Jesus x Jesus e anticristo x anticristo

Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. Com efeito, vim contrapor o homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares” (Mt 10, 34-36).

Quando lemos tal passagem da Escritura, é possível interpretar que seu significado está no fato de que o nome de Jesus causa divisões, e daí a ocorrência do fenômeno Jesus x Jesus, sendo que do lado oposto presume-se esteja o anticristo, o inimigo de Jesus, portanto anticristo x anticristo.

O Mestre também afirmou: “Todo reino dividido contra si mesmo acaba em ruína e nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma poderá subsistir” (Mt 12, 25); e: “Quem não está a meu favor, está contra mim, e quem não ajunta comigo, dispersa. Por isso vos digo: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro” (Mt 12, 30-32).

Referidas passagens dizem muito sobre o atual momento político, porque as ideias e a mensagem do Evangelho estão em ambos os lados do conflito, conservador e progressista, ainda que de forma parcial, e igualmente estão nos dois espectros políticos aqueles que com ele Cristo não ajuntam, mas dispersam.

A eleição dos EUA mostra uma clara oposição política entre a população rural e a urbana, campo e cidade, interior e litoral, algo semelhante ao que ocorre no Brasil entre norte e sul, quanto à existência de divisão, porque suas causas não são propriamente as mesmas, dadas as peculiaridades de cada um dos citados países.

A política norte-americana do século XXI é importante, porque diz respeito ao conflito ideológico mundial e à história dos governos das nações, na medida em que os EUA representam hoje uma espécie de império em declínio, em contraposição à Rússia e à China, em que pese haver inegáveis diferenças ideológicas e internas entre estas últimas nações.

A Europa, por sua vez, simboliza uma antiga potência, decadente, que não mais entende sua posição no plano ideológico mundial, especialmente no que diz respeito à verdade do Cristianismo. Se parte da divisão norte-americana diz respeito à contraposição de Jesus x Jesus, a Europa, em sua avançada secularidade, perde cada vez mais contato com suas origens cristãs, apesar da ameaça do terror decorrente do radicalismo islâmico. É filha de Roma e Jerusalém, e mãe da América, todas, a seu tempo e modo, suas próprias versões da Babilônia.

A Europa simbolicamente é também a mulher de Apocalipse 17, sendo possível ver no mapa-múndi virado a imagem da mulher com a taça na mão:

A mulher estava vestida com púrpura e escarlate, adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas; e tinha na mão um cálice de ouro cheio de abominações; são as impurezas da sua prostituição. Sobre a sua fronte estava escrito um nome, um mistério: ‘Babilônia, a Grande, a mãe das prostitutas e das abominações da terra’. Vi então que a mulher estava embriagada com o sangue dos, santos e com o sangue das testemunhas de Jesus” (Ap 17, 4-6).

Essa mulher significa tanto o comércio quanto à promiscuidade da vida da cidade, da vertente do progressismo político que nega a religião, não reconhecendo a atuação dos santos, ou mesmo a existência de santidade, esse conceito espiritual que moveu as testemunhas de Jesus, inclusive na seara pública, no ambiente político, contra as ações dos poderosos.

No artigo O “Apocalipse e a Verdade” (https://holonomia.com/2020/03/28/o-apocalipse-e-a-verdade/) é mostrado o desenvolvimento dessa história dos impérios mundiais do tempo babilônico até a virada para a era messiânica.

Essa mulher, em certo sentido, é vencedora das eleições dos EUA, pois representa as cidades, a riqueza, o comércio. Também é perdedora, quanto ao armamentismo, à segregação das pessoas humanas. O anticristo, portanto, é onipresente na política mundial.

De um lado, temos Bento XVI dizendo que “casamento” entre pessoas do mesmo sexo, defendida por uma ala política, é obra do anticristo (https://veja.abril.com.br/mundo/bento-xvi-diz-que-casamento-de-pessoas-do-mesmo-sexo-e-obra-do-anticristo/), de lado, Leonardo Boff afirma que Bolsonaro tem características do anticristo (https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/07/28/bolsonaro-anticristo.htm).

O atual contexto, não apenas quanto à eleição americana, como também em relação às últimas décadas, no diz respeito a esses movimentos políticos mundiais, é realmente histórico, e talvez signifique, como indicam as características de nossa era, uma situação de transição, literalmente, de proporções bíblicas, pois as Escrituras possuem uma descrição da realidade histórica, cujo viés científico urge seja resgatado.

A Bíblia é composta basicamente de narrativas históricas e psicológicas, textos normativos e sapienciais e profecias, estas tidas como manifestações de uma Verdade (hoje científica) (superior/absoluta).

O Cristianismo significou uma atualização da leitura profética, especialmente a partir dos textos do apóstolo Paulo, compreendendo o sentido da História Sagrada, porque o referido autor sagrado realizou uma mediação entre a verdade das Escrituras e a realidade do tempo em que vivia.

Uma determinada compreensão dessa leitura foi o sustentáculo da civilização ocidental, cujo tecido social vem sendo esgaçado a cada dia pela divisão antes citada, que não desaparecerá, porque ambos os lados continuarão se posicionando do lado de Jesus, vendo seus opositores como anticristos.

Existe um mal-entendido fundamental sobre o Evangelho que domina o pensamento ocidental, quanto à natureza do Reino de Deus, quanto ao fato de o Reino de Jesus ser (ou não) deste mundo (Jo 18, 36).

Apenas quando essa Verdade for compreendida, quanto à natureza também política e humana do Reino de Deus, e quando for identificada a natureza profética, que hoje corresponde à atividade científica, da mensagem de Jesus, será possível estabelecer os contendores reais no conflito espiritual que ronda a humanidade há milênios, e assim os lados em disputa serão bem delimitados, os apoiadores de Jesus contra os que estão contra ele, e representam os anticristos, e, então, será apenas questão de declarar o vencedor, acabar com a divisão do Reino, deixando de pecar contra o Espírito, e iniciar a era messiânica.

Todos estão errados, para que, então, Deus exerça misericórdia com todos.

Deus encerrou todos na desobediência para a todos fazer misericórdia” (Rm 11, 32).

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