Uma incerta realidade

O último artigo falou do problema da Verdade, e por mais que o assunto já tenha sido explorado em meus textos, o tema sempre volta, sobre a questão da realidade última, que está além das aparências, além dos chamados fenômenos.

Como o livro atualmente em leitura trata do assunto, “Uma incerta realidade: o mundo quântico, o conhecimento e a duração”, de Bernard d’Espagnat, ganhador do Prêmio Templeton (em inglês Templeton Prize), que concede ao seu vencedor um valor monetário superior ao do Prêmio Nobel, ou seja, mais de um milhão de dólares, é pertinente a volta ao assunto, dado o reconhecimento público do trabalho científico do citado autor.

Bernard d’Espagnat faz em sua bela obra uma indispensável incursão pela filosofia da ciência, pela epistemologia, em busca de argumentos para a defesa da existência de uma realidade independente, que não se limite à realidade empírica estudada atualmente pelas ciências. Segundo a contracapa do livro:

A física actual convida-nos a separar duas noções outrora designadas pela palavra ‘realidade’. Uma é a de realidade independente. Pela própria definição, a noção em questão cobre o conjunto daquilo que é (se Deus existe, ou se o mundo existe em si, eles são reais neste sentido). Esta realidade é longínqua, até mesmo velada. A outra noção é a de realidade empírica, ou conjunto dos fenómenos: o homem aborda-a cada vez melhor.

Poderemos evitar algumas destas noções? Muitos acreditam que sim porque, no passado, muitos filósofos e físicos esforçaram-se por demonstrar que tal era possível, alguns eliminando a primeira com o pretexto de que não tem sentido, outros reconduzindo a segunda noção à primeira […]. A minha tese é a de que é a própria ciência que – corrigindo-se a si própria – fornece, hoje em dia, ao pensador razões prementes para aceitar a dualidade filosófica do ser e do fenómeno”.

Essa ideia de dualidade filosófica muito me incomoda, e talvez isso ocorra por uma cisma minha, ou uma espécie de atual “obsessão”, por não aceitar a proposta teológica de trindade; e sempre que encontro uma teoria dualista, que não seja meramente alegórica ou pedagógica, acabo vendo uma ligação entre o dualismo e a trindade, decorrente de uma má interpretação do Cristianismo.

Como, seguindo Gadamer, e já salientado em “Crime de hermenêutica, Donald Trump e Cristo crucificado” (https://holonomia.com/2016/11/15/crime-de-hermeneutica-donald-trump-e-cristo-crucificado/), para melhor cumprir o primeiro mandamento Cristão, considero a hermenêutica teológica a mais fundamental, da qual decorre o restante da interpretação do mundo, inclusive a interpretação dada pelos cientistas, e por isso o possível erro na análise teológica vicia, em maior ou menor medida, a visão de mundo da pessoa, e até mesmo sua atividade científica. Tal ponto foi também mencionado no artigo “Revolução e evolução” (https://holonomia.com/2017/08/03/revolucao-e-evolucao/), destacando que a visão de mundo religiosa é a base da ciência moderna.

Sendo Jesus Cristo o fundamento da Teologia ocidental, o que judeus e muçulmanos hão de reconhecer, e, portanto, da ciência moderna, torna-se necessário conhecer Jesus Cristo, para melhor compreender o mundo. Aliás, o Cristianismo é uma Ciência ou Religião gnóstica, ou seja, baseada no conhecimento, sendo lamentável que o mundo atual o entenda de modo dogmático.

Por isto mesmo, aplicai toda a diligência em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, à piedade o amor fraternal e ao amor fraternal a caridade” (2Pe 1, 5-7).

Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória agora e até o dia da eternidade! Amém” (2Pe 3, 18).

Por mais que nosso conhecimento de Deus seja limitado, é conhecimento de Deus e, portanto, da Verdade, da realidade em si, Ciência que deve ser realmente buscada.

Tal como o definimos no primeiro capítulo, o realismo físico não é senão a tese segundo a qual a expressão ‘realidade independente’ (independente do homem, entenda-se), não somente tem sentido, como também designa uma entidade cognoscível de direito, graças à ciência (mesmo que não seja, desde já, inteiramente conhecida).

Quando esta tese é adoptada temos, evidentemente, de considerar que o objectivo da ciência é o conhecimento em questão (…)” (Bernard d’Espagnat. Uma incerta realidade: o mundo quântico, o conhecimento e a duração. Trad. António Hall. Lisboa: Instituto Piaget, p. 166).

Portanto, concordo parcialmente com d’Espagnat, ao dizer que ciência é o conhecimento dessa realidade “independente” porque também considero que “Ciência é conhecimento de Deus, da Ordem Cósmica, e o seu maior conhecedor é Jesus Cristo. Relevante, fundamental, indispensável, então, é entender Deus e seu significado”, como constou em “Ciência: a luta do cosmos contra o caos” (https://holonomia.com/2016/08/13/ciencia-a-luta-do-cosmos-contra-o-caos/).

De outro lado, tenho dúvidas se a “realidade independente” é efetivamente independente do homem, porque para isso é necessário um conceito e uma delimitação do que seja “o homem”, ou “a humanidade”, sua natureza, e aqui volta o tema da trindade.

Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeição, o que é limitado desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da criança. Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido” (1Cor 13, 9-12).

Se Jesus Cristo é membro exclusivo de uma trindade, sendo qualitativamente diferente de nós, uma é a realidade do mundo, independente dos homens; mas se tal afirmação não for correta, a realidade é outra. Ainda que eu considere Jesus Cristo qualitativamente diferente de nós, tal diferença é mais decorrente da maior quantidade do Espírito Santo do que por uma disparidade ontológica. Nesse ponto, mesmo que a discrepância quantitativa leve à mudança qualitativa, como no caso dos elementos químicos, compostos todos das mesmas partículas (quarks, léptons, férmions, bósons etc.), mas diferentes em suas qualidades, existe uma certa conversibilidade ou igualdade básica entre os elementos químicos, e entre nós e Jesus Cristo. Assim, existe diferença qualitativa acidental em virtude dos nossos vícios, do Pecado que nos rodeia, e para nos aproximarmos de Cristo devemos, como ele, nascer do alto, do Espírito, voltar à nossa essência e buscar as coisas de Deus, “até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4, 13).

O batismo Cristão é o mergulho no Espírito Santo, o mergulho em Deus e seu conhecimento, no Logos, deixando a vida da carne, a vida das aparências, a vida do mundo, para que atinjamos a unidade com Cristo. “Vós vos desvestistes do homem velho com as suas práticas e vos revestistes do novo, que se renova para o conhecimento segundo a imagem do seu Criador” (Cl 3, 9-10).

Desse modo, por mais que nosso conhecimento seja limitado, é possível o aumento da Ciência de Deus, conforme os ensinamentos de Cristo, pois essa é sua missão e sua vontade. “Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim” (Jo 17, 22-23).

Algumas passagens sobre a vida de Jesus e suas palavras corroboram a visão unitarista do mundo, na perfeita unidade do Espírito, porque “Deus é espírito. Os que o adoram têm de o adorar em espírito e verdade” (Jo 4, 24), e por isso o conhecimento de Deus, que é Logos, Inteligência, é espiritual, na medida em que temos o Espírito de Deus, Deus “que vos infundiu o seu Espírito Santo” (1 Ts 4, 8). “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu Amor em nós é levado à perfeição. Nisto reconhecemos que permanecemos nele e ele em nós: ele nos deu o seu Espírito” (1Jo 4, 12-13). Se Deus nos deu seu Espírito (Santo), como ocorreu com Jesus, a diferença entre nós e Jesus Cristo é de “quantidade” do Espírito de Deus, porque Jesus é pleno do Espírito Santo.

E o verbo fez-se carne e habitou entre nós; e contemplamos a sua glória – glória enquanto [filho] unigênito do Pai, pleno de graça e de verdade” (Jo 1, 14). Como destacado no artigo “Comunicação”, nas notas sobre este versículo 14, e sem falar na duvidosa correção da tradução da palavra “unigênito”, Frederico Lourenço afirma que “no v. 14 de João, a expressão ‘entre nós’ é literalmente ‘em nós’ (em hêmîn)”, o que se soma à fala de Jesus sobre o Reino de Deus: “Pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17, 21), colocando em nós o Logos, Deus em nós.

Nele (no Logos) estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha na escuridão, e a escuridão não dominou a luz” (Jo 1, 4-5).

O Logos é a luz, e ao mesmo tempo em que Jesus afirma: “Eu sou a luz do mundo. Quem me seguir não andará na escuridão, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12); ele também disse: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14). Esta afirmação nos coloca ao lado de Jesus, e corrobora a unidade por ele esperada, com ele e com Deus. Demonstrando que Jesus Cristo não era ele próprio o Deus absoluto, ele reconheceu que “o Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28). E tamanha era a humanidade de Jesus Cristo que nem mesmo conseguiu fazer milagres em sua terra natal, impedimento esse incompatível com a onipotência divina: “E Jesus não podia fazer ali milagre nenhum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos” (Mc 6, 5); isso depois de referir a si mesmo como um profeta. A par da inexistência de menção de trindade nas Escrituras, os textos transcritos, dentre outros, são fortes indicativos de que a concepção respectiva (trindade) não é correta.

Uma passagem também é muito relevante sobre o assunto, quando Jesus cita as Escrituras relembrando que os homens aos quais a Palavra de Deus é destinada são chamados deuses. “Jesus lhes respondeu: ‘Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? Se ela chama de deuses aqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode ser anulada — àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo dizeis: ‘Blasfemas!’, porque disse: ‘Sou Filho de Deus!’?” (Jo 10, 34-36). Assim, o mesmo Evangelho que fundamenta a argumentação cristológica de que Jesus é Deus também afirma que homens são tratados como deuses pela Escritura.

Outrossim, se Deus está em nós, e Deus é a realidade independente, esta não é tão independente assim de nós humanos, porque o Espírito eterno habita em nós, motivo pelo qual todas as nossas ações são eternizadas, boas ou más, pelas quais responderemos em algum momento, pois nossas ações se situam no tempo, enquanto fenômenos, e também fora do tempo, pelo Espírito.

Mais uma vez vale significar uma expressão de Jesus, dizendo “quem me vê vê aquele que me enviou” (Jo 12, 45), indicando a possibilidade de conhecimento da realidade, o que ocorre espiritualmente, como já exposto, através e pelo fenômeno.

E não só Jesus Cristo pode expressar a realidade última, afirmando ele que nós também temos uma ligação com Deus, com a eternidade, por meio do Espírito, pois quando o homem age movido pela Vontade do Pai, como Pedro ao reconhecer o Cristo, essa possibilidade se lhe abre: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 19).

Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu. Em verdade ainda vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18, 18-20). A possibilidade de ligar as coisas da terra no céu, destarte, não é exclusividade do bispo de Roma, mas uma possibilidade aberta a todo Cristão.

Portanto, a partir do conhecimento do Espírito, a realidade empírica, entendida como os fenômenos da terra, pode ser compreendida, pela humanidade, na sua realidade, na eternidade, em sua ligação com o céu. E se o argumento ora desenvolvido estiver correto, o que é claro pela interpretação do texto bíblico, nossa responsabilidade é enorme, porque vivemos, ao mesmo tempo, em um mundo de aparências e na eternidade, no Espírito, e quando damos as costas a essa Verdade, nossa luz se transforma em trevas, e “se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão as trevas!” (Mt 6, 23).

Pecado original

A doutrina do pecado original orienta o Cristianismo desde santo Agostinho, narrando que a Queda humana provocada por Adão contaminou a natureza do homem, o qual, desde então, sofre a influência do mal, e que somente por meio de Jesus Cristo o pecado foi remido.

Segundo o catecismo da Igreja Católica:

1707. «Seduzido pelo Maligno desde o começo da história, o homem abusou da sua liberdade». Sucumbiu à tentação e cometeu o mal. Conserva o desejo do bem, mas a sua natureza está ferida pelo pecado original. O homem ficou com a inclinação para o mal e sujeito ao erro:

O homem encontra-se, pois, dividido em si mesmo. E assim, toda a vida humana, quer singular quer colectiva, apresenta-se como uma luta, e quão dramática, entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas».

1708. Pela sua paixão, Cristo livrou-nos de Satanás e do pecado e mereceu-nos a vida nova no Espírito Santo. A sua graça restaura o que o pecado tinha deteriorado em nós.”

1714. O homem, ferido na sua natureza pelo pecado original, está sujeito ao erro e inclinado para o mal no exercício da sua liberdade.” (http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s1cap1_1699-1876_po.html)

Apesar de haver uma grande parcela de verdade no conceito de pecado original, talvez a interpretação de que a natureza humana foi contaminada pelo pecado mereça um aprimoramento.

A análise do pecado original está ligada à hermenêutica do primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, que narra o pecado cometido por Eva e por Adão, a consciente desobediência ao mandamento divino, estimulada pela vaidade humana, pecado que foi transmitido à humanidade.

Nesse ponto, há que se considerar que o Gênesis traz uma descrição um tanto resumida e simbólica de um passado da humanidade, podendo ser considerada alguma forma de evolução da vida até que surgissem os primeiros grupos humanos. E essa hipótese encontra respaldo até mesmo pelo que é dito no Gênesis, pois a oferta de Caim e Abel já significava uma cerimônia religiosa, não explicada no texto da Escritura, possivelmente dentro de uma comunidade, quando ocorreu a preferência de Iahweh pela oferenda de Abel. E logo após o fratricídio, quando havia sido noticiada somente a existência de Adão, Eva, Caim e Abel no texto sagrado, constou que “Caim se uniu à sua mulher, que concebeu e deu à luz Henoc” (Gn 4, 17).

Portanto, a melhor interpretação dos textos sagrados, conjugada com os conhecimentos científicos modernos, pois a existência da mulher de Caim faz presumir a de outras pessoas no planeta no tempo de Adão, leva à aceitação de um grupo humano primitivo, podendo ser entendido que Adão era o líder dessa coletividade, um líder político e religioso, um rei sacerdote que violou seu compromisso com a comunidade, contrariando os interesses da coletividade para um benefício individual, de sua família, quando o egoísmo superou o dever.

A humanidade possui algo como uma mente coletiva, um cérebro coletivo composto pelos cérebros individuais, na linha da psique coletiva de Jung, o que permite o aprendizado coletivo, podendo as razões ou pensamentos ocultos dessa coletividade se manifestarem em um ou mais cérebros individuais, chegar à consciência coletiva a partir de indivíduos especiais, seja como boa ou como má ideia. E tal realização psíquica marca não apenas a consciência da pessoa que manifesta tal ideia, como a consciência coletiva daqueles que tomam conhecimento de tal manifestação, além de marcar o inconsciente de toda humanidade.

Como o homem é um ser político, como afirma Aristóteles, o pecado original contaminou a natureza política do homem, da humanidade como ser coletivo, o mundo social, o mundo político, que jaz no poder do Maligno (1Jo 5, 19).

Isso também pode ser considerado a partir do fato de que, em que pese a falha hermenêutica do Cristianismo nesse ponto, as religiões Monoteístas são religiões políticas e jurídicas, em que o comportamento das pessoas está vinculado à comunidade, para a realização de justiça social, o cumprimento da Lei, dos mandamentos.

O vínculo que uniu os judeus durante milhares de anos e que os une hoje é, acima de tudo, o ideal democrático de justiça social, ligado ao ideal de mútuo auxílio e tolerância entre todos os homens. Até as mais antigas escrituras dos judeus estão impregnadas dessas ideias sociais, que afetaram profundamente o cristianismo e o islamismo e tiveram uma influência benéfica na estrutura social de grande parte da humanidade” (Albert Einstein. Escritos da maturidade: artigos sobre ciência, educação, religião, relações sociais, racismo, ciências sociais e religião. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994, p. 263).

Como a justiça social depende de organização social, instituições sociais e políticas, notadamente uma jurisdição para decidir os conflitos humanos de forma justa, segundo a Lei, e porque tais exigências não vinham sendo cumpridas pelo povo judeu, povo que havia recebido a revelação divina por meio dos profetas, Jesus Cristo, o Messias judeu, o Rei dos judeus, o líder político da era messiânica, não foi acolhido pelo seu próprio povo, e mesmo assim Jesus não violou seu dever, ao contrário de Adão, Ele observou plenamente os mandamentos de Deus, em detrimento de seus interesses individuais, pois evidentemente não queria ser torturado e morto (afasta de mim este cálice), cumprindo o que estava profetizado sobre o sofrimento do Messias, previsto, por exemplo, pelo capítulo 53 do livro do profeta Isaías.

Destarte, justiça social exige Lei justa, governo justo e julgamento justo. Esse ponto é de grande relevância, pois demonstra a superioridade religiosa do Monoteísmo, e do Cristianismo, como religião de salvação individual e coletiva, de natureza espiritual e racional, pelo que não pode haver comparação entre o Cristianismo e outras formas de religiosidade, seja com aquelas de cunho individual, seja com as que trabalham com sangue ou com deuses em forma animal.

Como o povo judeu não aceitou as ideias de Jesus Cristo, de justiça social incluindo os outros povos além da nação judaica, para o cuidado dos excluídos, os judeus perderam a posição privilegiada de povo portador da Verdade, na medida em que a Verdade vinculou-se definitivamente à pessoa de Jesus Cristo, por seu exemplo de vida como líder judeu, como Rei e Sacerdote não apenas dos judeus, mas de toda a humanidade.

É tanto um fato que o pecado original contaminava principalmente o homem como humanidade, o mundo, sem prejuízo de a Graça incidir sobre alguns homens individualmente, mesmo antes de Jesus Cristo, que consta nas Escrituras que “Henoc andou com Deus, depois desapareceu, pois Deus o arrebatou” (Gn 5, 23), “E aconteceu que, enquanto andavam e conversavam, eis que um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu no turbilhão” (2Rs 2, 11).

Como o céu é o “local” de habitação do Deus Santíssimo, em que não pode entrar o pecado, evidentemente Henoc, que não é o filho de Caim, e Elias não estavam tão contaminados pelo pecado original, que, portanto, não é tão original assim, mas adquirido. Por isso, ou Henoc e Elias não adquiriram o pecado original ou dele se limparam antes da vinda de Jesus Cristo.

E tal era a santidade de Elias que transferiu seu Espírito para Eliseu (2Rs 2), tendo tal santidade permanecido até os ossos de Eliseu, cuja força ressuscitou um homem (2Rs 13, 21). Nesse ponto, muito maior é a santidade de Jesus Cristo, cujo Espírito foi transferido, por seu sacrifício, não para um homem, mas para todo aquele que crê que Ele é o enviado de Deus e que segue Seus mandamentos. E o Espírito de Jesus é o próprio Espírito Santo de Deus, que confere àquele que o possui a condição de Filho de Deus, sendo imagem e semelhança de Deus, que deixou de ser ligada a uma nação específica, abrindo-se a toda humanidade.

Outrossim, talvez o homem seja efetivamente bom naturalmente, não como indivíduo desvinculado de uma sociedade, e sim como membro de uma coletividade racional, mas como cresce numa coletividade contaminada pelo pecado original, enquanto coletividade governada de forma injusta, injustiça que se espalha pelo tecido social, pelas famílias e pelas mentes das pessoas, adquire esse pecado pelos maus exemplos por ele presenciados. Existe um documentário no Netflix, “The Altruism Revolution”, que aponta para esse sentido, de uma bondade natural do homem. Por isso, o homem pode ser naturalmente bom, mas no curso da vida, pela má educação, torna-se, sem a Graça, sem o Espírito Santo, lobo do próprio homem.

Daí decorre a importância do exemplo, da (boa) educação, da vida santa, e da necessidade de que os governantes sejam santos.

E boa educação é a formação Cristã, que incute nas pessoas o respeito aos dois grandes mandamentos, o amor a Deus e ao próximo. O amor a Deus, com todo o entendimento, inclui compreender a Ordem natural das coisas e do mundo físico, do Cosmos, o conhecimento de Deus como causa da ordem invisível que governa a realidade, visível e invisível, a ciência dos fundamentos e da essência do Monoteísmo. O amor ao próximo é efeito do autêntico amor a Deus, pois o conhecimento do mundo acarreta o entendimento de que a humanidade é Una, apesar da aparente distinção e separação das pessoas e das nações, e por isso o Cristão ama ao próximo como a si mesmo porque ambos são membros do mesmo corpo humano coletivo. Destarte, a educação Cristã inclui as chamadas ciências da natureza e as ciências humanas, ou ciências do espírito.

Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que lhe prendessem ao pescoço a mó que os jumentos movem e o atirassem ao mar” (Mc 9, 42).

Portanto, Adão é o exemplo, o tipo, o arquétipo pecador da psique coletiva, daquele que segue o egoísmo em detrimento da razão, enquanto Jesus Cristo é o modelo de santidade, Método para realização da Justiça, pelo exemplo de líder político, de Rei e Sacerdote que segue o Logos, segundo a consciência coletiva (consciente).

Eis porque, como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.

Entretanto, não acontece com o dom o mesmo que com a falta. Se pela falta de um só todos morreram, com quanto maior profusão a graça de Deus e o dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo, se derramaram sobre todos”.

Se, com efeito, pela falta de um só a morte imperou através deste único homem, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. Por conseguinte, assim como pela falta de um só resultou a condenação de todos os homens, do mesmo modo, da obra de justiça de um só, resultou para todos os homens justificação que traz a vida. De modo que, como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim, pela obediência de um só, todos se tornarão justos” (Rm 5, 12; 15; 17-19).

Pois, assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida” (1Cor 15, 22).

Eis que eu nasci na iniquidade, minha mãe concebeu-me no pecado” (Sl 51, 8).

A interpretação desses textos, por isso, talvez deva ser feita considerando “todos os homens” como coletividade humana, no sentido de que apenas seguindo e exemplo de Jesus Cristo poderá haver salvação coletiva, de toda comunidade, da humanidade, porque somente quando os governantes forem Reis e Sacerdotes, servindo o povo conforme o Logos de Deus, afastando o pecado, a irracionalidade, da vida coletiva, o próprio Deus habitará entre os homens (Ez 43, 9; Ap 21, 3).

Idoneidade moral

A inspiração para este artigo surgiu durante a preparação de uma palestra para o “Primeiro Encontro de Comissários e Conselheiros Tutelares da Comarca de Ubá – MG e região”, vindo o estalo depois da meditação sobre um dos requisitos necessários para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, ou seja, a idoneidade moral, conceito jurídico que remete às ideias morais.

Idoneidade moral é um conceito usado em muitas normas, para designar uma qualidade necessária do pretendente a uma atividade pública, sendo um requisito pessoal para a ocupação de um cargo público ou para o exercício de função pública.

Idoneidade tem origem no termo latino “idoneitate”, que expressa a qualidade de idôneo, tendo também o significado de aptidão, capacidade, competência e habilitação. Idôneo decorre “do Latim de IDONEUS, ‘em bom estado, conveniente, útil’” (http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/idoneo/).

Moral também vem do latim “Latim moralIS, ‘comportamento adequado de uma pessoa em sociedade’, literalmente ‘relativo às maneiras, ao comportamento”, de MOS, ‘costumes, maneiras, modo de agir’” (http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/moral/).

Segundo a Constituição Federal a idoneidade moral é necessária para naturalização do estrangeiro e para ser membro do Tribunal de Contas da União, do Tribunal Superior Eleitoral e do Tribunal Regional Eleitoral.

O conceito de idoneidade moral se liga ao de reputação ilibada, qualidade exigida para compor o Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho, para ser Advogado-Geral da União ou membro do Tribunal de Contas da União, de Tribunal Regional Federal ou de Tribunal de Justiça.

Apesar dessa semelhança, pode-se entender que reputação ilibada é uma qualidade mais restrita que idoneidade moral, uma vez que “’ilibado’ vem do Latim ILLIBATUS, “’limpo, que não foi tocado’. Forma-se por IN- mais LIBARE, ‘derramar uma parte do vinho consagrado após tê-lo provado ligeiramente’. Portanto, o que é ilibado é visto como ‘inteiro, não tocado, incorrupto, imaculado’” (http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/ilibado/). Já reputação “veio do Latim reputatio, ‘consideração’, de reputare, ‘refletir sobre, estimar, calcular’, de re-, ‘de novo’, mais putare, ‘pensar, supor, calcular’, originalmente ‘podar’” (http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/reputacao/).

Idoneidade moral está ligada à boa reputação, à boa imagem pública da pessoa, segundo uma visão de mundo, segundo uma ideia de ordem social, que estipula os comportamentos socialmente adequados.

Já a reputação ilibada se refere à melhor reputação possível, à maior integridade possível, à maior santidade, como qualidade do que é santo ou são, saudável, socialmente saudável, ou que estiver mais próximo da perfeição moral, por ser imaculado ou incorrupto.

Portanto, tanto idoneidade moral quanto reputação ilibada são conceitos relativos e vinculados a uma determinada visão moral de mundo, a uma cosmovisão, a uma filosofia, como sistema racional de ideias.

Desde sempre houve duas grandes propostas filosóficas para explicar a realidade: o materialismo e o idealismo ou espiritualismo; cada uma com suas respectivas visões morais de mundo.

Nesse sentido, idoneidade moral é o comprometimento com o padrão moral de referência, com o regramento da conduta da pessoa segundo essa visão de mundo. As condutas são regradas por qualidades chamadas virtudes ou vícios, e quanto maior a virtude maior a dignidade da ação e da pessoa, e quanto menor a virtude, ou quanto maior o vício, menor a dignidade do comportamento e da condição da pessoa.

O cristianismo é uma visão de mundo espiritualista, que prega a paz, a humildade, a solidariedade, a pureza espiritual, a unidade da humanidade e a racionalidade coletiva, sendo contra a violência, sustentando a existência de um plano de realidade espiritual ligado ao mundo físico, e por isso o objetivo final da conduta das pessoas é a salvação da alma, individual e coletivamente, para a vida eterna.

A história do ocidente se atrela ao conflito entre as citadas filosofias, relativamente oculto até a idade moderna e explícito na idade contemporânea, quando o materialismo, especialmente a partir de Marx, Nietzsche e Freud, passou a atacar abertamente o idealismo e o cristianismo, que assumiu a visão idealista do platonismo.

A origem do materialismo pode ser ligada ao atomismo, que entendia que o mundo era formado de partículas indivisíveis, das quais todas as demais coisas eram feitas, inclusive as pessoas. O materialismo se liga a um individualismo, à separabilidade ontológica das coisas, dos fenômenos e das pessoas.

Para o idealismo, a realidade não se limita aos corpos, sendo também espiritual. Atualmente, pela física moderna idealista, a matéria é a quantização de um campo energético, os corpos são unidades relativas decorrentes de campos transcendentes aos limites aparentes dos corpos, os corpos são interações de campos quânticos.

O materialismo se restringe aos limites sensíveis dos fenômenos, enquanto o idealismo alcança uma realidade invisível e mais ampla que os simples aspectos locais dos fenômenos.

Existe, assim, uma moral radicada, fundada, no átomo, no materialismo e nas sensações exteriores, que é o radicalismo materialista; e a fundada na ideia e na inteligência, no espiritualismo, o radicalismo racionalista, ou espiritualista.

Para o materialista tudo tem origem na matéria e termina na matéria, e por isso o corpo é um fim em si mesmo. De outro lado, o espiritualismo entende que o Espírito é a origem de todas as coisas, sendo o corpo um momento da vida das pessoas, sendo o Espírito mais que o corpo, pelo que o corpo não é um fim em si mesmo, estando ligado aos demais corpos, numa realidade espiritual transcendente aos corpos individuais.

Todos os conceitos de uma determinada filosofia, seja materialista ou idealista ou espiritualista, são conectados entre si, uma vez que um sistema filosófico, por natureza, deve ser coerente em seus próprios termos, pelo que as ideias são encadeadas lógica e racionalmente, sem contradição interna entre os referidos conceitos, mantendo-se a unidade do sistema.

Nesse ponto, falar em idoneidade moral exige relação do referido conceito com o sistema moral de referência, o sistema moral de base que funda a interpretação do que seja idoneidade moral, ou reputação ilibada.

Historicamente, uma determinada visão Cristã de mundo, com sua moralidade geral, dominou o ocidente desde o fim da idade antiga, transformando e fragmentando o império romano, que foi sucedido pelo império de Carlos Magno e depois pelos reinos nacionais, na Inglaterra, Portugal, Holanda, Espanha e França, por exemplo, cada um deles pretendendo, a seu modo, a sucessão do império romano. Mesmo a Alemanha nazista e os Estados Unidos se declara(ra)m cristãos.

Mas dentro da chamada cristandade, duas vertentes se abriram com a reforma protestante, o catolicismo romano, de um lado, e o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo, de outro, com divergências em suas moralidades. Enquanto o lado católico romano, com sua hierarquia, pecava pela falta de autêntica liderança cristã seguindo o exemplo santo do martírio de Jesus Cristo, o lado protestante, com seu liberalismo individualista, permitiu que aflorasse no mundo uma noção política voltada quase exclusivamente para o interesse econômico, o mercantilismo que desembocou no capitalismo selvagem de hoje.

Portanto, o mundo presencia um descomprometimento generalizado com a moral Cristã pelo mundo cristão e, ao mesmo tempo, um ataque à mesma moral pelo mundo anticristão, o mundo materialista ateu.

Os tempos atuais, destarte, são aqueles em que a moral Cristã é atacada tanto pelo materialismo quanto pelo falso cristianismo.

Contudo, o próprio cristianismo se liga à ideia de materialização, pois se baseia na encarnação do Espírito Santo de Deus em Jesus Cristo, quando o Logos se fez carne e habitou entre nós, o que confere importância à vida material das pessoas. Esse Logos é a própria Filosofia Cristã, a Sabedoria, de origem judaica, que se consumou em Jesus Cristo, e que orienta a melhor conduta humana, pois o próprio conceito de humanidade está umbilicalmente ligado ao Mestre, Jesus Cristo. Para o cristianismo, todos somos templos do Espírito Santo, compartilhando o mesmo Espírito, e por isso todos podemos encarnar o Espírito de Deus, torná-lo visível.

E essa a moral Cristã somente recentemente foi sistematizada, ganhando especial formulação com o imperativo categórico de Kant. Nesse ponto, a moral Cristã, como ciência do Todo humano, e do holomovimento, ainda em está em desenvolvimento.

Portanto, o grande problema da moral Cristã está no fato de nunca ter sido praticada no âmbito público, no âmbito político, para o qual também foi formulada. A moral Cristã é uma moral para a vida privada e para a vida pública, sendo Jesus Cristo o Messias Judeu, o Rei dos Reis, o Líder Político da Ekklesia iluminada, da Igreja de Cristo, do Estado fundado no Logos, em princípios racionais, fundado na Unidade Espiritual da Humanidade, na dignidade humana.

O imperador Constantino não praticou a moral Cristã, o mesmo podendo ser afirmado sobre quase todos os reis, antigamente, e políticos, atualmente, que se dizem cristãos.

O mundo vive, é bom que se diga, no tempo do anticristo, no tempo em que o Cristão, o que pretende viver submisso ao Logos, pretende viver islamicamente conforme a razão, é atacado pela ignorância mundana irracional, que governa a massa amorfa de indivíduos que delegam a razão de seu comportamento individual à opinião pública midiática controlada pela esquerda marxista materialista e coletivamente irracional, ou que apenas agem de forma egoísta por amor ao dinheiro, isto é, as pessoas não pensam as questões morais de forma fundamentada, apenas de modo superficial, o que é o interesse do materialismo, cujos fundamentos teóricos foram solapados pela física moderna, a qual afastou a separação dos pensamentos e dos fenômenos, pelo que seus argumentos (do materialismo) não conseguem passar da superfície da racionalidade, sendo meramente circular, e ideológico, no sentido negativo da palavra.

Moral também se liga ao conceito de vergonha, de embaraço psicológico decorrente da ilicitude praticada. Quando a ilicitude é praticada sem vergonha, a moral se alterou.

Nesse ponto, “orgulho LGBT” é contrário à moral Cristã, assim como a defesa do aborto, da guerra ou da pena de morte. Declarar-se favorável à prática contrária a uma moral é declarar-se contrário àquela moral, e quando a pessoa adota condutas contrárias à referida moral, ocultamente, e não as declara, por vergonha, ela ainda aceita a ordem moral que contraria, o que talvez seja menos pior do que a postura abertamente contrária à referida ordem comportamental, porque aquela vergonha ainda representa um resquício da moral contrariada, um vínculo com a realidade, que ainda poderá levar ao arrependimento, à correção na visão de mundo da pessoa. Assim, há os que negam a realidade da moral e os que negam que violam a moral, sendo que estes ainda a reconhecem e se envergonham por contrariá-la.

O cristianismo é uma moral de Vida, contra a morte, e contra o suicídio, tanto corporal como espiritual, considerando que a falha moral, o pecado, no fim das contas, leva à morte: “Porque o salário do pecado é a morte, e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6, 23). A incoerência é um suicídio intelectual, um suicídio racional, um suicídio filosófico, e a violência à razão leva à violência física e à morte. A irracionalidade individual pode acarretar a irracionalidade coletiva, que leva à morte. A conduta moralmente inadequada, como o pecado, ou conforme uma moral equivocada, contraria a razão coletiva, isto é, afronta a unidade orgânica da comunidade, sendo uma forma de suicídio intelectual, tendo como efeito natural a reação do organismo coletivo para se defender daquele membro nocivo, em resposta imunológica, com sua exclusão, com sua morte social, ainda que inconscientemente.

O Brasil foi formado em uma cultura cristã, ainda que em uma visão falha do cristianismo, como praticamente todas as visões praticadas pelas instituições religiosas tidas como cristãs, e ainda assim a influência do cristianismo no ordenamento jurídico é evidente e positiva, desde a promulgação da Constituição sob a proteção de Deus, passando pela dignidade humana como fundamento da República e pela solidariedade e a fraternidade como valores estruturantes do Estado, orientado para a paz.

Finalmente, com base nesses valores, e tendo em vista que as ações humanas são ideias em movimento, mais cedo ou mais tarde todos terão que entender que existe uma hierarquia moral, com condutas mais santas, ilibadas e idôneas, segundo a melhor moral, a mais perfeita visão de mundo, segundo a melhor ideia, o melhor espírito, a ciência racionalmente mais coerente, compreendendo que essas condutas repercutem favorecendo a vida individual e coletiva e que essa melhor moral é o cristianismo autêntico, baseado na ideia santa, no Espírito Santo, na Razão, no Logos, bem como será necessário reconhecer que negar esse fato será negar a Verdade, o que é uma forma de suicídio, é um suicídio intelectual ou espiritual.

A moral Cristã é baseada no sacrifício de Jesus Cristo, no regramento da conduta individual pelo bem coletivo, e esse sacrifício, tanto do Mestre como dos apóstolos e outros mártires, o que é diferente de suicídio, foi e é condição sine qua non para a formação da civilização ocidental e para a vida livre dos tempos atuais, para a Liberdade, que a moral materialista tenta transformar em libertinagem, segundo uma visão moral torta, e irracional.

Por isso, idoneidade moral e reputação ilibada, na ordem jurídica brasileira, em uma interpretação ontológica e histórica dos fenômenos, na hermenêutica adequada, sem a deturpação ideológica produzida recentemente pelo materialismo ateu e pelo falso cristianismo, remetem à moral Cristã autêntica, com todos os conceitos dela decorrentes, como a natureza jurídica e política do cristianismo, fomentando a ação pública das pessoas no Estado, na comunidade politicamente organizada, especialmente para promoção da vida e da família, com fundamento na solidariedade, no serviço público e, especialmente, com a preocupação da salvação da alma e do Espírito, para a Vida eterna.

O problema é Teológico

O problema do mundo é Teológico

Todo e qualquer problema tem, em última análise, fundo Teológico, ligado a uma boa ou má Teologia. Teologia, como dizia Aristóteles, o pai da ciência ocidental, no livro Metafísica, é o estudo das causas primeiras, dos primeiros princípios; Teologia é o mesmo que a Filosofia Primeira, cujo objeto é a unidade do Ser, a unidade do conhecimento. Para Aristóteles e para as pessoas do mundo antigo, não havia separação entre filosofia e ciência, e mesmo a Teologia estava ligada à mesma unidade do conhecimento.

Atualmente, contudo, a regra é separar os conhecimentos entre científicos e teológicos, o que é um equívoco evidente, mas evidente para poucos.

Ao se considerar tudo que existe, temos basicamente duas possibilidades, que tudo tem um princípio Espiritual ou material. Para a boa Teologia, que se liga à autêntica Religião, o princípio de todas as coisas é Deus, é o Espírito Absoluto, a Causa Primeira, a Causa não causada. Para os que se dizem ateus, mas cujo deus é a matéria, a matéria é tudo o que existe, e nossos pensamentos e nossas emoções são apenas efeitos de reações químicas surgidas em nossos cérebros, formados por mero acaso a partir da aleatoriedade dos fenômenos físicos, após o Big Bang.

A má teologia tem um primeiro problema que é o de definir a causa do Big Bang, o que não faz e não explica. Essa má teologia é tão ruim que não enfrenta o problema racionalmente e, nesse ponto, simplesmente deixa a razão, abraçando a incoerência.

É importante salientar que a ideia de Big Bang é totalmente compatível com a criação cósmica por Deus, sendo o próprio Criador a origem do Big Bang. E mesmo o Big Bang decorre da ideia de um religoso, Georges Lemaître, que era físico e padre belga, e dizia que tudo que hoje existe estava inicialmente em um “átomo primitivo”. Nesse ponto, a cosmologia é a ciência atual mais próxima da Teologia, ainda que todas as ciências tenham fundo religioso.

Entender que o primeiro problema do mundo é Teológico encontra respaldo até mesmo nas palavras de Jesus Cristo, dizendo qual o maior mandamento.

Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

O primeiro mandamento é amar a Deus e conhecer Deus, dedicar todo o entendimento à Teologia, à lógica de Deus, ao Logos, porque esse conhecimento tem reflexos em todas as atividades da pessoa.

A Torá é repleta de advertências sobre a necessidade de cumprir todos os mandamentos de Deus para receber Suas bênçãos. A adoção da boa Teologia é fundamental para que a sociedade tenha uma Vida plena.

Por uma questão de lógica, como se pode notar em Aristóteles, a Teologia se refere ao estudo da Causa primeira, do Primeiro Princípio, o que exige uma Teologia monoteísta, com unidade de razão, podendo-se entender como filosoficamente inconsistente a ideia politeísta, pois o conflito entre os deuses não pode ser resolvido sem um Deus Altíssimo que estabeleça a unidade lógica das coisas.

Dentro do Monoteísmo, do mesmo modo, existem diversos problemas Teológicos, tanto para os judeus, como para os cristãos e os muçulmanos.

Os judeus reconhecem os livros do Antigo Testamento como palavra de Deus, mas não entenderam o Livro sagrado, notadamente porque ainda rejeitam Jesus Cristo como seu Messias, apesar de todas as provas no sentido de comprovar que efetivamente Jesus Cristo é o Messias judeu, como narrado no capítulo 53 do profeta Isaías, nas cartas do apóstolo Paulo, especialmente na epístola aos Romanos, no livro de Hebreus e também por Justino de Roma, em seu Diálogo com Trifão. Além disso, os judeus se acham melhores que os demais membros da humanidade, e não percebem que esse entendimento é tão equivocado que foi adotado por Hitler contra os mesmos judeus.

Os cristãos, do mesmo modo, em sua ortodoxia imposta por Constantino, não compreenderam plenamente o significado da atividade messiânica de Jesus Cristo, inicialmente por romper com o Monoteísmo, ao criar a ideia de trindade, por influência de um platonismo pitagórico, e por seguir a ideia de santo Agostinho, já criado em ambiente trinitário, de que o Reino de Deus não é deste mundo e de que não haverá uma era messiânica com governo humano que observará os mandamentos de Deus.

Nesse ponto, os católicos entendem que não é possível defender o milenarismo, ou seja, que haverá um período de mil anos de paz pelo governo mundial de Cristo, por meio do Espírito Santo, enquanto os protestantes sustentam que na volta de Cristo haverá o arrebatamento, com deslocamento físico dos crentes para o Reino dos Céus, para um mundo espiritual. E a mensagem de Cristo, o Evangelho, é exatamente: O Reino de Deus está próximo, ou seja, Deus irá Reinar e Julgar a humanidade através de um governo humano.

Finalmente, a Teologia muçulmana não compreendeu o teor do Alcorão, que descreve que Maomé é apenas um mensageiro árabe, que não alterou a mensagem do Livro dado aos judeus e aos cristãos. Além disso, o próprio Alcorão permite entender a superioridade profética de Jesus Cristo sobre Maomé. Nesse ponto, deve ser destacado que o Corão, ou o Alcorão, veio apenas reforçar a mensagem anterior dos profetas, e não contrariá-las, pelo que com estas é necessariamente compatível, por sua própria lógica interna, em que pese sua deturpação político-ideológica.

Acreditareis, acaso, numa parte do Livro e renegareis a outra? Se o fizerdes, vosso castigo será a vergonha neste mundo e o suplício no dia da Ressurreição. Deus está atento ao que fazeis” (Sura 2: 85).

Dize: ‘Quem for inimigo de Gabriel – foi ele quem revelou a teu coração, com a permissão de Deus, o Livro que corrobora as Escrituras anteriores: um guia e boas-novas para os crentes-,

Quem for inimigo de Deus e de Seus anjos e de Seus Mensageiros e de Gabriel e de Miguel, terá Deus por inimigo: Deus é o inimigo dos descrentes’”. (Sura 2:97-98).

O Deus do Islã é o “Clemente, o Misericordioso”. Se Alá é o Deus único, e o Alcorão confirmou a Torá e o Evangelho, a Verdade de todos os livros, ou o Livro da Vida, que é o um só, é a mesma, conforme Sura 2 (A Vaca), versículo 62:

Os que creem e os que abraçam o judaísmo e os cristãos e os sabeus, todos os que creem em Deus e no último dia e praticam o bem obterão sua recompensa de Deus e nada terão a recear e não se entristecerão”.

Entre nossos Mensageiros, temos preferido uns aos outros. A alguns Deus falou. Outros tiveram categoria mais elevada. A Jesus, filho de Maria, entregamos as provas e fortificamo-lo com o Espírito Santo. E se Deus quisesse, os homens que vieram depois dele não se teriam entrematado, já que haviam recebido as provas. Mas começaram a brigar: uns creram, outros descreram. Se Deus quisesse, não se teriam entrematado. Deus faz o que quer” (Sura 2: 253).

O próprio Alcorão reconhece a supremacia de alguns profetas, e em seguida menciona que Jesus foi fortificado com o Espírito Santo e que ele tinha as provas, pelo que poderia ser dispensada nova revelação, mas novamente a humanidade se perdeu no materialismo. Assim, a mensagem de Cristo, em que pese ser anterior à de Maomé na cronologia da história humana, em termos espirituais e no tempo original (pois ainda não se completou), kairológico, é posterior e superior, assim como a figura e a importância do próprio Cristo, que é imortal, como “um sopro de Seu espírito que Ele fez descer sobre Maria” (Sura 4: 171), na medida em que os descrentes “Certamente, não o mataram, Antes Deus o elevou até Ele. Deus é poderoso é sábio” (Sura 4: 157-158). Cristo ainda vive, além da ilusão da “realidade” percebida pelos sentidos. Saliente-se, ainda, que o Alcorão possui linguagem altamente poética, o que dificulta sua interpretação, levando os muçulmanos, equivocadamente, à ideia de que Jesus Cristo, profeta preferido e de categoria mais elevada, não morreu na cruz, quando tal fato aconteceu, apenas ele não continuou morto, ressuscitando.

E falando em interpretação, a filosofia atual se concentra em estudos hermenêuticos, sendo Gadamer considerado um dos grandes filósofos do século XX. Como já escrevi no artigo “Crime de hermenêutica, Donald Trump e Cristo crucificado” (https://holonomia.com/2016/11/15/crime-de-hermeneutica-donald-trump-e-cristo-crucificado/), citando Gadamer:

A história da hermenêutica nos ensina que junto com a hermenêutica filológica existiram também uma hermenêutica teológica e uma hermenêutica jurídica, e que somente as três juntas perfazem o conceito pleno de hermenêutica. Uma das consequências do desenvolvimento da consciência histórica nos séculos XVIII e XIX foi a desvinculação da hermenêutica filológica e da historiografia de seu vínculo com as outras disciplinas hermenêuticas, estabelecendo-se autonomamente como teoria metodológica da investigação das ciências do espírito” (Hans-Georg Gadamer. Verdade e Método. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 407).

Diante dessa afirmação, que é uma conclusão do estudo histórico, mas também uma premissa para o argumento seguinte (um dado construído), Gadamer, dizendo que a interpretação é um fenômeno unitário, cognitivo, normativo e reprodutivo, declara a seguinte tarefa da filosofia: de “voltar a determinar a hermenêutica das ciências do espírito a partir da hermenêutica jurídica e da hermenêutica teológica” (Idem, p. 410).

Por uma questão de hierarquia óbvia de valores, é necessário considerar que a hermenêutica prioritária é a Teológica, que logicamente condiciona as interpretações jurídica e filológica. Todavia, a filosofia de Gadamer não se desincumbiu de alcançar a missão por ele proposta, desenvolver a hermenêutica Teológica que determina a hermenêutica das ciências do espírito, deixando de cumprir o primeiro mandamento.

Aliás, a autêntica hermenêutica Teológica não tem esse problema de separação entre ciências do espírito e da natureza, pois a Teologia é única, e vale para ambas, a ciência é una, como o conhecimento, e a orgânica quântica aponta nesse sentido.

E recentemente me deparei com o mesmo problema Teológico, ou falta de Teologia, lendo o artigo “O paraíso dos conceitos jurídicos do jurista alemão Rudolf von Jhering (parte 6)” (http://www.conjur.com.br/2017-jun-05/direito-civil-atual-paraiso-conceitos-juridicos-rudolf-von-jhering-parte), do sítio Conjur, em sua parte final, citando Ernest H. Kantorowicz, e sua obra Os Dois Corpos do Rei: Um Estudo Sobre Teologia Política Medieval. Isso porque a tal Teologia medieval, da citada obra, seguiu o erro Teológico do Concílio de Niceia e de Santo Agostinho, separando Corpo e Espírito, e para piorar criou outro corpo.

A Teologia cristã autêntica entende haver um só Corpo e um só Espírito, e essa Teologia não era praticada no período medieval, em que pese o livro de Kantorowicz (que ainda não li e que agora ficou ainda mais atrás na minha fila de leitura, pois o Rei só tem um Corpo e um Espírito, e porque dou prioridade aos autores mais próximos da verdade), sendo um fato que o rei medieval, como regra praticamente absoluta, não era cristão, porque não seguia o exemplo de Jesus Cristo sendo o servo de todos.

Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. Mas a cada um de nós foi dada a graça pela medida do dom de Cristo, por isso é que se diz: Tendo subido às alturas, levou cativo o cativeiro, concedeu dons aos homens” (Ef 4, 4-8).

Como a má teologia prevalece, temos hoje o mundo da mentira, da “pós-verdade”, pois o Espírito ainda não se manifestou. O descumprimento do primeiro mandamento permite que os mentirosos ajam livremente, praticando injustiças.

Ora, a vinda do ímpio será assinalada pela atividade de Satanás, com toda a sorte de portentos, milagres e prodígios mentirosos, e por todas as seduções da injustiça, para aqueles que se perdem, porque não acolheram o amor de verdade, a fim de serem salvos. É por isso que Deus lhes manda o poder da sedução, para acreditarem na mentira e serem condenados, todos os que não creram na verdade, mas antes consentiram na injustiça” (2Ts 2, 9-12).

O ímpio está aí, vivendo da mentira, por amor ao poder político, e faz a festa nas redes sociais. Esta questão é mais do que atual, pois a mentira parecer ser a regra nos meios político e social, em que o amor ao dinheiro e ao poder levam à negação da Verdade e à enganação do povo, e não só no Brasil, como vemos com os “grandes” líderes, de todos os partidos, e suas versões estapafúrdias dos fatos nos processos da lava-jato.

Portanto, o problema do mundo é Teológico, de má teologia, daquela em que o primeiro princípio é o dinheiro, a matéria, o poder, que predomina nas relações humanas e na ciência, permitindo a ação livre da mentira, tanto é que criado o termo “pós-verdade”. Não é à toa que não usamos carros elétricos, não reaproveitamos o lixo, deixamos que sessenta mil brasileiros morram assassinados a cada ano, e que outros tantos morram no trânsito e em guerras por dinheiro e poder.

A má teologia é a adotada pelos falsos profetas, que defendem mentiras e praticam injustiças. A boa Teologia é a dos autênticos profetas, normalmente perseguidos pelos poderosos, pois sustentam a Verdade, que é indispensável para a realização da Justiça.

Existe Verdade, existe Justiça; e Deus é a Verdade e a Justiça.

Enquanto o verdadeiro Deus, o Deus da Verdade e da Justiça, e da Razão, o Logos, o Deus de nosso senhor Jesus Cristo, que pela Verdade, e para nossa salvação, morreu na cruz e depois ressuscitou, não for adorado em Espírito e Verdade, por todos, em todo o tempo, enquanto não cumprido o primeiro mandamento, não adianta reclamar dos políticos ou das dificuldades da vida, porque quem luta contra a Vida não tem legitimidade, não tem moral, para reclamar da morte ou das injustiças do mundo.

A Realidade

Realidade é palavra de origem latina, derivada de res e realis, significando coisa, ou tudo o que existe. Uma coisa é, para nós, a ideia que fazemos dela. A coisa genérica e indeterminada passa ser outra quando definida, identificada por suas qualidades. Tudo com o que nos relacionamos no mundo está ligado a um conceito ou ideia, por meio de que lemos e interpretamos os fenômenos.

Na maioria das vezes a ideia está inconscientemente ligada à coisa a que ela se refere. Quando vemos um gato, ou uma porta, automaticamente usamos a ideia de gato e porta que formamos ao longo da vida, e como normalmente não nos lembramos da formação da ideia, esquecemos que ela existe, não percebendo a associação da ideia ao que nos é mostrado pelos sentidos, não notando a formação mental da realidade, que é praticamente automática. Podemos simplesmente pensar em gato ou porta, ou em um gato específico, Garfield, ou uma porta determinada, a deste cômodo, dando mais concreção à ideia. A ideia pode se referir a coisas que já existem, que vão existir ou que ficam apenas nos pensamentos.

Nossa percepção e entendimento das coisas, portanto, depende da ideia que fazemos delas, depende de um mapa mental consciente ou implícito que possuímos para a lida diária com os fenômenos, especialmente das relações e conexões entre os eventos e coisas à nossa volta. A maioria das pessoas costuma, em determinado momento da vida, na infância ou adolescência, simplesmente parar de atualizar seu mapa mental, cristalizando-o em preconceitos rígidos.

O mapa mental da realidade está ligado a uma ordem ou concepção de mundo, uma cosmovisão, em que as coisas possuem relações umas com as outras, dando sentido ao que vemos. Realidade, assim, está ligada a sentido, a interpretação ou hermenêutica das coisas, dos fenômenos, do mundo.

Os fatos são sua correta interpretação. O louco é aquele com dificuldade de interpretar adequadamente os fatos, confundindo pensamentos apenas individuais com fenômenos comuns às demais pessoas.

A ciência atual é eminentemente reducionista, pelo que o sentido das coisas é limitado a campos específicos da realidade, sem ligação com os demais. As ciências são individuais e, de certa forma, loucas.

Segundo a ciência cartesiana que domina o mundo, a realidade é a coisa extensa, a coisa material, ou res extensa, que é independente da ideia que fazemos dela, pois as ideias pertencem ao mundo imaterial, da res cogitans. Para a visão cartesiana, a res extensa e a res cogitans não se comunicam e a única realidade, pela ciência atual, é aquela percebida pelos sentidos. Nada mais falso.

Aquele que vive eternamente criou todas as coisas juntas” (Ecl, 18, 1).

Todas as coisas estão juntas, ideias e fenômenos, sendo os fenômenos o que entendemos dos fenômenos. E todas as coisas estão juntas porque as relações conceituais e as razões e proporções das coisas também somente podem ser entendidas em conjunto. Cada coisa está ligada a outra, e outra, e outra, até que tudo se relacione. Gato é animal, uma espécie do ser que se movimenta, se alimenta de outros seres, que nasceu de outro gato, e toma leite, que também é produzido pela vaca, cuja carne nos fornece alimento, e que precisamos como fonte de energia, como a luz do sol que aquece o planeta, decorrente de reações nucleares, o que nos permite viver e produzir, alterando as coisas do mundo, como conjunto de todas as ideias, etc.

A divisão da realidade em áreas de conhecimento somente é válida se essas áreas forem novamente reunidas em um todo orgânico e coerente, porque todas as coisas estão juntas, como nos informam a Bíblia, a orgânica quântica e a relatividade, aquela física pela unidade total do cosmos e esta pela existência de um suposto contínuo espaço-tempo. A filosofia antiga, antes de Descartes também era assim.

Não só a física indica a unidade da existência, pois pelo espaço-tempo o Big Bang é agora, sendo o tempo uma percepção humana, como também pelo conhecimento filosófico se chegou a essa mesma conclusão em Martin Heidegger, no âmbito da coisa pensante (In Ser e tempo. Tradução Fausto Castilho. Campinas: Editora Unicamp; Petrópolis: Editora Vozes, 2012, pp. 169/171):

Mas essas determinações-de-ser do Dasein devem ser vistas e entendidas agora a priori sobre o fundamento da constituição-de-ser que denominamos ser-em-o-mundo. O ponto de partida adequado para a analítica do Dasein reside na interpretação dessa constituição.

A expressão composta ‘ser-no-mundo’ já mostra em sua configuração, que com ela é visado um fenômeno unitário. (…)

Com esse termo (ser-em) é designado o modo-de-ser de um ente que está ‘em’ um outro ente, como a água ‘no’ copo, a roupa ‘no armário’. Com o ‘em’, pensamos a recíproca relação-de-ser de dois entes extensos ‘em’ o espaço relativamente a seu lugar nesse espaço”.

Mas minha ideia não se limita à preocupação com meu corpo físico e seu fim temporal, e esse é o erro filosófico de Heidegger, na medida em que a realidade mental e do pensamento está além da própria pessoa, pois o pensamento da pessoa pode passar à comunidade, como Sócrates, que não se preocupava apenas com a própria morte, que teve suas ideias desenvolvidas por Platão, e depois Aristóteles numa linha que permanece aberta, para um futuro indefinido. Além disso, a realidade une mente e matéria, não sendo possível a separação absoluta decorrente da filosofia cartesiana.

Se todas as coisas estão juntas, cada parte integra o todo, que é o fenômeno unitário do Ser. A geometria fractal é de grande valia para entender a realidade, em que microcosmos são criados a partir do macrocosmos. Aliás, essa é a verdadeira compreensão da ideia de Pai, Filho e Espírito Santo, em que o Pai é sempre o Todo maior, o Filho o Todo menor, como o Homem e/ou a Humanidade (esta tida como um todo maior que o homem), e o Espírito Santo a adequação do Todo Menor ao Todo Maior, como ocorre no princípio holográfico, a razão ou proporção que liga a Parte ao Todo, dando coerência e sentido à relação, Unidade – Eu e o Pai somos Um.

O Filho é causado pelo Pai, pela causalidade top-down, aquela em que a totalidade causa as partes e as alterações nas partes, como na ordem generativa, em que vale a causalidade vertical. O macrocosmos gera o microcosmos, e nesse aspecto Jesus é tanto microcosmos, como homem perfeito, imagem perfeita do Pai, de Deus, do Cosmos, como Macrocosmos, como Jesus, para nós, é também macrocosmos, como imagem da humanidade, da qual somos microcosmos.

David Bohm e David Peat, no livro “Ciencia, Orden Y Creatividad – Las raíces creativas de la ciencia y la vida”, Kairós, Barcelona, 4 ed. 2007, falam da ordem generativa ou gerativa, que é aquela em que os detalhes da natureza são gerados a partir de uma totalidade maior, de forma semelhante aos fractais. Dizem eles que “las formas más complejas de la naturaleza parecen generarse a través de adiciones sucesivas de detalles más y más pequeños” (p. 177), o que, numa tradução livre, significa que as formas mais complexas da natureza são formadas pela adição sucessiva de detalhes menores, fazendo os autores a comparação com o pintor, que pensa o quadro como um todo e faz o seu trabalho partindo de traços gerais até chegar aos menores detalhes.

Eles dizem que o mesmo ocorre na ciência, que depende de uma percepção geral da realidade, até a especificação das formas, e é a criatividade do cientista individual que leva à nova percepção geral da realidade, como Sócrates, Jesus Cristo, Copérnico, Newton, Hegel, Einstein, Jung, David Bohm etc.

A ordem generativa também está presente na comunicação, em que “el significado se desenvuelve en la totalidad de la comunidad, y de la comunidad pasa a desenvolverse em cada persona. Así, existe una relación interna entre los seres humanos, y entre el indivíduo y la sociedad como un todo” (p. 207). Segundo os autores, o que também se infere de Heidegger, o significado da comunicação está envolvido na estrutura da linguagem, e na comunicação o significado se desenvolve na totalidade da comunidade, e desta passa para cada pessoa, havendo, assim, uma relação interna entre os seres humanos, entre o indivíduo e a sociedade como um todo.

Bohm e Peat concluem dizendo que existe a possibilidade de que “haya básicamente un único orden, cuyo fundamento incluye el holomovimiento, y que pude ir más allá. Este orden se desenvolverá em los órdenes, el de mente y el de materia, los cuales, segun el contexto, tendrán algún tipo de independencia relativa de función. Aun así, a un nivel más profundo son de hecho inseparables y se halla entretejidos, igual que ocurre en el juego de computadora, en el que la pantalla y el jugador están unidos por la participatión en circuitos comunes. Desde este punto de vista, mente y materia son dos aspectos de un todo, y no más separables de lo que lo son forma y contenido” (p. 208). Em tradução livre, dizem que talvez haja basicamente uma única ordem, cujo fundamento inclui o holomovimento, e esta ordem vai se desdobrar nas ordens da mente e da matéria, que, de acordo com o contexto, têm algum tipo de relativa independência funcional. No entanto, em um nível mais profundo são de fato inseparáveis e entrelaçadas, tal como no jogo de computador, no qual a tela e o jogador estão unidos pela participação em circuitos comuns. A partir deste ponto de vista, a mente e a matéria são dois aspectos de um todo, e não mais separáveis do que são forma e conteúdo.

Assim, a realidade é dependente do todo, que condiciona o contexto, unindo mente e matéria como dois aspectos do mesmo todo, em fenômeno unitário.

A interpretação isolada de fatos pode levar a deturpações, uma espécie de loucura, quando interpretações parciais não se adequam à realidade, como na música de Cazuza, “a tua piscina tá cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos, o tempo não para”. O problema é que Cazuza não percebeu que as próprias ideias, quanto ao comportamento sem limites, em hedonismo irresponsável, eram incompatíveis com os fatos, com a vida saudável, levando-o à morte prematura em decorrência da AIDS.

O tempo não para, pois a realidade é o holomovimento, o todo em seu movimento dialético, em que a interpretação deve sempre incluir novos fenômenos. “Mas se você achar que eu tô derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo, o tempo não para”.

Os dados estão rolando, ou seja, há muito conhecimento para ser incluído na filosofia, para que a haja correta interpretação do todo, e a ciência moderna não tem dado conta do recado, não tem atendido com seus métodos parciais às expectativas de coerência que se exige no conhecimento racional. O Direito é a ciência que modernamente une, ou tem a capacidade de unir, os todos parciais, na medida em que todas as relações, da alimentação à produção de bens e armas, são tratadas juridicamente. O Direito regula desde a fertilização até a questão dos possíveis efeitos das ondas eletromagnéticas de antenas de telecomunicação sobre a saúde humana. A questão ecológica é a grande prova da interdependência dos fenômenos, exigindo uma percepção mais ampla da natureza e da realidade. Mas mesmo a ciência jurídica está escravizada ao paradigma cartesiano, num formalismo positivista de um lado e num materialismo egoísta de outro, com individualismos do tipo liberal e sensorial.

A ciência moderna trabalha como na montagem de um quebra-cabeça, mas sem a ideia da imagem a ser formada. Para os que acreditam na Ordem, o Cristianismo indica como é essa imagem, a ideia de tudo interligado, havendo Um só Corpo e Um só Espírito.

Nesse ponto, algumas ideias tidas como retrógradas, como as religiosas, são, na verdade, de certa forma, futuristas. “Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades, o tempo não para, não para, não, não para”. A História tem um movimento dialético, e por isso é preciso cuidado, para não repetirmos os erros do passado, pois assim como a crise econômica da década de 1930 levou ao nacionalismo, a atual crise econômica tem levado os países na mesma direção, e o problema de hoje está no fato de que são várias as potências nucleares, e em caso de guerra os princípios e valores humanos infelizmente são esquecidos pelos líderes políticos.

A dialética Hegeliana pressupõe a superação das diferenças e contradições, não sendo uma mera a oposição conflituosa de partes contrárias, ou seja, é necessária uma razão maior que inclua as minhas razões e as razões do outro, e isso foi o que nos mostrou Jesus Cristo, como Logos ou Razão manifestada, incluindo o próximo na mesma dignidade da pessoa, e por isso o outro deve ser amado com a mim mesmo, porque somos Partes do mesmo Todo, a mesma Realidade Única e interligada pela mesma Razão. Segundo Hegel,

A razão é a certeza da consciência de ser toda a realidade: assim enuncia o idealismo o conceito da razão. Do mesmo modo que a consciência que vem à cena como razão tem em si essa certeza imediatamente, assim também o idealismo a enuncia de forma imediata: Eu sou Eu, no sentido de que o Eu para mim é objeto. Não no sentido de objeto da consciência-de-si em geral – que seria apenas um objeto vazio em geral; nem objeto da consciência-de-si livre –, que seria somente um objeto retirado dos outros, que ainda são válidos ao lado dele; mas sim no sentido de que o Eu é objeto, com a consciência do não ser de qualquer outro objeto: é o objeto único, é toda realidade e presença” (In Fenomenologia do Espírito. Tradução de Paulo Meneses. 8 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013, p. 172).

Para Hegel, somente o que é racional é real, e assim eu somente sou real enquanto razão, enquanto objeto da Razão, que engloba toda a realidade. Essa Razão de Hegel, que é real, é o próprio Logos, indicando que Deus, ou a Totalidade Racional, é a única realidade, e que somente enquanto integrante dessa realidade, dessa Totalidade Racional, enquanto movimentado pela Razão Santa, pelo Espírito Santo, o Logos, sou real. O Logos é o Sujeito Universal, do qual somos objeto, e na apenas na medida em agimos com base nesse Logos somos racionais, e também sujeitos da mesma subjetividade, que na verdade é objetiva, porque a única realidade.

Assim, o entendimento da realidade está ligado ao entendimento do Cosmos, da Ordem Total, pela concepção Cristã, como concepção da Razão, com a inclusão da perspectiva científica moderna, incluindo o Direito e a Política, com ‘D’ e ‘P’ Maiúsculos, ligados à ordem social.

A Constituição determina o conteúdo e a interpretação da norma local, e a Realidade Humana, o Logos, determina o conteúdo e a hermenêutica da Constituição. A velha religião, do Antigo Testamento, já era ligada ao conteúdo da Lei, e Jesus Cristo mostrou a natureza humanitária e coletiva da Lei, que direciona todos os comportamentos sociais.

Jesus Cristo diz que para viver no Reino de Deus, na Ordem Total, no Cosmos, é preciso nascer do alto, nascer do Pai, do Todo, ser gerado do alto, do Espírito, da Razão coletiva.

Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um notável entre os judeus. À noite ele veio encontrar Jesus e lhe disse: ‘Rabi, sabemos que vens da parte de Deus como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele’. Jesus lhe respondeu: ‘Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus’. Disse-lhe Nicodemos: ‘Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe e nascer?’ Respondeu-lhe Jesus: ‘Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito’” (Jo 3, 1-8).

Nascer do Espírito é nascer do Todo, da humanidade, além do mero nascimento carnal em determinada família ou Estado, ainda que este nascimento tenha sido Providencial. É deixar de ser filho da carne para ser Filho do Homem, deixar de ser americano, europeu, africano ou asiático, mas Humano, como Sócrates, que era cidadão do mundo.

A Realidade depende da correta compreensão do Todo, da Humanidade, da Vida, e seu sentido maior, do Logos, a Realidade é a Vida segundo o Espírito Santo, a Única Razão, segundo Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida, o Logos feito carne.

Determinismo ideológico ou espiritual

Toda visão de mundo, ou cosmovisão, está ligada a uma ideologia, como conjunto sistematizado de ideias que organizam essa perspectiva da realidade, que, por sua vez, adota um valor fundamental, em torno e a partir do qual a referida visão de mudo se liga aos fenômenos, dando sentido às coisas, e que assim condiciona a hermenêutica, a interpretação da vida. Quando essa interpretação da vida possui uma coerência total, uma ligação de tudo e todos, notadamente no nível espiritual, é chamada religião.

O valor fundamental do cristianismo, como manifestação do monoteísmo, segundo o qual há um só Deus e uma só religião, é o da unidade do mundo, da interdependência das partes ao todo a que pertencem, e esse todo inclui tudo, conhecido e desconhecido, visível e invisível, inteligível e ininteligível. Essa unidade é, ao mesmo tempo, espiritual e material, mas a ênfase está na Ideia, no Espírito, que dá sentido e coerência à vida, pois é o Espírito que significa a matéria, e sem Aquele esta é morta, na medida em que é o Espírito que dá unidade à matéria, sendo Ele próprio a verdadeira Unidade.

Uma vez adotada essa posição, por vontade livre, a pessoa ingressa num determinismo ideológico, pois suas ações passam a ser condicionadas por essa visão de mundo, por essa Ideia, aceitando os efeitos de sua conduta sobre o mundo e vice-versa, considerando que não vemos o resultado final de todas as nossas ações, ele não é imediato, porque esse determinismo muitas vezes atua de forma diferida ou por meio de um salto quântico, em que o além está determinado, ainda que não possamos percebê-lo.

No salto quântico não há continuidade aparente no movimento da partícula, ela está em um ponto e depois em outro, como num passe de mágica. O elétron está numa camada de energia e, de repente, surge em outra camada de maior (ou menor) energia, que é transcendente àquela anterior, com a qual não mantém contato evidente.

Saliente-se que a nova camada eletrônica (ou as novas camadas, que são várias) está lá com suas características, que podem ser tidas por “inconscientes” para o elétron, até que este chegue a esse nível e se comporte com as qualidades desse nível.

No plano humano acontece algo semelhante, em que os níveis quânticos são hermenêuticos e espirituais. A pessoa se entende num corpo, depois numa família, num clã, numa cidade, numa nação, dando saltos quânticos hermenêuticos para alcançar os respectivos níveis de realidade intelectual, de consciência.

O nível final de consciência é o da humanidade cósmica, em que a pessoa se percebe como membro da coletividade da vida e do Cosmos, incluindo os entes que a antecederam e os que a sucederão. A pessoa se desfaz de seus condicionamentos locais, para agir como uma consciência coletiva, também no nível local, mas com o Espírito, além dos meros interesses individuais ou grupais, tendo em vista a comunidade humana, a comum unidade das pessoas.

O auge dessa consciência foi alcançado por Jesus Cristo, que agia conforme o Logos, Deus, a Consciência Cósmica, o Espírito, sendo fiel à sua visão de mundo, agindo livremente segundo sua religião, mas determinado por ela, submisso a Deus, confiando nos efeitos de sua ação conforme sua fé, sua religião. Nesse sentido, foi até a morte, que teve como um de seus efeitos o de confirmar sua religião perante os apóstolos, sua visão de mundo Espiritual, uma vez que ressuscitou, o que é prova, para os cristãos, de que a realidade é mais do que vemos, indicando que há uma ordem espiritual com seu determinismo.

Determinismo está diretamente ligado à noção de causalidade. O determinismo materialista é regido pela causalidade local e limitado pelo princípio da incerteza, segundo o qual não há certeza, mas probabilidades, significando, em última análise, uma ideologia caótica. Para o determinismo idealista ou espiritual a causalidade verdadeira é não local, ou seja, é global, valendo o que é chamado de Causalidade Vertical por Wolfgang Smith (In O Enigma Quântico: Desvendando a Chave Oculta. Trad. Raphael de Paola. Campinas, SP: Vide Editoral, 2011, capítulo VI), indicando uma causalidade difusa, ligado a um campo de energia que está numa camada ainda não compreendida pela física, mas que permite os fenômenos conhecidos como emaranhamento ou entrelaçamento quântico, ou tunelamento quântico, decorrente da natureza global e indivisível da realidade. Esse tema foi desenvolvido no artigo “Jesus e o jogo da Vida Eterna: verdade e consequência”, e está diretamente ligado a ele, valendo a leitura (https://holonomia.com/2016/09/05/jesus-e-o-jogo-da-vida-eterna-verdade-e-consequencia/).

O determinismo idealista ou espiritual exige humildade, tendo em vista em que se deve reconhecer a impotência do homem diante de Deus, do Cosmos, impotência essa que é mitigada pelo fato de que a mesma cosmovisão, a religião, indica que há sentido na Vida e que Deus é Bom e Justo, e está no controle de todas as coisas. Deus é fiel e cumpre suas promessas, o que significa que a razão divina é absoluta, e nela se pode confiar, mesmo que provisoriamente ininteligível. A pequenez do homem não é nada diante do poder de Deus, sendo que a fé correta, ligada à razão correta, ao Logos, salva. Mas importante que ganhar qualquer conflito pontual, é vencer a batalha final, a guerra. Assim, essa aparente impotência implica em grande potência, pois “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” (Rm 8, 31).

Quem habita na proteção do Altíssimo pernoita à sombra de Shaddai, dizendo a Iahweh: Meu abrigo, minha fortaleza, meu Deus, em quem confio! É ele quem te livra do laço do caçador que se ocupa em destruir; ele te esconde com suas penas, sob suas asas encontras um abrigo. Sua fidelidade é escudo e couraça. Não temerás o terror da noite nem a flecha que voa de dia, nem a peste que caminha na treva, nem a epidemia que devasta ao meio dia. Caiam mil ao teu lado e dez mil à tua direita, a ti nada atingirá” (Sl 91, 1-7).

Nesse mundo de probabilidades, Deus age além das possibilidades, pois Deus é o Deus do impossível, o que é o caso da ressurreição para os materialistas, uma coisa impossível. Não temos acesso ao vácuo quântico, ao nível subquântico, que possui energia infinita, pelo que nosso conceito de impossível é certamente limitado.

Jesus, fitando-os, disse: ‘Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível’” (Mc 10, 27).

Humildade é contrário de orgulho, ou vaidade, e esse pecado é o principal, que levou à Queda, à separação do homem de Deus, e do homem da natureza; e enquanto essa postura da humanidade perante a Vida não for mudada, a desordem continuará, como nas guerras e no aquecimento climático.

O livre-arbítrio permite a escolha, que no fim das contas, é entre esses dois modos de ver o mundo: segundo um caos materialista ou conforme a ordem espiritual; e feita a opção, em espírito e ação, os efeitos são determinados pelo conjunto das ideias, o pacote é completo: para uma vida de caos, e sem direção, ou de ordem, ainda que oculta, mas com sentido.

A escolha leva à servidão da matéria ou do Espírito. E nosso livre-arbítrio nas atividades diárias consiste na constante atenção de conter os impulsos, pois a neurociência nos diz que nossa liberdade é exercida numa fração de segundos, apenas para conter a reação instintiva do corpo. O treinamento contínuo do Espírito, pela oração, pelo estudo e pela prática das virtudes, facilita a contenção da ação instintiva, para a ação espiritual e inteligente. Sem a restrição dos impulsos somos escravos da carne.

Entendo que estamos no limite de um nível de energia, prestes a um salto quântico coletivo, salto esse que é hermenêutico, de sentido do mundo, de interpretação de todas as coisas, e feito o salto, a mudança intelectual gerará os efeitos coletivos, prenunciados como era messiânica, ou Reino de Deus, mas para isso, seguindo as Escrituras, está sendo necessário o sofrimento coletivo, pelas guerras, fomes, doenças, decorrente do descontrole individual e coletivo do egoísmo e dos instintos carnais, até que esse movimento atinja o limite do insuportável, gerando a energia necessária para a mudança de cosmovisão, para que a humanidade seja então guiada pelo determinismo ideológico ou espiritual, pela melhor razão, que é coletiva, pelo Logos.

Para o retorno do Messias é necessário que se complete a energia psíquica suficiente para o salto quântico, a catarse coletiva, para que a nova consciência, inaugurada por Jesus Cristo, se torne manifesta, irrompa à consciência coletiva, atingindo cada um e todos os homens vivos. O apocalipse descreve, assim, a transição de fase da humanidade, de um estado em que a consciência potencial será transformada em consciência real, em pensamentos em toda sua realidade, com todo o desconforto para aqueles com débito energético com o meio, como um pesadelo acordado, ou seja, os que acumularam experiências de vida em detrimento consciente da vida alheia terão o retorno físico de suas ações. O organismo humanidade cósmica irá agir contra seus membros indesejáveis, como numa reação imunológica, atacando um corpo estranho ou uma infecção.

E eles clamaram em alta voz: ‘Até quando, ó Senhor santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?’ A cada um deles foi dada, então, uma veste branca e foi-lhes dito, também, que repousassem por mais um pouco de tempo, até que se completasse o número dos seus companheiros e irmãos, que iriam ser mortos como eles” (Ap 6: 10-11).

“‘Não danifiqueis a terra, o mar e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso Deus’. Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel” (Ap 7: 3-4).

O quantum da revelação divina é medido pelo número dos cento e quarenta e quatro mil. Atingido esse limite de injustiça e desequilíbrio, a energia será suficiente para o salto, que levará à Justiça, à harmonia e à Paz. Como no plasma, as pessoas deixarão de se guiar pelo seus egoísmos e agirão “ionizadas” por Deus, pelo Logos, atuando individual e coletivamente em harmonia. O poder humano será exercido pela melhor Inteligência, como na República idealizada por Platão, e profetizada como Reino de Deus ou Era Messiânica.

Assim diz o Senhor Iahweh: Tu és aquele de que falei nos dias antigos por intermédio dos meus servos, os profetas de Israel, os quais profetizaram naqueles dias, anunciando que eu havia de trazer-te contra eles. Sucederá naquele dia, em que Gog vier contra a terra de Israel, — oráculo do Senhor Iahweh — que a minha cólera transbordará. Na minha ira no meu ciúme, no ardor da minha indignação eu o digo. Com efeito, naquele dia haverá um grande tumulto na terra de Israel. Diante de mim tremerão os peixes do mar, as aves do céu, os animais do campo, todo réptil que rasteja sobre a terra e todo o homem que vive sobre a face da terra. Os montes serão arrasados, as rochas íngremes, bem como todos os muros ruirão por terra. Chamarei contra ele toda espada, oráculo do Senhor Iahweh; será a espada de todos contra todos. Castigá-lo-ei com a peste e o sangue; farei chover uma chuva torrencial, saraiva, fogo e enxofre sobre ele e as suas tropas e os muitos povos que vierem com ele. Engrandecer-me-ei, me santificarei e me darei a conhecer aos olhos de muitas nações e elas saberão que eu sou Iahweh” (Ez 38, 17-23).

Nesse Dia a humanidade entenderá o determinismo espiritual, a ação de Deus na História, ainda que “apenas” pelas forças da natureza. Uma “grande coincidência”, mas uma Coincidência Divina, profetizada há quase três mil anos, fazendo como que o Logos, a Inteligência, exemplificado por Jesus Cristo, e não o egoísmo, passe a governar as pessoas e, consequentemente, as nações.

Últimos Acontecimentos

Últimos Acontecimentos é uma página da internet (http://www.ultimosacontecimentos.com.br/), que tem o “o objetivo de diariamente pesquisar nos diversos meios de comunicação as notícias do cumprimento das profecias descritas na bíblia que nos fazem refletir sobre quão próximo está a sua volta (de Cristo)”.

Este artigo é também uma homenagem ao referido sítio, que tem o mesmo fundamento de busca que o meu, a realidade de Cristo e a veracidade das profecias bíblicas. Cheguei a essa página a partir de outra com a mesma finalidade, e já citada, Projeto Ômega (http://projetoomega.com/).

No fim das contas estamos todos em busca da Verdade, da verdadeira Ciência, da História da Humanidade, cada um com as informações de que dispõe. História é uma palavra de origem grega que significa “testemunho”, “conto”, “narrativa”, “registro”, “conhecimento através de investigação”. A História reúne informações sobre os eventos passados, dando-lhes unidade significativa, sentido, para permitir seu entendimento.

História pressupõe memória e raciocínio, coletando informações conhecidas para se chegar a uma narrativa que satisfaça os conceitos de razão e lógica, com significado. Tudo que fazemos pressupõe conhecimento histórico, desde o acordar até o dormir. Acordamos em um local que é por nós conhecido, porque antes de dormir estávamos nele mesmo, pelo que fazemos uma ligação entre um evento e outro. Se uma pessoa dorme em um local e acorda em outro, ou não se recorda como chegou àquele ponto, a história está incompleta, carecendo de complemento. Mesmo na física, a história é um elemento fundante do conhecimento, pois o movimento pressupõe a história do deslocamento ou o caminho da partícula, ou da transformação da energia.

Portanto, para a melhor história são necessárias as melhores informações e a melhor lógica, a melhor razão para sua unificação semântica, para o sentido coerente, da maior e melhor unidade significativa possível. Assim, busco as melhores informações científicas, seja da Teologia, da Física, da Psicologia, do Direito, da História tradicional, da Filosofia, para uni-las em um mesmo contexto de significado. E fazendo isso concluo a Verdade Científica da Bíblia, ou seja, a Boa Nova, que Deus efetivamente governa o Cosmos, e está conduzindo os destinos da humanidade, segundo as profecias bíblicas, em sua correta interpretação, ou hermenêutica.

“Antes de mais nada, sabei isto: que nenhuma profecia da Escritura resulta de uma interpretação particular, pois que a profecia jamais veio por vontade humana, mas homens, impelidos pelo Espírito Santo, falaram da parte de Deus” (2Pd 1, 20-21).

E Deus é o Verbo, ou Logos (Jo 1, 1), que é também Palavra e Discurso, e Razão, portanto a correta interpretação das Escrituras depende do Logos, que se manifestou em Jesus Cristo, a Palavra, que é a chave para a interpretação da História, e por isso pode-se dizer que Ele é o “Princípio da criação de Deus” (Ap 3, 14), e que “Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito” (Jo 1, 3), sendo a unidade que dá sentido ao Todo, o Universal fundamental.

A Bíblia nos diz que a criação foi feita para o Homem (Humanidade), criado à imagem e semelhança de Deus. “Deus é espírito” (Jo 4, 24), e o homem tem seu Espírito, “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus? … e que, portanto, não pertenceis a vós mesmos? Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate; glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo” (1Cor 6, 19-20).

Deus é a Causa Primeira, a Razão de todo movimento, o Criador, e é por esse Espírito, por essa Razão, ou Ideia, que une todas as coisas, que podemos investigar todas as coisas, é pelo Espírito que temos Ciência, Razão, Logos.

Jesus Cristo seguiu o Espírito Santo, que é a Razão Integral e Perfeita do movimento cósmico, Encarnando-o, ou seja, movimentou-se em sua Vida conforme O Espírito de Deus, e por isso é Filho de Deus. Assim, ele resgatou a Unidade da Criação, do Cosmos, do Sentido da Vida, mostrando que a Vida não é apenas corporal e não é individual, é mais que isso, e como recompensa por sua fidelidade ele foi ressuscitado primeiro, e não apenas por isso, para mostrar a verdade de seu Testemunho, da sua Hermenêutica da realidade. Sua ressurreição era a prova de que os discípulos precisavam para continuar o Caminho de Vida de Jesus, propagando o Evangelho a todas as criaturas. Sem a ressurreição, cuja prova é essencialmente testemunhal, apesar da possibilidade da sua experiência direta, como no caso dos apóstolos e de Paulo de Tarso, Jesus seria considerado mais um profeta fracassado e não haveria cristianismo.

“Ora, Deus, que ressuscitou o Senhor, ressuscitará também a nós pelo seu poder” (1Cor 6, 14).

A fé cristã é a fé na ressurreição, pois o mundo não se limita a esse corpo visível, existindo uma realidade e uma unidade além da matéria aparente. Nesse aspecto, o materialismo da relatividade de Einstein e os limites da velocidade da luz não são suficientes para explicar os fenômenos quânticos, como seus saltos ou a não localidade da realidade.

“Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (1Cor 15, 13-14).

Jesus Cristo já sabia da realidade espiritual, e foi fiel até a cruz para cumprir as profecias, fazer a vontade do pai. “Afastando-se de novo pela segunda vez, orou: ‘Meu Pai, se não é possível que esta taça passe sem que eu a beba, seja feita a tua vontade!’” (Mt 26, 42). Ele não queria passar pela tortura e crucificação, mas como esses eram eventos que o Messias profetizado deveria realizar, Jesus cumpriu a vontade do Pai. O Messias deveria morrer para cumprir o sacrifício, na medida em que a religião judaica tinha um culto ritual de sacrifício, e assim Jesus é a perfeição do culto religioso, cumprindo a Lei e os Profetas.

“Ora, ele morreu por todos a fim de que aqueles que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles” (2Cor 5, 15).

Jesus, como imagem de Deus, foi realizador de Seu Espírito, e nós, como imitadores de Deus por meio de Cristo, somos chamados cristãos.

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, em sua grande misericórdia, nos gerou de novo, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, imaculada e imarcescível, reservada nos céus para vós, os que, mediante a fé, fostes guardados pelo poder de Deus para a salvação prestes a revelar-se no tempo do fim” (1Pd 1, 3-5).

A História da Humanidade é aquela da geração de todas as coisas, do ser humano, da Queda e do Resgate, por meio de Cristo. A Queda significou a separação da Humanidade, por Adão, do Espírito de Deus, da conexão com o Cosmos, a Natureza; e Jesus Cristo, por sua Vida e sacrifício, nos resgatou para Deus, recuperando o sentido do Espírito, sua eternidade e a Integridade e Santidade da Vida.

“Pois, assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida. Cada um, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. A seguir haverá o fim, quando ele entregar o reino a Deus Pai, depois de ter destruído todo Principado, toda Autoridade, todo Poder” (1Cor 15, 22-24).

Por sua fidelidade e para nossa esperança, Cristo ressuscitou primeiro. No início do Reino, os de Cristo ressuscitarão, para o Milênio. Assim como o Cristo ressuscitado não apareceu para todos, mas para os seus, a primeira ressurreição provavelmente será visível apenas para os que estiverem se santificando para Cristo, e estes serão os governadores da Humanidade, para Deus, durante o Milênio, os reis sacerdotes de Cristo. O Evangelho, como Boa Nova, é a notícia da proximidade da realização do Reino de Deus, quando se efetivará a Justiça, nos níveis individual e coletivo, inclusive no plano da política internacional, que está flagrante estado de transição.

Essa é a História da Humanidade, segundo as profecias. Daí porque efetivamente estamos vivendo os Últimos Acontecimentos. A História da Humanidade, de aproximadamente 200.000 (duzentos mil) anos passa pelos seus eventos finais, em termos de sentido, e esse sentido nos é dado por Cristo, pois por meio dele tivemos acesso novamente ao Espírito, que une os homens em espécie, unidade coletiva.

No dia da redação deste texto, providencialmente, já pensando neste artigo, quando fui guardar umas revistas antigas, vi a capa da revista Veja, edição 2475, ano 49, n.º 17, de 27 de abril de 2016, não o rosto de Eduardo Cunha, mas o detalhe superior com o título: “ELES INVENTARAM O MUNDO: Há 400 anos morriam Shakespeare e Cervantes, dois gênios que revolucionaram o modo como o homem vê a si mesmo”.

A História não resume aos últimos 500 (quinhentos) anos.

Desde a vinda do Messias, Jesus Cristo, Que efetivamente revolucionou o modo como o homem vê a si mesmo, estamos vivendo os Últimos Acontecimentos, e agora, especialmente, mais ainda, pelo cumprimento de outras profecias messiânicas.

DEUS, POR SEU ESPÍRITO, CRIOU O MUNDO, e sua manifestação em e por Jesus Cristo, nos deu conhecimento da Verdade, e por isso se diz que por Ele, pelo Cristo, pelo Espírito Santo nele encarnado, foram feitas todas as coisas, o Logos expresso por Cristo, e por sua ressurreição fomos gerados de novo, pelo Espírito, e assim Ele criou todas as coisas. Pelo Logos temos o sentido total da História, do princípio ao fim, do alfa ao ômega, e então por Cristo fomos gerados de novo, para o Espírito Santo, que explica todas as coisas.

Para conhecimento da Verdade da História são necessárias as corretas informações, tendo como base o modelo da Bíblia, e assim fica sugerida a busca de dados em sítios e fontes especializadas, seja de Física, Psicologia, História etc, especialmente sobre as Escrituras, inclusive o sítio citado, para saibamos mais detalhes dos Últimos Acontecimentos.

Crime de hermenêutica, Donald Trump e Cristo crucificado

A hermenêutica é a arte da interpretação: do mundo, das leis, dos eventos. Tudo está sujeito à hermenêutica, pois o homem é um ser simbólico, dá significado às coisas, e esse significado decorre de uma determinada hermenêutica, que pode ser correta ou não.

Portanto, como arte da interpretação, a hermenêutica desenvolve uma explicação, um discurso racional, inteligível, que pode ser entendido, dando sentido ao que é interpretado.

Diante do que são aceitos como dados, como informações, é construída uma história que pode ser compreendida. Mas os próprios dados dependem de uma metafísica, classificando-os como tais, pelo que também os dados são construídos.

Desvelar um evento, tirar o véu, tornar claro o que estava oculto, manifestar um sentido, contar uma história, todos são processos hermenêuticos. Apocalipse significa revelação, pressupõe uma hermenêutica teológica.

Para se interpretar é preciso um mapa ou modelo de mundo, uma metafísica. Toda manifestação hermenêutica contém em si um modelo metafísico, expresso ou oculto, um padrão de funcionamento das coisas, um paradigma da realidade, com suas ligações filosóficas e teológicas.

A história da hermenêutica nos ensina que junto com a hermenêutica filológica existiram também uma hermenêutica teológica e uma hermenêutica jurídica, e que somente as três juntas perfazem o conceito pleno de hermenêutica. Uma das consequências do desenvolvimento da consciência histórica nos séculos XVIII e XIX foi a desvinculação da hermenêutica filológica e da historiografia de seu vínculo com as outras disciplinas hermenêuticas, estabelecendo-se autonomamente como teoria metodológica da investigação das ciências do espírito” (Hans-Georg Gadamer. Verdade e Método. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 407).

Diante dessa afirmação, que é uma conclusão do estudo histórico, mas também uma premissa para o argumento seguinte (um dado construído), Gadamer, dizendo que a interpretação é um fenômeno unitário, cognitivo, normativo e reprodutivo, declara a seguinte tarefa da filosofia: de “voltar a determinar a hermenêutica das ciências do espírito a partir da hermenêutica jurídica e da hermenêutica teológica” (Idem, p. 410).

Podemos dizer que Gadamer cumpriu relativamente bem sua tarefa no que se refere à hermenêutica jurídica, mas, no fim das contas, seu sucesso é parcial e termina na sua visão sobre a hermenêutica teológica, na medida em que nesse ponto ele aceita a tradição, que pecou no entendimento pleno da teologia, que é justamente o aspecto principal dessa questão. Isso porque a tradição cristã seguida por ele está, na verdade, na era pré-cristã.

Diz Gadamer que o homem “precisa discernir os limites do humano, alcançar o discernimento de que as barreiras que nos separam do divino não podem ser superadas” (Idem, p. 466), concluindo em seguida, ao contrário do que diz Hegel quando afirma que a experiência se consuma numa “forma suprema de saber”, que a “verdadeira experiência é aquela na qual o homem se torna consciente de sua finitude” (Idem, p. 467).

Aqui ele volta ao tema de Heidegger sobre a morte como limite histórico do ser. Na verdade, tanto um como outro fazem filosofia do estar, e não do ser.

Nesse sentido, esse tema da morte como limite é frontalmente contrário ao cristianismo autêntico, pois Jesus foi condenado e crucificado exatamente por defender uma hermenêutica teológica diversa perante o sinédrio, dizendo que Ele é filho de Deus, superando Sua separação com o Divino, tomando consciência de Sua União com o Infinito, com Deus. Em Seu estar Jesus estava unido ao Ser.

Destarte, pode-se dizer que Heidegger e Gadamer defendem uma ideia anticristã, não sei se dolosamente ou por limitação linguística, porque “ser-aí” e “estar-aí” não são necessariamente a mesma coisa. A pessoa corporal que morre não é a humanidade imortal que permanece.

Aliás, o problema deles é essencialmente teológico, na medida em que seguem uma teologia partida, ligada à res cogitans, separada da res extensa, quando a teologia verdadeira não separa o pensamento da realidade extensa e física.

O Cristo é aquele que se une em espírito com Deus, o Messias, o Ungido com o Espírito Santo, quando o Estar e o Ser são Uno, com o Logos, o corpo vivendo segundo uma ideia, uma razão,  um Espírito eterno e santo. A metafísica, a teologia, de Cristo inclui o infinito, em que o corpo se comporta como espírito, além de um estar transitório, em movimento infinito.

A tradição seguida por eles (Heidegger e Gadamer) é a do joio, em que o homem é a apenas carne, e não a do trigo, em que a carne é um momento do espírito, do que eles provavelmente não tinham consciência, pois o cristianismo é a ciência da eternidade, e não da mortalidade.

Jesus foi condenado por crime de hermenêutica, por heresia, por blasfêmia, porque, assim como Gadamer, os judeus não aceitaram a união do humano com o divino, sendo suas teologias, suas interpretações de mundo, incluindo os conceitos de humanidade e de governo, muito divergentes.

Esse tema é atual, na medida em que se atribui ao Projeto de Lei que tramita no Congresso Nacional (PLS 280/2016) a criação de crime de hermenêutica, pois criminaliza decisão judicial que depende de interpretação da lei e dos fatos, em contexto histórico no qual se discute a prática de crimes por governantes. Na versão original do projeto, praticaria crime quem “deixa de conceder ao preso liberdade provisória, com ou sem fiança, quando assim admitir a lei e estiverem inequivocamente presentes seus requisitos”, e no substitutivo o ilícito é imputado a quem “deixa de conceder ao preso liberdade provisória, com ou sem o pagamento de fiança, quando assim admitir a lei e estiverem satisfeitos as condições necessárias à liberdade”.

A pessoa competente para conceder liberdade provisória é o magistrado, pelo que o crime se dirige à atividade jurisdicional, e sua ocorrência dependerá da interpretação da presença ou não dos requisitos para a concessão da liberdade, o que é muito perigoso para a independência funcional, para a atividade jurisdicional livre de pressões políticas indevidas. A liberdade provisória não pode ser concedida quando o autor do fato, suspeito do crime, puder, solto, comprometer a ordem pública, e o conceito de ordem pública é amplo e fluido. O termo ordem tem um significado metafísico, e sua utilização poderia levar à tentativa de punir juízes por suas decisões judiciais, com grande risco para o trabalho judicial, principalmente quando o réu tiver ligações pessoais com o poder, como ocorre nas questões ligadas à operação “Lava-jato”, que levou a manifestações dúbias de altos escalões da República movidas por interesses pessoais.

Saliente-se que o problema do indeferimento da liberdade provisória pode ser resolvido pela utilização do habeas corpus, fato comum nos tribunais, alguns com pedidos acolhidos e outros rejeitados, porque a questão da necessidade e cabimento da prisão pode ser objeto de divergência. A existência de interpretações diversas decorre da multiplicidade de percepções sensoriais, e também de visões de mundo, de teologias e interesses diferentes.

A falta de consenso sobre esses aspectos fundamentais da realidade pode levar a conflitos, com segregação social, por motivos político-ideológicos.

O Brasil passa por uma situação assim, o que também ocorre no resto do mundo, em que a divisão ideológica mostra-se cada vez mais aguda.

Aqui tivemos a última eleição presidencial, os protestos que a seguiram, o impedimento da presidente, as propostas de mudanças legais, fazendo com que a sociedade se dividisse, por falta de acordo, decorrente das diferentes visões de mundo, em que egoísmos ideológicos se combatem.

Nos EUA o presidente eleito Donald Trump representa a ideia de uma guinada ao conservadorismo, pois seus eleitores possuem uma visão de mundo contrária àquela adotada por Obama e que seria em boa parte seguida pela candidata vencida, notadamente no campo da moralidade, em virtude da teologia subjacente, dizendo Trump na sua campanha que seria pró-vida, contra o aborto e o “casamento gay”.

Talvez Trump seja mais um anticristo, ou o último grande líder assim chamado, usando o discurso religioso (deturpado) em seu favor, aliado ao apelo econômico em tempo de crise, como ocorreu durante o nazismo; mas em alguns pontos sua fala, a visão de mundo que o elegeu, leva à reflexão, especialmente sobre os problemas teológicos da modernidade, sobre a hermenêutica da realidade.

Uma das duas seguintes expressões de vida está muito errada, pois ou a Bíblia está correta ao dizer: “Não te deitarás com um homem como se deita com uma mulher. É uma abominação” (Lv 18, 22); e “Não vos iludais! Nem os impudicos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os depravados, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os injuriosos herdarão o Reino de Deus” (1Cor 6, 9-10); ou a opção materialista mundana possui a razão de afirmar a possibilidade de aborto ou a existência de “casamento gay” e “orgulho gay”.

Do ponto de vista religioso, espiritual, não se pode falar em “casamento gay” ou aborto; e talvez até de uma forma científica, materialista, a hipótese homossexual e a defesa do aborto sejam logicamente equivocadas. Richard Dwakins em seu trabalho “O gene egoísta” afirma que o organismo é uma máquina de reprodução do gene, para perpetuação deste, pelo que o comportamento homossexual e o aborto contrariariam até mesmo essa tese, sendo uma expressão de comportamento decorrente de ideia egoísta, mais prejudicial até mesmo que o gene egoísta, significando uma espécie de suicídio existencial, pelo que seriam uma anomalia esses atos contra a vida.

Casamento gay” e aborto não podem ser levados à categoria de regra universal, sendo um imperativo categórico sua rejeição, pois se tais comportamentos fossem considerados normais, inclusive no passado, as pessoas que defendem tais pontos de vista talvez não existissem, porque seus antecessores genéticos poderiam ser abortados ou não procriado em razão de união homossexual.

Portanto, como forma de manifestar compromisso com a Vida, hão que ser repudiados como ideias o aborto e a hipótese homossexual, como deve se contestada a expressão “orgulho gay”, que representa um dos mais elevados graus de ignorância, de alienação da realidade, de loucura, de insanidade.

Mas disso não se pode passar a outra forma de ignorância, que é a agressão física ou verbal a essas pessoas, que devem ser educadas e corrigidas filosoficamente. O cristianismo verdadeiro é misericordioso, não permitindo violência.

Ressalvo, desde já, que não considero uma agressão verbal a presente exposição, que se dirige ao comportamento e à ideia, e não à pessoa que padece desses citados males. A condenação do homicídio deve implicar na recuperação do homicida, o mesmo valendo no caso do homossexualismo, devendo seus praticantes adotar uma vida santa, saudável. Portanto, a condenação do comportamento tem a função de alerta, decorrendo da obrigação moral do filósofo de indicar a verdade, o melhor modo de viver, segundo a ética, para evitar que as pessoas cometam suicídio, que pode ser considerado o comportamento abortivo ou homossexual.

“Ora, o servo do Senhor não deve brigar; deve ser manso para com todos, competente no ensino, paciente na tribulação. É com suavidade que deve educar os opositores, na expectativa de que Deus lhes dará não só a conversão para o conhecimento da verdade, mas também o retorno à sensatez, libertando-os do laço do diabo, que os tinha cativos de sua vontade” (1Tm 2, 24-26).

Aqui é possível destacar o problema que aparece junto com esse conservadorismo renascente, que traz consigo a visão protestante do mau capitalismo, egoísta e acumulador de riquezas, ligado à teologia do mercado e à igreja da prosperidade. A proposta tributária de Trump é reduzir impostos dos muito ricos, pois eles geram empregos, quando o Estado precisa de dinheiro dos ricos para amparar os necessitados.

Jesus Cristo morreu pela humanidade, incluindo as gerações futuras. E nossa geração só pensa em consumir o planeta, gastando irresponsavelmente os combustíveis fósseis que a natureza levou milhões de anos para produzir, sem falar no lixo nuclear já acumulado que levará dezenas ou centenas de milhares de anos para deixar de ser um risco à vida.

E o comportamento egoísta não para aí, na medida em que as pessoas deixaram de ter vida familiar, deixaram de ter filhos, causando um prejuízo até mesmo para a previdência social. A mesma geração que vem destruindo o planeta, conta com aposentadoria, sem que sua ideologia permita que seja economicamente sustentável esse padrão de renda através das gerações. A própria noção de aposentadoria precoce é prova de um erro dessa geração, antecipando o fim da vida produtiva de trabalhadores em plena capacidade física e intelectual, porque o trabalho ficou sendo um fardo sem sentido. Hoje, milhões de pessoas que se aposentaram muito cedo, superando em muito a expectativa de vida do momento do estabelecimento do plano previdenciário, vivem às custas do trabalho de outros milhões que não sabem (os que se informam) se poderão um dia se aposentar.

O egoísmo econômico é um dos argumentos nazistas,  e seguidores do nazismo agridem as pessoas, ao invés de convencê-las, enquanto o cristianismo oferece a misericórdia, o perdão, a pregação da verdade pela Palavra.

O nazismo, o egoísmo coletivo, e o novo conservadorismo possuem uma pauta econômica de defesa nacional, contra os estrangeiros, com uma visão segregacionista e limitada do mundo.

Outrossim, tanto o materialismo ateu como a visão religiosa liberal acompanhada do protestantismo capitalista são manifestações de metafísicas parciais da realidade.

Jesus tinha uma visão completa da vida, além do momento, e por isso entregou-se para ser crucificado, mostrando que a morte corporal não é um limite, usando seu corpo para um fim maior.

A teologia de Jesus é incrivelmente moderna, pela qual a mente, o pensamento, traz em si uma realidade. Segundo a neurociência, o cérebro não distingue se vemos alguma coisa ou se apenas pensamos nessa coisa, sendo a mesma região neural ativada em um ou outro caso, indicando a realidade física do pensamento.

Nesse sentido Jesus, que conhecia plenamente a realidade espiritual do mundo, já dizia que o pensamento tinha uma força de realidade, e sua visão física e científica era moral e religiosa.

Ouvistes que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt 5, 27-28).

E ele disse: ‘Todo aquele que repudiar a sua mulher e desposar outra, comete adultério contra a primeira; e se essa repudiar o seu marido e desposar outro, comete adultério’” (Mc 10, 11-12).

Depois de dizer sobre a dificuldade de um rico entrar no Reino dos Céus, em conversa com os apóstolos, “Jesus, fitando-os, disse: ‘Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível’” (Mc 10, 27).

Portanto, para Deus tudo é possível, até mesmo a salvação daqueles que cometem abominações, desde que se arrependam, reconheçam que estavam em erro, na mentira, e se proponham sinceramente a uma nova vida, segundo a metafísica da verdade, da unidade psicofísica dos seres, do Ser. O reconhecimento do erro é essencial para a salvação, e isso é muito difícil para o orgulhoso, aquele que pratica o principal pecado, o egoísmo desmesurado. É necessária a mudança da visão individual e egoísta para a coletiva e espiritual, sem prejuízo para o indivíduo que quer viver com saúde.

Jesus disse-lhes: ‘Não é por isso que errais, desconhecendo tanto as Escrituras como o poder de Deus? Pois quando ressuscitarem dos mortos, nem eles se casam, nem elas se dão em casamento, mas são como os anjos nos céus. Quanto aos mortos que hão de ressurgir, não lestes no livro de Moisés, no trecho sobre a sarça, como Deus lhe disse: Eu Sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ora Ele não é Deus de mortos, mas sim de vivos. Errais muito!” (Mc, 12, 24-27).

Outrossim, a questão principal da hermenêutica, da interpretação e do entendimento do mundo, é teológica, o problema da ignorância quanto à religião verdadeira.

O judaísmo rejeitou seu Messias, ignorando suas próprias escrituras, como o capítulo 53 do profeta Isaías, descrevendo-o como o servo sofredor.

O cristianismo se perdeu, criando uma trindade e uma Igreja separada do Estado, em que aqueles que se dizem cristãos praticam abominações na vida social e profissional, ou convivem de forma omissa com essas situações.

O islamismo não reconhece a sua própria natureza, como confirmação da Torá e do Evangelho.

Se estiveres em dúvida sobre o que te revelamos, consulta os que têm o Livro desde antes de ti. Teu Senhor te revelou a verdade. Não seja um dos que duvidam” (Sura 10, 94).

Portanto, como o Alcorão confirma a Torá e o Evangelho, sendo o Livro de Deus um só, o critério de interpretação do Alcorão, segundo o próprio livro sagrado do Islã, é conforme o Livro já revelado anteriormente, a Torá e o Evangelho, na medida em que o Único Deus está ligado a uma Única Religião. O problema religioso é, assim, um problema hermenêutico.

O próprio Jesus já havia afirmado expressamente que não veio para revogar a Lei e os Profetas, mas para lhes dar pleno cumprimento.

O filósofo é um homem de seu tempo. O problema é que existe um tempo relativo, e deve ser objeto de delimitação. Assim, considero o tempo presente uma extensão do tempo de Cristo, na medida em que ele pregava a proximidade do Reino de Deus, o que ainda não ocorreu, pelo que é possível considerar que continuamos no Seu tempo.

As profecias de Daniel, tanto do capítulo 2, descrevendo a estátua, como a do capítulo 7, das feras, indicam uma continuidade histórica desde o tempo do império babilônico até o último império mundial, o que provavelmente é o atual. Também o Dragão e a Besta descritos no Apocalipse indicam uma continuidade no exercício do poder político mundial desde a época de João, pelos sete reis, como descrito no capítulo 17, versículos 9 a 14.

Portanto, ainda estamos no tempo religioso e político de Jesus, pelo que a Sua verdade moral continua válida, assim como seu exemplo de Vida.

A cruz não foi o fim, mas o começo da Vida Eterna. A morte é apenas a passagem, a páscoa, para o reino do Espírito, que pode ser ascendente, para a Vida, ou descendente, para o caos da matéria sem forma e sem vida. Sem essa interpretação, sem a verdadeira hermenêutica, até mesmo os eleitos podem ser enganados…

Para uma nova ciência

Este sítio virtual tem por objetivo demonstrar a natureza do cristianismo como ciência, como metafísica perdida na história.

Jesus Cristo pregava a Boa Nova, o Evangelho, a proximidade do Reino de Deus, quando a humanidade viverá em tempos de Justiça e Paz, seguindo os mandamentos de Deus, em harmonia com o Cosmos, a chegada do Dia do Senhor.

Segundo a presente proposta, a adoção do cristianismo após Constantino foi o início do desenvolvimento formal da apostasia, prevista pelo apóstolo Paulo, separando o Estado da Igreja, como se fossem realidades distintas. “Antes daquele dia virá a apostasia, e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição” (2Tes 2, 3).

O cristianismo é ciência no seu aspecto mas fundamental, como religião que une a parte ao todo, para que “Deus seja tudo em todos” (1Co 15, 28).

A apostasia se desenvolveu a partir da ideia de santo Agostinho de uma cidade de Deus que não seja a própria vida cristã em sociedade, o Espírito encarnado, interpretando equivocadamente as sagradas escrituras, notadamente quanto à natureza do Reino de Deus, ao reino milenar predito no apocalipse.

A mentalidade judaica de Jesus não separava ciência, filosofia, direito, política e religião, sendo a apostasia essa fragmentação, que hoje vivemos em seu ápice.

O Reino milenar de Cristo é jurídico, baseado em sua igreja (ekklesia), fundada no homem (humanidade) como filho de Deus, em unidade Espiritual, em comum unidade, em comunidade, quando os apóstolos, os enviados do Ungido, do Espírito Santo, da Razão Santa, se sentam em tronos para julgar as nações, ou seja, o apocalipse tem significado científico – ligado ao desequilíbrio ecológico e filosófico; político – o exercício do poder em nome de Deus ou de Mamon (dinheiro); e jurídico – a natureza normativa da sociedade em torno de leis, com natureza moral e científica, com filosofia integral, como era no judaísmo.

A chave para a correta interpretação do Evangelho é a passagem de João, capítulo 18, versículo 36, quando Jesus diz a Pilatos que seu Reino não é deste mundo “agora”, naquela época. O termo “agora” é fundamental para a interpretação do Evangelho, em que pese não constar em todas as traduções do texto bíblico. Não é que o Reino nunca fosse deste mundo, apenas não era deste mundo no período romano vivido por Jesus. Este mundo era o tempo do império romano. “’Senhor, é agora o tempo em que irás restaurar a realeza em Israel?’ E ele respondeu-lhes: ‘Não compete a vós conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade’” (At 1, 6-7). O início da restauração da realeza de Israel ocorreu em 1948, quando o efeito messiânico da atividade de Jesus, pela implantação dos direitos humanos universais, levou a ordem político-jurídica internacional a estabelecer o Estado de Israel, que ainda carece de reconhecer Jesus Cristo como o Ungido, o Messias Judeu, quando será cumprida a profecia de Zacarias 12, 10: “eles olharão para mim a respeito daquele que eles transpassaram, eles lamentarão como se fosse a lamentação por um filho único; eles chorarão como se chora sobre o primogênito”.

A divisão cartesiana de res cogitans e res extensa, que foi superada por Hegel em sua filosofia monista/monoteísta, mostrou-se equivocada também pelas descobertas da nova física, segundo a qual não há separação entre mente e matéria, pois o observador e o observado, o sujeito e o objeto se tornam uma unidade intelectual, como desenvolvido por David Bohm em sua perspectiva ontológica da física.

A epistemologia romana, como positivismo jurídico, e a ontologia cristã, com realidade total, se uniram nos direitos humanos do século XX, mas a metafísica permanece separada, sem a devida explicação da unidade da natureza e do espírito.

A filosofia ocidental moderna continua apegada ao paradigma kantiano, que não aceita o conhecimento da coisa em si, gerando a esquizofrenia do mundo em que vivemos.

A filosofia heideggeriana e a hermenêutica filosófica de Gadamer persistem na limitação do ser, que por natureza é perene, insistindo na provisoriedade mortal do estar, equívoco que é muito propiciado pelos verbos “sein” e “to be”, anglo-germânicos, que significam condições ontologicamente opostas, contendo os conceitos dos verbos “ser”, que é, por natureza, perene, eterno, e “estar”, que é provisório, momentâneo. Deus se identificou a Moisés como “Eu Sou”, o que não é o mesmo que “eu estou”.

O fundamento do ser é o Logos, que estava no princípio, e continua sendo. A ciência materialista se apega ao enumerar, ao contar, do termo logos, um de seus significados, que também tem as acepções de palavra, verbo, discurso, narrativa, razão, raciocínio, inteligência.

O Logos é a norma fundamental de Kelsen, real, e não hipotética, que dá unidade a qualquer sistema jurídico, permitindo o significado de constituição e indicando o todo normativo da comunidade, que hoje é internacional, como já previsto pelo Evangelho em sua universalidade.

Modernamente, a teoria da argumentação jurídica e a ponderação usam parte desse entendimento, mas sem a metafísica do todo físico.

Fisicamente, o todo é o holomovimento, pois a realidade é um todo indivisível e incomensurável (David Bohm); teológica e filosoficamente é a ideia, que é real enquanto racional, o Logos (Hegel); enquanto psicologicamente é o si-mesmo, do qual o símbolo é Cristo (Jung).

Os sistemas jurídicos contemporâneos se baseiam na figura do juiz, que deve seguir o modelo de Cristo, buscando a santidade, com conduta irrepreensível na vida pública e particular, sendo a manifestação viva da Lei, e tendo assim a condição pessoal e social de proferir os julgamentos corretamente (não só com império, mas também com autoridade), adotando o método cristão, na medida em que Jesus, como caminho (método), verdade (conhecimento) e vida (plenitude do ser) é o exemplo humano de Deus, Logos, como conceito que é real, universal e singular, simultaneamente.

A função do Direito como metafísica, ciência e teologia é provocar o arrependimento, ou seja, a mudança de visão, de atitude da pessoa perante o mundo, de modo a estar em conformidade com o holomovimento, com o Logos, vivendo a vida eterna, sendo expressão do Reino de Deus.