A Verdade e a queda do falso profeta

Além de artigos e preposições, o nome deste texto traz três substantivos e um adjetivo. Substantivos indicam seres ou entes do mundo, incluindo ideias e ações. Adjetivos, por sua vez, definem qualidades ou características dos seres ou entes. Ainda que o título se refira a uma simbologia religiosa de mundo, que penso ser permanentemente atual, pode ser atualizada a linguagem da escrita para significar “a racionalidade e a falseação (Popper) da incoerência científica”.

Portanto, o artigo pressupõe a existência de ideias, como verdade e racionalidade, as quais possuem afinidade significativa, além de importância simbólica no meio social, porque expressam valores elevados dentro da comunidade, que indicam confiança e unidade simbólica. Além disso, essas ideias são correlacionadas a outras, estas qualificadas, falso profeta e incoerência científica, postulando um movimento, a queda ou a falseação, segundo um juízo ou julgamento do hodierno conhecimento (científico, político e religioso).

Não há dúvida de que existe movimento físico, ou de que também haja movimento de ideias, a dúvida consiste no sentido desse movimento, se há sentido, se estamos indo em alguma direção que possa ser previamente concebível, ou se não há previsibilidade no sentido geral do movimento cósmico, neste incluídas as sociedades humanas.

O tema geral do texto é o conhecimento da realidade, em sua verdade ou racionalidade, e sua divulgação oficial por aqueles que dizem possuir (e presumivelmente se portar segundo) esse conhecimento, o que vale tanto para as religiões como para as ciências. O texto é sobre epistemologia, sobre filosofia da ciência, e da religião, e sobre o conflito aparente entre as respectivas ideias de mundo.

Aproveitando os descobrimentos mais recentes da ciência, especialmente da física quântica, o artigo parte do pressuposto de que não há como separar, durante a observação científica, ou na análise filosófica dos fenômenos, o arcabouçou teórico ou instrumental daquilo que é considerado dado observado, porque ocorre uma fusão de ambos no momento da observação, que na física implica o que é chamado colapso da função de onda, pelo qual a medição acarreta a destruição, ainda que momentânea, da construção matemática adotada no procedimento, devendo ser renovada aquela construção em nova experimentação.

Segundo os últimos descobrimentos científicos, a experimentação da realidade, inclusive quanto às sensações humanas, em grande parte, se não totalmente, é dependente do conhecimento ou condicionamento teórico da pessoa.

Assim, conhecer é experimentar, conhecer significa unir-se, intelectual e fisicamente, ao conhecido, o que restaura a visão bíblica de conhecimento, em que conhecimento de Deus significa a união com Deus, porque quando se diz no texto sagrado que um homem conheceu uma mulher isso significa a união sexual entre eles.

A proposta deste artigo, portanto, refuta a concepção cartesiana, atualmente dominante, segundo a qual existiria independência entre pensamentos e o mundo sensível, entre res cogitans e res extensa, entre ideias e corpos.

Desse modo, o texto assume a existência de uma realidade ou racionalidade do mundo que não foi compreendida por Descartes, e pela ciência que o sucede há séculos, entendimento que continua sendo divulgado oficialmente pela academia, pela religião e pelo poder político, entendimento que é cientificamente incoerente, o que corresponde à ideia religiosa de falso profeta, daquele que divulga mentiras e falsidades pretendendo, ou fingindo pretender, expressar ideias racionais e coerentes.

O texto assume uma visão Monoteísta e Cristã de mundo com unidade nas simbologias científica, religiosa e política da realidade, que também não foi compreendida pela cristandade, o que é causa remota da falha cartesiana. Descartes seguiu uma dualidade defendida por Agostinho de Hipona, dizendo haver duas cidades, a cidade dos homens, no meio político, e a cidade de Deus, como Igreja, que conduz a vida espiritual, dualidade incompatível com o Monoteísmo, pois Deus, o Logos, regula dos pensamentos à vida política da comunidade, sendo essa divisão inconciliável com a concepção Monoteísta Cristã, que não distingue vida social de vida individual ou espiritual. O erro de Agostinho de Hipona, de seu lado, decorre da concepção trinitária que domina a Teologia Cristã, que se perdeu, está no deserto, até que seja restabelecido o Monoteísmo, como narrado no Apocalipse, e exposto no artigo “Política: Fraternidade, igualdade e liberdade” (https://holonomia.com/2017/12/13/politica-fraternidade-igualdade-e-liberdade/).

Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e sobre as cabeças sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com um cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil duzentos e sessenta dias. Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus Anjos, mas foi derrotado, e não se encontrou mais um lugar para eles no céu” (Ap 12, 1-8).

Em seu Curso Online de Filosofia, Olavo de Carvalho fala do mergulho no Ser, a realidade última, que ocorreu por duas vias, aproximadamente ao mesmo tempo, no que é chamado período axial da História, a via pneumática, pelos profetas de Israel, e a via noética, pelos filósofos gregos, que penso podemos chamar atualmente de caminho revelado e caminho científico ou filosófico, os quais se fundiram no Cristianismo. Contudo, a via noética era provisória, nos seus fundamentos, porque o conhecimento científico deve evoluir até se unir ao pneumático, e a fusão precipitada, e tida como definitiva, acabou cristalizando um erro em forma de dogma teológico, a trindade, de origem pitagórica e platônica, mas fruto de uma ciência incompleta e parcial da realidade. O moderno conhecimento noético não fala em triângulos ou em números, mas em Unidade do Ser, em número de Fibonacci e geometria fractal.

Da trindade decorreu, ainda que implicitamente, a ideia de duas cidades, que, penso, consolida a apostasia predita pelo apóstolo Paulo, e daí o Cristianismo saiu da História (a Mulher fugiu para o deserto), o que estava na Ciência de Deus, mas como erro permitido, algo próximo à história de José do Egito. Tento restaurar uma proposta de História de viés Cristão no texto “Ciência x tecnologia” (https://holonomia.com/2017/11/28/ciencia-x-tecnologia/).

Contudo, diante da separação, ou apostasia, que se reforçou com Descartes e permanece até hoje, a Teologia não incorpora a Ciência e vice-versa, não havendo uma Teologia científica, por conta do dogma, ou uma Ciência teológica, em virtude do cartesianismo e do kantismo. Para isso é preciso rever o conceito de trindade, para entendê-lo não como três pessoas divinas, e sim de forma holística, num panenteísmo, Deus no homem, tendo como exemplo Jesus Cristo, que não é uma pessoa de três deuses, porque “o Pai é maior que eu”, “eu e o Pai somos um”, e não três, e porque sobre aquele dia, “nem os anjos dos céus, nem o Filho, só o Pai” sabe. Recentemente li o livro “Eu e o Pai Somos Um”, disponível na internet, na mesma linha citada http://www.adventistas.com/2011/11/30/livro-gratis-eu-e-o-pai-somos-um-e-o-espirito-santo-nao-faz-parte-da-trindade/.

Daí porque não chegamos à “unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa”, conceito de filosofia dado por Olavo de Carvalho, que é o objetivo do Cristão, segundo Jesus Cristo, no Evangelho de João, capítulo 17, 20-21, para que o homem viva no corpo finito segundo uma razão infinita, segundo o Logos, porque há um só Espírito, que é o Espirito Santo de Deus, que é Deus, porque Deus é Espírito, que é o Espírito que encarnou em Jesus Cristo, que é o Espirito que habita em nós.

O Cristianismo é a ciência cósmica da humanidade, que se realiza na História, e como a civilização chegou à sua unidade material nos dias de hoje, estamos perto da presença (parousia) dessa Ideia na vida planetária, até como uma necessidade de sobrevivência, o que depende da união teológica monoteísta, há muito profetizada, na História, em consequência da ação de Deus em resposta à falta humana, como ocorreu no dilúvio, no êxodo e na ressurreição de Jesus Cristo. Isso ocorrerá antes da dominação muçulmana (ou mussulmana) mundial, porque O Profeta é Jesus Cristo, sendo Maomé um profeta, o que necessariamente será reconhecido pelos leitores do Alcorão, porque o Ser é o que Deve Ser, o que se desenvolve no tempo, no devir.

Nos planos científico e político, capitalismo e socialismo são expressões de incoerência científica, porque o capitalismo é fundado numa visão Cristã protestante de mundo, cuja prática contraria os valores cristãos, enquanto o socialismo, que, diante da transferência do Reino de Deus para o além pela cristandade, arrefecendo a necessidade de justiça humana, o socialismo assumiu o domínio monopolista da ideia de justiça social, a qual é objetivo da religião Monoteísta desde o Antigo Testamento até o Alcorão, quando sua prática (do socialismo) é o controle do estado pelo partido, cujos membros fazem as vezes de casta sacerdotal, usufruindo de benefícios materiais e sociais exclusivos, que não são acessíveis à grande massa da população, repetindo os erros dos escribas e fariseus que condenaram Jesus.

Hoje, portanto, o mundo é governado pela Besta, que reúne as nações em poder político mundial, seja de viés político capitalista ou socialista, baseando-se em ciências, e ciências políticas, equivocadas, ou seja, baseando-se em incoerências científicas, de Adam Smith a Karl Marx, porque os cientistas de hoje são os sacerdotes ou profetas de ontem, e quando não dizem a verdade, quando seu discurso é mentiroso, quando pretendem ser expressão da racionalidade, mas são fraudes, ou quando suas palavras não encontram respaldo na realidade, podem ser chamados de falsos profetas.

Nisto vi que da boca do Dragão, da boca da Besta e da boca do falso profeta saíram três espíritos impuros, como sapos. São, com efeito, espíritos de demônios: fazem maravilhas e vão até aos reis de toda a terra, a fim de reuni-los para a guerra do Grande Dia do Deus todo-poderoso. (Eis que eu venho como um ladrão: feliz aquele que vigia e conserva suas vestes, para não andar nu e deixar que vejam a sua vergonha.) Eles os reuniram então no lugar que, em hebraico, se chama ‘Harmagedôn’ (Ap 16, 13-16).

O conflito atual em torno de Jerusalém não é coincidência, é cumprimento profético, porque Jerusalém é o centro do mundo, marca o ponto de confluência entre Ocidente e Oriente, e mostra que, de fato, a religião controla a política.

Como a Verdade continua sendo rejeitada, porque para as visões ideológicas e partidárias de mundo a verdade é parcial e particular, o mundo dos partidos deve cair junto com os que os sustentam, o que está ocorrendo, porque as incoerências científicas continuam negando a unidade da Justiça. As bestas preferem a guerra a aceitar a Verdade, o que vale tanto para o Brasil como para o mundo.

Vi então a Besta reunida com os reis da terra e seus exércitos para guerrear contra o Cavaleiro e seu exército. A Besta, porém, foi capturada juntamente com o falso profeta, o qual, em presença da Besta, tinha realizado sinais com que seduzira os que haviam recebido a marca da Besta e adorado a sua imagem: ambos foram lançados vivos no lago de fogo, que arde com enxofre” (Ap 19, 19-20).

Portanto, a Besta e o falso profeta estão em queda, porque a Verdade já é compreensível, e somente o mundo julgado pela Verdade, conforme sua versão humana, Jesus Cristo, é um mundo de paz: “Vi então tronos, e aos que neles se sentaram foi dado poder de julgar. Vi também as vidas daqueles que foram decapitados por causa do Testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e dos que não tinham adorado a Besta, nem sua imagem, e nem recebido a marca sobre a fronte ou na mão eles voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20, 4).

A Verdade pressupõe unidade científica, religiosa e política, e por isso o governo de Cristo, do Ungido com o Espírito Santo, o governo movido por motivo santo, por motivo justo, é o governo da coerência científica, pautado pelo conhecimento integral da realidade, para realização da Humanidade de Cristo em todos os humanos, de modo que todos sejamos ungidos pelo Espírito Santo, que todos atuemos segundo uma racionalidade plena, que todos sejamos Cristos, expressão da Verdade, um com o Pai.

Humanoritmo e a emergência do Reino de Deus

A leitura é importante para obtenção e ampliação de conhecimento, e boa leitura é fundamental para que o conhecimento adquirido seja correto, aprimorado e aperfeiçoado.

Outra forma de aquisição do saber é pela tradição oral, como ocorre, e ocorria, principalmente, quando os sábios e/ou anciãos transmitem(iam) suas experiências às gerações mais novas. Aliás, como ninguém nasce sabendo ler e escrever, o primeiro aprendizado é sempre oral.

O estudo de textos escritos é mais rápido e mais frio, em comparação com o aprendizado oral, e este também pode ser alterado durante o passar do tempo, pelos diversos ruídos provocados durante a comunicação. Um dos principais ruídos, se não o principal, decorre da dissonância entre o significado falado e o manifesto pelo comportamento daquele que emite o discurso. Os vícios humanos acabam, desse modo, se transferindo para a tradição oral, deturpando o conhecimento original que deveria ser transmitido.

Isso ocorreu no tempo dos judeus, quando Jesus Cristo contestou a tradição das autoridades de seu tempo. “Os escribas e fariseus estão sentados na cátedra de Moisés. Portanto, fazei e observai tudo quanto vos disserem. Mas não imiteis as suas ações, pois dizem, mas não fazem” (Mt 23, 2-3).

A divergência entre discurso e ação continuou na chamada Idade Média, em que assassínios, explorações humanas e guerras sob o argumento de serem ações em nome de Deus, do Deus Cristão, ocorreram amplamente, quando a mensagem de Jesus Cristo é de Justiça, de santidade, de perdão e de amor ao próximo.

Atualmente, no mesmo sentido, a política internacional e as políticas nacionais são dominadas pelos discursos mentirosos, reina a pós-verdade, como regra, inclusive pelos meios de comunicação oficial, pela grande mídia, com seus interesses, muitas vezes escusos, falseando as notícias.

E aqueles que deveriam nos mostrar, mostrar ao público, a Verdade, os cientistas e os religiosos, também transmitem conhecimentos equivocados, ainda que parcialmente corretos, mais por inconsciência e ignorância do que por má-fé, o que não ocorre, majoritariamente, no meio político.

Daí a importância da leitura, como salientado. Faço esta introdução porque leio neste momento “A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas”, de Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi. A obra de Fritjof Capra foi fundamental para minha formação intelectual, por meio da qual fui introduzido à física moderna, lendo “O Tao da Física” e depois “O Ponto de Mutação”. O problema de Capra, e de muitos cientistas e religiosos modernos, é não conhecer a profundidade da doutrina de Cristo, que alcança a mais pura ciência, porque Cristo é a Razão, é o Logos.

Talvez por isso Olavo de Carvalho tenha sido tão crítico a Capra em “A Nova Era e a Revolução Cultural”, questionando a proposta de mudança das tradições por Capra e Gramsci. Se o caos social provocado pelas ideias comunistas de Gramsci, tentando destruir a família e as tradições Cristãs, são evidentes; de outro lado, a mudança na perspectiva da ciência em relação à realidade mais profunda é necessária, pois aponta para a Verdade Cristã, para a Unidade material e espiritual do Cosmos. São Paulo entendeu isso muito bem: “Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4, 4-6).

Há um só Cosmos, há um só Logos. Por isso, o fator Jesus Cristo é essencial, pois define a humanidade plena, unida ao universo, que age pelo Espírito Santo, pela Razão Santa, pela Razão Plena, pela Razão Cósmica. Só Jesus Cristo salva é uma Verdade ontológica, pois o nome “Jesus” tem o significado de “Deus Salva”, e “Cristo” é aquele que recebe a unção com o Espírito de Deus, que é Logos, é racional, portanto Jesus Cristo mostrou o caminho da salvação, individual e coletiva, encarnado e entregando sua vida à Vida, à Razão Plena, à Inteligência completa, e só Jesus Cristo salva porque apenas o Logos salva, na medida em que qualquer pessoa razoavelmente esclarecida sabe que burrice mata, a ignorância mata, e atualmente é possível que a ignorância mate mais que a própria maldade pura.

A Unidade física e espiritual do Cosmos, hoje descoberta pela física, já era conhecida por Jesus Cristo, que explorou sua humanidade em plenitude, percebendo que a Humanidade é Una, é uma, Unidade que Ele recebeu pelo Espírito Santo de Deus, recebeu de cima, do Pai, do Logos, a totalidade original e emergente na humanidade em Jesus Cristo.

Ao contrário da ciência contemporânea, que se ampara em números, estatísticas e algoritmos, Jesus Cristo se apegou às pessoas, amou a todos, conhecendo seus comportamentos, seus ritmos, a ciência de Jesus Cristo é baseada em humanoritmos, no cálculo de sentimentos e ações humanas, na contagem do tempo humano, nos cálculos dos comportamentos das pessoas, individual e coletivamente, nas eras ou éons da humanidade.

Pleno conhecedor da visão sistêmica da vida, da teoria do caos, Jesus sabe que a única forma de controle social possível está na educação, na obediência à Lei e ao Seu Espírito, no conhecimento de Deus, de Sua Vontade, do Logos, e na ação conforme esse saber, por vontade interna das pessoas.

Na concepção sistêmica existe o conceito de “propriedades emergentes”, que “são as propriedades novas que surgem quando um nível superior de complexidade é atingido ao se reunir componentes de complexidade inferior” (Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. Trad. Mayra Teruya Eichemberg, Newton Roberbal Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 198).

Pode-se entender que o Reino de Deus é uma propriedade emergente da atividade de Jesus Cristo sobre o planeta, depois de cumprir sua missão como Ungido de Deus, encarnando o Logos, Ele difundiu Seu Espírito, pela cruz, e criou condições para a realização do Reino, época em que as pessoas pautarão suas vidas por um nível superior de humanidade que apenas o Pai sabe quando ocorrerá. “Uma escola de pensamento afirma que as propriedades do nível hierárquico superior não são, em princípio, dedutíveis dos componentes do nível inferior” (Idem, pp. 200/201).

O livro de Capra também fala da teoria de Gaia, da hipótese do planeta como um ser vivo. Contudo, essa hipótese pode ser tida como limitada, sendo mais adequado ver todo o Universo, o Cosmos, como um sistema vivo, proposta que pode ser inferida de “Universo Autoconsciente”, de Amit Goswami.

Parece que é essencial reconhecer o estabelecimento da ética e valores como atividades científicas autênticas.

Desenvolvimentos recentes na física quântica já sugerem a possibilidade de uma contribuição fundamental da física em geral para essa questão. O experimento de Alain Aspect indica conclusivamente que nossa separatividade do mundo é uma ilusão. Com base apenas nesses dados, algumas pessoas acham, corajosamente, que a visão quântica do mundo permite, e mesmo exige, ética e valores.

Temos condições de ir ainda mais longe com a interpretação idealista da mecânica quântica. Uma vez que possamos compreender a camuflagem condicionada tolda os mecanismos hierárquicos entrelaçados de nosso cérebro-mente e cria a ilusão da separatividade do ego, basta apenas mais um passo para criar uma ciência da ética que nos permite viver em harmonia com o princípio, cientificamente comprovado, da inseparabilidade. No desenvolvimento de tal programa, poderá ser muito útil nossa herança espiritual/religiosa. Uma ponte entre as filosofias científicas e espiritual do idealismo eliminará realmente as divisões na sociedade que desafiam e quase sempre comprometem ética e valores” (GOSWAMI, Amit; REED, Richard E.; GOSWAMI, Maggie. O universo autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. Trad. Ruy Jungmann. São Paulo: Aleph, 2007, pp. 302/303, grifo nosso).

O que faltou a Goswami, portanto, foi a correta compreensão da doutrina Cristã, faltante até mesmo nas igrejas Cristãs, que é exatamente essa ética da Unidade Humana, do Logos, em que ação individual é pautada por uma razão solidária, por uma razão coletiva, também nos âmbitos políticos e jurídicos.

Niklas Luhmann faz uma interessante abordagem sistêmica da sociedade em sua “Sociologia do Direito”, mas falta a ele o fator Jesus Cristo, o fator Espírito Santo, no nível da religiosidade profunda, da unidade cósmica, pelo qual as expectativas normativas dos indivíduos, a forma como entendem que ocorrerão regularmente os comportamentos sociais, são superadas pelas suas expectativas cognitivas, em que o conhecimento do Logos, de Deus, leva ao conhecimento da Lei. Esse fator, como ele reconhece, está em “nível pré-normativo” indiferenciado, na “camada elementar de expectativa”, “no sentido de que os componentes cognitivos e normativos das expectativas formam uma unidade coesa” (Niklas Luhmann. Sociologia do Direito I. Trad. Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1983, p. 60). Daí porque no sistema de Luhhmann não emerge, após a batalha escatológica, o Reino de Deus, em que vigora a Lei da Liberdade, pelo fato de ele ignorar a humanidade mais profunda, por desconhecer o humanoritmo.

Jesus Cristo é o Filho do Deus Vivo, que interage até com as forças da Natureza, é a Vida que surge da vida humana, a nova humanidade, a humanidade emergente, que se sente como membro cósmico ativo.

O que causa a ação de Cristo não é sua vontade individual, mas a Vontade do Pai, é a ação pela causalidade vertical indicada por Wolfgang Smith, como narrado em artigos anteriores (https://holonomia.com/2016/09/05/jesus-e-o-jogo-da-vida-eterna-verdade-e-consequencia/ e https://holonomia.com/2017/01/26/determinismo-ideologico-ou-espiritual/).

Capra fala de causação descendente, ou de cima para baixo, que “significa que o nível hierárquico superior afeta as propriedades dos componentes inferiores”, havendo “discussões na literatura filosófica a respeito da relação entre emergência e causação descendente – também chamada de macrodeterminismo”. “Considere a progressão dos níveis hierárquicos sociais que vão dos indivíduos para a família, para a tribo, para a nação. É claro que uma vez que os indivíduos estão em uma família, as regras da família afetam e mudam o comportamento dos indivíduos; de maneira semelhante, pertencer a uma tribo afeta o comportamento da família, e assim por diante” (Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. Trad. Mayra Teruya Eichemberg, Newton Roberbal Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 201).

Como Goswami, e mesmo Capra, perceberam, nós estamos conectados ao Cosmos, sendo que em Jesus Cristo essa conexão é plena, ele possui o Espírito Santo, É o Universo Autoconsciente, consciência causada descendentemente, nascida de cima, o que já havia se manifestado parcialmente nos profetas, antecipando a ordem social emergente decorrente da unificação da humanidade.

Essa Verdade é proclamada há quase dois mil anos, como ideias defendidas inicialmente por marginalizados e excluídos sociais; porque as únicas que dão a liga da unidade humana e social, tais ideias ascenderam aos princípios fundamentais da civilização, e quando seu autêntico Espírito prevalecer, causando descendentemente o bom comportamento dos indivíduos, o Reino de Deus será real e visível.

A unificação da razão humana tem como propriedade emergente o sistema social antecipado conceitualmente como Reino de Deus, que está próximo…