isso está sentado à direita de Deus, o que significa que tudo na criação se submete a Jesus Cristo, enquanto Logos, Razão Máxima, porque Jesus Cristo é o único que se submeteu perfeitamente a Deus, atingindo assim a perfeição como imagem visível do Deus Único, invisível, sendo a Razão Coletiva encarnada.

As profecias são verdadeiras, são científicas, como o teletransporte citado, o que significa que o Reino de Deus está próximo.

Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e credes no Evangelho” (Mc 1, 15).

A Consciência Cristã

Segundo o Dicionário Aurélio em sua 4.ª edição, consciência é “atributo altamente desenvolvido na espécie humana e que se define por uma oposição básica: é o atributo pelo qual o homem toma em relação ao mundo (e, posteriormente, em relação aos chamados estados interiores, subjetivos) aquela distância em que se cria a possibilidade de níveis mais altos de integração”; “conhecimento desse atributo”; “faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados”; “conhecimento imediato da sua própria atividade psíquica ou física”; “conhecimento, noção, ideia”; “cuidado com que se executa um trabalho, se cumpre um dever, senso de responsabilidade”; “honradez, retidão, probidade”; “consciência coletiva: conjunto de representações, de sentimentos ou de tendências não explicáveis pela psicologia do indivíduo, mas pelo fato do agrupamento dos indivíduos em sociedade”; “consciência de si: autoconsciência”; “consciência moral: a faculdade de distinguir o bem do mal, de que resulta o sentimento do dever ou da interdição de se praticarem determinados atos, e a aprovação ou o remorso por havê-los praticado”.

A ideia de consciência está ligada a uma separação, o pensamento separando-se do pensado e do pensante, e a superação dessa separação, por uma integração, numa unidade complexa e abstrata, mas real. A unidade é transcendente, o que se diz de Deus, mas se conecta a todas as coisas em suas conexões essenciais, e assim também imanente.

Para a filosofia materialista, a consciência é um produto da complexidade do cérebro, que surgiu com a espécie humana, em decorrência de pura sorte, pelo movimento aleatório do universo que em determinado momento, depois do desenvolvimento da vida (não se sabe como) e sua evolução, o homem adquiriu consciência.

De outro lado, para o espiritualismo, ou para o idealismo, a consciência é preexistente ao homem, sendo inerente ao Cosmos, é atributo de Deus, da Razão, que foi alcançada pela humanidade como dádiva do Altíssimo, ao conceder ao homem seu Espírito e Liberdade. No princípio era o Verbo, o Logos, a Consciência.

“Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou” (Gn 1, 27); “Então Iahweh Deus modelou o homem com argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2, 7).

Deus é Espírito, e colocou no homem um espírito capaz de alcançar o Espírito de Deus, fazendo-o à Sua imagem, como um reflexo.

Consciência é conhecimento, manifestação do Espírito, mas um conhecimento especial, que reflete uma ordem, uma razão; e o homem, pela liberdade concedida por Deus, pode optar por fazer de sua consciência o reflexo de uma natureza materialista caótica e aleatória ou de uma natureza com um princípio espiritual, ordenado e organizado.

Segundo o conhecimento bíblico, a criatura, pelo homem, seguiu a influência de Satã, o Diabo, que significa o que desune, o que separa, rompendo sua ligação com Deus, episódio conhecido como Queda. Desde então, a história da humanidade é a da busca pela reconexão com Deus, com o Cosmos, que foi alcançada individualmente com Jesus Cristo, que tinha consciência de sua Unidade com o Pai, o Criador, pelo que Jesus Cristo é a encarnação da própria Consciência, a manifestação do Logos.

A consciência decorre de ciência conjunta, é um saber compartilhado, pelo qual o pensamento humano se conecta idealmente a uma ordem (ou desordem, para os materialistas) que lhe é alheia, ligando eventos materiais e espirituais em uma cadeia relacional, causal, vinculando-se ao conceito de movimento: físico, psíquico e intelectual. Todavia, o homem, por seu espírito, entende que ele integra essa ordem “alheia”, compreendendo que sua consciência, enquanto Consciência, é a própria Ordem cósmica se percebendo.

Nesse ponto, a melhor proposta científica sobre a realidade e seu movimento é a desenvolvida por David Bohm, descrevendo o cosmos como um holomovimento contínuo, pelo qual a verdadeira realidade é indivisível, inseparável, indefinível e incomensurável.

O movimento do todo é ordenado, mas a ordem mais ampla e profunda é implícita, está dobrada para dentro, é implicada, e nós percebemos por nossos sentidos apenas a ordem dobrada para fora, que é superficial, explicada, manifesta.

A ciência, assim, a partir da noção interna de ordem, presente no espírito humano, procura nas manifestações exteriores os sinais que apontam para a citada ordem implicada, que pode ser entendida como imanente e transcendente, além do espaço-tempo. Wolfgang Smith afirma que mesmo “o mais simples ato de percepção é consumado pelo intelecto, transcendendo assim os limites do espaço e do tempo” (In O Enigma Quântico: Desvendando a Chave Oculta. Tradução de Raphael de Paola. Campinas: Vide Editoral, 2011, p. 195); ou seja, é o intelecto, imaterial e atemporal, que percebe a ordem.

No holomovimento, o que vale é a lei do todo, a holonomia, pelo que qualquer autonomia é relativa, sendo absoluta apenas a holonomia. Portanto, como a consciência se refere ao reflexo, a uma cópia, do movimento alheio ordenado, o objeto da consciência consiste em fazer de si mesma uma continuação do holomovimento, da ordem do todo, tendo ciência do que move o todo e o que move as partes que compõem esse todo, tanto a natureza física e os animais como a humanidade, individual e coletivamente.

O objetivo da consciência é fazer do comportamento humano uma cópia do movimento cósmico, restabelecendo o homem como imagem de Deus, inclusive na vida social.

Nosso cérebro está preparado para essa atitude, pois os neurônios espelhos agem para repetir o movimento, neurônios que funcionam até mesmo inconscientemente, e essa repetição deve ser levada à consciência pelo exercício mental até atingir a abstração, repetindo a ordem racional por trás dos fenômenos, o Logos, com utilização dos neurônios do córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pelo planejamento das ações e pensamentos complexos. Do movimento repetitivo inconsciente devemos passar à ação consciente segundo a ordem universal, o Cosmos.

A natureza espiritual do homem o leva à especulação, na busca pelo espelhamento da ordem cósmica, e o comportamento conforme essa ordem é o caminho, e a finalidade, do desenvolvimento da consciência.

Consciência é percepção inteligente do holomovimento, o conhecimento das causas dos movimentos individuais e suas conexões com o movimento coletivo, incluindo a Causa Primeira, o Princípio de Todas as Coisas, Deus.

A consciência é percebida pelo cérebro, mas não está no cérebro, como pretendem fazer crer os materialistas. As ondas eletromagnéticas estão por toda parte, sendo o cérebro apenas o instrumento corporal da percepção, pelo qual podemos alcançar a mente coletiva, o Logos.

As ideias têm formas eletromagnéticas que interferem no funcionamento do cérebro. Grandes ideias se conectam a grandes movimentos, como as religiosas, científicas, ligadas à Justiça Social; e pequenas ideias são limitadas a pequenos movimentos, como a ideia egoísta que se restringe aos movimentos e interesses da própria pessoa. A interferência entre as frequências das ideias é facilitada pela proximidade de seus formatos de onda.

Ideias interagem com os campos a ela pertinentes, mais amplos e abstratos ou estritos e concretos. A física quântica e a relatividade nos dizem que tudo pode ser convertido em energia, pelo que as ideias e as palavras também são energia, ligadas ao movimento. Os resultados do trabalho do pesquisador japonês Masaru Emoto são uma prova desse fato, demonstrando que cristais de água têm sua forma alterada por palavras boas ou más coladas nos potes que continham o líquido, antes de ser congelado. Segue link sobre o citado estudo: https://www.youtube.com/watch?v=epoTVejvpEI.

Consciência é o movimento percebendo a si próprio, o Todo se percebendo na parte e a parte se percebendo no Todo. Para aqueles que entendem que o Todo é Deus, o Espírito infinito, a consciência é essa percepção. Já para o materialismo, o todo é o caos material, e sua consciência se torna igualmente caótica e aleatória, além de limitada.

Para se ter consciência é preciso conhecimento histórico da mudança ocorrida no holomovimento, incluindo como a consciência chegou até aquele ponto, física e intelectualmente, e a direção a seguir, analisando as respectivas causas, motivações e movimentos necessários à realização do movimento.

A revisão da história, a crítica da investigação científica pode ser necessária para correção da consciência individual e coletiva, como ocorre na terapia. A partir do conhecimento adquirido e refletido, a história pode e deve ser reescrita.

Somente existe consciência na liberdade, somente a liberdade espiritual pode levar à consciência. Deus não criou o homem como um autômato. E por isso a liberdade pode levar a consciência ao materialismo, que, por considerar não haver nada além do corpo, inevitavelmente é individualista e egoísta, com os efeitos nocivos que vemos por todos os lados, em todos os noticiários; ou pode levar ao Reino de Deus, pelo uso verdadeiro da liberdade, em que a consciência age conforme a ordem coletiva, que transcende o indivíduo, possuindo natureza racional, Espiritual.

Ter consciência é mover-se voluntariamente como objeto do Sujeito universal, da Razão, fazendo com que a consciência se desenvolva para fora do ego até atingir a Razão Universal, manifestando o Cristo, o Espírito Santo, a Razão Santa, na vida individual e social. Consciência é livre submissão ao Logos, a Razão Absoluta. Mas para se submeter ao Logos é preciso buscá-lo, conhecê-lo, o que pode ser feito tanto pelas pessoas simples como pelas eruditas. Segundo o Evangelho, os pobres de espírito têm preferência natural nesse conhecimento, pela humildade, sendo deles o Reino de Deus, porque aceitam a ordem divina.

David Bohm, na entrevista com Renée Weber, constante do livro “O Paradigma Holográfico e outros paradoxos”, da editora Cultrix (obra esgotada mas que pode ser encontrada em sebos como a Estante Virtual), afirma que:

“a consciência está, basicamente, na ordem implicada, assim como toda matéria o está; portanto, não é que a consciência seja uma coisa e a matéria seja outra, mas sim que a consciência é um processo material e que ela própria se encontra na ordem implicada, como toda matéria, e que a consciência se manifesta em alguma ordem explicada, como também o faz a matéria em geral.

WEBER: A diferenciação entre aquilo a que chamamos matéria e a consciência seria, penso que você o disse ontem, o estado de densidade ou sutileza.

BOHM: O estado de sutileza, sim, a consciência é possivelmente uma forma mais sutil de matéria e movimento, um aspecto mais sutil do holomovimento.

WEBER: Sim. E a matéria é muito densa ou pesada ou congelada.

BOHM: Seja o que for, mas menos sutil.

WEBER: Quando você diz consciência refere-se a pensamentos, emoções, desejos, vontade, enfim a toda a vida mental ou psíquica?

BOHM: Sim, a tudo isso.

WEBER: E você está dizendo que a fonte daquilo que percebemos tanto no assim chamado mundo externo como em nós mesmos, em nossos assim chamados processos internos, reside nesse não-manifesto.

BOHM: Sim, e o próprio não-manifesto reside em algo que está imensamente além dele”.

Em seguida Bohm afirma que “a ideia do holomovimento é parte do holomovimento. E a idéia do holomovimento também contém a idéia de que a própria idéia é parte do holomovimento”, que nosso objetivo é agarrar essa ideia e fazê-la desenvolver, fazendo do movimento um todo uno, ou seja, sermos manifestação e consciência do holomovimento.

Esta entrevista pode ser lida na íntegra na internet (http://escoladedialogo.com.br/escoladedialogo/index.php/biblioteca/o-universo-que-dobra-e-desdobra/), e para uma visão mais elaborada do princípio holográfico a leitura do citado livro pode ser muito útil, especialmente os textos de Ken Wilber.

Digo isso porque o princípio científico da Bíblia é holográfico, ou holonômico, e o objetivo da encarnação do Verbo, do Logos, é justamente nos resgatar, nos religar a Deus, à Ordem (Cósmica), nos unir conscientemente ao holomovimento, ao Todo, para sermos integrados a esse Todo, ou seja, parte com consciência do Todo e em que esse Todo se manifesta.

“E, quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos” (1Co 15, 28).

E esse é um dos pedidos da oração de Jesus Cristo na última ceia.

“Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim” (Jo 17, 20-23).

O primeiro mandamento é “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito” (Mt 22, 37), o que significa ter consciência máxima (de Deus) e segui-la, porque cumprir esse mandamento é cumprir toda a Lei.

Consciência é ser Um com Cristo e com Deus, viver pelo/no Logos, pela/na Razão Santa, Saudável, pelo/no Espírito Santo.

Ciência: a luta do cosmos contra o caos

Ciência é conhecimento racional integral, o que inclui uma teoria de ordem, harmonia, organização. Pressupõe, assim, uma metafísica, teoria que explica todos os fenômenos.

Desde o princípio da ciência no ocidente, com os antigos gregos, a questão de ordem do universo era essencial, podendo ser citados dois paradigmas principais, um materialista, com o exemplo de Demócrito descrevendo o universo composto por átomos, as menores peças das quais todas as demais coisas seriam formadas, e um idealista, com o exemplo de Platão, defendendo a existência de corpos ideais como suporte da realidade.

O começo da bíblia é justamente a criação do universo e a intervenção de Deus, ditando a ordem cósmica, “a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus agitava a superfície das águas” (Gn 1, 2), até que a palavra de Deus agiu criando a luz e a ordem.

Ciência, como filosofia, é amor ao conhecimento e à verdade. Direito é amor à Justiça, Deus, que é Correto e Íntegro. Ciência é conhecimento de Deus, da Ordem Cósmica, e o seu maior conhecedor é Jesus Cristo. Relevante, fundamental, indispensável, então, é entender Deus e seu significado.

“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito. O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (Jo 1, 1-5).

O Verbo é o Logos, a Razão, a raiz de todas as coisas, o princípio de tudo o que existe. Tudo o que existe para o homem existe como conceito, como expressão simbólica, e o Logos, o Verbo, é o que distingue a humanidade, enquanto ser linguístico, comunicacional. Deus é a Razão última de todas as coisas, visíveis e invisíveis, incluindo as psíquicas e espirituais, e quando Jesus viveu entre os homens, Ele manifestou a Razão de Deus, a Lei da Vida, não no aspecto mundano, mas como Vida Racional, como razão da própria Vida, que contém em si a morte carnal, em que um ser vivo substitui outro no ciclo da evolução.

O problema científico moderno é um problema ideológico, na medida em que a metafísica materialista de Demócrito não foi sustentada pela física moderna, seja pela relatividade ou pela orgânica quântica; mas, ainda assim, esse tema não é devidamente expresso pela comunidade científica.

Segundo David Bohm, pela metafísica a ideologia, como conjunto de ideias, responde à questão sobre o que são as coisas com a resposta “tudo é x”, e “x” define a ideologia. Para o materialismo, tudo é matéria. Para o idealismo, tudo é inteligência, logos.

A partir do materialismo, defende-se uma ciência material, com incidência dos princípios científicos valendo segundo uma ordem material. Ciência é ordem. Contudo, veio o século XX e a ciência disse: materialmente é impossível definir a ordem das coisas, pois vale o princípio da incerteza. Assim, para a ideologia materialista, na verdade, não existe ordem, mas caos, acaso, e para mascarar essa verdade, usa-se o eufemismo da probabilidade. Acaso significa sem causa. Portanto, a ciência materialista é caótica, pois não permite definir a causa das coisas.

Stephen Hawking, o arauto do ateísmo materialista moderno, afirma que “na teoria quântica, a capacidade de fazer previsões exatas é apenas a metade do que era na visão de mundo clássico de Laplace. Todavia, dentro desse sentido restrito, ainda é possível afirmar em determinismo” (In O universo numa casca de noz. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009, p. 108). Nesse ponto ele deturpa o conceito de determinismo, para tentar manter sua posição científica, como a ideia de uma mulher meio grávida.

Portanto, a ideologia materialista capenga insiste em tentar se impor como verdade, mesmo não havendo coerência interna em seus argumentos e conceitos, segundo os dados obtidos no século XX.

Resta a metafísica idealista, que insiste na existência de uma ordem intelectual, espiritual, e sua expressão monoteísta implica na existência da Providência, de uma causalidade espiritual, superior, que existe efetivamente, ainda que não possa ser sempre entendida pela humanidade. Tal proposta é compatível com a ideia de Louis de Broglie, vencida em 1927 em Solvay (quando o dogma da incerteza foi convencionado, estabelecendo as bases para o que viria a ser a interpretação de Copenhague da física quântica, sua visão ortodoxa), mas retomada por David Bohm, sobre a possibilidade de existência de uma onda piloto e de variáveis ocultas regendo o comportamento material, ou seja, de que existe uma energia inteligente oculta controlando a matéria. E essa onda piloto pode ser entendida como o Logos, sendo o Cristo sua manifestação humana e visível, que “pegou” a onda piloto, e, para tanto, morreu na cruz, ressuscitando em seguida. Jesus experimentou o colapso da partícula, mas permaneceu como campo, campo que  permeia todo o espaço-tempo em unidade lógica, como Logos.

Para culminar sua extravagância “filosófica”, Hawking ainda afirma que as “teorias de ‘variáveis ocultas’ preveem resultados em desacordo com as observações. Mesmo Deus está limitado pelo princípio da incerteza e não pode conhecer a posição e a velocidade; Ele só pode conhecer a função de onda” (Op. cit., p. 107). Tal afirmação, além de conter a visão de uma ameba julgando o conhecimento humano, não é honesta cientificamente. Marcelo Gleiser, na obra que me indicou o trabalho de David Bohm, informa que a teoria das variáveis ocultas “produz os mesmos resultados da mecânica quântica”, que as “duas teorias fazem as mesmas previsões e não existe uma possibilidade de distinção”, optando ele pela mecânica quântica sem uma onda-piloto por ser “bem mais simples” (In A ilha do conhecimento: os limites da ciência e a busca por sentido. Rio de Janeiro: Record, 2014, p. 229).

A filosofia de Hegel, de origem cristã, decorre de uma metafísica que poucos alcançam, pelo grau de abstração e rigor lógico, seguindo o idealismo. O hegelianismo é como uma língua estrangeira para a maioria das pessoas. Hegel superou Kant ao eliminar a separação sujeito-objeto, na medida em que o sujeito se torna o objeto no momento do entendimento, sendo ele mesmo intelectualmente a coisa em si, em um todo lógico, mas o paradigma kantiano permanece reinando como pressuposto filosófico da ciência moderna.

A prova do acerto da filosofia de Hegel coube à física quântica, ao demonstrar que o observador e o observado se tornam uma só coisa no momento da medição/observação, um só fenômeno lógico, cuja consequência levaria materialmente ao princípio da incerteza de Heisenberg, princípio que impede a teoria materialista de seguir uma verdadeira ordem. Segundo este físico:

“Independentemente da decisão última, podemos mesmo afirmar agora que a resposta final (sobre a equação fundamental da matéria) estará mais próxima dos conceitos filosóficos expressos, por exemplo, no Timeu de Platão do que dos antigos materialistas. Tal fato não deve ser mal compreendido como um desejo de rejeitar de maneira muito leviana as ideias do moderno materialismo do século XIX, o qual, uma vez que pôde trabalhar com toda a ciência natural dos séculos XVII e XVIII, abarcou um conhecimento muito importante de que carecia a antiga filosofia natural. Não obstante, é inegável que as partículas elementares da física de hoje se ligam mais intimamente aos corpos platônicos do que aos átomos de Demócrito. (…) E, desde que a estrutura matemática é, em última análise, um conteúdo intelectual, poderemos afirmar, usando as palavras de Goethe no Fausto, ‘No princípio era a palavra’ – o logos. Conhecer este logos em todas as suas particularidades, e com total clareza em relação à estrutura fundamental da matéria, constitui a tarefa da física atômica de hoje e de seu aparelhamento infelizmente muitas vezes complicado” (In Problemas da Física Moderna, 3 ed., São Paulo: Perspectiva, 2011, pp. 26-27).

Não sei se foi proposital a não citação do evangelho de são João por Heisenberg, mas essa omissão indica muito bem o nível de obscurecimento que rege a comunidade científica de hoje. A própria física é limitada em seu conhecimento e as teorias demoram tempo para sua demonstração, como a relatividade de Einstein, que agora teve mais uma comprovação, com as ondas gravitacionais. Deve-se ressaltar, contudo, que a relatividade trata de quatro dimensões e é materialista, ignorando 95% (noventa e cinco por cento) do universo conhecido, que é desconhecido, na medida que essa ciência parcial desconhece a matéria escura e a energia escura, responsáveis pelo citado percentual da energia cósmica (95%).

E comprovando o que se diz sobre a incapacidade de a ciência moderna explicar o mundo, pode-se citar a famosa frase de Richard Feynman: “posso afirmar com segurança que ninguém entende a mecânica quântica” (In Sobre as leis da física. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2012, p. 135). Não se entende a mecânica quântica porque a física quântica é não materialista e indica uma quinta dimensão não local e atemporal, sendo melhor falar orgânica quântica, porque o universo é um todo orgânico, e o Logos é sua mente.

A igreja acadêmica está encerrada em sua dogmática fragmentária, de base cartesiana e materialista, e ontologicamente incorreta. Contudo, a orgânica quântica trabalha com o conceito de unidade e demonstra a inter-relação mente e matéria, de modo dar um giro em direção às ciências do espírito, enquanto a tradição científica continua enclausurada numa metafísica esquizofrênica e partida da realidade. Newton uniu a matéria terrestre à celeste; Einstein juntou espaço e tempo; e Bohm conectou o corpo ao espírito, a res extensa à res cogitans, pelas ciências físicas, seguindo o que Hegel havia feito na filosofia.

O apego materialista, que rejeita o espírito, já havia sido profetizado. Mas esse materialismo chegou ao seu limite filosófico no princípio da incerteza, que impede o reconhecimento de uma ordem material; os desastres humanos, sociais e ambientais que vemos hoje são o resultado dessa falsa ciência, desse falso profeta.

“Deste modo, o espírito humano mergulhou profundamente no mundo sublunar da matéria, repetindo, assim, o mito gnóstico do Nous o qual, contemplando a sua imagem nas profundezas, desceu às regiões inferiores, onde foi enlaçado e tragado pela ‘physis’ (natureza). O clímax desta evolução é representado, respectivamente, pelo Iluminismo francês, no século XVIII, pelo materialismo científico, no século XIX, e, no século XX, pelo “realismo” político e social que faz o curso da história regredir dois mil anos, trazendo de volta o despotismo, a negação dos direitos do indivíduo, a crueldade, o aviltamento da pessoa humana e a escravidão do mundo pré-cristão, cujo ‘labour problem’ (problema trabalhista) foi solucionado com o ‘ergastulum’ (prisão e confinamento de escravos). A ‘inversão de todos os valores’ se opera abertamente diante de nossos olhos.

Parece que tal evolução, indicada aqui em poucas palavras, foi antecipada na simbologia medieval e na gnóstica como o Anticristo no Novo Testamento” (Carl Gustav Jung, in AION – Estudos sobre o simbolismo do Si-mesmo. 2. ed. Petrópolis: Vozes, p. 222).

Sobre o restabelecimento da ordem cósmica, com a vinda de Jesus Cristo na parusia, são Paulo, na segunda carta aos Tessalonicenses, no segundo capítulo, relata que antes da vinda do Senhor seria necessário ocorrer a apostasia, a separação religiosa. “Antes daquele dia virá a apostasia, e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição” (2Tes 2, 3). O filho da perdição se autoproclamará Deus, como a ciência moderna faz, declarando a morte de Deus e reconhecendo-se como senhora da verdade.

Assim, a explicação de tal passagem profética pode ser feita da seguinte forma. Antes da parusia vem a apostasia. O que detém o filho do pecado é não haver apostasia. Portanto, a separação cartesiana, a separação entre vida religiosa e vida civil, a apostasia, é o que permite a revelação do homem do pecado, do filho da perdição, o anticristo, que é o modelo de “homem” que a cultura materialista, principalmente ocidental, promove.

Portanto, enquanto o homem religioso não viver a sua verdadeira religião, continuará reinando o príncipe deste mundo, que ideologicamente é o capitalismo selvagem, o egoísmo individual e social, sem Direito, sem Justiça. A solução é uma só, que os judeus sejam judeus; os muçulmanos, muçulmanos; e os cristãos; cristãos; mas verdadeiramente, seguindo a Verdade, Jesus, que é o judeu padrão, ortodoxo, testemunha fiel do espírito da Lei; e o muçulmano modelo, é submisso às Ordens divinas, à Lei de Deus, integralmente, até a morte. Como somos a maioria absoluta da população mundial, basta seguirmos o melhor da nossa religião para restaurarmos a ordem cósmica, realizando o Reino de Deus, sendo a Parusia Sua presença em nós: “O Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17, 21).

“Não perverterás o direito do estrangeiro e do órfão, nem tomarás como penhor a roupa da viúva. Recorda que foste escravo na terra do Egito, e que Iahweh teu Deus de lá te resgatou. É por isso que eu te ordeno agir deste modo. Quando estiveres ceifando a colheita em teu campo e esqueceres um feixe, não voltes para pegá-lo: ele é do estrangeiro, do órfão e da viúva, para que Iahweh teu Deus te abençoe em todo trabalho das tuas mãos. Quando sacudires os frutos da tua oliveira, não repasses os ramos: o resto será do estrangeiro, do órfão e da viúva. Quando vindimares a tua vinha, não voltes a rebuscá-la: o resto será do estrangeiro, do órfão e da viúva. Recorda que foste escravo na terra do Egito. É por isso que eu te ordeno agir deste modo” (Dt 24, 17-21). Os palestinos são estrangeiros no atual território de Israel, não sendo devidamente respeitados.

A Torá e o Alcorão, este expressamente afirmando que apenas veio confirmar a Torá e o Evangelho, possuem um Direito essencialmente voltado à proteção dos necessitados: o pobre, o órfão e a viúva; pois não havia direito previdenciário naquelas épocas, não existia pensão ou benefício assistencial.

“Não oprimais a viúva, o órfão, o estrangeiro e o pobre, não trameis o mal em vossos corações, um contra o outro” (Zc 7, 10).

“Assim fará todo o natural dentre o vosso povo, quando oferecer uma oferenda queimada em perfume agradável a Iahweh. E se algum estrangeiro residir convosco, ou com os vossos descendentes, oferecerá uma oferenda queimada em perfume agradável a Iahweh: como fizerdes, assim fará. a assembleia. Haverá somente um estatuto, tanto para vós como para o estrangeiro. É um estatuto perpétuo para os vossos descendentes: diante de Iahweh, será tanto para vós como para o estrangeiro. Haverá somente uma lei e um direito, tanto para vós como para o estrangeiro que habita no meio de vós’” (Nm 15, 13-16).

“A sentença será entre vós a mesma, quer se trate de um natural ou de estrangeiro, pois eu sou Iahweh vosso Deus” (Lv 24, 22).

Em Isaías 56, os estrangeiros são convidados a tornarem-se servos de Iahweh, pois sua casa será “chamada casa de oração para todos os povos” (Is 56, 7).

“Se, ao contrário, eles depuserem as armas, e não vos combaterem, e vos oferecerem a paz, Deus não vos permitirá mais hostilizá-los” (Sura 4: 90).

“E não disputeis com os adeptos do Livro senão com moderação, salvo os que prevaricam. E dizei: ‘Cremos nos que nos foi revelado e no que vos foi revelado. Nosso Deus e vosso Deus é o mesmo. A Ele nos submetemos’” (Sura 29: 46).

“Se eles se inclinarem para a paz, inclina-te para ela também e confia em deus. Ele ouve tudo e sabe tudo” (Sura 8: 61).

“Servos do Clemente são aqueles que caminham mansamente pela terra, e quando os ignorantes se dirigem a eles, respondem: ‘Paz!’” (Sura 25: 63).

“Nós tivemos os nossos pais segundo a carne como educadores, e os respeitávamos. Não haveremos de ser muito mais submissos ao Pai dos espíritos, a fim de vivermos?” (Hb 12: 9). Cito essa passagem porque muçulmano significa submisso, servo.

“Ficaram em silêncio, porque pelo caminho vinham discutindo sobre qual era o maior. Então Ele, sentando-se, chamou os Doze e disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9, 34-35).

“Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1 Co 1, 25).

Uma ciência loucamente divina é mais sábia que a dos homens.