Existe uma rede de significados que conecta todos os fenômenos, o que é um fato apenas para os que entendem haver cosmos, ao invés de caos, como fundamento último da realidade. Um símbolo aponta para outro, e outro, todos inseridos e conectados racionalmente em uma narrativa de mundo, pressupondo-se que esta seja dotada de racionalidade. Isso vale desde os movimentos mais básicos da natureza, nos campos quânticos e suas influências recíprocas, que condicionam as respectivas interações, dando-lhes sentido dentro dos experimentos científicos em que são estudados; até as reações químicas que ocorrem no cérebro enquanto experimentamos as emoções mais sublimes, ou não, cujas expressões comunicativas, por mais perfeitas que possam ser, não são adequadas para transmitir as realidades que representam, na profundidade do seu significado existencial.
A conexão simbólica, se adequadamente realizada, de todo modo, permite relacionar os símbolos mais sutis, e aparentemente sem significado, a uma narrativa de mundo, ou cosmovisão, dependendo da sensibilidade daquele que experimenta os símbolos, o que também é condicionado pela bagagem simbólica do observador ou intérprete, incluídas a lógica e a coerência interna entre os significados dessa narrativa.
A cosmovisão, por sua vez, é o mundo implícito em que vivemos, em que os significados básicos são presumidos, aceitos, e por isso algos não ditos. Problemas ocorrem, contudo, quando narrativas de mundo com valores opostos se misturam, de modo que determinados fenômenos passam a ter sentido dúbios, até opostos, dependendo da situação ou perspectiva de análise, se dentro de um ou outro sistema de pensamento.
Essa contradição é o pano de fundo para os conflitos que nossa civilização tem presenciado, decorrentes da divergência entre as narrativas religiosa e materialista que se sobrepõem na vida diária das pessoas, causando confusões e oposições de interesses. Para uma cosmovisão, o homem é fruto do acaso, da evolução cega e sem propósito da vida, e esse entendimento condiciona a interpretação geral dos fenômenos da vida, o mesmo valendo para a visão oposta, de natureza religiosa, segundo a qual a presença do homem no cosmos não é acidental, mas fruto da Providência, A Qual determina o significado mais profundo de tudo o que existe, pois há sentido na vida e na história.
A conjugação simbólica dos fenômenos do mundo é distinta para cada uma dessas cosmovisões, o que pode ser considerado desde as hipóteses mas amplas da cosmologia até a interpretação da realidade quântica, quanto ao sentido ou interpretação a ser dada aos fenômenos quânticos, o que vale igualmente para os comportamentos cotidianos das pessoas, dos animais e da natureza.
Segundo entendo, a cosmovisão materialista já foi derrotada pela Ciência, e essa visão é sustentada por diversos pensadores, como Hegel, Jung, Bohm, Amit Goswami, Stephen Meyer, dentre outros. São várias as razões para essa conclusão. Pela inexistência de átomos, que era o fundamento original do materialismo, uma vez que tais partículas sólidas indivisíveis não existem, pois a realidade não é feita de coisas separadas espacialmente, mas de campos energéticos que se interpenetram. Pela temporalidade do universo, porque, ao contrário do que sustentava o pensamento grego, o mundo físico não é eterno, indicando as evidências científicas, tal como pensado pela cosmovisão judaico-cristã, que houve um início das coisas, uma criação do mundo. Pela sintonia fina das constantes da natureza, sendo sua única saída racional (do materialismo) a invenção despudorada do multiverso. Pela assustadora complexidade da vida, cujo funcionamento não pode ser explicado de forma reducionista, das partes para o todo, mas, ao contrário, somente é compreensível do todo para as partes. Pela impossibilidade matemática de ter havido uma evolução cega em sem direção das espécies, por tentativa e erro. Pela singularidade da vida, proporcionada por condições únicas de nosso planeta no universo, incluída sua posição na galáxia, sua formação num tempo cósmico propício, com presença de elementos químicos pesados e com a abundância de carbono, sem falar na existência da lua, dando estabilidade ao movimento planetário, dos planetas gigantes, como Júpiter e Saturno, que nos protegem de astros com capacidade destruidora da vida, como no evento que dizimou os dinossauros.
Por esses e tantos outros argumentos, o que resta ao materialismo é a gritaria e a invencionice, como salientado, tirando da cartola hipóteses ad hoc para fugir da realidade e da conclusão óbvia dos dados científicos, que apontam para uma maravilhosa ordem cósmica, que permitiu o desenvolvimento da vida humana e sua inteligência, situação perfeitamente compatível com o ideário religioso monoteísta, antecipando em mais de dois mil anos os resultados da ciência moderna. É de se considerar o materialismo, destarte, uma cosmovisão antiquada e derrotada, ainda que esse fato não tenha chegado ao conhecimento do grande público, ou mesmo de grande parte da elite intelectual, que insiste em viver segundo os preconceitos científicos datados do século dezenove.
A cosmovisão Cristã, de outro lado, em certa medida, está igualmente presa à ideia de dois mundos, do Reino do outro mundo, associada, como o materialismo, a preconceitos gregos, ao platonismo que se infiltrou na gênese da doutrina Cristã, o que acaba permitindo que sejam ignorados os significados mais profundos da realidade, relativos à unidade material e espiritual do único mundo governado por Deus, especialmente no que toca à importância de todas as pessoas, todos animais, toda a vida do planeta, à interconexão entre tudo o que existe, preconceitos e ideias que, direta ou indiretamente, acarretam seja ignorada a necessidade de uma ordem de mundo verdadeira e plenamente Cristã, especialmente nas políticas nacionais e internacional, nos maiores e menores detalhes, integrando uma relação maior de significado para questões de relevo e, do mesmo modo, para os temas aparentemente menos importantes da vida cotidiana, pela conexão simbólica de tudo o que existe.
Um simples papel no chão, por exemplo, não é algo irrelevante, mas um sinal de desrespeito a normas básicas de educação, e o pior não está no simples papel, mas nas toneladas de dejetos sólidos, líquidos e gasosos eliminados pela população em qualquer lugar, até mesmo nas nossas fontes de água, e, do mesmo modo, destinados indevidamente pelas autoridades públicas, que têm a incumbência profissional de promover tanto a educação das pessoas quanto de um serviço de saneamento básico eficiente. Isso para não falar no descarte diário de seres humanos, por mortes que poderiam ser evitadas por um esforço coletivo de média intensidade.
Os símbolos que vemos por todo lado indicam uma incongruência generalizada no comportamento humano, uma irracionalidade disseminada tanto na vida privada e individual das pessoas como na gestão pública, no serviço que é prestado ignorando os valores mais elevados da comunidade, quando os interesse coletivo é preterido por questões pessoais, egoístas, meramente fugazes. Essa é a manifestação visível da ação do anticristo no mundo.
Daí a necessidade de coerência máxima, de racionalidade Cristã extrema, na preservação da vida, no amor a Deus e ao próximo, nos menores detalhes da atividade cotidiana. É preciso reaprender a viver, significando corretamente as coisas da vida, conforme a adequada racionalidade que rege o mundo, o Logos.
Para isso, e considerando que o amor ao próximo inclui a educação, para aperfeiçoamento dos indivíduos para seu próprio bem e também em benefício da coletividade, é fundamental que os erros nos comportamentos humanos sejam devidamente detectados, apontados para que possam ser corrigidos, por meio de uma educação firme, com dignidade, segundo o mandamento Cristão, conforme ditos milenares do judaísmo:
“Quem ama a correção ama o saber; que detesta a correção torna-se imbecil” (Pr 12, 1).
“Os conselhos dos injustos são armadilhas mortais, mas a boca dos retos salva do perigo” (Pr 12, 5).
Assim, é necessário significar devidamente o que é correção, o que é conselho reto, distinguindo do que é desvio, do que é conselho que desagrega da verdadeira Ciência, pelo que não se pode tolerar o erro sem a devida advertência, sob pena de a corrupção não ser contida, espalhar-se e tomar cada vez mais espaço na mente e na atividade da comunidade.
O significado do que seja corrupção, enfim, está associado à narrativa de mundo, à cosmovisão, que define o que é erro, pecado, crime, ilícito ou idolatria. Se o materialismo é uma narrativa de mundo falsa, equivocada, baseada em pressupostos que se mostraram inconsistentes, todo cuidado é pouco ao se significar os fenômenos do mundo, para que não sejam influenciados pelos erros de ideias equivocadas, que não podem produzir bons resultados para a vida humana. Igualmente é necessário revisar o significado religioso do mundo, para que os valores Cristãos sejam aplicados em sua forma mais correta e mais ampla, que possam proporcionar a plenitude da vida Cristã para toda a comunidade, devendo ser considerado que o acerto da cosmovisão Cristã em relação à ordem do mundo aponta para a necessidade de observância, igualmente, da moralidade Cristã.
Outrossim, é preciso combater tanto a idolatria materialista quanto a religiosa, porque a idolatria é a prática e a defesa da cosmovisão ou narrativa de mundo que contraria o culto e a adoração do Deus único, impedindo que Sua vontade seja realizada, e por isso a sociedade atual está polarizada, porque existem narrativas de mundo com valores opostos, tanto do lado materialista, que tenta a realização individual das pessoas no mundo sensível, ignorando a realidade espiritual subjacente ao mundo, negando a moralidade Cristã; como deve-se enfrentar as falhas do outro lado ideológico, que despreza a necessidade de uma solidariedade humanitária com todos; exigindo-se, enfim, o pleno cumprimento dos mandamentos Cristãos, de amor ao próximo, incluído o inimigo, para seu arrependimento e salvação, o que inclui a correção deste, com dignidade, no tratamento amoroso de pai para filho, com o rigor que a pedagogia exige, pois: “Quem poupa a vara odeia seu filho, aquele que o ama aplica a disciplina” (Pr 13, 24).
Portanto, somente a adoção integral da correta conexão simbólica permitirá a superação da cisão da humanidade.
“Ninguém pode ser escravo de dois senhores. Ou odiará um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir como escravos a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24).
Prezado Holonomia
Excelente artigo, vibrante. No entanto, a aplicação de algumas ideias nele contidas requer muito cuidado, muita ciência e muita consciência. As pessoas, assim como as crianças e jovens, têm estágios de aprendizagem, de conhecimento, e formas de aprender mais propícias a cada pessoa. E também, a meu ver, a crença em vários deuses ou num único deus, é o menor e menos importante dos obstáculos. Saudações, caríssimo.
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