A cidade de Deus

A cidade de Deus” é uma das mais importantes obras de santo Agostinho, ou Agostinho de Hipona, considerado um dos pais da Igreja, tendo sido teólogo de grande envergadura, e sobre suas bases se construiu boa parte da Teologia Cristã. A teoria de santo Agostinho está na base do edifício Cristão, e talvez tal construção tenha se dado sobre fundamentos inconsistentes, significando um desvio em relação à mensagem evangélica, uma alteração da Boa Nova de Jesus Cristo.

A mensagem de Cristo é a proximidade do Reino de Deus, pelo que o significado de Reino de Deus é da essência do Cristianismo autêntico.

De que o Reino de Deus possui uma natureza espiritual, não há dúvida. A controvérsia reside na interpretação da Mensagem, sobre como ou onde se realizará o Reino, se apenas no plano espiritual ou se também haverá um Reino de Deus sobre a humanidade, e como será esse reinado.

O livro do Apocalipse, um dos mais enigmáticos da Bíblia, traz uma passagem que é fonte de divergência entre os teólogos, ligada ao tema do milenarismo.

Vi então um Anjo descer do céu, trazendo na mão a chave do Abismo e uma grande corrente. Ele agarrou o Dragão, a antiga Serpente — que é o Diabo, Satanás — acorrentou-o por mil anos e o atirou dentro do Abismo, fechando-o e lacrando-o com um selo para que não seduzisse mais as nações até que os mil anos estivessem terminados. Depois disso, ele deverá ser solto por pouco tempo. Vi então tronos, e aos que neles se sentaram foi dado poder de julgar. Vi também as vidas daqueles que foram decapitados por causa do Testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e dos que não tinham adorado a Besta, nem sua imagem, e nem recebido a marca sobre a fronte ou na mão eles voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos. Os outros mortos, contudo, não voltaram à vida até o término dos mil anos. Esta é a primeira ressurreição.” (Ap 20, 1-5).

Esta passagem descreve os mil anos de paz, o tempo em que a humanidade será governada por Cristo, quando o Reino dos Céus se realizará no plano político internacional, mas há muita controvérsia sobre a interpretação do texto, sendo o entendimento atualmente dominante, e incorreto, segundo penso, aquele segundo o qual o milênio não será literal, mas metafórico ou alegórico.

No princípio do Cristianismo, o milenarismo era mais aceito, contudo a referida proposta hermenêutica, com o tempo, passou a minoritária.

Irineu de Lião, que escreveu no segundo século d.C., aceitava o milênio como real:

Visto que alguns se deixam induzir ao erro por causa de discurso herético e ignoram as disposições de Deus e o mistério da ressurreição dos justos e do reino que será o prelúdio da incorruptibilidade – reino pelo qual os que serão julgados dignos se acostumarão paulatinamente a possuir a Deus –, é necessário dizer sobre isso que os justos, ressuscitando, à aparição de Deus, nesta criação renovada, primeiramente receberão a herança que Deus prometeu aos pais e reinarão nela, e somente depois se realizará o juízo de todos os homens. Com efeito, é justo que recebam o prêmio do sofrimento naquela mesma natureza em que sofreram e foram aprovados de todos os modos, e que naquela mesma em que foram mortos por amor a Deus e suportaram a escravidão, recebam a vida e reinem. É necessário que a própria natureza seja reconduzida ao seu estado primitivo para servir, sem limites, aos justos” (Irineu de Lião. Contra as heresias. Trad. Lourenço Costa. São Paulo: Paulus, 1995 – Coleção Patrística, p. 603 – Grifo nosso).

Em seguida ele continua:

Todas estas profecias se referem, sem contestação, à ressurreição dos justos, que se realizará depois do advento do Anticristo e da eliminação de todas as nações submetidas à sua autoridade, quando os justos reinarão sobre a terra, aumentarão pela aparição do Senhor e se acostumarão, por ele, a participar da glória do Pai e, com os santos anjos, participarão da vida, da comunhão e da unidade espirituais, neste reino” (Idem, p. 613 – Grifo nosso).

A Teologia de Irineu é compatível com as profecias judaicas, com os profetas do Antigo Testamento, segundo os quais haverá a era messiânica, o governo político do Messias entre os homens, ainda esperado pelos judeus, e esse é o principal motivo pelo qual eles não aceitaram Jesus como Messias.

Contudo, entre o quarto e o quinto século d.C., após o império de Constantino, depois, e em função, da formação do conceito de trindade, a Teologia Cristã se afastou daquelas ideias iniciais, distanciando-se da Teologia do judaísmo, deixando o milenarismo de ser uma concepção ligada a um reino humano, para que o milênio fosse compreendido alegoricamente, figurativamente, interpretação esta que Irineu havia chamado de “discurso herético”.

Politicamente a trindade foi muito conveniente, pois retirou a encarnação da humanidade, elevando Jesus Cristo a um nível supra-humano. Para um governo guerreiro, do Império Romano, era melhor um Deus do outro mundo, que encarnou apenas em Jesus, com Reino de outro mundo, pois, caso contrário, se Deus encarnasse em todo homem, sem que houvesse uma trindade, com Reino neste mundo, seria muito difícil justificar a guerra e a matança de semelhantes. Com a trindade, o que são Paulo chamava de falsa ciência, ou falsa gnose para Irineu de Lião, conseguiu entrar no Cristianismo, em seu núcleo duro, como dogma, separando o mundo humano do divino, o que contrariou o Evangelho, como encarnação do Logos, como anúncio da habitação de Deus entre os homens, levando esse convívio para o além.

Santo Agostinho, contudo, aderiu ao referido “discurso herético”, depois de aceitar inicialmente o milenarismo: “Essa opinião seria até certo ponto admissível, se se acreditasse que durante o referido sábado os santos gozarão de algumas delícias pela presença do Senhor. Eu mesmo aderi algum tempo a esse modo de pensar. Mas seus defensores dizem que os ressuscitados folgarão em imoderados banquetes carnais, em que haverá comida e bebida em tal excesso, que excederão as orgias pagãs. E isso não podem crê-lo senão os carnais. Os espirituais, porém, dão-lhes o nome de khiliastás, palavra grega que literalmente podemos traduzir por milenaristas” (Santo Agostinho. A cidade Deus: (contra os pagãos), parte II. 8 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013, pp. 469-470).

Nesse ponto, a Teologia de Agostinho inova em relação à anterior, adotando o que antes foi chamado por Irineu de “discurso herético”, e se desvia da Teologia Cristã, dizendo Agostinho de Hipona que não haverá aquele milênio, mas que o Reino de Cristo já estava em curso pela Igreja: “A Igreja é, pois, agora o reino de Cristo e o Reino dos Céus. E agora com Ele reinam também seus santos, certo que de modo diferente de como reinarão mais tarde, mas a cizânia não reina com Ele, embora cresça com o trigo na Igreja. Somente reinam com Ele aqueles que fazem o que diz o apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, buscais as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus; saboreai as coisas do céu, não as da terra. Desses também diz que sua conversação está nos céus. Enfim, com Ele reinam os que de tal modo estão em seu reino, que são ele reino seu” (Idem, p. 476).

Essa interpretação é adotada pelo catecismo católico romano:

675. Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes (639). A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra (640), porá a descoberto o «mistério da iniquidade», sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do Anticristo, isto é, dum pseudo-messianismo em que o homem se glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado (641).

676. Esta impostura anticrística já se esboça no mundo, sempre que se pretende realizar na história a esperança messiânica, que não pode consumar-se senão para além dela, através do juízo escatológico. A Igreja rejeitou esta falsificação do Reino futuro, mesmo na sua forma mitigada, sob o nome de milenarismo (642), e principalmente sob a forma política dum messianismo secularizado, «intrinsecamente perverso» (643).

677. A Igreja não entrará na glória do Reino senão através dessa última Páscoa, em que seguirá o Senhor na sua morte e ressurreição (644). O Reino não se consumará, pois, por um triunfo histórico da Igreja (645) segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o último desencadear do mal (646), que fará descer do céu a sua Esposa (647). O triunfo de Deus sobre a revolta do mal tomará a forma de Juízo final (648), após o último abalo cósmico deste mundo passageiro (649). (http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s2cap2_422-682_po.html)

Portanto, enquanto os católicos afirmam que já estão no milênio, pela Igreja, os protestantes, como regra, entendem que o Reino não começou, e terá início com o arrebatamento dos crentes para os céus, para a cidade de Deus, deixando os descrentes na terra em ruínas, quando os crentes justos estarão corporalmente no céu.

Como tenho exposto nos artigos anteriores, ainda que a cidade de Deus tenha natureza espiritual, esteja ligada à fé, a Teologia Cristã professa a chegada do Reino de Deus, quando o mal não mais seduzirá as nações, o que se refere a um conceito político de governo humano, e indica que durante mil anos, depois do aprisionamento de Satanás, os justos reinarão com Cristo por mil anos, quando os mansos herdarão a terra (Mt 5, 4).

O próprio nome Reino denota um conceito político, e penso que exatamente por isso que a ideia de cidade de Deus foi remetida para o além na Teologia de Agostinho, para que não houvesse competição com a política romana.

A própria oração ensinada por Jesus pede: “venha o teu Reino, seja feita a tua Vontade na terra, como no céu” (Mt 6, 10).

Essa oração indica que a cidade dos homens deve ser submetida à cidade de Deus, que o governo humano seja justo. Portanto, a Teologia política de Jesus mantém a Teologia política judaica, aprimorando-a, pois a Justiça da Lei é para toda a humanidade, e não apenas para os judeus, uma vez que a autoridade é atribuída por Deus e a Ele deve se submeter. Daí porque os Cristãos também devem obediência ao governo humano, porque o destino da humanidade é ser governada politicamente pelos justos com Cristo, e por isso Pedro e Paulo indicavam obediência até mesmo às instituições humanas.

Cada um se submeta às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus. De modo que aquele que se revolta contra a autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus” (Rm 13, 1-2).

Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, seja ao rei, como soberano, seja aos governadores, como enviados seus para a punição dos malfeitores e para o louvor dos que fazem o bem, pois esta é a vontade de Deus que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos insensatos” (1Pd 2, 13-15).

Na introdução de “A cidade de Deus”, Emmanuel Carneiro Leão afirma: “No Ocidente A Cidade de Deus ocupa um lugar central no desenvolvimento de uma teologia e filosofia da história” (In Santo Agostinho. A cidade Deus: (contra os pagãos), parte I. Trad. Oscar Paes Leme. 14 ed. Petrópolis, RJ: Vozes; São Paulo: Federação Agostiniana Brasileira; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2013, p. 22).

A Teologia é uma Ciência fundamental, condicionando a interpretação das demais ciências, e como “A cidade de Deus” tem lugar proeminente na Teologia ocidental, influindo na interpretação política, jurídica e filosófica dos quinze séculos seguintes à referida obra, caso a Teologia do referido livro esteja errada, como penso que efetivamente está, tal falha contaminou todo pensamento do Ocidente, e viciou a hermenêutica Cristã com um “discurso herético”. A Teologia política Cristã há que ser revista, o que será assunto de outro artigo, já estando este um tanto longo.

Como Deus é Perfeito, tal erro do Cristianismo servirá para que a humanidade se una no Reino de Deus, pois todas as religiões monoteístas, assim, serão humilhadas, serão obrigatoriamente humildes, porque os Judeus serão obrigados a reconhecer Jesus Cristo como seu Messias, os Muçulmanos entenderão que O Profeta é Jesus Cristo, sendo Maomé um profeta, o que também será compreendido pelos Cristãos, o fato de Jesus ser Deus, templo de Seu Espírito, como nós, e não O Deus, que é Uno e não uma trindade, e isso proporcionará a paz necessária para a união do Monoteísmo, como profetizado, para a era messiânica, para que a cidade de Deus se una à cidade dos homens e Cristo reine com seus santos até o Dia do Julgamento.

A dupla natureza de Jesus Cristo

O título do presente artigo seria algo como erros filosóficos da relatividade einsteiniana, pois teria como base a leitura do livro A Teoria da Relatividade Especial e Geral, de Albert Einstein, mas antes de começar a escrever o texto, enquanto assistia a um documentário sobre a História do Cristianismo, a expressão “a dupla natureza de Jesus Cristo” foi mencionada e, então, a inspiração para o artigo surgiu, decorrente da expressão “natureza dupla” da realidade física citada no livro.

A Cristologia, o estudo sobre a natureza de Jesus Cristo, está no centro da Teologia Cristã. Após recentes reflexões, considerando os dois primeiros artigos (Para uma nova ciência e Ciência: a luta do cosmos contra o caos) e o mais recente (Religiões jurídicas), depois de ler Teologia Política, de Carl Schmitt, uma questão ficou ainda mais clara para mim, o fato de que a matéria tratada nos artigos é Teologia.

Nesse sentido, a tese que se mostra cada vez mais clara é a de que, como descrito no artigo Trindade: uma heresia, a teoria trinitária, a concepção de trindade, é um grande erro teológico, ainda que tenha sido necessário para o desenvolvimento histórico do Cristianismo. E partir desse pressuposto, a escatologia Cristã majoritária também foi contaminada, seguindo a tese geral de santo Agostinho da existência de dois reinos diferentes, a cidade dos homens e a cidade de Deus, e da alegorização da era messiânica, rejeitando o milenarismo.

No artigo A natureza da Natureza, citei a tese de Louis de Broglie sobre dualidade onda-partícula da “matéria”, e Einstein afirma que, entre os físicos, “predomina a convicção de que a natureza dupla (estrutura corpuscular e estrutura ondulatória), solidamente provada pela experiência, só pode ser alcançada através desse enfraquecimento do conceito de realidade”, ou seja, eles físicos entendem não ser possível “uma teoria física que descreve a realidade física de maneira exaustiva”, segundo uma teoria de campos (Albert Einstein. A Teoria da Relatividade Especial e Geral. Trad. Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999, p. 130).

A conclusão óbvia a que cheguei, decorrente dessas duplas naturezas, é de que não só Jesus Cristo possui duas naturezas, uma humana e outra divina, mas, de certa forma, toda criação é assim constituída, segundo as conclusões da física moderna. Jesus Cristo possui duas naturezas, uma carnal, humana e visível, enquanto outra é espiritual, divina e invisível. Jesus é o homem visível, imanente à criação, e Cristo é o Espírito invisível e transcendente ao corpo, é a manifestação visível da Totalidade invisível, do Logos.

A natureza criada é, assim, dupla, corpuscular e ondulatória, imanente e transcendente. A visão de mundo segundo a física de campos indica que a realidade de tudo transcende os fenômenos locais, pois os campos se estendem infinitamente, pelo que a imanência pode ser entendida como um estado da transcendência. A matéria por nós conhecida é a interferência de campos, transcendentes. Dentre os atributos de Deus está a onipresença, pelo que Deus, ao mesmo tempo, está presente em tudo e transcendente a tudo, como na proposta que se chama panenteísta. A presença de Deus em tudo, e em nós, é narrada pelos próprios apóstolos.

Tudo isto para que procurassem a divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la, embora não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dos vossos, aliás, já disseram: ‘Porque somos também de sua raça’. Ora, se nós somos de raça divina, não podemos pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, à prata, ou à pedra, a uma escultura da arte e engenho humanos” (At 17, 27-29).

Por elas nos foram dadas as preciosas e grandíssimas promessas, a fim de que assim vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de vos libertardes da corrupção que prevalece no mundo como resultado da concupiscência” (2Pe 1, 4).

Deus é Espírito, é Razão, é Inteligência, é Consciência, é o Eterno que transcende o provisório.

O humano, como imagem de Deus, possui, além do corpo individual, Espírito, Razão, Inteligência e Consciência; a diferença entre nós e Jesus está no fato de que Nele essas qualidades atingiram o patamar máximo, o nível máximo, o potencial atingiu seu ápice, Nele toda potência humana se tornou ato, a forma alcançou a plenitude, em Corpo e Espírito.

Em termos quânticos, pode-se dizer que existe um campo quântico que permeia todo universo, com informações na forma de energia e ondas, formando campos mais concentrados que chamamos corpos. Jesus Cristo, em sua perfeição humana, estava repleto do Espírito Santo, e por isso sua Razão era plena, tinha Inteligência máxima e Consciência total, reunindo todas as informações, de todos os níveis de realidade, em um todo coerente, pelo que Ele agia cosmicamente, segundo a ordem total do universo, no campo quântico.

Segundo David Bohm, o campo quântico contém informação, que é ativa.

In effect we have in this way introduced a concept that is new in the context of physics – a concept that we shall call active information. The basic idea of active information is that a form having very little energy enters into and directs a much greater energy. The activity of the latter is in this way given a form similar to that of the smaller energy” (David Bohm and Basil J. Hiley. The undivided universe: An ontological interpretation of quantum theory. New York: Routledge, 2005 p. 35). Em tradução livre: “De fato, nós introduzimos assim um conceito que é novo no contexto da física – um conceito que devemos chamar de informação ativa. A ideia básica da informação ativa é que uma forma que tem pouca energia entra e dirige uma energia muito maior. A atividade da última é assim dada uma forma semelhante à da energia menor”.

A informação ativa pode ser levada para o âmbito humano no sentido simbólico, na medida em a psique é movida por energia simbólica, em que uma pequena informação pode despertar movimentos de grande energia. A luz movimenta a planta, o cheiro do alimento, o animal; e a informação luminosa e olfativa conduzem movimentos de energias maiores, da planta e do animal. E porque o homem é um ser simbólico, é movido por informação, muitas vezes aparentemente sutil, de baixa energia.

Informação é energia, o fóton é energia e informação, a luz é energia, e a informação pode alterar e aumentar a qualidade do pensamento e da hermenêutica da realidade. A informação corretamente processada leva à maior compreensão do mundo, em salto quântico intelectual.

Da mesma forma que os elétrons giram em torno do núcleo, em suas órbitas, o pensamento humano também é curvo, gira em torno de centros significantes de interesse da pessoa, que podem se restringir apenas à própria pessoa ou se expandir para o mundo, como ocorre com o filósofo, ou para Deus, no caso do teólogo. Quando o elétron ganha energia de um fóton ele dá um salto quântico, passando a outra órbita, e a informação adquirida também é energia que pode levar o pensamento a um salto quântico, para um nível mais elevado e mais complexo da realidade, se corretamente processada, para o que é necessária atenção aos fenômenos, inclusive aos mais sutis.

O espaço-tempo material, segundo a relatividade, é curvo, em razão da gravidade, e tudo que existe no cosmo possui energia e também curva o espaço-tempo, produzindo ondas gravitacionais, ainda que de pouquíssima energia.

Nessa mesma linha, o interesse de um indivíduo significa pensamento voltado para alguma finalidade, que produz gravidade, atraindo o pensamento e a razão da pessoa para dentro da própria pessoa, servindo a seus interesses pessoais e egoístas. Nós fomos acostumados a pensar como se fôssemos separados de tudo o mais, por efeito da Queda, e por isso nossos pensamentos se processam automaticamente nesse sentido, de forma egoísta. Daí porque a diligência da pessoa, para que não tenha ideia torta, deve ser para elevar seus pensamentos a Deus, para conduzir sua razão ao Logos, à Razão coletiva e total, seguindo o Caminho de Jesus Cristo.

Se até a luz faz curva quando passa por um campo gravitacional, também os pensamentos fazem curva, e quanto mais próximo da pessoa estiver o pensamento, maior a ação da gravidade, mais o argumento curva o raciocínio na direção do seu interesse individual. Portanto, a informação, mesmo simbólica, tem peso psicológico e gravidade real, ainda que praticamente imperceptível atualmente em termos energéticos quantitativamente mensuráveis, mas claramente compreensível na capacidade de alterar o comportamento da pessoa qualitativamente.

Daí a importância fundamental das corretas análise e síntese da informação e do processamento racional da informação, pois o espírito equivocado, o sentido mal interpretado, pode levar a ações com grande poder destrutivo, nos âmbitos individual e coletivo.

Por isso podemos dizer que a relatividade é filosoficamente equivocada, ao desprezar o sentido subjetivo da realidade, o nível mais sutil dos fenômenos. A linguagem matemática da relatividade exclui o infinito, e também exclui o sentido da vida, impede a criação simbólica, pretendendo uma certeza, uma objetividade impessoal, que não existe na realidade.

Einstein defende uma ciência materialista que não pertence à natureza humana, “de tal maneira que o psíquico como tal seja eliminado do encadeamento causal do ser, de modo que ele, por conseguinte, não se manifeste em parte alguma como um elo independente nas ligações causais” (Albert Einstein. A Teoria da Relatividade Especial e Geral. Trad. Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999, p. 117), pois “conceitos provenientes da esfera psicológica, como dor, meta, finalidade etc” pertencem “ao pensamento pré-científico” (Idem, p. 116).

Como o peixe que não percebe que mora no ambiente aquático, Einstein ignora que a própria ciência está inserida em um mundo humano, que é finalístico, pois a prática científica não possui neutralidade intencional, a atividade humana também na ciência possui objetivos, seja a busca de tecnologia que permite o enriquecimento, a dominação do outro ou da natureza, ou a procura do sentido da vida, do Logos. Portanto, a própria ação científica possui uma meta e produz gravidade, ou antigravidade, dependendo dessa meta.

Também não é possível atingir o objetivo de Einstein para “fazer com que os conceitos fundamentais do pensamento científico desçam do olimpo platônico”, livrando “estes conceitos dos tabus que aderiram a eles, de modo a adquirirmos maior liberdade na formação de conceitos” (Idem, p. 117), na medida em que os conceitos fundamentais de mundo moldam a nossa própria compreensão da realidade, e somente há efetiva liberdade na formação de conceitos novos, decorrentes de novos campos do conhecimento, desde que integrados ao todo do saber científico. A alteração dos conceitos fundamentais levaria ao caos social e comunicacional, diante da impossibilidade de se conseguir comunicação sem uma base comum conceitual. Quando o conceito é formado, ele define a própria coisa conceituada, dentro de um contexto e visão de mundo, e sua alteração somente pode ocorrer se a nova realidade, decorrente da nova concepção, possuir coerência lógica, ou Logos, incluindo todos os conceitos existentes. E nem Einstein, e nem mesmo qualquer outro materialista, conseguiu a coerência de mundo que a visão espiritual e religiosa nos fornece. A hipótese de criar bilhões de outros universos (a teoria do multiverso), para descartar o Desenho Divino, de modo que o nosso universo não seja único e tenha coerência, não é razoável, além de ferir a navalha de Ockham.

Existe, outrossim, um Logos, desde o princípio, com sua coerência linguística e de visão de mundo que possibilita a formação de nossos conceitos. O Logos é a Ordem transcendente, que também é imanente, pois presente em todas as coisas, e por isso permite a relação entre os eventos no espaço-tempo, sob a mesma lógica, como na relatividade. E o próprio Einstein, sabendo ou não, trabalhou dentro do Logos, pois somente assim pôde alcançar seus princípios relativísticos, que são de aplicação limitada.

E em relação à limitação da relatividade, é possível dizer que a simultaneidade do agora, que é contestada pela teoria de Einstein, pode ser transferida para a simultaneidade do Logos, do Espírito, que transcende o materialismo, pois o Logos é pressuposto e condição da própria formação da relatividade. O campo do Logos é premissa de inteligibilidade, do qual não se pode sair sem cair na irracionalidade.

O Espírito infinito, o Logos infinito, é pressuposto para a existência da matéria finita, como estado particular daquele campo. A própria ideia de Big Bang, decorrente da relatividade, aponta para a singularidade, para o infinito.

No campo jurídico, do mesmo modo, o Direito, como Logos jurídico, é pressuposto do Estado, este visto como um momento finito, um estado da consciência jurídica, um momento do movimento simbólico coletivo, um estado da informação coletivamente compartilhada.

E por isso Jesus Cristo, em sua dupla natureza, humana e divina, que também se aplica a nós, manifesta no mundo visível o Reino de Deus, comporta-se em corpo segundo o Logos, com a informação quântica máxima, perfeita, conforme a Unidade do universo físico e espiritual, sendo esse o Caminho, o Método, de se chegar a Deus, para que a nossa experiência seja plenamente humana e plenamente divina, para que a Vida tenha sentido, pois o correto conhecimento de Deus, com o respectivo exercício prático da Teologia, torna real e material o Reino de Deus, a expressão visível da Totalidade cósmica, o Logos, atualmente invisível, mas que em algum momento chega à consciência humana, ainda que para isso, em alguns casos, o corpo físico tenha que ser transcendido…

Trindade: uma heresia.

A palavra “cristo”, de origem grega, tem a mesma acepção do termo “messias” hebraico, significando “ungido”, a pessoa abençoada, escolhida por Deus para um serviço sagrado, para uma função especial. Moisés ungiu Aarão para ser sacerdote. Samuel ungiu Saul e Davi para serem reis de Israel. E mesmo Ciro, um não judeu, um pagão, foi chamado ungido, ou messias, ou cristo do Senhor (Is 45, 1), pois libertaria os cativos de Israel.

Nesse sentido, Jesus é O Cristo Senhor, o Cristo dos cristos, o que Presenta Deus entre os homens. Toda autoridade vem de Deus, e por isso, como o rei é uma autoridade, assim como o presidente ou primeiro-ministro, Jesus é o Rei dos reis, o Presidente dos presidentes. Juridicamente, Jesus exerce a função de preposto de Deus entre os homens, de procurador Absoluto, encarregado de mostrar o máximo que a carne pode presenciar de Deus, que é Espírito. Quando Jesus, O Cristo Redentor, o Ungido com o Espírito Santo para resgatar, redimir com seu corpo, a humanidade para Deus, ensinou-nos a orar, e em diversas outras passagens do Evangelho, mostrou-nos que existe apenas Um e Verdadeiro Deus, que não é trino e não é uma trindade.

Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes. Portanto, orai desta maneira: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu Nome, venha o teu Reino, seja feita a tua Vontade na terra, como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos exponhas à tentação mas livra-nos do Maligno. Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos” (Mt 6, 8-15).

Estando num certo lugar, orando, ao terminar, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos’. Respondeu-lhes: ‘Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu Nome; venha o teu Reino; o pão nosso cotidiano dá-nos a cada dia; perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’” (Lc 11, 1-3).

A oração indica que Deus é nosso Pai, e não apenas de Jesus Cristo, e que Deus está nos céus, pois Deus é Espírito. Em sua oração, Jesus demonstra haver um só Deus e Pai de Todos, Criador de Todas as coisas, e também Criador de Jesus Cristo, pelo que, ainda que Jesus Cristo tenha status inigualável na criação, Jesus Cristo é parte da criação, como nós. E mesmo que Jesus, enquanto encarnação do Logos, a primeira criação e modelo por meio do qual tudo foi criado em Unidade, esteja acima de todos nós, Ele está abaixo de Deus. Como Filho de Deus, condição que transmitiu a nós, sabe que Deus está acima de todos e que apenas Deus tem todo o conhecimento, e sua função como Messias, como Ungido é exatamente de nos redimir e nos conduzir ao conhecimento de Deus e a Deus, e à Unidade da criação, à unidade cósmica.

Como nosso condutor e redentor, Jesus é o Caminho, o Método de chegar a Deus, e por mais que Ele tivesse percorrido o caminho e seja o Caminho, Ele não é o destino final, pois o destino final é o próprio Deus, o Pai, e não Jesus. Enquanto encarnação, como humanidade, como Filho, Jesus pode ser o destino, mas como Espírito, o destino é Deus.

Mas, quando ele disser: ‘Tudo está submetido’, evidentemente excluir-se-á aquele que tudo lhe submeteu. E, quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos” (1 Cor 15, 27-28).

A trindade é, portanto uma heresia, a maior heresia do cristianismo, que divide o Deus Único, divide a criação e nos separa de Deus levando a uma interpretação equivocada da Realidade. O Pai é o Criador, o Filho é a criatura, que integramos, e o Espírito Santo é a Presença do Criador na criatura, a imanência de Deus na criação. O Espírito Santo é a Razão, a Harmonia que Une a parte ao Todo, mantendo a Unidade do Todo na diversidade criada, que foi recuperada na humanidade por Jesus Cristo. Podem existir razões ou espíritos que ligam partes a unidades maiores, mas apenas o Espírito Santo liga a parte ao Todo, pois é o Todo na parte.

Deus criou juntas todas as coisas, em Unidade, em uma Substância inteligente, o Logos, e essa unidade da criação foi rompida pela humanidade, pela Queda, criando um mundo à sua imagem carnal. A humanidade é a unidade da inteligência criada, mas o materialismo decorrente da Queda, quando a parte quis fazer o papel do todo, levou o homem a perder sua conexão intuitiva com Deus. Nesse ponto, fazendo um paralelo com a ciência moderna, a relatividade é máximo que a racionalidade materialista decorrente da Queda pode alcançar, e não permite atingir ou entender a unidade quântica. A Unidade da criação e cósmica foi recuperada por Jesus Cristo, que encarnou o Espírito Santo, o Logos, que existia desde o princípio, não apenas (re)criando o conceito de humanidade, como unidade de todos os homens, além da materialidade, independentemente de tribos, raças e nações, mas restabelecendo o conceito de criação ligada diretamente ao Criador, unida ao Criador. Se a primeira parte da atividade de Jesus Cristo já foi aceita e incorporada nos direitos humanos, todavia, a interpretação da dignidade humana se tornou equivocadamente materialista; pelo que a parte principal da mensagem e da obra de Jesus Cristo ainda não é aceita pelas autoridades científicas, a realidade não local e onipresente do Espírito, o fato de que o Espírito Santo habita no homem, fazendo dele Tenda do próprio Deus, não apenas Jesus Cristo, mas todo aquele que adora o Pai em Espírito e Verdade, e todos temos esse potencial, bastando que aceitemos Jesus Cristo como Messias.

Seguir Jesus é se submeter à Vontade do Pai, e aceitar que Ele é Bom e nos governa para nossa salvação, em Dia por nós desconhecido, futuro, mas certo.

E comprovando que Jesus não é o próprio Deus, ele disse expressamente que nem ele, como Filho, sabia o Dia do Senhor. “Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas só o Pai” (Mt 24, 36).

O Bom é um só” (Mt 17, 19), Deus, que não é uma trindade. “Jesus respondeu: ‘Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão só Deus! Conheces os mandamentos: Não cometas adultério, não mates, não roubes, não levantes falso testemunho; honra teu pai e tua mãe’” (Lc 18, 19-20).

Jesus respondeu: ‘Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus. Tu conheces os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe’” (Mc 10, 18-19).

Somente Deus é Bom, e por isso apenas somos bons quando fazemos Sua Vontade, quando agimos coletivamente, mas a bondade não é nossa, e sim de Deus, o Espírito Bom que age em nós. Como Jesus Cristo cumpriu a vontade do Pai até o fim, e atuou plenamente conforme o Espírito Santo, também pode ser considerado bom, porque já consumou sua obra, porque recuperou nossa humanidade, a unidade da espécie e da criação, do cosmos, estando à direita do Pai. Adão e Jesus foram os únicos criados pelo Espírito, mas Adão não manteve sua perfeição humana. Assim, somente Jesus foi totalmente humano, mantendo sua perfeição humana até a injusta morte de cruz, foi o único que agiu plenamente pela Razão, pelo Logos, e por isso, para nós, do ponto de vista humano, Ele é Deus, pois Deus é o Logos, a Razão, e nada na vida de Jesus violou o Logos. Ainda assim, Jesus é criatura, perfeita, e criadora, mas não o próprio Deus, o Espírito incriado, que é maior que tudo e todos.

Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar da mão do Pai. Eu e o Pai somos um‘. Os judeus, outra vez, apanharam pedras para apedrejá-lo. Jesus, então, lhes disse: ‘Eu vos mostrei inúmeras boas obras, vindo do Pai. Por qual delas quereis lapidar-me?’ Os judeus lhe responderam: ‘Não te lapidamos por causa de uma boa obra, mas por blasfêmia, porque, sendo apenas homem, tu te fazes Deus’. Jesus lhes respondeu: ‘Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? Se ela chama de deuses aqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode ser anulada — àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo dizeis: ‘Blasfemas!’, porque disse: ‘Sou Filho de Deus!’ Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis em mim; mas, se as faço, mesmo que não acrediteis em mim, crede nas obras, a fim de conhecerdes e conhecerdes sempre mais que o Pai está em mim e eu no Pai’” (Jo 10, 29-38).

Jesus é a parte perfeita é que o Todo manifesto, como no princípio holográfico ou holístico, e não trinitário, e permitiu, com sua morte e ressurreição, que difundiu o Espírito Santo, que nós, como partes, também reflitamos o Todo, permitiu que também sejamos imagem do Deus Perfeito, agindo segundo o Espírito Santo, o Logos, a Razão Plena.

A física moderna informa que é impossível definir os limites internos e materiais da criação, que é uma totalidade indivisível e incomensurável. Do mesmo modo, Jesus Cristo, pela Graça de Deus e pela obediência do Seu Messias, rompeu com o rompimento provocado por Adão entre nosso Espírito e o Espírito de Deus, rompeu com o limite Espiritual entre Criador e criatura, de forma que, em um limite indefinível, nosso Espírito, por meio de Cristo, enquanto Espírito Santo em nós, é o próprio Espírito de Deus, o próprio Deus Pai, agindo em nós.

Antes de Jesus, por causa da Queda, a imagem de Deus em nós estava borrada, nosso Logos estava deturpado, nossa razão não era plenamente racional, tendo a vida de Jesus recuperado o modelo de Deus em nós, pela difusão do Espírito Santo, que pode chegar àqueles que buscam as coisas do alto, o Todo, Deus, segundo Jesus, agindo segundo o Espírito Santo de Deus, a Vontade do Pai, a Própria Razão, o Logos. E Jesus também foi claro ao dizer, contrariando a ideia de trindade ou de Deus triuno, que “o Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28).

Irineu de Lião, no seu livro “Contra as heresias”, em que refuta os argumentos gnósticos, já dizia que há Um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos. “Pelas próprias palavras do Senhor é fácil demonstrar que ele admite um só Pai, criador do mundo, modelador do homem, anunciado pela Lei e os profetas; que o Senhor não conhecia nenhum outro e que o Pai é o Deus que está acima de todas as coisas; que mostra e comunica a todos os justos, por meio dele, a filiação adotiva, em relação ao Pai, que é a vida eterna” (Contra as heresias. Trad. Lourenço Costa. São Paulo: Paulus, 1995, p. 150). E em outra passagem, afirma: “O querer transferir este universo aos números o tiraram dos pitagóricos” (Idem, p. 164). Portanto, como já exposto tem “Monoteísmo: A Santíssima Unidade” (https://holonomia.com/2016/12/10/monoteismo-a-santissima-unidade/), fazer do Deus Único uma trindade é uma heresia, que tem origem na incorporação de ideias pitagóricas no cristianismo, contrariando a essência do Monoteísmo.

O conceito trinitário é fenomenológico, decorrente da aparência divina para os homens, pois como o homem não pode contemplar diretamente o Criador, o contato do homem com Deus ocorreu historicamente por meio do Espírito Santo, o Espírito de Deus em nós, ou por meio de Jesus Cristo, a encarnação do Espírito Santo em forma humana visível, Suas manifestações. Deus não pode ser visto diretamente pela carne, por dentro da criação, pelo que o vemos por suas manifestações como Espírito Santo, o fenômeno numinoso na criação em geral, e como Jesus Cristo, a encarnação humana do Espírito Santo. Quando O virmos em Espírito, poderemos contemplar o próprio Deus e também Jesus Cristo, mas não haverá um Espírito Santo distinto de Deus para ser contemplado. Assim, a trindade é uma construção humana, um conceito humano. Contudo, ontoteologicamente, por essência, Deus é Um, o Criador. Ainda que, do interior da criação, somente consigamos enxergar o vértice da criação, o Logos pelo qual tudo foi feito, o Criador é Um só, o Deus Todo-Poderoso, o Altíssimo, que é imanente a tudo criado, e também é transcendente, pois Deus é maior que a criação.

A trindade foi incorporada como dogma cristão no Concílio de Niceia, afastando o cristianismo da Verdade, e daí sua heresia, fazendo com que os cristãos se esquecessem de que são templo do Espírito Santo, relegando Deus apenas à transcendência.

Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus? … e que, portanto, não pertenceis a vós mesmos? Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo” (1 Cor 6, 19-20).

Se nosso corpo é templo do Espírito Santo, quando Ele habita em nós, como em Jesus, o Reino de Deus está em nós, pelo que o Reino de Deus é deste mundo, somente não o era do tempo político-jurídico romano.

Com base na heresia trinitária, a escatologia cristã se firmou segundo o entendimento de santo Agostinho dizendo que não haveria o milenarismo descrito no capítulo 20 do Apocalipse, de que não haveria a era messiânica esperada pelos judeus, e assim a escatologia se tornou apenas transcendente. A trindade, nesse sentido, também foi uma forma de separar o cristianismo do judaísmo, negando e ocultando o fato incontroverso de Jesus ser judeu, o Cristo judeu, de Ele ser, antes de tudo, o Messias Judeu. Por influência romana, os cristãos abandonaram uma teologia política esperando a Justiça entre os homens, a realização do Reino de Deus na história humana, pois o Reino de Deus seria apenas espiritual, na cidade de Deus, uma ideia muito conveniente para o império, a cidade dos homens

E como os cristãos não mais esperavam o reino da Justiça aqui, a porta política ficou aberta para ideologias ainda piores que o trinitarismo, permitindo que o marxismo se desenvolvesse…

E ainda hoje, o mundo ocidental, que se diz majoritariamente cristão, continua negando o Evangelho, a Boa Notícia, continua negando a humanidade e o Reino de Deus, continua permitindo o governo tirânico humano, e sofre as consequências desse erro, possibilitando aberrações como a defesa do aborto, de ideologias antinaturais como as de gênero, de guerras pelos mais variados motivos (sempre econômicos) e outras propostas que estão acabando com nossa civilização.

Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10, 42-45).

Por isso, como afirma Paul Washer, o domingo é o maior dia da idolatria, pois as pessoas adoram um Deus que não conhecem (https://www.youtube.com/watch?v=Ji3BbPqwPKY), e muitas pregações são odiosas, porque pregam o dinheiro, a imagem, e não o Evangelho (https://www.youtube.com/watch?v=Uk2m-H0oeUo).

Muitos sacerdotes, como muitos políticos, dominam as pessoas e as tiranizam, usam o privilégio da função sacerdotal, da função pública, em benefício próprio, quando a posição de privilégio é para o serviço.

Jesus é O Cristo Redentor, O Cristo máximo, pois foi o que viveu segundo o Espírito Santo para compartilhar o Espírito Santo com a humanidade, por sua paixão e ressurreição.

Jesus Cristo é O Messias porque cumpriu sua função messiânica, cumpriu seus deveres, cumpriu os mandamentos, serviu a todos com o Poder de Deus, ao invés de servir-se desse Poder, e como toda autoridade, todo poder, vem de Deus, quando os governantes forem cristos, ungidos pelo Espírito Santo, pois cristo é um serviço sagrado, e não uma pessoa, quando as autoridades humanas governarem pelo Espírito, em nome de Deus, do Logos, e não para seus grupos partidários, quando todos formos cristos, Um com O Cristo Senhor e com Deus, quando formos messias seguindo O Messias, estaremos no Reino de Deus.