O vírus é um ser que tem causado enormes estragos à vida humana ao longo da história. A despeito disso, e do magnífico desenvolvimento científico dos últimos séculos, é controversa e muito debatida sua classificação como ser vivo. Sem entrar em detalhes sobre uma posição sobre essa divergência, salta aos olhos a questão técnica do tema para além dessa definição, na medida em que há um grande debate científico e político sobre as medidas corretas a serem adotadas para combater a pandemia, do uso de medicamentos específicos à forma e intensidade do isolamento necessário para preservação da vida humana, bem como os efeitos de médio e longo prazo das ações públicas adotadas.
Tem-se falado que a pandemia destacou a importância da ciência nas discussões políticas, mas tal argumento é completamente omisso quanto à divergência científica essencial sobre uma definição básica se o vírus é ou não vivo. Ainda que essa posição conceitual não tenha maiores reflexos na situação pandêmica, num primeiro momento, é fato incontroverso que demonstra uma insuficiência cognitiva moderna fundamental ao (não) conceituar uma questão fulcral, que é a própria classificação de algo como vivo ou não.
A conclusão única a que se pode chegar é essa: a Ciência conhece parcialmente o funcionamento de alguns seres vivos, mas ignora o que seja a Vida, falta de conhecimento essa que se estende à questão da origem da vida no planeta, fato ainda obscuro e dependente de uma explicação científica.
Se é possível aceitar parcialmente uma evolução da vida, ainda permanecem como absolutamente abertas as questões essenciais sobre a origem da vida e, pode-se falar, das espécies. Neste último ponto, a carência de uma enormidade de seres vivos intermediários, as supostas tentativas evolutivas que não teriam dado certo no processo cego e aleatório de especiação, é um buraco negro da teoria evolutiva, estando as perguntas formuladas por Darwin ainda pendentes de respostas científicas adequadas e coerentes com os dados experimentais.
O problema, segundo penso, está na mentalidade que embasa o conhecimento científico predominante, vinculado a um materialismo que rejeita qualquer argumento ou conceito associado à ideia de um Deus criador ou a uma realidade espiritual.
A solução está em estabelecer a mentalidade correta da Vida, que entendo ser baseada em dois axiomas ou valores inescapáveis: Deus no céu e Jesus Cristo na terra. Tal mentalidade é oposta à mentalidade viral. Significa a Vida que se manifestou em Jesus, trazendo à humanidade o Logos, o Espírito do criador, renovando o próprio conceito e sentido da evolução da espécie, sendo que a literatura bíblica, na Carta aos Efésios, já falava em “homem novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade” (Ef 4, 24), ou seja, com qualidades espirituais associadas à vida social.
É possível dizer que o vírus tem uma mentalidade, um sentido existencial, ainda que não seja propriamente uma consciência. A mentalidade do vírus é essencialmente egoísta, é o perfeito gene egoísta de Richard Dawkins, porque sua única finalidade é a reprodução infinita de uma individualidade genética, para o que deve utilizar as células vivas que invade e destrói. É algo entre o puramente material e o vivo, e que usa a vida para se reproduzir, em detrimento de tudo mais.
Uma parte de nós possui essa mentalidade viral, de reprodução, que pode repercutir em outros aspectos da vida, no sentido de conduzir o indivíduo à satisfação de ideias e vontades individuais, corporais e espirituais, e nesse aspecto somos muito mais complexos que os vírus, para o que também podemos usar a vida a nossa volta, em detrimento da própria Vida.
A humanidade tem se portado coletivamente como um vírus, quase como regra, porque adotamos uma mentalidade destrutiva, da cultura inútil, que hoje é chamada de arte, ao consumo irresponsável de bens que deixa um rasto de morte semelhante ao provocado pela infestação viral, tudo conduzido por políticas, de um lado, pela esquerda, materialistas, individualistas e igualitárias, que ignoram algumas diferenças biológicas essenciais indispensáveis para a formação da vida, e, de outro, pela direita, materialistas, individualistas e igualitárias, que ignoram algumas diferenças sociais estruturais que impedem o florescimento de parcela significativa humanidade.
Interessante que assim como o vírus, que é para nós invisível, também as questões espirituais são invisíveis, e muitas vezes somente são percebidas quando efeitos nocivos são produzidos no plano corporal, o que, no caso das ideias, vale para o corpo social, incluídas pessoas que compõem a sociedade, dos milhões de mortes causadas pelas ideias marxistas, e vidas ignoradas pela mentalidade revolucionária, aos milhões de mortes causadas pelas guerras capitalistas, e vidas ignoradas pela mentalidade meramente econômica.
Daí porque é necessário resgatar a mentalidade de Cristo, que se identificou como a Vida, e não é de admirar que a ciência desconheça tanto o conceito biológico da Vida quanto sua acepção espiritual, que também é material, elaborada por Jesus de Nazaré, que significa tanto justiça social quanto liberdade individual, em ambos os casos segundo uma razão comum, o Logos, o Espírito na carne que se volta para o Espírito.
Assistindo ontem ao programa da CNN “Mundo Pós-Pandemia”, com o neurocirurgião Fernando Gomes, em determinado momento ele afirmou que conversou com um pastor e indagou a este se estávamos vivendo o Apocalipse, tendo recebido uma resposta negativa do religioso, momento em que as entrevistadoras ficaram aliviadas com essa informação.
Se minha proposta constante do artigo “O Apocalipse e a Verdade” (https://holonomia.com/2020/03/28/o-apocalipse-e-a-verdade/) estiver correta, e tenho uma convicção teórica e pessoal profunda no sentido de que efetivamente está, a resposta dada pelo pastor e o alívio das jornalistas somente expressam a ignorância do mundo atual quanto ao que seja a mentalidade Cristã e ao significado dos eventos do mundo desde (antes d)a vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré.
O Apocalipse se refere a um longo período de tempo em quem vem ocorrendo eventos que manifestam a essência da Vida humana, a qual está no polo oposto existencial ao do vírus, entre a vida material e a divindade.
E o evento mais importante da História é exatamente a ressurreição de Jesus, que se posiciona em posição contrária à do vírus, porque da morte do Messias se seguiu a nova forma da vida, o corpo glorificado, indicando o Caminho para chegar a essa situação evolutiva de Vida coletiva, ou seja, o autossacrifício pelo Logos, que produz o Logos, ao contrário do vírus, em sua autorreplicação que gera a morte de seu entorno.
Quando vejo a batalha política voltada à reprodução de mandatos, de ideias materialistas, à esquerda e à direita, enquanto no mundo jurídico o conceito de Logos continua sendo ignorado, quando se pretende afirmar uma laicidade ateia do Estado em detrimento de símbolos cristãos, negando e rejeitando o evento mais importante da humanidade, em termos filosóficos, políticos, jurídicos e científicos, a vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré, e o seu significado, quando vejo a mentalidade viral em uma de suas manifestações mais dantescas, estupefato, lamento profundamente, enquanto espero o desdobrar dos acontecimentos, e me lembro das palavras do Messias em seu momento glorificador: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23, 34).
Prezado Holonomia
Considero o texto abaixo o melhor sobre VÍRUS
https://lavrapalavra.com/2020/03/23/o-monologo-do-virus/
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