Monoteísmo, monismo jurídico e Direito internacional

O Monoteísmo está na origem histórica dos direitos humanos, e do conceito de dignidade humana, porque esta decorre do fato de o homem ser filho de Deus, imagem e semelhança de Deus, dotado de liberdade, ao contrário dos animais, regidos pelo instinto.

O Monoteísmo, que sustenta a existência de um Único Deus, o Criador de todas as coisas, e uma só Lei que governa a Natureza e a Humanidade, por esse motivo, relaciona-se à ideia de um monismo jurídico, nos planos nacional e internacional, porque uma só é a natureza humana, sendo a mesma a norma de comportamento para todos os membros da espécie, variando apenas o nível de consciência dessa realidade em cada indivíduo.

Sendo os direitos humanos a base de qualquer direito nacional no mundo civilizado, como consta da Carta das Nações Unidas, os mesmos direitos humanos são o fundamento do direito internacional, porque tanto o Estado-nação é uma abstração, uma criação jurídica, que não existe no mundo da natureza, sendo o Estado nada mais do que a união de seres humanos em torno de ideias de governo humano, também no plano internacional vale a abstração, pois o planeta é uno e as separações entre as pessoas jurídicas de direito público internacional decorrem de abstrações de segundo grau. A humanidade de um estadunidense é a humanidade de um russo ou um sírio, a humanidade não depende do local de nascimento ou moradia da pessoa.

O Direito é a moral compartilhada, a moral ou norma de comportamento individual que é aceita por uma comunidade, dependendo a vida social da aceitação das normas pelos seus destinatários, isto é, a vida comunitária somente existe com base na confiança, na fé segundo a qual as pessoas cumprirão suas obrigações e respeitarão a vida e a propriedade alheias. A partir do consenso racional sobre a bondade ou utilidade de uma lei ou regra de comportamento, esta passa a ser adotada pela comunidade, que deixa de pautar suas ações na base da força ou violência. Os direitos humanos são, por isso, a moral da humanidade.

O sucesso da norma jurídica, ou seja, sua efetividade, depende da aceitação de seu conteúdo, pela comunidade, como benéfico, devendo essa aceitação ser interna e autêntica, porque em caso contrário o destinatário não perderá a oportunidade de violar a lei, caso tenha a possibilidade de fazê-lo sem sofrer as sanções pelo descumprimento. Nesse ponto, ou a lei é obedecida porque acolhida como sua pela pessoa, como uma lei de razão que vale ser obedecida; ou é acatada porque se teme a sanção pelo descumprimento, hipótese na qual o destinatário não compreendeu corretamente a razão da lei ou não a aceita, porque pensa ser sua razão pessoal melhor do que a normativa, quase certamente por algum motivo egoísta, salvo se a norma for irracional ou exigir uma exceção para a situação.

Uma questão que deve ser entendida por todos é a interdependência mútua dos seres humanos, notadamente para que possamos desenvolver nossas plenas capacidades, porque mesmo que consigamos sobreviver individualmente por nossas próprias habilidades, uma vida sem o amparo social não terá plenitude, não será capaz de satisfazer a maior parte de nossas necessidades humanas, tanto no aspecto corporal como espiritual.

Por isso, essa interdependência está na base do Direito, essa ligação profunda entre os seres humanos, e isso é o motivo dos mandamentos de Cristo, que são a origem da moral humanitária, isto é, dos direitos humanos: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22, 34-40).

Amando a Deus, que é Espírito, como todo o coração, toda a alma e todo o entendimento, compreendemos que Ele é o Único Soberano, o Único Independente, e que todos nós dependemos do mundo físico para sobreviver e dos demais humanos para nos desenvolvermos, inclusive espiritualmente, somos todos interdependentes, estamos subordinados a Deus. Daí a importância das leis, para que o tecido social não seja rompido pela violência, e, mais modernamente, a relevância do Estado, para que a solidariedade organizada permita o desenvolvimento de todos os integrantes da comunidade humana, uma comum unidade de razão humana.

Essa interdependência vale igualmente para os Estados-nação, porque ainda que um determinado grupo humano possa viver isolado dos demais, os seus membros e o grupo como coletividade não atingirão seus potenciais. Portanto, os Estados-nação não são soberanos, soberana é apenas a Ekkelesia de Cristo, a assembleia que rege a comunidade pelo Logos, que é universal e humanitário, pauta-se pelo Espírito de solidariedade humana.

Assim como os Estados são feitos das pessoas que os formam, o mesmo vale para a Comunidade Internacional, que é formada de Estados como abstrações das unidades das pessoas que os integram. São os humanos que se governam, que governam os Estados e a Comunidade Internacional. Nesse ponto, se os indivíduos não são soberanos, porque interdependentes, os Estados muito menos, pelo que a ordem interna é dependente da obediência à lei pelas pessoas, e também a ordem internacional somente é ordem quando as pessoas em suas relações internas e externas, individual e coletivamente, respeitam as mesmas leis internas. E como a lei interna da humanidade é a Lei de Cristo, só existe soberania verdadeira na assembleia ou Estado que se guia em obediência ao Logos, quando a autonomia e a holonomia se confundem.

Nesse ponto, o Direito internacional pode existir de duas formas, um Estado governando os demais, como ocorre atualmente, pela forma imperial, um impondo-se a outros, valendo-se do instrumento jurídico do poder de veto no Conselho de Segurança, que representa uma carta branca para a ilegalidade no plano internacional.

Essa é a situação descrita na Bíblia, na profecia de Daniel e no Apocalipse, narrando os impérios humanos até a instauração do Reino de Deus, em que prevalecerá o verdadeiro Direito internacional segundo o Logos, Razão e Justiça da Humanidade, começando a descrição bíblica com o império babilônico, passando pelo medo-persa, pelo império de Alexandre Magno, o império romano, e os impérios atuais, notadamente o anglo-americano. Essa forma do Direito internacional é baseada na força, e não na razão, e, como tudo que se sustenta na força, está fadada ao fracasso, porque todo homem ou império, por mais forte que seja, envelhecerá, se enfraquecerá e será sucedido por outro mais forte.

Estavas olhando, quando uma pedra, sem intervenção de mão alguma, destacou-se e veio bater na estátua, nos pés de ferro e de argila, e os triturou. Então se pulverizaram ao mesmo tempo o ferro e a argila, o bronze, a prata e o ouro, tornando-se iguais à palha miúda na eira de verão: o vento os levou sem deixarem traço algum. E a pedra que havia atingido a estátua tornou-se uma grande montanha, que ocupou a terra inteira” (Dn 2, 34-35).

A pedra que destrói os impérios é o Logos, que dá às pessoas o poder de pensar, de refletir sobre a realidade, sobre a função do poder político, como um instrumento de satisfação coletiva, e como os impérios, invariavelmente, são baseados em motivos egoístas, por mais que o discurso seja de defesa de benefícios universais, mais cedo ou mais tarde a opressão e a exploração são percebidas pela população, e quando esse sentimento de injustiça se espalha o império vai perdendo sustentação até ruir.

Por esse motivo, a única forma viável para que exista um Direito internacional consiste na existência de Estados baseados na Lei de Cristo, do Logos, conforme citados mandamentos, ou seja, em que a vida humana seja um valor em si, independentemente do local de nascimento da pessoa, pois somente um Estado com esses valores respeitará os demais pelos seus integrantes, e dessa forma o Direito será, ao mesmo tempo, nacional e internacional. Da mesma forma como um Cristão não agride outro Cristão, porque ambos são irmãos e filhos de Deus, são presença de Deus na humanidade, para um Estado Cristão a guerra não é uma opção, a violência não é cogitada, como consta, aliás, na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Enquanto não enfrentarmos a realidade de que são as concepções religiosas que regem o mundo, o mundo não será governado pela Justiça, não haverá Direito Internacional, mas para isso é indispensável discernir a autêntica religião do Espírito, de Moisés, Jesus Cristo e Maomé, conforme respectivos textos sagrados, da religião secular que hoje domina o planeta, a religião econômica, que, de fato, motiva os conflitos humanos, tanto no plano individual como coletivo, sob o manto de uma defesa de direitos humanos ou de valores supostamente religiosos, porque as divisões entre católicos e protestantes ou entre xiitas e sunitas não passam de subterfúgios para a dominação do homem pelo homem, negando os valores espirituais das Sagradas Escrituras, a Torá, o Evangelho e o Alcorão.

Na Torá autoriza-se que o estrangeiro viva segundo a mesma Lei: “Haverá uma única lei para o cidadão e para o imigrante que imigrou paia o vosso meio” (Ex 12, 49); “Não afligirás o estrangeiro nem o oprimido, pois vós mesmos fostes estrangeiros no país do Egito” (Ex 22, 20). O Evangelho universaliza a Torá para todas as nações. O Alcorão exige que seja interpretado conforme a Torá e o Evangelho: “Se estiveres em dúvida sobre o que te revelamos, consulta os que têm o Livro desde antes de ti. Teu Senhor te revelou a verdade. Não seja um dos que duvidam” (Sura 10, 94); “E, em religião, quem é melhor do que aquele que se submete a Deus, faz o bem e segue a crença, monoteísta, de Abraão? Deus elegeu Abraão por amigo” (Sura 4, 125).

Por isso, o Direito internacional somente será pleno quando a terra de Abraão for a terra dos adoradores do Deus único, quando as relações internacionais se basearem no Direito e na Justiça, no respeito à humanidade, e não nos aspectos econômicos, e quando a vida do estrangeiro tiver o mesmo valor que a vida do nacional. A União Europeia tem origem econômica, o Brexit teve motivação econômica, o Mercosul é um mercado, e as guerras e conflitos internacionais ocorrem por fundamentos econômicos.

Naquele dia Iahweh estabeleceu uma aliança com Abrão nestes termos: ‘À tua posteridade darei esta terra, do Rio do Egito até o Grande Rio, o rio Eufrates, os quenitas, os cenezeus, os cadmoneus, os heteus, os ferezeus, os rafaim, os amorreus, os cananeus, os gergeseus e os jebuseus’” (Gn 15, 18-20).

Quando Abrão completou noventa e nove anos, Iahweh lhe apareceu e lhe disse: ‘Eu sou El Shaddai, anda na minha presença e sê perfeito. Eu instituo minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei extremamente.’ E Abrão caiu com a face por terra. Deus lhe falou assim: ‘Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás pai de uma multidão de nações. E não mais te chamarás Abrão, mas teu nome será Abraão, pois eu te faço pai de uma multidão de nações. Eu te tornarei extremamente fecundo, de ti farei nações, e reis sairão de ti. Estabelecerei minha aliança entre mim e ti, e tua raça depois de ti, de geração em geração, uma aliança perpétua, para ser o teu Deus e o de tua raça depois de ti. A ti, e à tua raça depois de ti, darei a terra em que habitas, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o vosso Deus” (Gn 17, 1-8).

Iahweh disse consigo: ‘Ocultarei a Abraão o que vou fazer, já que Abraão se tornará uma nação grande e poderosa e por ele serão benditas todas as nações da terra? Pois eu o escolhi para que ele ordene a seus filhos e à sua casa depois dele que guardem o caminho de Iahweh, realizando a justiça e o direito; deste modo Iahweh realizará para Abraão o que lhe prometeu’” (Gn 18, 17-19).

A solução dos problemas entre nações, portanto, depende do respeito às Escrituras, da observância da Religião verdadeira, que é autêntica Ciência, especialmente porque as nações modernas foram fundadas com base nos valores monoteístas, os quais serviram de base para o pensamento iluminista, que exigem o respeito à Lei e a prática da caridade, com prioridade sobre os valores econômicos e de mercado, o que exige sacrifício, contenção dos egoísmos das pessoas que são transferidos para as coletividades, as nações. Há que se retornar à defesa dos direitos naturais da vida humana, em detrimento dos interesses privados egoístas de pessoas ou grupos humanos, para o restabelecimento da ordem natural do mundo, segundo a Soberania do Criador.

Como Jesus libertou a humanidade sendo torturado e morto na cruz, como Gandhi libertou a Índia apanhando e fazendo greve de fome, também as relações internacionais devem ser resolvidas com sacrifício mútuo. Caso algum país viole o Direito internacional, que sejam interrompidas todas as relações comerciais com aquele país, porque é melhor que uma nação inteira sofra privações, em nome da Lei, do Direito e da Justiça, que uma só vida humana se perca por motivos venais.

Enquanto o patrimônio e o prazer privado, de pessoas ou grupos, for mais valioso nas relações humanas e internacionais do que a vida de outro homem, do que o mérito humano, do que a bondade, a sabedoria e a justiça, não haverá Direito internacional.

Logos, pensamento cósmico e objetividade forte

Existe um pensamento cósmico, que rege todas as coisas no universo, chamado biblicamente de Logos ou Sabedoria de Deus, e com esse mesmo pensamento na mente o padre Georges Lemaître propôs o modelo de mundo criado a partir de um ovo cósmico ou átomo primordial, teoria que depois veio a ser conhecida por Big Bang, aceita cientificamente porque atende, até determinado ponto, a critérios de objetividade forte, pode ser verificada por terceiros, independentemente da subjetividade do observador.

A base teórica de Lemaître certamente está ligada ao seguinte texto:

No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e Deus era o verbo. Este no princípio estava como Deus. Todas as coisas existiram por ação dele e sem ele existiu nem uma só coisa que existiu. Nele estava a vida, e vida era a luz dos homens” (Jo 1, 1-4).

Portanto, para essa visão de mundo existe cosmos, a ordem universal objeto da investigação científica, que a tudo antecede e está em tudo, por meio do qual todas as coisas são criadas, o Logos, que está no princípio de tudo, e habitou nos homens a partir de Jesus Cristo, ele próprio a encarnação do Logos, como Caminho para a Ordem, Verdade, adaequatio rei et intellectus, ou correspondência entre realidade e intelecto, e Vida no vivo.

Outra hipótese teórica no âmbito científico é aquela segundo a qual no princípio era a flutuação quântica, que criou nosso universo aleatoriamente, e talvez muitos outros com diversas leis físicas, e estamos aqui apenas porque somente as leis físicas de nosso universo são perfeitas para nossas vidas, tudo é um mero acaso e o mundo é regido pelo indeterminismo.

A proposta científica verdadeira, a Verdade, é objetiva, está sujeita à objetividade forte, ainda que num primeiro momento possa não se distinguir do mais puro subjetivismo, do solipsismo. Contudo, nem a ciência tem atingido tal objetividade, diante da necessidade de um observador para a definição dos fenômenos quânticos, limitando-se o consenso científico à matemática estatística, aos números, sem que o seu significado mais profundo possa ser compartilhado:

Na criatividade, o criador (aquele que escolhe o insight) é a consciência quântica objetiva. No entanto, a representação mental do insight é feita no ego subjetivo, e por este meio entra a subjetividade. Será que isso significa que não podemos estudar insights criativos de forma científica? Não, mas não podemos aplicar o critério de objetividade forte – que os eventos precisam ser independentes dos observadores ou independentes dos sujeitos. Em vez disso, precisamos utilizar a objetividade fraca – os eventos teriam de ser invariáveis com o observador, mais ou menos semelhantes para diferentes sujeitos, independentemente de um sujeito específico. Como observou o físico Bernard D’Espagnat (1983), a física quântica já impõe sobre nós a objetividade fraca. E mesmo experiências em psicologia cognitiva/behaviorista não podem manter uma regra fixa da objetividade forte” (Amit Goswami. Deus não está morto: evidências científicas da existência divina [livro eletrônico]. Trad. Marcello Borges. 2. ed. – São Paulo: Goya, 2015, p. 108).

Para o Monoteísmo, contudo, ao contrário do que sustentado acima, Deus é, de forma objetivamente forte, o Criador e governa a História, o que é um fato para quaisquer observadores, ainda que nem todos O percebam, e o problema tanto da Ciência quanto da Religião é o mesmo, encontrar desde já a subjetividade que se conforma à objetividade forte, ao Logos, e que tenha validade para todo observador.

Segundo o Cristianismo, o Pecado é a causa da desordem do mundo, da falta da objetividade forte na ciência. O Pecado é a negação da Autoridade de Deus, a rejeição de Sua objetividade, o abandono de Seu Logos, quando a subjetividade de Satanás, do Diabo ou Separador, leva o homem a se separar do Criador, encarnando o erro ou a separação, que é a desobediência à Lei, tornando o homem marginal, à margem da realidade, distanciando-o do Logos, e como Adão era um líder político, sua desobediência teve os efeitos de uma rebelião da humanidade contra Deus.

Eis a história de Noé: Noé era um homem justo, íntegro entre seus contemporâneos, e andava com Deus. Noé gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé. A terra se perverteu diante de Deus e encheu-se de violência. Deus viu a terra: estava pervertida, porque toda carne tinha uma conduta perversa sobre a terra” (Gn 6, 9-12).

Noé era um homem justo, movia-se objetivamente de forma correta, em sua subjetividade, e foi salvo. Qual a objetividade do chamado dilúvio bíblico? O documentário “Altos e Baixos: A História Da Temperatura” começa a responder a essa questão, em sua realidade na História.

Abraão também seguiu sua subjetividade, saiu de seu mundo em direção ao futuro, sendo hoje, objetivamente, considerado o patriarca religioso de mais da metade da população mundial, do Monoteísmo. O mesmo vale para Moisés, também preocupado com a objetividade forte de sua visão da sarça ardente: “Respondeu Moisés: ‘Mas eis que não acreditarão em mim, nem ouvirão a minha voz, pois dirão: ‘Iahweh não te apareceu‘” (Ex 4, 1). Então Iahweh deu a Moisés os sinais reais de sua presença com ele, perante o povo e o faraó, ainda que a maior prova objetiva que temos hoje desse fato esteja na superação histórica da cultura egípcia pelo Monoteísmo e pela permanente atualidade e poder da Religião de Moisés.

Também os profetas viveram em suas subjetividades, ligadas ao pensamento cósmico, ao Logos, ao Sujeito Objetivo, exprimindo realidades objetivas que se realizaram e se realizarão na História, e esses acontecimentos são a prova da Verdade de suas falas. “Talvez perguntes em teu coração: ‘Como vamos saber se tal palavra não é uma palavra de Iahweh?’ Se o profeta fala em nome de Iahweh, mas a palavra não se cumpre, não se realiza, trata-se então de uma palavra que Iahweh não disse. Tal profeta falou com presunção. Não o temas” (Dt 18, 21-22).

Os cientistas passaram pelo mesmo dilema, de Copérnico, Giordano Bruno e Galileu até Einstein, que tinham a convicção subjetiva da objetividade de suas visões de mundo, em uma subjetividade que se mostrou, posteriormente,  ainda que parcialmente, objetiva, sendo relevante que em alguns casos o tempo para a confirmação da profecia ou da realidade científica pode ser maior ou menor.

Nesse ponto, a hipótese atômica de Demócrito demorou mais de dois mil anos para ser refutada, porque refutada efetivamente foi, pelas descobertas da física moderna, concluindo que o mundo NÃO é feito de pequenas partículas sólidas que se juntam para formar as coisas, que não são agregados de entidade menores. A transferência de energia por pacotes mínimos, ou quanta, apenas indica que a interação entre os corpos é limitada a uma grandeza mínima, sendo os corpos formados uns dos outros em um fluxo contínuo de trocas de partículas ou energia, havendo um só Corpo e um só Espírito (Ef 4, 4).

Outrossim, a objetividade da física atual é matemática, limitada ao espaço-tempo relativístico, não tendo sido alcançada a objetividade forte que inclua o observador quântico, regido pela não localidade e sem a restrição espaço-temporal da relatividade.

A objetividade forte quântica, nesse ponto, que está em desenvolvimento teórico, aproxima-se de uma subjetividade objetiva, ligando-a à Religião, ao observador onipresente em sua conexão não local com toda realidade, ao Espírito único que observa o único Corpo, “para que todos sejam um, tal como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, para que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo 17, 21). Por isso, uma das propostas subjetivas referente à interpretação científica da física, ou uma combinação de visões subjetivas, deverá se mostrar, no futuro, objetiva. Destarte, alguns teóricos, em sua subjetividade, já estão trabalhando na objetividade.

Na Religião ocorre o mesmo, porque o Messias predito pelos profetas, em suas subjetividades, não foi reconhecido pelos Judeus, que viviam uma realidade subjetiva afastada do Logos, e por isso não viram a objetividade forte da realidade de Cristo. Apenas aqueles que olharam para Jesus de Nazaré no Espírito, num primeiro momento, puderam reconhecê-lo como Messias, e somente esses tiveram a prova objetivamente forte dessa Verdade, ao contemplarem-no ressuscitado, o que motivou-os, doravante, a proclamar o Evangelho, a despeito dos riscos para suas vidas.

Também Saulo de Tarso vivia em sua subjetividade com pretensão de objetividade, até que sucumbiu ao Logos, na estrada para Damasco, passando, então, a divulgar a objetividade forte da Ciência do Cristianismo, como Paulo.

Portanto, nem todos os olhos veem a objetividade forte ao mesmo tempo, alguns somente a verão quando a realidade se impuser sobre eles, na vida corporal, ou além.

Naquele dia sabereis que eu [estou] no Pai e vós em mim e eu em vós. Quem tem os meus mandamentos e os observa, esse é quem me ama. Que me ama será amado pelo meu Pai; e eu amá-lo-ei e a ele me manifestarei‘.

Diz-lhe Judas (não o Iscariotes): ‘Que aconteceu, Senhor, pois ireis manifestar-te a nós e não ao mundo?’ Jesus respondeu e disse-lhe: ‘Se alguém me amar, observará a minha palavra e o meu Pai o amará e viremos para junto dele e com ele faremos morada‘” (Jo 14, 20-23).

Por isso, nem todos têm o pensamento cósmico em vida, nem todos têm a paz de Cristo, somente aqueles que o amam, e são amados pelo Pai, os quais conseguem vê-Lo, por meio de Jesus, pelo Espírito, pelo Logos.

Para viver a Ciência ou a Profecia é preciso entrar no Espírito da Razão, no Logos, na Lei, antecipando em si a realidade que um dia será presenciada por todos, no Dia do Senhor:

Eis que ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão, até mesmo os que o transpassaram, e todas as tribos da terra baterão no peito por causa dele. Sim! Amém!” (Ap 1, 7).

É possível entender que o Dia do Senhor terá mil anos, “Pois mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, uma vigília dentro da noite” (Sl 90, 4); “é que para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos como um dia” (2Pe 3, 8). Por isso, alguns entenderão esse dia em seu início, quando a guerra contra Israel, provavelmente envolvendo Irã e Rússia, terminar por intervenção divina:

Sucederá naquele dia, em que Gog vier contra a terra de Israel, — oráculo do Senhor Iahweh — que a minha cólera transbordará. Na minha ira no meu ciúme, no ardor da minha indignação eu o digo. Com efeito, naquele dia haverá um grande tumulto na terra de Israel. Diante de mim tremerão os peixes do mar, as aves do céu, os animais do campo, todo réptil que rasteja sobre a terra e todo o homem que vive sobre a face da terra. Os montes serão arrasados, as rochas íngremes, bem como todos os muros ruirão por terra. Chamarei contra ele toda espada, oráculo do Senhor Iahweh; será a espada de todos contra todos. Castigá-lo-ei com a peste e o sangue; farei chover uma chuva torrencial, saraiva, fogo e enxofre sobre ele e as suas tropas e os muitos povos que vierem com ele. Eu me engrandecerei, me santificarei e me darei a conhecer aos olhos de muitas nações e elas saberão que eu sou Iahweh” (Ez 38, 18-23).

Esse será o começo do Dia do Senhor, da era messiânica, quando as evidências científicas da Verdade do Cristianismo serão aceitas, encerrando a rebelião da humanidade contra Deus, como efeito da ação do Messias, o líder político de Israel e Judá, e também O Profeta do Islã, do Monoteísmo, que tirou o Pecado do mundo, e os homens serão submissos à Lei do Criador, serão, ao mesmo tempo, Islâmicos e Cristãos, inclusive no aspecto político, quando a objetividade forte do Monoteísmo Cristão alcançará muitas nações, não dizendo o texto que será de todas as nações ou o fim dos tempos, porque o Logos governará as nações por mil anos, durante o milênio, mas algumas se revoltarão no final desse tempo, quando a realidade se imporá à humanidade, a todos, de forma inescapável, definitivamente.

Quando se completarem os mil anos, Satanás será solto de sua prisão e sairá para seduzir as nações dos quatro cantos da terra, Gog e Magog, reunindo-as para o combate; seu número é como a areia do mar… Subiram sobre a superfície da terra e cercaram o acampamento dos santos e a Cidade amada; mas um fogo desceu do céu e os devorou. O Diabo que os seduzira foi então lançado no lago de fogo e de enxofre, onde já se achavam a Besta e o falso profeta. E serão atormentados dia e noite, pelos séculos dos séculos” (Ap 20, 7-10).

A mensagem continua a ser proclamada, para que todos caminhem para a Verdade, voluntariamente, antes que o tempo da conversão se encerre, o que acontece diariamente para dezenas de milhares de pessoas, para cada um de nós e para todos nós.

E agora, reis, sede prudentes; deixai-vos corrigir, juízes da terra. Servi a Iahweh com temor, beijai seus pés com tremor, para que não se irrite e pereçais no caminho, pois sua ira se acende depressa. Felizes aqueles que nele se abrigam!” (Sl 2, 10-12).

Uma incerta realidade

O último artigo falou do problema da Verdade, e por mais que o assunto já tenha sido explorado em meus textos, o tema sempre volta, sobre a questão da realidade última, que está além das aparências, além dos chamados fenômenos.

Como o livro atualmente em leitura trata do assunto, “Uma incerta realidade: o mundo quântico, o conhecimento e a duração”, de Bernard d’Espagnat, ganhador do Prêmio Templeton (em inglês Templeton Prize), que concede ao seu vencedor um valor monetário superior ao do Prêmio Nobel, ou seja, mais de um milhão de dólares, é pertinente a volta ao assunto, dado o reconhecimento público do trabalho científico do citado autor.

Bernard d’Espagnat faz em sua bela obra uma indispensável incursão pela filosofia da ciência, pela epistemologia, em busca de argumentos para a defesa da existência de uma realidade independente, que não se limite à realidade empírica estudada atualmente pelas ciências. Segundo a contracapa do livro:

A física actual convida-nos a separar duas noções outrora designadas pela palavra ‘realidade’. Uma é a de realidade independente. Pela própria definição, a noção em questão cobre o conjunto daquilo que é (se Deus existe, ou se o mundo existe em si, eles são reais neste sentido). Esta realidade é longínqua, até mesmo velada. A outra noção é a de realidade empírica, ou conjunto dos fenómenos: o homem aborda-a cada vez melhor.

Poderemos evitar algumas destas noções? Muitos acreditam que sim porque, no passado, muitos filósofos e físicos esforçaram-se por demonstrar que tal era possível, alguns eliminando a primeira com o pretexto de que não tem sentido, outros reconduzindo a segunda noção à primeira […]. A minha tese é a de que é a própria ciência que – corrigindo-se a si própria – fornece, hoje em dia, ao pensador razões prementes para aceitar a dualidade filosófica do ser e do fenómeno”.

Essa ideia de dualidade filosófica muito me incomoda, e talvez isso ocorra por uma cisma minha, ou uma espécie de atual “obsessão”, por não aceitar a proposta teológica de trindade; e sempre que encontro uma teoria dualista, que não seja meramente alegórica ou pedagógica, acabo vendo uma ligação entre o dualismo e a trindade, decorrente de uma má interpretação do Cristianismo.

Como, seguindo Gadamer, e já salientado em “Crime de hermenêutica, Donald Trump e Cristo crucificado” (https://holonomia.com/2016/11/15/crime-de-hermeneutica-donald-trump-e-cristo-crucificado/), para melhor cumprir o primeiro mandamento Cristão, considero a hermenêutica teológica a mais fundamental, da qual decorre o restante da interpretação do mundo, inclusive a interpretação dada pelos cientistas, e por isso o possível erro na análise teológica vicia, em maior ou menor medida, a visão de mundo da pessoa, e até mesmo sua atividade científica. Tal ponto foi também mencionado no artigo “Revolução e evolução” (https://holonomia.com/2017/08/03/revolucao-e-evolucao/), destacando que a visão de mundo religiosa é a base da ciência moderna.

Sendo Jesus Cristo o fundamento da Teologia ocidental, o que judeus e muçulmanos hão de reconhecer, e, portanto, da ciência moderna, torna-se necessário conhecer Jesus Cristo, para melhor compreender o mundo. Aliás, o Cristianismo é uma Ciência ou Religião gnóstica, ou seja, baseada no conhecimento, sendo lamentável que o mundo atual o entenda de modo dogmático.

Por isto mesmo, aplicai toda a diligência em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, à piedade o amor fraternal e ao amor fraternal a caridade” (2Pe 1, 5-7).

Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória agora e até o dia da eternidade! Amém” (2Pe 3, 18).

Por mais que nosso conhecimento de Deus seja limitado, é conhecimento de Deus e, portanto, da Verdade, da realidade em si, Ciência que deve ser realmente buscada.

Tal como o definimos no primeiro capítulo, o realismo físico não é senão a tese segundo a qual a expressão ‘realidade independente’ (independente do homem, entenda-se), não somente tem sentido, como também designa uma entidade cognoscível de direito, graças à ciência (mesmo que não seja, desde já, inteiramente conhecida).

Quando esta tese é adoptada temos, evidentemente, de considerar que o objectivo da ciência é o conhecimento em questão (…)” (Bernard d’Espagnat. Uma incerta realidade: o mundo quântico, o conhecimento e a duração. Trad. António Hall. Lisboa: Instituto Piaget, p. 166).

Portanto, concordo parcialmente com d’Espagnat, ao dizer que ciência é o conhecimento dessa realidade “independente” porque também considero que “Ciência é conhecimento de Deus, da Ordem Cósmica, e o seu maior conhecedor é Jesus Cristo. Relevante, fundamental, indispensável, então, é entender Deus e seu significado”, como constou em “Ciência: a luta do cosmos contra o caos” (https://holonomia.com/2016/08/13/ciencia-a-luta-do-cosmos-contra-o-caos/).

De outro lado, tenho dúvidas se a “realidade independente” é efetivamente independente do homem, porque para isso é necessário um conceito e uma delimitação do que seja “o homem”, ou “a humanidade”, sua natureza, e aqui volta o tema da trindade.

Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeição, o que é limitado desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da criança. Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido” (1Cor 13, 9-12).

Se Jesus Cristo é membro exclusivo de uma trindade, sendo qualitativamente diferente de nós, uma é a realidade do mundo, independente dos homens; mas se tal afirmação não for correta, a realidade é outra. Ainda que eu considere Jesus Cristo qualitativamente diferente de nós, tal diferença é mais decorrente da maior quantidade do Espírito Santo do que por uma disparidade ontológica. Nesse ponto, mesmo que a discrepância quantitativa leve à mudança qualitativa, como no caso dos elementos químicos, compostos todos das mesmas partículas (quarks, léptons, férmions, bósons etc.), mas diferentes em suas qualidades, existe uma certa conversibilidade ou igualdade básica entre os elementos químicos, e entre nós e Jesus Cristo. Assim, existe diferença qualitativa acidental em virtude dos nossos vícios, do Pecado que nos rodeia, e para nos aproximarmos de Cristo devemos, como ele, nascer do alto, do Espírito, voltar à nossa essência e buscar as coisas de Deus, “até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4, 13).

O batismo Cristão é o mergulho no Espírito Santo, o mergulho em Deus e seu conhecimento, no Logos, deixando a vida da carne, a vida das aparências, a vida do mundo, para que atinjamos a unidade com Cristo. “Vós vos desvestistes do homem velho com as suas práticas e vos revestistes do novo, que se renova para o conhecimento segundo a imagem do seu Criador” (Cl 3, 9-10).

Desse modo, por mais que nosso conhecimento seja limitado, é possível o aumento da Ciência de Deus, conforme os ensinamentos de Cristo, pois essa é sua missão e sua vontade. “Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim” (Jo 17, 22-23).

Algumas passagens sobre a vida de Jesus e suas palavras corroboram a visão unitarista do mundo, na perfeita unidade do Espírito, porque “Deus é espírito. Os que o adoram têm de o adorar em espírito e verdade” (Jo 4, 24), e por isso o conhecimento de Deus, que é Logos, Inteligência, é espiritual, na medida em que temos o Espírito de Deus, Deus “que vos infundiu o seu Espírito Santo” (1 Ts 4, 8). “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu Amor em nós é levado à perfeição. Nisto reconhecemos que permanecemos nele e ele em nós: ele nos deu o seu Espírito” (1Jo 4, 12-13). Se Deus nos deu seu Espírito (Santo), como ocorreu com Jesus, a diferença entre nós e Jesus Cristo é de “quantidade” do Espírito de Deus, porque Jesus é pleno do Espírito Santo.

E o verbo fez-se carne e habitou entre nós; e contemplamos a sua glória – glória enquanto [filho] unigênito do Pai, pleno de graça e de verdade” (Jo 1, 14). Como destacado no artigo “Comunicação”, nas notas sobre este versículo 14, e sem falar na duvidosa correção da tradução da palavra “unigênito”, Frederico Lourenço afirma que “no v. 14 de João, a expressão ‘entre nós’ é literalmente ‘em nós’ (em hêmîn)”, o que se soma à fala de Jesus sobre o Reino de Deus: “Pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17, 21), colocando em nós o Logos, Deus em nós.

Nele (no Logos) estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha na escuridão, e a escuridão não dominou a luz” (Jo 1, 4-5).

O Logos é a luz, e ao mesmo tempo em que Jesus afirma: “Eu sou a luz do mundo. Quem me seguir não andará na escuridão, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12); ele também disse: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14). Esta afirmação nos coloca ao lado de Jesus, e corrobora a unidade por ele esperada, com ele e com Deus. Demonstrando que Jesus Cristo não era ele próprio o Deus absoluto, ele reconheceu que “o Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28). E tamanha era a humanidade de Jesus Cristo que nem mesmo conseguiu fazer milagres em sua terra natal, impedimento esse incompatível com a onipotência divina: “E Jesus não podia fazer ali milagre nenhum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos” (Mc 6, 5); isso depois de referir a si mesmo como um profeta. A par da inexistência de menção de trindade nas Escrituras, os textos transcritos, dentre outros, são fortes indicativos de que a concepção respectiva (trindade) não é correta.

Uma passagem também é muito relevante sobre o assunto, quando Jesus cita as Escrituras relembrando que os homens aos quais a Palavra de Deus é destinada são chamados deuses. “Jesus lhes respondeu: ‘Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? Se ela chama de deuses aqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode ser anulada — àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo dizeis: ‘Blasfemas!’, porque disse: ‘Sou Filho de Deus!’?” (Jo 10, 34-36). Assim, o mesmo Evangelho que fundamenta a argumentação cristológica de que Jesus é Deus também afirma que homens são tratados como deuses pela Escritura.

Outrossim, se Deus está em nós, e Deus é a realidade independente, esta não é tão independente assim de nós humanos, porque o Espírito eterno habita em nós, motivo pelo qual todas as nossas ações são eternizadas, boas ou más, pelas quais responderemos em algum momento, pois nossas ações se situam no tempo, enquanto fenômenos, e também fora do tempo, pelo Espírito.

Mais uma vez vale significar uma expressão de Jesus, dizendo “quem me vê vê aquele que me enviou” (Jo 12, 45), indicando a possibilidade de conhecimento da realidade, o que ocorre espiritualmente, como já exposto, através e pelo fenômeno.

E não só Jesus Cristo pode expressar a realidade última, afirmando ele que nós também temos uma ligação com Deus, com a eternidade, por meio do Espírito, pois quando o homem age movido pela Vontade do Pai, como Pedro ao reconhecer o Cristo, essa possibilidade se lhe abre: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 19).

Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu. Em verdade ainda vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18, 18-20). A possibilidade de ligar as coisas da terra no céu, destarte, não é exclusividade do bispo de Roma, mas uma possibilidade aberta a todo Cristão.

Portanto, a partir do conhecimento do Espírito, a realidade empírica, entendida como os fenômenos da terra, pode ser compreendida, pela humanidade, na sua realidade, na eternidade, em sua ligação com o céu. E se o argumento ora desenvolvido estiver correto, o que é claro pela interpretação do texto bíblico, nossa responsabilidade é enorme, porque vivemos, ao mesmo tempo, em um mundo de aparências e na eternidade, no Espírito, e quando damos as costas a essa Verdade, nossa luz se transforma em trevas, e “se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão as trevas!” (Mt 6, 23).

Comunicação

Segundo o novo dicionário Aurélio da língua portuguesa, comunicação significa: “1. Ato ou efeito de comunicar(-se). 2. Ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens por meio de métodos e/ou processos convencionados, quer através da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamento técnico especializado, sonoro e/ou visual. (…) 6. A capacidade de trocar ou discutir ideias, de dialogar, de conversar com vista ao bom entendimento entre pessoas”; enquanto comunicar, por sua vez, tem o sentido de: “1. Fazer saber; tornar comum; participar (…) 2. Pôr em contato ou relação; estabelecer comunicação entre; ligar, unir”.

Pelos termos citados, a comunicação exige uma delimitação significativa dentro da qual ocorre a transmissão da mensagem, pelo que pode-se dizer que toda comunicação é interna, no sentido de que somente é possível quando já estabelecida uma mínima unidade simbólica entre aqueles que se comunicam, ou entre a pessoa e o meio do qual receberá a mensagem que será compreendida, e apenas dentro dessa unidade simbólica pode ocorrer comunicação.

Para entender um texto o leitor deve se colocar dentro do mundo do texto; e para que duas pessoas conversem, para que se comuniquem, é necessário que estejam inseridas em uma comunidade significativa, que sejam membros ou integrem um mesmo grupo linguístico, sendo a humanidade o grupo linguístico mais amplo, a unidade simbólica mínima, que abrange todas as línguas humanas.

Até mesmo a compreensão individual dos fenômenos do mundo exige comunicação interna, em que o sujeito cria mentalmente um mundo (ou nasce espiritualmente de um mundo), dentro do qual ele está localizado e no qual ele se distingue do meio exterior, em que ele é uma unidade sensível e intelectual capaz de receber estímulos externos a essa unidade, mantida uma unidade superior que une o sujeito ao meio, unidade essa que permite a correlação das imagens mentais internas do sujeito aos fenômenos do meio por ele integrado, possibilita a tradução entre sentidos e conceitos. Portanto, o entendimento pessoal e solitário do mundo também é feito por meio de uma comunicação interna, em que é criada uma unidade global de referência, dentro da qual se colocam o sujeito e um meio, separados, mas que voltam a se unir em unidade significativa na compreensão dos fenômenos interpretados, mesmo que essa unidade significativa nem sempre seja clara ou consciente para a pessoa, unidade que é indispensável para permitir a comunicação, a ligação simbólica inteligível entre sensações e imagens em um todo coerente, o entendimento ou união racional.

A unidade global de referência é fundamental para que ocorra comunicação. É necessário um referencial, um padrão para o desenvolvimento da comunicação. E essa referência deve ser fixa, pois sua mobilidade impede a unidade inteligível, porque com a mudança do referencial somente se obtém unidade racional se mantida uma ligação inteligível com o modelo primário, o que é a função da chamada tradição.

No caso da visão, por exemplo, o referencial primário são as invariantes do ambiente, como estudado por James J. Gibson, em estudo citado por Wolfgang Smith:

O sistema perceptual é projetado para a captação de informações dadas na luz ambiente e, especialmente, para a apreensão de invariantes, isto é, de elementos estruturais do arranjo ótico ambiente que subsistem no tempo e permanecem inalterados por mudanças na perspectiva visual. Mas isso implica que o tempo, ou melhor, que o movimento entra em cena de modo essencial; com efeito, nada pode ser percebido ‘em um instante’” (Wolffgang Smith. Ciência e mito: com uma resposta a O Grande Projeto de Stephen Hawking. 1 ed. Trad. Pedro Cava. Campinas: Vide Editorial, 2014, p. 113).

Em seguida ele transcreve palavras do próprio Gibson: “O sistema visual busca a compreensão e a clareza e não para até que as invariantes sejam extraídas” (Idem, p. 113). Passando a uma análise filosófica mais profunda, que exige uma unidade na comunicação, como salientado acima, Smith destaca:

O fato é que, para conceber a percepção autêntica, a noção de morphe ou eidos é necessária: somente uma forma está apta para unir um sujeito a um objeto, de modo que, em ‘alguma medida’, os dois se tornem ‘uma só coisa’, como declara Aristóteles. (…)

Ora, são essas invariantes – essas formas! – que possibilitam a percepção. De acordo com a teoria de Gibson, elas é que são ‘registradas’ ou extraídas a partir do arranjo ótico ambiente no ato de percepção e são também o que objetivamente se percebe. Em uma palavra, o que faz a ponte entre a ‘mente’ e o ambiente é nada mais, nada menos que essas invariantes: em verdade, elas são as formas que fornecem acesso ao mundo externo” (Idem, p. 127 – grifo nosso).

No âmbito científico, o que permite a comunicação e o entendimento das teorias é a adoção do referencial matemático, que é uma espécie limitada de forma, baseada em quantidades mensuráveis, em medidas fixas traduzidas em outras medidas. A linguagem científica atual é, dessarte, a matemática, ou seja, é criado o mundo matemático das coisas, dentro do que se desenvolveu a ciência, como teoria de mundo usada para medir os fenômenos do mundo, por comparação formal.

Com a relatividade as medidas de tempo e espaço foram unificadas, mas essa unidade global de referência da relatividade não é suficiente para a compreensão do universo, pois não inclui as características do mundo quântico, não tendo sido ainda encontrada pela ciência aquela unidade maior que inclua as interações quânticas, não se chegou ao ponto comum entre eles, à forma ou ideia maior em que ambas, a relatividade e a orgânica quântica, estejam incluídas e possam se comunicar. Existe, ainda, uma diferença sobre a qualidade das interações entre a relatividade e a realidade quântica, na medida em que aquela se baseia em interações locais com a velocidade da luz como limite máximo de comunicação, enquanto para a orgânica quântica existe uma conexão não local entre os fenômenos, com possibilidade de ação a distância instantânea, ou seja, sem o limite da velocidade da luz. Portanto, a unidade global de referência, que permite a comunicação no nível físico, está além dos limites da relatividade que, ressalte-se, é uma visão materialista de mundo.

Tal dificuldade de comunicação também pode ser verificada nos fenômenos humanos, porque uma parte da humanidade não considera que a unidade global de referência seja imaterial, esteja além das sensações corporais, ligada às formas ou ideias, ao Espírito. Esses apegam-se aos limites, insuficientes, da relatividade de Einstein.

No campo do Direito, por exemplo, um caso limite é o da defesa do aborto por aqueles que entendem que tal conduta estaria inserida na “dignidade” da mulher que não quer ter o filho, entendimento esse que não é compartilhado pelos que sustentam que a dignidade é mais do que a individualidade corporal, ligando-se ao sentido geral mais amplo da existência humana. A unidade global de referência é diversa em um ou outro caso, e essa diferença impede a comunicação, atrapalhando inclusive o diálogo jurídico.

Desse modo, da mesma forma que é mister seja a relatividade superada para a correta compreensão da natureza, o melhor entendimento do Direito passa pela adequação do conceito de dignidade humana, que não pode ser ligado aos meros sentimentos corporais individuais, sendo necessária uma concepção de humanidade mais ampla, que transcenda os corpos dos indivíduos, suas sensações, no sentido de um movimento coletivo da espécie em direção à Vida, resgatando a gênese da dignidade humana, Jesus Cristo e sua cosmovisão, sua unidade global de referência.

Portanto, a unidade global de referência em relação à vida humana não pode ser o indivíduo isoladamente, porque os comportamentos individuais devem ser considerados para o crescimento e desenvolvimento das pessoas de modo compatível com o crescimento da comunidade, das demais pessoas. A ordem que rege o comportamento humano não pode ser considerada apenas sob o referencial individual, mas deve se ligar ao referencial coletivo, à inteligência da unidade superior, à unidade da espécie humana, com sua racionalidade própria, que é o Logos.

No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e Deus era o verbo. Este no princípio estava como Deus. Todas as coisas existiram por ação dele e sem ele existiu nem uma só coisa que existiu. Nele estava a vida, e vida era a luz dos homens” (Jo 1, 1-4).

A passagem acima é retirada da tradução do grego por Frederico Lourenço (Novo Testamento: os quatro Evangelhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017), e aponta exatamente para o Logos, o Verbo, como unidade global de referência, que estava no princípio e continua presente na criação, em todas as coisas, pois além de todas as coisas, além dos corpos humanos, e que habitou na humanidade.

E o verbo fez-se carne e habitou entre nós; e contemplamos a sua glória – glória enquanto [filho] unigênito do Pai, pleno de graça e de verdade” (Jo 1, 14).

O Evangelho de João nos mostra como ocorreu a plena comunicação de Deus para a humanidade, fazendo de um homem sua unidade global de referência, Jesus Cristo, que encarnou o Verbo, o Logos de Deus na humanidade. Nas notas sobre o versículo 14 acima transcrito, é curioso notar que a tradução tradicional pode ocultar uma realidade teológica, porque o Frederico Lourenço afirma que “no v. 14 de João, a expressão ‘entre nós’ é literalmente ‘em nós’ (em hêmîn)” (Idem, p. 324 – grifo nosso). E mesmo sobre a tradução de “unigênito”, há dúvida sobre o significado original, dizendo o tradutor que São Jerônimo usou esse termo, havendo a suspeita de que não seja o mais correto, para combater o arianismo, quando o significado seria ligado a monogenês, referente à unicidade de Jesus, como único de seu gênero, sua espécie. Único porque nenhum outro homem teve, como ele, a plenitude da graça e da verdade de Deus. Mas Ele recebeu o Espírito de Deus e o comunicou a nós, nos transmitiu a mensagem que une, que liga, a humanidade a Deus.

Portanto, a unidade global de referência da humanidade é Jesus Cristo porque teve uma vida pautada pela vida coletiva, pelo Logos, mostrando o conceito de humanidade na prática social, auxiliando os humildes, curando os doentes e servindo à coletividade, como Messias, como Líder político, como governante, segundo a Lei de Deus, até a morte, e morte de cruz.

Essa é sua mensagem, a comunicação plena, pois mostrou que a vida não se encerra com a morte do corpo, e que a vida é mais do que o corpo, comunicou que a unidade global de referência é o Espírito, o Logos de Deus que habita em nós, e comunicar essa Verdade é obrigação do Cristão, proclamando o Evangelho e dando testemunho vivo de Jesus Cristo, seguindo seu exemplo. Essa é a melhor forma de comunicação!

Qual a mensagem?

Diz-se que vivemos na sociedade da informação. A palavra informação está ligada ao tema da comunicação, em que há troca e aumento de conhecimento compartilhado.

Informação é palavra de origem latina, e significa “dar forma”. E forma também tem origem latina, ligando-se a “imagem, figura, aspecto, aparência, molde”.

Podemos associar informação, portanto, a modelo, a ideia, a contexto e a paradigma.

Informação se refere a sentido, a mensagem, a transmissão de dados, com forma, com contexto. A interpretação dos dados torna a informação propriamente informação, um sinal com sentido, inserindo um conteúdo significativo dentro de uma imagem significativa.

Segundo a física moderna, o mundo é feito de informação, sendo que as unidades básicas da realidade, os campos, trocam informações por meio de fótons, de luz. Luz é informação, energia, conteúdo, forma, pois a luz tem natureza dual, corpuscular e ondulatória, é radiação eletromagnética com comprimentos de ondas e frequências variadas, formas variadas.

Os corpos podem ser considerados como feitos de luz congelada, como afirma David Bohm. Os corpos são a parte congelada da luz, mas também estão em movimento constante, emitindo informações. Deus, como Logos, é a Luz da luz, controla a ordem implicada que conduz a ordem manifesta, a Luz que permite o congelamento da luz, formando os corpos, como luzes dentro da Luz.

O Logos se liga à ordem implicada, à ordem interna do mundo, sua Unidade, que dá origem à ordem explicada, a ordem externa.

Clearly the manifest world of common sense experience refined where necessary with the aid of the concepts and laws of classical physics is basically in an explicate order. But the motion of particles at the quantum level is evidently also in an explicate order. However, as we have sugested in chapter 8, this latter order is not always at the manifest level because it is profoundly affected by the active information represented by the quantum potential. This latter operates in a subtle way and accordin to what has been said in this chapter, this operation is in an implicate order. Therefore the particle movement is not understood fully as self-determined in the explicate order in wich it is described. Rather, this explicate order reveals the deeper implicate order underlying its behavior” ((David Bohm and Basil J. Hiley. The undivided universe: An ontological interpretation of quantum theory. New York: Routledge, 2005 p. 362)

Claramente, o mundo manifesto da experiência do senso comum, refinado, quando necessário com a ajuda dos conceitos e leis da física clássica, está basicamente em uma ordem explicada. Mas o movimento de partículas no nível quântico evidentemente também está em uma ordem explicada. No entanto, como sugerimos no capítulo 8, esta última ordem nem sempre está no nível manifesto porque é profundamente afetada pela informação ativa representada pelo potencial quântico. Este último funciona de forma sutil, e de acordo com o que foi dito neste capítulo, esta operação está em uma ordem implicada. Portanto, o movimento das partículas não é totalmente compreendido como autodeterminado na ordem explicada na qual ele é descrito. Em vez disso, essa ordem explicada revela a ordem implicada mais profunda conduzindo seu comportamento”.

Desse modo, todos os movimentos significam trocas de informações, no nível mais básico das coisas, ligadas a um nível dobrado para dentro do Universo, em sua Unidade subjacente a tudo, na ordem implicada.

Também nós, enquanto seres em movimento, trocamos informações permanentemente, enviamos e recebemos informações a todo tempo.

Nossa vida é, outrossim, uma constante mensagem, da concepção à morte. Estamos sempre enviando mensagens para o cosmos, e recebendo mensagens cósmicas.

Cada ramo científico processa os dados, os sinais cósmicos, de uma perspectiva específica e parte de uma determinada referência paradigmática, dando forma a essas mensagens. A biologia foca na autorreprodução de informação em organismos. A química trabalha com a forma de organização da informação nos níveis mais básicos da realidade, assim como a física ao estudar o movimento da informação mais fundamental. A história também tem seu foco no desenvolvimento da informação no tempo. O direito estuda a informação na perspectiva do movimento humano e seus efeitos sobre as pessoas e o mundo.

Contudo, a abordagem reducionista da informação é evidentemente insatisfatória, sendo necessária uma perspectiva completa e integrada de todos os dados disponíveis, de modo que o todo da realidade tenha uma imagem inteligível. Essa função é exercida pela Filosofia, que adota o paradigma da unidade racional do conjunto das informações, buscando o Todo, o contexto maior, o mesmo sendo feito pela Teologia, ao organizar a informação a partir de um princípio espiritual.

O processamento da informação exige razão e experiência, ou seja, a ideia correta do modelo de mundo para inserir o dado no contexto adequado, que é conhecido por uma vivência prévia, intelectual ou sensorial, desse mesmo contexto, como os preconceitos no entendimento de Gadamer, considerando-se os dados mais relevantes, mais fundamentais, mais ligados à origem comum, universal de todos os dados, o que é condição da comunicação sensível e/ou inteligível, algo comum que permita a tradução.

E nesse ponto a filosofia materialista soçobra, pois a comunicação autêntica é necessariamente inteligível, servindo a sensibilidade apenas para qualificar a inteligibilidade, na medida em que vivemos em corpos, em unidades relativas que interagem com o organismo cósmico. A comunicação, portanto, é espiritual, pois apenas o espírito, que transcende os corpos individuais, pode permitir a comunicação, a ideia comum.

Aqueles ligados ao ego, às próprias sensações, os chamados psíquicos, não têm a capacidade de perceber isso, por sua limitação espiritual.

Quanto a nós, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, a fim de que conheçamos os dons da graça de Deus. Desses dons não falamos segundo a linguagem ensinada pela sabedoria humana, mas segundo aquela que o Espírito ensina, exprimindo realidades espirituais em termos espirituais. O homem psíquico não aceita o que vem do Espírito de Deus. É loucura para ele; não pode compreender, pois isso deve ser julgado espiritualmente. O homem espiritual, ao contrário, julga a respeito de tudo e por ninguém é julgado. Pois quem conheceu o pensamento do Senhor para poder instruí-lo? Nós, porém, temos o pensamento de Cristo” (1Cor 2, 12-16).

E Cristo é exatamente a realidade espiritual, intelectual, do cosmos, é o Logos. Por isso ele disse, “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).

O que Jesus Cristo quis dizer com isso? Ele falou que é a mensagem. Ele poderia dizer hoje: “Eu sou a mensagem”, ou “Eu expresso o Todo”, “Eu sou a totalidade cósmica”, “Eu sou o potencial quântico realizado”, “Eu sou a informação ativa”. Isso por que o mensageiro é a mensagem. A mensagem de Jesus é: a realidade é Una e nos abrange a todos, este corpo, da forma como está, é provisório, e há ressurreição; a morte do corpo não encerra a Vida. Essa é uma parte de sua mensagem da Boa Nova, do Evangelho.

A mensagem é no sentido de que a realidade é mais do que as aparências corporais, e obedece a uma Ordem, implicada e Una, a realidade é cósmica, e racional, é Logos, e se manifesta na humanidade, pelo Reino de Deus iniciado por Jesus Cristo. Isso, a realidade cósmica, ordenada, também é o que nos diz a ciência humana, dentro de uma racionalidade limitada, chegando alguns a dizer que existem bilhões de universos, e outros que somos, em nossas vidas, meras simulações de computadores do futuro. E os que falam isso são cientistas sérios. Esse argumento somente reforça a cosmovisão Cristã, do Logos de Deus.

O livro do Apocalipse relata uma guerra céu, que é uma guerra intelectual e espiritual, a qual foi vencida por Miguel, o anjo que é como Deus, pois o intelecto exige todas as razões e a coerência entre elas. O Dragão perdeu a guerra no céu, ou seja, o egoísmo e o individualismo são racionalmente insustentáveis, a inteligência do Dragão perdeu a guerra da Razão, pois esta é coletiva, é o Logos, partindo para a terra, para o reino material da força bruta.

Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus Anjos, mas foi derrotado, e não se encontrou mais um lugar para eles no céu. Foi expulso o grande Dragão, a antiga serpente, o chamado Diabo ou Satanás, sedutor de toda a terra habitada — foi expulso para a terra, e seus Anjos foram expulsos com ele. Ouvi então uma voz forte no céu, proclamando: ‘Agora realizou-se a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo: porque foi expulso o acusador dos nossos irmãos, aquele que os acusava dia e noite diante do nosso Deus. Eles, porém, o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho, pois desprezaram a própria vida até à morte. Por isso, alegrai-vos, ó céu, e vós que o habitais! Ai da terra e do mar, porque o Diabo desceu para junto de vós cheio de grande furor, sabendo que lhe resta pouco tempo’” (Ap 12, 7-12)

Jesus Cristo é a imagem humana de Miguel. Jesus Cristo é o anjo como Deus, encarnado, o primeiro anjo, que tem em si a imagem da totalidade da criação em criação, o Arcanjo Miguel. A palavra anjo significa mensageiro, e Jesus Cristo é o mensageiro do Deus Único, fala em nome de Deus, o que é a missão do Profeta.

Como anjos, somos mensageiros, e testemunhas, de Deus ou de Satã, dependendo da mensagem que realizamos e transmitimos, dependendo do contexto a que estamos vinculados intimamente, ontologicamente.

Todos os nossos comportamentos expressam significados, enviam mensagens, que podem ou não ser compreendidos, dependendo do contexto do interlocutor, do paradigma simbólico em que o outro está inserido.

Nossos pensamentos, mesmo os mais íntimos, produzem reações químicas no cérebro, e ondas eletromagnéticas que se expandem por todo o cosmos, com ondas variadas, inclusive materialmente, na velocidade da luz, produzindo também ondas gravitacionais, mesmo que ainda não consigamos medi-las.

E é um fato que as ondas eletromagnéticas interferem no comportamento humano, e no corpo humano, existindo radiação que causa câncer, havendo até mesmo pessoas que são alérgicas a ondas eletromagnéticas, e por isso são obrigadas a viver longe das cidades.

Outrossim, importa o que as pessoas pensam e a forma como pensam. É importante, porque o pensamento modifica o mundo, tanto pela ação com base em ideias, como apenas o próprio pensamento, fisicamente, de forma sutil.

Existe, assim, maniqueísmo no mundo, um maniqueísmo ideológico, existem boas e más ideias, corretas e incorretas, com os correspondentes comportamentos bons e maus, coerentes e incoerentes, racionais e irracionais. E a guerra ideológica foi vencida pelo Logos, pela ideia de Deus, que é boa, correta, racional, integral e coerente.

A sabedoria do estulto é como uma casa devastada e a ciência do insensato é um discurso incoerente” (Eclo 21, 18).

Deus é Espírito, e Ideia racional e movimento, que é Forma racional, é Logos, e quando Esse Espírito é realizado, tornado real, encarnado, é o próprio Deus que encarna, como ocorreu em Jesus Cristo.

Jesus Cristo expressa a mensagem do Logos, do pensamento Santo, do Espírito Santo, da Ideia perfeita, que é sutil e que poucos conseguem captar pelo Espírito, porque poucos estão ligados à Totalidade significativa em que Ele vive, pois essa totalidade implica e exige um desapego da individualidade corporal e sensorial, para que seja possível abarcar a coletividade espiritual, para a qual “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”, na medida em que poucos escolhem verdadeiramente a Verdade.

Portanto, sempre somos mensageiros, somos anjos, testemunhas, estejamos conscientes disso ou não. E você? É mensageiro do que? De quem? Que forma seu comportamento e seus pensamentos dão ao Universo? Qual a sua mensagem?

Trindade: uma heresia.

A palavra “cristo”, de origem grega, tem a mesma acepção do termo “messias” hebraico, significando “ungido”, a pessoa abençoada, escolhida por Deus para um serviço sagrado, para uma função especial. Moisés ungiu Aarão para ser sacerdote. Samuel ungiu Saul e Davi para serem reis de Israel. E mesmo Ciro, um não judeu, um pagão, foi chamado ungido, ou messias, ou cristo do Senhor (Is 45, 1), pois libertaria os cativos de Israel.

Nesse sentido, Jesus é O Cristo Senhor, o Cristo dos cristos, o que Presenta Deus entre os homens. Toda autoridade vem de Deus, e por isso, como o rei é uma autoridade, assim como o presidente ou primeiro-ministro, Jesus é o Rei dos reis, o Presidente dos presidentes. Juridicamente, Jesus exerce a função de preposto de Deus entre os homens, de procurador Absoluto, encarregado de mostrar o máximo que a carne pode presenciar de Deus, que é Espírito. Quando Jesus, O Cristo Redentor, o Ungido com o Espírito Santo para resgatar, redimir com seu corpo, a humanidade para Deus, ensinou-nos a orar, e em diversas outras passagens do Evangelho, mostrou-nos que existe apenas Um e Verdadeiro Deus, que não é trino e não é uma trindade.

Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes. Portanto, orai desta maneira: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu Nome, venha o teu Reino, seja feita a tua Vontade na terra, como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos exponhas à tentação mas livra-nos do Maligno. Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos” (Mt 6, 8-15).

Estando num certo lugar, orando, ao terminar, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos’. Respondeu-lhes: ‘Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu Nome; venha o teu Reino; o pão nosso cotidiano dá-nos a cada dia; perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’” (Lc 11, 1-3).

A oração indica que Deus é nosso Pai, e não apenas de Jesus Cristo, e que Deus está nos céus, pois Deus é Espírito. Em sua oração, Jesus demonstra haver um só Deus e Pai de Todos, Criador de Todas as coisas, e também Criador de Jesus Cristo, pelo que, ainda que Jesus Cristo tenha status inigualável na criação, Jesus Cristo é parte da criação, como nós. E mesmo que Jesus, enquanto encarnação do Logos, a primeira criação e modelo por meio do qual tudo foi criado em Unidade, esteja acima de todos nós, Ele está abaixo de Deus. Como Filho de Deus, condição que transmitiu a nós, sabe que Deus está acima de todos e que apenas Deus tem todo o conhecimento, e sua função como Messias, como Ungido é exatamente de nos redimir e nos conduzir ao conhecimento de Deus e a Deus, e à Unidade da criação, à unidade cósmica.

Como nosso condutor e redentor, Jesus é o Caminho, o Método de chegar a Deus, e por mais que Ele tivesse percorrido o caminho e seja o Caminho, Ele não é o destino final, pois o destino final é o próprio Deus, o Pai, e não Jesus. Enquanto encarnação, como humanidade, como Filho, Jesus pode ser o destino, mas como Espírito, o destino é Deus.

Mas, quando ele disser: ‘Tudo está submetido’, evidentemente excluir-se-á aquele que tudo lhe submeteu. E, quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos” (1 Cor 15, 27-28).

A trindade é, portanto uma heresia, a maior heresia do cristianismo, que divide o Deus Único, divide a criação e nos separa de Deus levando a uma interpretação equivocada da Realidade. O Pai é o Criador, o Filho é a criatura, que integramos, e o Espírito Santo é a Presença do Criador na criatura, a imanência de Deus na criação. O Espírito Santo é a Razão, a Harmonia que Une a parte ao Todo, mantendo a Unidade do Todo na diversidade criada, que foi recuperada na humanidade por Jesus Cristo. Podem existir razões ou espíritos que ligam partes a unidades maiores, mas apenas o Espírito Santo liga a parte ao Todo, pois é o Todo na parte.

Deus criou juntas todas as coisas, em Unidade, em uma Substância inteligente, o Logos, e essa unidade da criação foi rompida pela humanidade, pela Queda, criando um mundo à sua imagem carnal. A humanidade é a unidade da inteligência criada, mas o materialismo decorrente da Queda, quando a parte quis fazer o papel do todo, levou o homem a perder sua conexão intuitiva com Deus. Nesse ponto, fazendo um paralelo com a ciência moderna, a relatividade é máximo que a racionalidade materialista decorrente da Queda pode alcançar, e não permite atingir ou entender a unidade quântica. A Unidade da criação e cósmica foi recuperada por Jesus Cristo, que encarnou o Espírito Santo, o Logos, que existia desde o princípio, não apenas (re)criando o conceito de humanidade, como unidade de todos os homens, além da materialidade, independentemente de tribos, raças e nações, mas restabelecendo o conceito de criação ligada diretamente ao Criador, unida ao Criador. Se a primeira parte da atividade de Jesus Cristo já foi aceita e incorporada nos direitos humanos, todavia, a interpretação da dignidade humana se tornou equivocadamente materialista; pelo que a parte principal da mensagem e da obra de Jesus Cristo ainda não é aceita pelas autoridades científicas, a realidade não local e onipresente do Espírito, o fato de que o Espírito Santo habita no homem, fazendo dele Tenda do próprio Deus, não apenas Jesus Cristo, mas todo aquele que adora o Pai em Espírito e Verdade, e todos temos esse potencial, bastando que aceitemos Jesus Cristo como Messias.

Seguir Jesus é se submeter à Vontade do Pai, e aceitar que Ele é Bom e nos governa para nossa salvação, em Dia por nós desconhecido, futuro, mas certo.

E comprovando que Jesus não é o próprio Deus, ele disse expressamente que nem ele, como Filho, sabia o Dia do Senhor. “Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas só o Pai” (Mt 24, 36).

O Bom é um só” (Mt 17, 19), Deus, que não é uma trindade. “Jesus respondeu: ‘Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão só Deus! Conheces os mandamentos: Não cometas adultério, não mates, não roubes, não levantes falso testemunho; honra teu pai e tua mãe’” (Lc 18, 19-20).

Jesus respondeu: ‘Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus. Tu conheces os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe’” (Mc 10, 18-19).

Somente Deus é Bom, e por isso apenas somos bons quando fazemos Sua Vontade, quando agimos coletivamente, mas a bondade não é nossa, e sim de Deus, o Espírito Bom que age em nós. Como Jesus Cristo cumpriu a vontade do Pai até o fim, e atuou plenamente conforme o Espírito Santo, também pode ser considerado bom, porque já consumou sua obra, porque recuperou nossa humanidade, a unidade da espécie e da criação, do cosmos, estando à direita do Pai. Adão e Jesus foram os únicos criados pelo Espírito, mas Adão não manteve sua perfeição humana. Assim, somente Jesus foi totalmente humano, mantendo sua perfeição humana até a injusta morte de cruz, foi o único que agiu plenamente pela Razão, pelo Logos, e por isso, para nós, do ponto de vista humano, Ele é Deus, pois Deus é o Logos, a Razão, e nada na vida de Jesus violou o Logos. Ainda assim, Jesus é criatura, perfeita, e criadora, mas não o próprio Deus, o Espírito incriado, que é maior que tudo e todos.

Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar da mão do Pai. Eu e o Pai somos um‘. Os judeus, outra vez, apanharam pedras para apedrejá-lo. Jesus, então, lhes disse: ‘Eu vos mostrei inúmeras boas obras, vindo do Pai. Por qual delas quereis lapidar-me?’ Os judeus lhe responderam: ‘Não te lapidamos por causa de uma boa obra, mas por blasfêmia, porque, sendo apenas homem, tu te fazes Deus’. Jesus lhes respondeu: ‘Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? Se ela chama de deuses aqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode ser anulada — àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo dizeis: ‘Blasfemas!’, porque disse: ‘Sou Filho de Deus!’ Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis em mim; mas, se as faço, mesmo que não acrediteis em mim, crede nas obras, a fim de conhecerdes e conhecerdes sempre mais que o Pai está em mim e eu no Pai’” (Jo 10, 29-38).

Jesus é a parte perfeita é que o Todo manifesto, como no princípio holográfico ou holístico, e não trinitário, e permitiu, com sua morte e ressurreição, que difundiu o Espírito Santo, que nós, como partes, também reflitamos o Todo, permitiu que também sejamos imagem do Deus Perfeito, agindo segundo o Espírito Santo, o Logos, a Razão Plena.

A física moderna informa que é impossível definir os limites internos e materiais da criação, que é uma totalidade indivisível e incomensurável. Do mesmo modo, Jesus Cristo, pela Graça de Deus e pela obediência do Seu Messias, rompeu com o rompimento provocado por Adão entre nosso Espírito e o Espírito de Deus, rompeu com o limite Espiritual entre Criador e criatura, de forma que, em um limite indefinível, nosso Espírito, por meio de Cristo, enquanto Espírito Santo em nós, é o próprio Espírito de Deus, o próprio Deus Pai, agindo em nós.

Antes de Jesus, por causa da Queda, a imagem de Deus em nós estava borrada, nosso Logos estava deturpado, nossa razão não era plenamente racional, tendo a vida de Jesus recuperado o modelo de Deus em nós, pela difusão do Espírito Santo, que pode chegar àqueles que buscam as coisas do alto, o Todo, Deus, segundo Jesus, agindo segundo o Espírito Santo de Deus, a Vontade do Pai, a Própria Razão, o Logos. E Jesus também foi claro ao dizer, contrariando a ideia de trindade ou de Deus triuno, que “o Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28).

Irineu de Lião, no seu livro “Contra as heresias”, em que refuta os argumentos gnósticos, já dizia que há Um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos. “Pelas próprias palavras do Senhor é fácil demonstrar que ele admite um só Pai, criador do mundo, modelador do homem, anunciado pela Lei e os profetas; que o Senhor não conhecia nenhum outro e que o Pai é o Deus que está acima de todas as coisas; que mostra e comunica a todos os justos, por meio dele, a filiação adotiva, em relação ao Pai, que é a vida eterna” (Contra as heresias. Trad. Lourenço Costa. São Paulo: Paulus, 1995, p. 150). E em outra passagem, afirma: “O querer transferir este universo aos números o tiraram dos pitagóricos” (Idem, p. 164). Portanto, como já exposto tem “Monoteísmo: A Santíssima Unidade” (https://holonomia.com/2016/12/10/monoteismo-a-santissima-unidade/), fazer do Deus Único uma trindade é uma heresia, que tem origem na incorporação de ideias pitagóricas no cristianismo, contrariando a essência do Monoteísmo.

O conceito trinitário é fenomenológico, decorrente da aparência divina para os homens, pois como o homem não pode contemplar diretamente o Criador, o contato do homem com Deus ocorreu historicamente por meio do Espírito Santo, o Espírito de Deus em nós, ou por meio de Jesus Cristo, a encarnação do Espírito Santo em forma humana visível, Suas manifestações. Deus não pode ser visto diretamente pela carne, por dentro da criação, pelo que o vemos por suas manifestações como Espírito Santo, o fenômeno numinoso na criação em geral, e como Jesus Cristo, a encarnação humana do Espírito Santo. Quando O virmos em Espírito, poderemos contemplar o próprio Deus e também Jesus Cristo, mas não haverá um Espírito Santo distinto de Deus para ser contemplado. Assim, a trindade é uma construção humana, um conceito humano. Contudo, ontoteologicamente, por essência, Deus é Um, o Criador. Ainda que, do interior da criação, somente consigamos enxergar o vértice da criação, o Logos pelo qual tudo foi feito, o Criador é Um só, o Deus Todo-Poderoso, o Altíssimo, que é imanente a tudo criado, e também é transcendente, pois Deus é maior que a criação.

A trindade foi incorporada como dogma cristão no Concílio de Niceia, afastando o cristianismo da Verdade, e daí sua heresia, fazendo com que os cristãos se esquecessem de que são templo do Espírito Santo, relegando Deus apenas à transcendência.

Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus? … e que, portanto, não pertenceis a vós mesmos? Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo” (1 Cor 6, 19-20).

Se nosso corpo é templo do Espírito Santo, quando Ele habita em nós, como em Jesus, o Reino de Deus está em nós, pelo que o Reino de Deus é deste mundo, somente não o era do tempo político-jurídico romano.

Com base na heresia trinitária, a escatologia cristã se firmou segundo o entendimento de santo Agostinho dizendo que não haveria o milenarismo descrito no capítulo 20 do Apocalipse, de que não haveria a era messiânica esperada pelos judeus, e assim a escatologia se tornou apenas transcendente. A trindade, nesse sentido, também foi uma forma de separar o cristianismo do judaísmo, negando e ocultando o fato incontroverso de Jesus ser judeu, o Cristo judeu, de Ele ser, antes de tudo, o Messias Judeu. Por influência romana, os cristãos abandonaram uma teologia política esperando a Justiça entre os homens, a realização do Reino de Deus na história humana, pois o Reino de Deus seria apenas espiritual, na cidade de Deus, uma ideia muito conveniente para o império, a cidade dos homens

E como os cristãos não mais esperavam o reino da Justiça aqui, a porta política ficou aberta para ideologias ainda piores que o trinitarismo, permitindo que o marxismo se desenvolvesse…

E ainda hoje, o mundo ocidental, que se diz majoritariamente cristão, continua negando o Evangelho, a Boa Notícia, continua negando a humanidade e o Reino de Deus, continua permitindo o governo tirânico humano, e sofre as consequências desse erro, possibilitando aberrações como a defesa do aborto, de ideologias antinaturais como as de gênero, de guerras pelos mais variados motivos (sempre econômicos) e outras propostas que estão acabando com nossa civilização.

Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10, 42-45).

Por isso, como afirma Paul Washer, o domingo é o maior dia da idolatria, pois as pessoas adoram um Deus que não conhecem (https://www.youtube.com/watch?v=Ji3BbPqwPKY), e muitas pregações são odiosas, porque pregam o dinheiro, a imagem, e não o Evangelho (https://www.youtube.com/watch?v=Uk2m-H0oeUo).

Muitos sacerdotes, como muitos políticos, dominam as pessoas e as tiranizam, usam o privilégio da função sacerdotal, da função pública, em benefício próprio, quando a posição de privilégio é para o serviço.

Jesus é O Cristo Redentor, O Cristo máximo, pois foi o que viveu segundo o Espírito Santo para compartilhar o Espírito Santo com a humanidade, por sua paixão e ressurreição.

Jesus Cristo é O Messias porque cumpriu sua função messiânica, cumpriu seus deveres, cumpriu os mandamentos, serviu a todos com o Poder de Deus, ao invés de servir-se desse Poder, e como toda autoridade, todo poder, vem de Deus, quando os governantes forem cristos, ungidos pelo Espírito Santo, pois cristo é um serviço sagrado, e não uma pessoa, quando as autoridades humanas governarem pelo Espírito, em nome de Deus, do Logos, e não para seus grupos partidários, quando todos formos cristos, Um com O Cristo Senhor e com Deus, quando formos messias seguindo O Messias, estaremos no Reino de Deus.

Somos Filhos de Deus

Essa é a essência do cristianismo, o fato de sermos Filhos de Deus, e esse fato está ligado exatamente à encarnação do Verbo de Deus em Jesus Cristo, sua paixão e ressurreição.

A História da humanidade, narrada na Bíblia, indica que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, o que significa criado como ser livre e inteligente, em virtude do Espírito colocado no homem, e com base neste Espírito deveria dominar a criação, sendo uma criatura criadora. Contudo, pelo ato de desobediência, ocorreu a Queda, quando o homem foi expulso do paraíso, expulso da convivência com Deus. A Queda ocorreu porque o homem comeu do fruto do conhecimento do bem e do mal, ou seja, conheceu o que é praticar o mal, as consequências por agir mal, a causalidade material que rege os fenômenos físicos. O homem quis governar-se a si mesmo, segundo suas próprias regras particulares. Essa questão foi abordada no artigo “Jesus e o jogo da Vida Eterna: verdade e consequência” (https://holonomia.com/2016/09/05/jesus-e-o-jogo-da-vida-eterna-verdade-e-consequencia/).

Para redimir a criação, Deus enviou Jesus, que encarnou Seu Espírito, isto é, viveu plenamente segundo os Mandamentos, as Razões de Deus, até a morte, sendo ressuscitado. A ressurreição de Jesus era a prova necessária para que os apóstolos acreditassem que Ele era de fato o Messias, o Ungido de Deus, e continuassem Sua obra, pregando o Evangelho a todas as nações.

Em Adão, o Espírito da humanidade, que estava ligado ao Espírito de Deus, separou-se de Deus, o homem perdeu sua natural conexão cósmica e mental com o Pai, que foi restabelecida por Jesus Cristo, ao manter seu Espírito ligado a Deus até o último momento. Assim, Jesus Cristo pôde nos (re)unificar com Deus, desde que seguido seu exemplo de submissão à Vontade do Pai.

O Evangelho de Jesus Cristo significa a Boa Notícia, a Boa Nova, que é a proximidade do Reino de Deus, o Reino dos Céus, o tempo em que a Justiça prevalecerá, período também chamado de era messiânica, de “justiça, paz e alegria no Espírito Santo”, quando Seu Espírito habitará a humanidade e a governará, quando os santos herdarão o Reino de Deus.

Vós não estais na carne, mas no espírito, se é verdade que o Espírito de Deus habita em vós, pois quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a ele. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo está morto, pelo pecado, mas o Espírito é vida, pela justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, somos devedores não à carne para vivermos segundo a carne. Pois se viverdes segundo a carne, morrereis, mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis. Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Com efeito, não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abba! Pai! O próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, pois sofremos com ele para também com ele sermos glorificados” (Rm 8, 9-17).

Depois da Queda, Deus recriou a humanidade por meio de Jesus Cristo, neste colocando novamente Seu Espírito puro, que podemos compartilhar com Cristo, seguindo seu Caminho.

Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que creem em seu nome, ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1, 12-14).

A qualidade de filhos naturais de Deus somente tiveram Adão e Jesus, sendo que o primeiro perdeu essa honra enquanto o segundo a manteve e, pela bondade de Deus, e do seu Filho, transmitiu àqueles que o seguiram. “Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas são os filhos da promessa que são tidos como descendentes” (Rm 9, 8).

Outrossim, a humanidade é uma só, mas existem dois tipos de homens, os que se comportam como Filhos de Deus, pelo Espírito, com Razão e Inteligência, e os que agem segundo a carne, os instintos animais, os filhos do diabo, filhos da injustiça.

Aquele que comete o pecado é do diabo, porque o diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque sua semente permanece nele; ele não pode pecar porque nasceu de Deus. Nisto se revelam os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo o que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão” (1Jo 3, 8-10).

Assim, a conduta justa é aquela praticada pelo habitante do Reino de Deus, da Cidade de Deus, o que também significa o respeito às leis humanas, e a conduta injusta, inclusive com violação das leis humanas, é a dos moradores das trevas e da ignorância.

Assim como a humanidade é uma, o Reino de Deus não tem fronteiras humanas, pelo que a justiça deve ser praticada não apenas em relação aos da mesma família, cidade, estado ou país, mas a todos os seres humanos, pelo que é tão grave a morte de um inocente atingido por bala perdida no Rio de Janeiro quanto a do cidadão sírio, coreano ou sudanês, ou de uma ação terrorista.

O que nos faz Filhos de Deus não é a carne ou o local de nascimento, mas o Espírito de santidade que adotamos.

Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, escolhido para o evangelho de Deus, que ele já tinha prometido por meio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras, e que diz respeito a seu Filho, nascido da estirpe de Davi segundo a carne, estabelecido Filho de Deus com poder por sua ressurreição dos mortos, segundo o Espírito de santidade” (Rm 1, 1-4).

Ser Filho de Deus é vestir o Espírito de Deus, como Jesus nos mostrou.

Chegada, porém, a fé, não estamos mais sob pedagogo; vós todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus, pois todos vós, que fostes batizados em Cristo, vos vestistes de Cristo” (Gl 3, 25-27).

Portanto, o significado da trindade não se limita a Jesus Cristo, mas se aplica a todos nós, que, acolhendo o Espírito Santo de Deus, segundo o exemplo de Cristo, nos tornamos Filhos de Deus, nosso Pai celestial. A trindade é uma interpretação falha do holismo, que rege o universo. Adão era a parte que espelhava o todo, perdendo essa identificação com a Queda, o que não ocorreu com Jesus Cristo, que manteve a ligação plena com Deus até o fim, o que foi compartilhado conosco após Sua ressurreição.

Porque os que de antemão ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de ser ele o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8, 29).

Assim, o Filho único compartilha sua filiação, para sermos todos irmãos. Adão era unigênito, como Jesus, mas Este manteve sua qualidade, por amor a nós, tornando-se não apenas unigênito, a parte que é o Todo, mas primogênito, a primeira parte que é o Todo, o que também podemos Ser.

Ele é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste. Ele é a Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo. Ele é o Princípio, o Primogênito dos mortos, (tendo em tudo a primazia), pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a Plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue da sua cruz” (Cl 1, 15-20).

Jesus aceitou a cruz não para salvar a si mesmo, para para nos resgatar, pois ele já era e é santo, não pecou. Através da cruz de Cristo, somos Filhos de Deus, partes que espelham o Todo.

Convinha, de fato, que aquele por quem e para quem todas as coisas existem, querendo conduzir muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles. Pois tanto o Santificador quanto os santificados, todos, descendem de um só; razão por que não se envergonha de os chamar irmãos, dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos; em plena assembleia eu te louvarei; e mais: Porei nele a minha confiança; e ainda: Eis-me aqui com os filhos que Deus me deu. Uma vez que os filhos têm em comum carne e sangue, por isso também ele participou da mesma condição, a fim de destruir pela morte o dominador da morte, isto é, o diabo; e libertar os que passaram toda a vida em estado de servidão, pelo temor da morte. Pois não veio ele ocupar-se com anjos, mas, sim, com a descendência de Abraão. Convinha, por isso, que em tudo se tornasse semelhante aos irmãos, para ser, em relação a Deus, um sumo sacerdote misericordioso e fiel, para expiar assim os pecados do povo” (Hb 2, 10-17).

Portanto, como transcrito, não só Jesus, nosso Santificador, como também nós, descendemos de Deus, somos Filhos de Deus, esse é o significado da trindade, Jesus é Filho de Deus, eu sou Filho de Deus, o sírio é Filho de Deus, o estadunidense é Filho de Deus, o coreano é Filho de Deus; ainda que nem todos nos comportemos como tal, e a diferença entre os Filhos de Deus e os filhos das trevas está cada vez mais evidentes.

Vede que prova de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não o conheceu. Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (1Jo 3, 1-2).

Ser Filho de Deus é seguir a Lei, e a lei, ser honesto e justo, com toda a humanidade, tratar a todos como Filhos de Deus, e Filhos dos Homens, nossos irmãos. Quem for encontrado assim agindo, no Dia da Presença, da Parusia, da Manifestação do Espírito, herdará o Reino de Deus. “E acontecerá que no lugar onde lhes foi dito: vós não sois meu povo, lá serão chamados filhos do Deus vivo” (Rm 9, 26).

Essa questão é Teológica, e também física.

Buscando a expressão teologia quântica no YouTube, encontrei um excelente vídeo, que aponta para a comprovação da realidade do Evangelho, que vale muito ser assistido, pelo que fica extremamente recomendado: “The Simulation Hypothesis” (com legenda em português) https://www.youtube.com/watch?v=VqULEE7eY8M&list=PL6CZld8QBY4tpzxGFPdUof1_XwcJ4D51t.

O problema é Teológico

O problema do mundo é Teológico

Todo e qualquer problema tem, em última análise, fundo Teológico, ligado a uma boa ou má Teologia. Teologia, como dizia Aristóteles, o pai da ciência ocidental, no livro Metafísica, é o estudo das causas primeiras, dos primeiros princípios; Teologia é o mesmo que a Filosofia Primeira, cujo objeto é a unidade do Ser, a unidade do conhecimento. Para Aristóteles e para as pessoas do mundo antigo, não havia separação entre filosofia e ciência, e mesmo a Teologia estava ligada à mesma unidade do conhecimento.

Atualmente, contudo, a regra é separar os conhecimentos entre científicos e teológicos, o que é um equívoco evidente, mas evidente para poucos.

Ao se considerar tudo que existe, temos basicamente duas possibilidades, que tudo tem um princípio Espiritual ou material. Para a boa Teologia, que se liga à autêntica Religião, o princípio de todas as coisas é Deus, é o Espírito Absoluto, a Causa Primeira, a Causa não causada. Para os que se dizem ateus, mas cujo deus é a matéria, a matéria é tudo o que existe, e nossos pensamentos e nossas emoções são apenas efeitos de reações químicas surgidas em nossos cérebros, formados por mero acaso a partir da aleatoriedade dos fenômenos físicos, após o Big Bang.

A má teologia tem um primeiro problema que é o de definir a causa do Big Bang, o que não faz e não explica. Essa má teologia é tão ruim que não enfrenta o problema racionalmente e, nesse ponto, simplesmente deixa a razão, abraçando a incoerência.

É importante salientar que a ideia de Big Bang é totalmente compatível com a criação cósmica por Deus, sendo o próprio Criador a origem do Big Bang. E mesmo o Big Bang decorre da ideia de um religoso, Georges Lemaître, que era físico e padre belga, e dizia que tudo que hoje existe estava inicialmente em um “átomo primitivo”. Nesse ponto, a cosmologia é a ciência atual mais próxima da Teologia, ainda que todas as ciências tenham fundo religioso.

Entender que o primeiro problema do mundo é Teológico encontra respaldo até mesmo nas palavras de Jesus Cristo, dizendo qual o maior mandamento.

Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

O primeiro mandamento é amar a Deus e conhecer Deus, dedicar todo o entendimento à Teologia, à lógica de Deus, ao Logos, porque esse conhecimento tem reflexos em todas as atividades da pessoa.

A Torá é repleta de advertências sobre a necessidade de cumprir todos os mandamentos de Deus para receber Suas bênçãos. A adoção da boa Teologia é fundamental para que a sociedade tenha uma Vida plena.

Por uma questão de lógica, como se pode notar em Aristóteles, a Teologia se refere ao estudo da Causa primeira, do Primeiro Princípio, o que exige uma Teologia monoteísta, com unidade de razão, podendo-se entender como filosoficamente inconsistente a ideia politeísta, pois o conflito entre os deuses não pode ser resolvido sem um Deus Altíssimo que estabeleça a unidade lógica das coisas.

Dentro do Monoteísmo, do mesmo modo, existem diversos problemas Teológicos, tanto para os judeus, como para os cristãos e os muçulmanos.

Os judeus reconhecem os livros do Antigo Testamento como palavra de Deus, mas não entenderam o Livro sagrado, notadamente porque ainda rejeitam Jesus Cristo como seu Messias, apesar de todas as provas no sentido de comprovar que efetivamente Jesus Cristo é o Messias judeu, como narrado no capítulo 53 do profeta Isaías, nas cartas do apóstolo Paulo, especialmente na epístola aos Romanos, no livro de Hebreus e também por Justino de Roma, em seu Diálogo com Trifão. Além disso, os judeus se acham melhores que os demais membros da humanidade, e não percebem que esse entendimento é tão equivocado que foi adotado por Hitler contra os mesmos judeus.

Os cristãos, do mesmo modo, em sua ortodoxia imposta por Constantino, não compreenderam plenamente o significado da atividade messiânica de Jesus Cristo, inicialmente por romper com o Monoteísmo, ao criar a ideia de trindade, por influência de um platonismo pitagórico, e por seguir a ideia de santo Agostinho, já criado em ambiente trinitário, de que o Reino de Deus não é deste mundo e de que não haverá uma era messiânica com governo humano que observará os mandamentos de Deus.

Nesse ponto, os católicos entendem que não é possível defender o milenarismo, ou seja, que haverá um período de mil anos de paz pelo governo mundial de Cristo, por meio do Espírito Santo, enquanto os protestantes sustentam que na volta de Cristo haverá o arrebatamento, com deslocamento físico dos crentes para o Reino dos Céus, para um mundo espiritual. E a mensagem de Cristo, o Evangelho, é exatamente: O Reino de Deus está próximo, ou seja, Deus irá Reinar e Julgar a humanidade através de um governo humano.

Finalmente, a Teologia muçulmana não compreendeu o teor do Alcorão, que descreve que Maomé é apenas um mensageiro árabe, que não alterou a mensagem do Livro dado aos judeus e aos cristãos. Além disso, o próprio Alcorão permite entender a superioridade profética de Jesus Cristo sobre Maomé. Nesse ponto, deve ser destacado que o Corão, ou o Alcorão, veio apenas reforçar a mensagem anterior dos profetas, e não contrariá-las, pelo que com estas é necessariamente compatível, por sua própria lógica interna, em que pese sua deturpação político-ideológica.

Acreditareis, acaso, numa parte do Livro e renegareis a outra? Se o fizerdes, vosso castigo será a vergonha neste mundo e o suplício no dia da Ressurreição. Deus está atento ao que fazeis” (Sura 2: 85).

Dize: ‘Quem for inimigo de Gabriel – foi ele quem revelou a teu coração, com a permissão de Deus, o Livro que corrobora as Escrituras anteriores: um guia e boas-novas para os crentes-,

Quem for inimigo de Deus e de Seus anjos e de Seus Mensageiros e de Gabriel e de Miguel, terá Deus por inimigo: Deus é o inimigo dos descrentes’”. (Sura 2:97-98).

O Deus do Islã é o “Clemente, o Misericordioso”. Se Alá é o Deus único, e o Alcorão confirmou a Torá e o Evangelho, a Verdade de todos os livros, ou o Livro da Vida, que é o um só, é a mesma, conforme Sura 2 (A Vaca), versículo 62:

Os que creem e os que abraçam o judaísmo e os cristãos e os sabeus, todos os que creem em Deus e no último dia e praticam o bem obterão sua recompensa de Deus e nada terão a recear e não se entristecerão”.

Entre nossos Mensageiros, temos preferido uns aos outros. A alguns Deus falou. Outros tiveram categoria mais elevada. A Jesus, filho de Maria, entregamos as provas e fortificamo-lo com o Espírito Santo. E se Deus quisesse, os homens que vieram depois dele não se teriam entrematado, já que haviam recebido as provas. Mas começaram a brigar: uns creram, outros descreram. Se Deus quisesse, não se teriam entrematado. Deus faz o que quer” (Sura 2: 253).

O próprio Alcorão reconhece a supremacia de alguns profetas, e em seguida menciona que Jesus foi fortificado com o Espírito Santo e que ele tinha as provas, pelo que poderia ser dispensada nova revelação, mas novamente a humanidade se perdeu no materialismo. Assim, a mensagem de Cristo, em que pese ser anterior à de Maomé na cronologia da história humana, em termos espirituais e no tempo original (pois ainda não se completou), kairológico, é posterior e superior, assim como a figura e a importância do próprio Cristo, que é imortal, como “um sopro de Seu espírito que Ele fez descer sobre Maria” (Sura 4: 171), na medida em que os descrentes “Certamente, não o mataram, Antes Deus o elevou até Ele. Deus é poderoso é sábio” (Sura 4: 157-158). Cristo ainda vive, além da ilusão da “realidade” percebida pelos sentidos. Saliente-se, ainda, que o Alcorão possui linguagem altamente poética, o que dificulta sua interpretação, levando os muçulmanos, equivocadamente, à ideia de que Jesus Cristo, profeta preferido e de categoria mais elevada, não morreu na cruz, quando tal fato aconteceu, apenas ele não continuou morto, ressuscitando.

E falando em interpretação, a filosofia atual se concentra em estudos hermenêuticos, sendo Gadamer considerado um dos grandes filósofos do século XX. Como já escrevi no artigo “Crime de hermenêutica, Donald Trump e Cristo crucificado” (https://holonomia.com/2016/11/15/crime-de-hermeneutica-donald-trump-e-cristo-crucificado/), citando Gadamer:

A história da hermenêutica nos ensina que junto com a hermenêutica filológica existiram também uma hermenêutica teológica e uma hermenêutica jurídica, e que somente as três juntas perfazem o conceito pleno de hermenêutica. Uma das consequências do desenvolvimento da consciência histórica nos séculos XVIII e XIX foi a desvinculação da hermenêutica filológica e da historiografia de seu vínculo com as outras disciplinas hermenêuticas, estabelecendo-se autonomamente como teoria metodológica da investigação das ciências do espírito” (Hans-Georg Gadamer. Verdade e Método. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 407).

Diante dessa afirmação, que é uma conclusão do estudo histórico, mas também uma premissa para o argumento seguinte (um dado construído), Gadamer, dizendo que a interpretação é um fenômeno unitário, cognitivo, normativo e reprodutivo, declara a seguinte tarefa da filosofia: de “voltar a determinar a hermenêutica das ciências do espírito a partir da hermenêutica jurídica e da hermenêutica teológica” (Idem, p. 410).

Por uma questão de hierarquia óbvia de valores, é necessário considerar que a hermenêutica prioritária é a Teológica, que logicamente condiciona as interpretações jurídica e filológica. Todavia, a filosofia de Gadamer não se desincumbiu de alcançar a missão por ele proposta, desenvolver a hermenêutica Teológica que determina a hermenêutica das ciências do espírito, deixando de cumprir o primeiro mandamento.

Aliás, a autêntica hermenêutica Teológica não tem esse problema de separação entre ciências do espírito e da natureza, pois a Teologia é única, e vale para ambas, a ciência é una, como o conhecimento, e a orgânica quântica aponta nesse sentido.

E recentemente me deparei com o mesmo problema Teológico, ou falta de Teologia, lendo o artigo “O paraíso dos conceitos jurídicos do jurista alemão Rudolf von Jhering (parte 6)” (http://www.conjur.com.br/2017-jun-05/direito-civil-atual-paraiso-conceitos-juridicos-rudolf-von-jhering-parte), do sítio Conjur, em sua parte final, citando Ernest H. Kantorowicz, e sua obra Os Dois Corpos do Rei: Um Estudo Sobre Teologia Política Medieval. Isso porque a tal Teologia medieval, da citada obra, seguiu o erro Teológico do Concílio de Niceia e de Santo Agostinho, separando Corpo e Espírito, e para piorar criou outro corpo.

A Teologia cristã autêntica entende haver um só Corpo e um só Espírito, e essa Teologia não era praticada no período medieval, em que pese o livro de Kantorowicz (que ainda não li e que agora ficou ainda mais atrás na minha fila de leitura, pois o Rei só tem um Corpo e um Espírito, e porque dou prioridade aos autores mais próximos da verdade), sendo um fato que o rei medieval, como regra praticamente absoluta, não era cristão, porque não seguia o exemplo de Jesus Cristo sendo o servo de todos.

Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. Mas a cada um de nós foi dada a graça pela medida do dom de Cristo, por isso é que se diz: Tendo subido às alturas, levou cativo o cativeiro, concedeu dons aos homens” (Ef 4, 4-8).

Como a má teologia prevalece, temos hoje o mundo da mentira, da “pós-verdade”, pois o Espírito ainda não se manifestou. O descumprimento do primeiro mandamento permite que os mentirosos ajam livremente, praticando injustiças.

Ora, a vinda do ímpio será assinalada pela atividade de Satanás, com toda a sorte de portentos, milagres e prodígios mentirosos, e por todas as seduções da injustiça, para aqueles que se perdem, porque não acolheram o amor de verdade, a fim de serem salvos. É por isso que Deus lhes manda o poder da sedução, para acreditarem na mentira e serem condenados, todos os que não creram na verdade, mas antes consentiram na injustiça” (2Ts 2, 9-12).

O ímpio está aí, vivendo da mentira, por amor ao poder político, e faz a festa nas redes sociais. Esta questão é mais do que atual, pois a mentira parecer ser a regra nos meios político e social, em que o amor ao dinheiro e ao poder levam à negação da Verdade e à enganação do povo, e não só no Brasil, como vemos com os “grandes” líderes, de todos os partidos, e suas versões estapafúrdias dos fatos nos processos da lava-jato.

Portanto, o problema do mundo é Teológico, de má teologia, daquela em que o primeiro princípio é o dinheiro, a matéria, o poder, que predomina nas relações humanas e na ciência, permitindo a ação livre da mentira, tanto é que criado o termo “pós-verdade”. Não é à toa que não usamos carros elétricos, não reaproveitamos o lixo, deixamos que sessenta mil brasileiros morram assassinados a cada ano, e que outros tantos morram no trânsito e em guerras por dinheiro e poder.

A má teologia é a adotada pelos falsos profetas, que defendem mentiras e praticam injustiças. A boa Teologia é a dos autênticos profetas, normalmente perseguidos pelos poderosos, pois sustentam a Verdade, que é indispensável para a realização da Justiça.

Existe Verdade, existe Justiça; e Deus é a Verdade e a Justiça.

Enquanto o verdadeiro Deus, o Deus da Verdade e da Justiça, e da Razão, o Logos, o Deus de nosso senhor Jesus Cristo, que pela Verdade, e para nossa salvação, morreu na cruz e depois ressuscitou, não for adorado em Espírito e Verdade, por todos, em todo o tempo, enquanto não cumprido o primeiro mandamento, não adianta reclamar dos políticos ou das dificuldades da vida, porque quem luta contra a Vida não tem legitimidade, não tem moral, para reclamar da morte ou das injustiças do mundo.

Indução e Verdade: os problemas da ciência moderna

Um dos livros indicados na bibliografia da disciplina Filosofia do Direito, no curso de Doutoramento em Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é “Justiça para Ouriços”, de Ronald Dworkin, considerado um dos grandes filósofos do Direito do século XX. O autor é um grande pensador e tem preocupações sérias com a sociedade e seus valores, com a vida humana. Um dos pontos que mais me chamou a atenção nessa obra foi o que ele chama de princípio de Hume:

O grande filósofo escocês David Hume declarou que nenhuma quantidade de saber empírico sobre o estado do mundo – nenhuma revelação sobre o curso da história ou sobre a natureza da matéria ou a verdade sobre a natureza humana – pode estabelecer qualquer conclusão sobre o que devia ser sem uma premissa ou assunção adicional sobre o que devia ser*. O princípio de Hume (como chamarei a esta asserção geral) é frequentemente visto como tendo uma clara consequência cética, uma vez que sugere que não podemos saber, através apenas do conhecimento que temos disponível, se alguma das nossas convicções éticas ou morais é verdadeira. De facto, como digo na parte I, o seu princípio tem a consequência oposta. (…) O princípio de Hume, devidamente compreendido, defende não o ceticismo em relação à verdade moral, mas antes a independência da moralidade enquanto departamento separado do conhecimento, com os seus próprios padrões de investigação e de justificação. Requer que rejeitemos o código epistemológico do Iluminismo para o domínio moral” (Justiça para ouriços. Tradução de Pedro Elói Duarte. Coimbra: Almedina, p. 29).

Este princípio (de Hume) afirma que nenhuma série de proposições sobre como o mundo é, enquanto facto científico ou metafísico, pode fornecer argumentos – sem algum juízo de valor escondido nos interstícios – para uma conclusão sobre o que deveria ser o caso” (Idem, p. 55).

Para encerrar com Dworkin, destaco a nota do autor sobre a primeira passagem (onde coloquei *): “Para o meu argumento, não faz diferença se minha descrição e utilização do princípio de Hume é uma interpretação errada ou se ele violou esse mesmo princípio. No entanto, como veremos no Capítulo 3, o princípio de Hume, pelo menos tal como o formulei, está longe de ser incontroverso” (Idem, p. 432).

Aqui já é suficiente a citação de Dworkin para concluir que sua opção carece de coerência lógica ou científica, na medida em que não se importa com a correção do argumento ou com a identificação do princípio com a ideia formulada pelo próprio Hume, estando Dworkin satisfeito apenas com suas conclusões, o que é um problema comum do que se chama filosofia atualmente. Por isso eu digo que Dworkin pode estar correto em suas conclusões, como penso que em geral está, mas essa correção é acidental, pois fundada em motivos equivocados, ainda que não se possa falar em acidente diante da Providência, segundo a qual tudo é necessário.

O princípio de Hume é utilizado na filosofia da ciência, que estuda o método científico. O método científico é a forma pela qual se chega à verdade científica e à teoria coerente sobre a realidade. Nesse aspecto, atribui-se a David Hume a negação da validade do método indutivo. Segundo o método indutivo, a partir de observações particulares é feita uma generalização, uma indução, concluindo pela existência de uma lei universal.

Bom, essa é a história contatada e repetida que ouço e leio sobre Hume, que sempre vem acompanhada da história dos cisnes brancos… Contudo, após a leitura de sua obra, que ele considera sua manifestação filosófica derradeira, constatei ser uma grande mentira essa ideia passada sobre o pensamento de Hume. A obra que estudei é “Uma investigação sobre os princípios da moral”, dizendo o tradutor e autor do prefácio, José Oscar de Almeida Marques, que “o leitor poderá beneficiar-se da recomendação do próprio Hume, de que as duas Investigações (sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral), e apenas elas, devem ser tomadas como a expressão final e definitiva de suas ideias e de seus princípios filosóficos. O scholar, é verdade, discordará, e continuará dando preferência ao texto mais denso, profundo e desafiador do Tratado” (Uma investigação sobre os princípios da moral. Tradução de José Oscar de Almeida Marques. 2 ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013, p. 14).

Normalmente, o estudioso desenvolve e corrige suas ideias ao longo da vida, pelo que entendo cabível adotar como expressão final e definitiva do trabalho de Hume o argumento desenvolvido em Uma investigação sobre os princípios da moral, em que, ao contrário do que se diz sobre o pensamento do filósofo, verifiquei a utilização do princípio da indução em várias passagens, como nas seguintes:

Quando um princípio se demonstrou muito poderoso e eficaz em um caso, está inteiramente de acordo com as regras filosóficas, e mesmo da razão ordinária, atribuir-lhe uma eficácia comparável em todos os casos similares. Esta é, de fato, a regra principal da atividade filosófica, para Newton” (Idem, pp. 54-55). A indução aqui é evidente, de casos particulares partes para a regra de todos os casos similares, a lei universal. E o argumento do autor remete às ciências físicas, diante da citação de Newton e sua ligação com a gravitação e a matemática.

Assim, o intercâmbio de sentimentos na vida e na convivência sociais faz-nos estabelecer um certo padrão geral e inalterável com base no qual aprovamos e desaprovamos os caracteres e costumes” (Idem, pp. 82-83). Novamente a indução leva ao “padrão geral e inalterável”.

A ideia de moral pressupõe algum sentimento comum a toda a humanidade, capaz de recomendar o mesmo objeto à aprovação generalizada e fazer com que todos os homens, ou a maioria deles, concordem em suas opiniões ou decisões relativas a esse objeto. Ela também pressupõe um sentimento tão universal e abrangente que consiga estender-se a toda a humanidade e tornar até mesmo as ações e os comportamentos das pessoas mais distantes em objetos de aplauso ou censura, na proporção em que estejam ou não de acordo com a regra de direito que se estabeleceu” (Idem, p. 131). A conclusão por um sentimento universal é mais uma espécie de indução, que, no caso, é a base da regra de direito.

Todo conhecimento parte de pressupostos, os quais são obtidos pela via indutiva, saiba a pessoa que os utiliza, ou não. A rigor, os pressupostos não são discutidos, são simplesmente aceitos, sendo então usados argumentos pela via dedutiva, por conclusões lógicas, passando pela verificação, até se chegar aos mesmos pressupostos, agora pela experiência. Ou seja, da indução, pressuposta ou encontrada pela razão, passa-se à dedução e à experimentação, até se concluir pela indução, isso se o trabalho foi corretamente feito e se os pressupostos são corretos. Caso contrário, pela divergência entre os pressupostos, a indução, e a experimentação, a regra indutiva ou a experiência deve ser revista. Basicamente essa é a ideia lógica de Hegel, segundo Vittorio Hösle, partindo da lógica, que dita as categorias racionais do conhecimento, que eu digo indução, passando pela filosofia da natureza, a lógica aplicada às ciências particulares, à exterioridade do Ser, ou experimentação, como penso, conferindo a racionalidade inicial, e chegando no espírito absoluto, à religião, em que prevalece uma unidade entre lógica e sentimento, forma e conteúdo.

Por isso, considerando que basicamente não se avançou na filosofia desde Hegel, o título do artigo é “problemas da ciência moderna”, e não da “ciência contemporânea”. O tempo contemporâneo começa com a Revolução Francesa, e Hegel escreveu após isso, estando a ciência e a filosofia ainda atreladas ao paradigma kantiano, que é da era moderna. Isso porque muito pouco se avançou em termos de Ciência após Hegel, tendo sido o avanço que tivemos basicamente tecnológico. Mesmo a relatividade de Einstein foi apenas a conclusão matemática de ideias que já existiam no século XIX.

Para Hume, filósofo do século XVIII, ainda na era moderna, a moral é um sentimento que pode ser compartilhado pela razão, exigindo um ponto de vista comum, pelo que a pessoa “precisa mobilizar algum princípio universal da constituição humana e ferir uma tecla com a qual toda a humanidade possa ressoar em acordo e harmonia. Assim, se estiver querendo expressar que um certo homem possui atributos cuja tendência é nociva à sociedade, ele terá adotado esse ponto de vista comum e chegado ao princípio humanitário com o qual cada pessoa, em certa medida, concorda” (Op. cit., p. 131).

A indução definitiva é a conclusão pela existência de uma natureza humana, pela qual “a humanidade de um homem é a humanidade de todos” (Idem, p. 132).

A existência de uma natureza humana é um pressuposto e uma indução, um princípio de raciocínio e uma conclusão.

Aos que não interessam a existência de uma natureza humana, cabe pregar a mentira de que não é possível haver indução, ou natureza humana.

Essa mentira tem um objetivo claro, tem a função de impedir o reconhecimento de uma lei universal, notadamente no campo moral, e assim tornar válido o relativismo “científico”.

Note-se que no campo das ciências chamadas exatas, o que se faz é exatamente o trabalho da indução, sendo que após a coleta de inúmeros dados é proposta uma teoria, que em si contém uma regra universal, unificando os dados obtidos. Dessa lei são deduzidos fenômenos, que passam pela verificação da correção da regra.

A gravitação universal e a teoria da evolução são induções, assim como a relatividade de Einstein, concluindo que a lei física é E=mc². Ainda que a lei possa ser corrigida ou aprimorada, isso não afasta a validade do método indutivo, pois o conhecimento avança, permitido o aprimoramento da lei, da regra universal. O método indutivo, assim, está ligado à existência de uma lei universal, de uma ordem universal, buscada pelo conhecimento humano.

Contudo, as assim chamadas ciências do espírito, humanas e históricas são baseadas nessa mentira, de que não há indução, de que não se produz conhecimento com base em induções, não sendo possível a elaboração de uma lei universal logicamente válida, que não há natureza humana, que prevaleceria um relativismo moral, e que a moral seria fruto de convenções.

A pergunta que vem à cabeça é: a quem interessa não haver uma regra universal?

Interessa àqueles que não pretendem se submeter a essa lei universal, tornando relativos e válidos todos os comportamentos, permitindo a defesa dos atos que contariam a regra. Religiosamente, interessa ao Diabo, aquele que separa o homem de Deus, impedindo a união. Se não há lei universal, o que seria ilícito segundo essa regra pode ser convertido em lícito, e o que é nocivo à sociedade se transforma em atitude tolerável e permitida.

Se não há fundamento para a ordem senão a convenção, que é relativa, então não há propriamente uma ordem, mas ordens infinitas.

A existência de uma racionalidade humana é pressuposto do conhecimento, e essa racionalidade exige a interseção, a coerência dos argumentos, exige lógica e argumentos universais, que possam ser compartilhados, exige Logos.

As gerações de estudantes formadas a partir do século XX são desviadas da verdade para a esquerda e para a direita, ou pelo materialismo dialético baseado em Marx, que coloca o dinheiro e a economia como valores máximos (materialistas), ou pelo positivismo empirista, que nega o conhecimento das coisas em si, nega o espírito das coisas (formalistas), sem falar nos equívocos teológicos ligados ao cristianismo, islamismo e judaísmo.

“Observai, portanto, para agirdes conforme vos ordenou Iahweh vosso Deus. Não vos desvieis, nem para a direita, nem para a esquerda. Andareis em todo o caminho que Iahweh vosso Deus vos ordenou, para que vivais, sendo felizes e prolongando os vossos dias na terra que ides conquistar” (Dt 5, 32-33).

Nem para a direita do governo nem para a esquerda da oposição, ou vice-versa, pois a Lei não tem direita ou esquerda partidária, a Lei é o Partido do Todo, a Verdade e a Razão, a Moral e a Justiça Social.

Essas mentiras políticas enganam boa parte da população, inclusive intelectuais com os mais altos graus acadêmicos, que repetem essas falácias diuturnamente, consciente ou inconscientemente.

Sem a proposição de uma regra universal não há ciência, não há conhecimento, pois é necessária a mínima unidade argumentativa, que é baseada nessa regra universal, para permitir o entendimento, a comunicação e a pesquisa científica.

Sem um princípio universal não há saber, não existe entendimento.

Esse princípio é o Logos, o Verbo, a Palavra, que nos faz humanos, nos confere a natureza humana.

Daí porque o Evangelho de João é fundamental, ligando Deus, o Criador, ao Logos, à Palavra, à Inteligência, ao Verbo: “No princípio era o Verbo (Logos) e o Verbo (Logos) estava com Deus e o Verbo (Logos) era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito”.

Se nós conseguimos fazer nossos argumentos retroceder ao Big Bang, isso significa a existência de uma lógica presente em nós e que estava presente desde o início da criação. Até mesmo a radiação cósmica de fundo indica a uniformidade do princípio da criação, uma universalidade na distribuição da matéria pelo cosmos. O problema é que essa lógica não é apenas material e matemática, é espiritual e contém mais que números, inclui um sentimento de totalidade, que a relatividade de Einstein não alcançou, por ser o limite do materialismo científico.

Esse sentimento de totalidade foi manifestado humanamente em Jesus Cristo, como expressão humana do Logos e da Verdade Moral, vivendo uma totalidade além do corpo individual, além das aparências.

A física moderna nos dá o sentido da unidade, seja pela relatividade, ainda que materialista, seja pela orgânica quântica, e essa unidade é o fundamento da verdade moral. O Ser é o que Deve Ser, pois Sendo Uno, sempre Será Uno, devendo Ser Uno.

A moral é o sentimento dessa unidade lógica no comportamento humano, que muitos negam, mas cuja Verdade é inescapável, e funciona como um atrator social, que atrai os comportamentos de forma definitiva para essa unidade, seja pela via consciente, seja inconscientemente, como estamos vivenciando atualmente. Ninguém escapa da unidade quântica, do entrelaçamento ou emaranhamento quântico cósmico. Todos somos Um, e devemos nos comportar como Unos, agindo de forma beneficiar a todos, a nós e aos outros.

O maior mandamento do cristianismo é o princípio e o fim dessa Verdade, a indução, dedução e conclusão de todo conhecimento científico:

Ele respondeu: ‘Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas’” (Mt 22, 27-40).

Em termos científicos, o mandamento é: Procures, acima de tudo, a unidade do Ser, além de tua pessoa e incluindo a tua pessoa, com todas as tuas forças, capacidades e condições, com tua razão máxima, com prática permanente, com o Logos, não te esquecendo que tanto tu quanto o próximo são integrantes desse mesmo Ser, e que a razão, os valores, a coerência e a dignidade que valem para ti, valem e devem valer para todos.

O tunelamento quântico (teletransporte) do apóstolo Filipe

A natureza científica do cristianismo autêntico é o tema principal de meus trabalhos, ciência como unidade ordenada do conhecimento. Unidade porque o conhecimento verdadeiro é integralmente coerente em si. A ciência inclui todo e qualquer conhecimento, todo e qualquer evento que possa ocorrer, inclusive os chamados milagres. Há Um só Deus, como nos diz o Monoteísmo, e há uma só ciência, estando esta ligada Àquele. A Ciência inclui o Direito, a ordem humana justa segundo a vontade de Deus, a Ordem Cósmica; a Biologia, a Vida plena; a Física, a natureza e o movimento das coisas.

Milagre é aquilo que a ciência não pode explicar, até que o fenômeno seja entendido, ao menos parcialmente, passando a ser chamado de evento físico descrito pela ciência.

A abordagem deste artigo é sobre um episódio dessa natureza, que é pouco divulgado no meio cristão, mas que está devidamente narrado nos Atos dos Apóstolos, o teletransporte, como um tunelamento quântico, do apóstolo Filipe.

Filipe batiza um eunuco — O Anjo do Senhor disse a Filipe: ‘Levanta-te e vai, por volta do meio-dia, pela estrada que desce de Jerusalém a Gaza. A estrada está deserta’. Ele se levantou e partiu. Ora, um etíope, eunuco e alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, que era superintendente de todo o seu tesouro, viera a Jerusalém para adorar e ia voltando. Sentado na sua carruagem, estava lendo o profeta Isaías. Disse então o Espírito a Filipe: ‘Adianta-te e aproxima-te da carruagem’. Filipe correu e ouviu que o eunuco lia o profeta Isaías. Então perguntou-lhe: ‘Entendes o que lês?’ ‘Como o poderia, disse ele, se ninguém me explicar?’ Convidou então Filipe a subir e sentar-se com ele. Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era a seguinte: Como ovelha foi levado ao matadouro; e como cordeiro, mudo ante aquele que o tosquia, assim ele não abre a boca. Na sua humilhação foi-lhe negada a justiça. E a sua geração, quem é que a narrará? Porque a sua vida foi eliminada da terra. Dirigindo-se a Filipe, disse o eunuco: ‘Eu te pergunto, de quem diz isto o profeta? De si mesmo ou de outro?’ Abrindo então a boca, e partindo deste trecho da Escritura, Filipe anunciou-lhe a Boa Nova de Jesus. Prosseguindo pelo caminho, chegaram aonde havia água. Disse então o eunuco: ‘Eis aqui a água. Que impede que eu seja batizado?’ E mandou parar a carruagem. Desceram ambos à água, Filipe e o eunuco. E Filipe o batizou. Quando subiram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe, e o eunuco não mais o viu. Mas prosseguiu na sua jornada com alegria. Quanto a Filipe, encontrou-se em Azoto. E, passando adiante, anunciava a Boa Nova em todas as cidades que atravessava, até que chegou a Cesareia” (At 8, 26-40).

Nessa narrativa, Filipe se deixa levar pelo Espírito Santo, prega ao eunuco, sendo então teletransportado para Azoto. Esse milagre hoje pode ser chamado de tunelamento quântico, ou passagem por uma ponte de Einsten-Rosen, que é o nome técnico de buraco de minhoca, que leva de um ponto a outro do espaço-tempo.

Segundo a Wikipedia “Tunelamento quântico (ou efeito túnel) é um fenômeno da mecânica quântica no qual partículas podem transpor um estado de energia classicamente proibido. Isto é, uma partícula pode escapar de regiões cercadas por barreiras potenciais mesmo se sua energia cinética for menor que a energia potencial da barreira”.

O tunelamento quântico é a possibilidade de atravessar uma barreira inicialmente intransponível, ou atravessar uma parede, desaparecendo de um lado e aparecendo do outro. No tunelamento quântico a partícula pega energia emprestada do futuro para conseguir ultrapassar uma barreira. Seria o caso de se jogar uma bola morro acima com a força necessária para ela chegar apenas no meio da montanha, mas de alguma forma ela ganhar energia e aparecer do outro lado do morro.

No caso, como o espaço entre o local onde Filipe estava e aquele em que ele apareceu era uma barreira para o deslocamento, pode-se dizer que ocorreu uma hipótese de tunelamento. Ou pode-se dizer que ele passou por uma ponte de Einsten-Rosen. Ocorreu um teletransporte. Os apóstolos viviam guiados pelo Espírito Santo de Deus, por uma energia superior à deles, por uma vontade coletiva, e não individual, agiam de acordo com o Campo de Deus, e o Espírito arrebatou Filipe, um energia não local alterou uma situação local, produzindo o teletransporte.

Esse evento decorre da dualidade onda-partícula, que afeta todas as coisas, inclusive as pessoas, pois não há um limite na ciência definindo até onde vale a física quântica, ou orgânica quântica, e a partir de quando vale a física clássica, pois tudo está sujeito ao mundo quântico. O Campo de Deus abrange toda a criação, sendo Ele onipresente, o que parece ocorrer também com o campo de Higgs.

O Logos é o emaranhamento, ou entrelaçamento, quântico de tudo o que existe, conecta tudo no universo, mantendo sua ordem, o Cosmos. O Logos é não local, ou seja, está em todo lugar, como é a natureza quântica da realidade.

No YouTube há um canal que costumo acompanhar, Space Time, pelo qual vejo algumas atualizações da física. Em um episódio o apresentador fala do tunelamento quântico, explicando sua situação (do apresentador) como onda, incluindo a possibilidade infinitesimal, mas não nula, de ele também estar naquele mesmo momento na Lua, pela probabilidade de sua função de onda lá estar – conforme link https://www.youtube.com/watch?v=-IfmgyXs7z8, e apesar de ser em inglês, com possibilidade de legenda em inglês, é interessante o vídeo, com cerca de dez minutos, que vale ser assistido.

O ponto importante dessa questão consiste no fato de que o apresentador, que fala apenas a linguagem científica, indica a possibilidade do teletransporte, sob a forma de medição de sua posição, em razão de sua natureza ondulatória, em um lugar como a Lua, com o colapso da sua função de onda nesse outro ponto do espaço; ou seja, a natureza ondulatória da pessoa, fazendo com que ela seja um campo se expandindo pelo espaço, permite a alteração de sua posição por uma nova medição, decorrente da descontinuidade quântica, uma outra observação de sua posição, e sua efetiva localização naquele satélite, por teletransporte.

Portanto, a ciência comprova a possibilidade do teletransporte do apóstolo Filipe, dizendo que o fato descrito na Bíblia como milagre é uma situação possível de acontecer segundo as leis da física. A improbabilidade do evento não indica a sua impossibilidade.

Deve ser salientado que o teletransporte em questão, do apóstolo Filipe, se deu no contexto da pregação evangélica, a descrição do maior evento já ocorrido no Planeta, a manifestação do Espírito de Deus Perfeito por um Homem, Jesus Cristo, sua morte e ressurreição, com a função de resgatar o espírito humano, a humanidade, para Deus, restabelecendo a unidade da criação, unindo novamente a criatura ao Criador, com os reflexos necessários na ordem política e social, estes ainda em curso.

O nível de energia física da atividade de Jesus era extraordinário, inclusive com emanação de como alguma coisa conhecida hoje por radioatividade, que curava o DNA das pessoas, recuperando a perfeição da saúde daqueles curados por Ele. Se nós hoje conseguimos causar câncer com a energia atômica, Deus pode perfeitamente curar males equivalentes por sua Energia, por seu Espírito Santo, com uma radioatividade totalmente benéfica para a saúde humana. Se  uma bomba atômica pode causar destruição instantânea, pode haver uma “bomba” ao contrário, com criação instantânea de vida, e nós temos átomos em nosso corpo, a máquina mais perfeita do universo, com essa capacidade.

Algumas pessoas são comprovadamente mais sensíveis que outras, têm mais habilidades em alguns assuntos, e Jesus Cristo tinha e tem a habilidade de manipular o campo de Higgs, manipular a matéria-prima de que são feitas todas as coisas. Jesus trabalha no nível quântico, no nível da Unidade do Ser, sendo sua ação local e não local ao mesmo tempo, é o maior cientista da história, sendo que Sua atividade, seu movimento, transcende o espaço-tempo, atingindo a eternidade, o infinito, a singularidade cosmológica.

Por isso Deus soberanamente o elevou e lhe conferiu o Nome que está acima de todo o nome, a fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre nos céus, sobre a terra e sob a terra, e que toda língua proclame que o Senhor é Jesus Cristo para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 9-11).

Assim, também a ciência humana haverá de se curvar a Jesus Cristo, o que deverá ser feito pela Física, Teologia, Filosofia, Direito etc; todo conhecimento humano depende de Jesus Cristo para sua unidade e coerência, pois ele é a encarnação do Logos, o Universal, da superforça que existiu no princípio da criação, unindo todas as forças da natureza, sendo a Vida em expressão completa, a plenitude da criação.

E quando isso acontecer estaremos na Parusia, na vigência do Reino de Deus, em que a humanidade trabalhará integrada pela totalidade dos seres humanos, da espécie humana, e não para alguns poucos privilegiados, como ocorre atualmente.

A ciência, a política e todas as formas de conhecimento devem servir a todos, e não a alguns grupos.

Jesus Cristo atingiu o limite da humanidade, a fronteira do Céu, porque foi plenamente humano, racional e fiel à Ciência, e por isso está sentado à direita de Deus, o que significa que tudo na criação se submete a Jesus Cristo, enquanto Logos, Razão Máxima, porque Jesus Cristo é o único que se submeteu perfeitamente a Deus, atingindo assim a perfeição como imagem visível do Deus Único, invisível, sendo a Razão Coletiva encarnada.

As profecias são verdadeiras, são científicas, como o teletransporte citado, o que significa que o Reino de Deus está próximo.

Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e credes no Evangelho” (Mc 1, 15).